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terça-feira, 19 de maio de 2015

ONDE ESTÁ ESCRITO QUE EU NÃO POSSO JULGAR?

Um dos tantos péssimos hábitos no meio evangélico, é o de isolar versículos e criar doutrinas. Isolar um versículo é quando ele é extraído de seu contexto e interpretado sem que se leve em conta a relevância contextual, circunstancial ao qual está inserido. Em cima do isolamento de versículos e da fragmentação de textos bíblicos, são criados costumes os mais estranhos e ensinados como verdades bíblicas sob o peso de doutrinas. Eu poderia citar um sem número de versículos que são usados dessa forma e gerado interpretações equivocadas dos Escritos Sagrados. Mas nesse artigo vou ater-me ao que tange à licitude, à conveniência ou não do crente fazer julgamentos. Afinal, o crente pode ou não julgar ao outro? Jesus disse mesmo que não se pode julgar? Há controvérsias.

O Jesus ensinou?


Jesus disse: "Não julgueis, para que não sejais julgados" (Mateus 7:1), assim mesmo, isolado de todo o seu complexo contexto (Jesus disse isso durante o sermão do monte) os crentes criaram o que vou chamar de "doutrina da hipocrisia" Isso mesmo, hipocrisia. E, sob essa hipocrisia, têm sido tolerantes com situações absurdas, tudo por que "não se pode julgar". Assim muitos irmãos se sentem em uma redoma blindada das críticas, entretanto NINGUÉM É INCRITICÁVEL. Então, este versículo é citado por muitas pessoas para condenar qualquer pessoa que critica as doutrinas ou práticas religiosas de outros. Ironicamente, as pessoas que assim usam o texto não percebem que estão julgando a outra pessoa culpada de desobedecer esta proibição! É pecado julgar? Como é que devemos entender essas palavras de Jesus?

Jesus condena o julgamento hipócrita. Ele emprega uma imagem engraçada (o humor de Jesus era ácido, áspero e acirrado) para ilustrar o ponto. Uma pessoa está sofrendo por causa de um cisco no olho, quando vem a outra oferecendo tirá-lo. Só que a outra, o juiz hipócrita, tem uma viga no olho dela! Jesus disse que temos que tirar nossas próprias vigas antes de remover os ciscos dos outros. Não devemos condenar os probleminhas dos outros quando praticamos pecados mais graves. Observe que o Mestre não condena o tirar o cisco e sim que, o que se propôs a tirar o cisco, que tire antes a viga do próprio olho.

Jesus condena a atitude negativa do censor. Algumas pessoas vivem para criticar, sempre procurando e destacando as falhas dos outros. Tais pessoas convidam outros a ser críticos, também. Quando condenamos as pequenas falhas de outros, eles terão motivo para nos condenar (considere o exemplo do servo que não perdoou o outro, Mateus 18:23-35).

Jesus NÃO CONDENA a avaliação dos outros. Mateus 7 mostra claramente que Jesus não está condenando a avaliação dos outros. Temos que discernir entre o certo e o errado, e entre as pessoas que praticam as coisas de Deus e as que andam no erro. No versículo 6, Jesus exige o julgamento de pessoas que ouvem o evangelho, e a rejeição dos "porcos" e "cães". Do versículo 15 ao 20, ele ensina sobre o julgamento de quem se diz crente pelos frutos (veja Mateus 16:6,11-12).

O que o apóstolo Paulo ensinou


Paulo exige o julgamento. Não é o bastante dizer que o servo de Cristo pode julgar. O discípulo de Jesus é obrigado a julgar! Às vezes, alguém na igreja terá que julgar outros irmãos para resolver problemas (1 Coríntios 6:1-5). Em geral, todos nós temos que julgar todas as coisas, retendo o bem e rejeitando o mal (1 Tessalonicenses 5:21-22). Para discernir entre essas coisas, é necessário crescer espiritualmente (Hebreus 5:12-14). As pessoas incapazes de julgar continuam como crianças, como pessoas carnais (1 Coríntios 3:1). O propósito do julgamento que Deus exige de nós não é para condenar ninguém ao castigo, mas para evitar o pecado e ajudar outros, também, ficarem livres do mal.

Quando não podemos julgar


A questão sobre o julgamento precisa ser definida para que não incorramos em erros e saiamos por aí julgando a tudo e a todos sem critérios, levianamente. Em tudo Jesus nos leva a encontrar um ponto de equilíbrio (sim, ele existe). Abaixo situações nas quais o ato de julgar é condenável e nocivo ao corpo de Cristo.

1 - Motivações erradas (julgamento hipócrita)
  • Se sentir superior;
  • Ter opiniões sobre;
  • Olhar as aparências;
  • Catalogar e compactar (rotular) pessoas;
  • Querer ser como Deus (juízo “fulano não vai para o céu” ou “sicrano vai para o inferno por...”).

2 - O que causa “o julgar hipócrita”?
  • Orgulho;
  • Insegurança;
  • Ciúme, Inveja;
  • Imaturidade;

3 - Quais são os sintomas?
  • Conflito, discórdia;
  • Legalismo;
  • Religiosidade;
  • Falta de compaixão e graça;
  • Falta de tolerância com as fraquezas alheias;
  • Se isolar;
  • Se projetar;
  • Falta de boa vontade;
  • Auto proteção;
  • Senso de superioridade espiritual (a "síndrome do super-crente");
  • Fofoca, mexerico e falar negativamente sobre outros.

1 Samuel 16:7 - “O Senhor, contudo, disse a Samuel: “Não considere sua aparência, nem sua altura, pois eu o rejeitei. O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração.”

Provérbios 13:10 “O orgulho só gera discussões, mas a sabedoria está com os que tomam conselhos.”

4 - Por que “julgar hipócrita” é destrutivo?
  • Destrói a unidade;
  • Nos impede de solucionar nossos pessoais pecados e problemas;
  • Cria paredes que impedem o trabalho de Deus;Cega e restringe o crescimento e mudanças em nós.

Posso julgar porque:


1 - A Bíblia mostra diversos exemplos de servos de Deus julgando, inclusive Jesus. Jesus julgou os maus atos dos fariseus. Chamar os fariseus de “raça de víboras e maus” é julgá-los: “Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração.” (Mt 12:34)

Paulo manda a igreja julgar suas próprias causas e critica (julga) a igreja de Corinto por levar causas a tribunais ao invés de julgarem ali mesmo na comunidade e resolverem a situação. Ou seja, pode e deve julgar: “Não há, porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da irmandade?” (1Co 6:5).

Aqui João julga diversas atitude de um tal Diótrefes e promete chamar a atenção dele. Chama-o de caluniador e de mentiroso: “Eu escrevi uma pequena carta à igreja, mas Diótrefes, que deseja ser o líder, não quer dar atenção ao que eu disse. Portanto, quando eu chegar aí, vou chamar a atenção dele a respeito de tudo o que ele tem feito: as coisas horríveis que diz de nós e as mentiras que conta…” (3 Jo 1:9-10 – NTLH)

2 -  Não há como cumprir certas partes da Bíblia sem julgar - Como iremos, sem julgar, reprovar as obras das trevas como nos manda Ef 5:11? Como iremos, sem julgar, descobrir o disfarce dos falsos mestres como nos manda Jesus em Mt 7:15? Como saberemos, sem julgar, rejeitar o falso evangelho pregado, como Paulo nos orienta em Gl 1:8? Como iremos rejeitar o sinal da besta descrito em Ap 13.:8 sem julgar aqueles que tentarão nos impor o seu uso? Como identificar as heresias destruidoras mencionadas em 2 Pe 2:1 sem julgar os ensinos dos que a pregarão? Como, sem julgar, saberemos entrar pela porta estreita, rejeitando o caminho largo como nos manda Jesus em Mt 7:13-14?…

Conclusão


Creio que ficou claro que devemos sim julgar. A Bíblia proíbe o julgamento hipócrita, mas não proíbe julgarmos outras questões importantes da nossa vida. É evidente que julgarmos com violência, desrespeito, preconceito e outras atitudes prejudiciais não é do agrado de Deus. O que está em foco aqui é o julgamento saudável, importante para o ser humano e para a sociedade.

Creio que os que defendem que não devemos julgar, deveriam primeiro avaliar o que a Bíblia diz e depois olharem para si mesmos e observarem que, como todo ser humano, julgam o tempo todo: No trânsito, ao criticar a ação errada de determinado motorista; em casa, ao chamar a atenção de um filho; no trabalho, ao não concordar com a posição do chefe ou lutando contra alguma injustiça; Na igreja, ao questionar alguma doutrina com algum irmão ou líder… e uma última: as mulheres quando acham a roupa da outra horrível também estão julgando (risos).

Assim, julgar é inerente ao ser humano, é aprovado pela Bíblia e faz parte da vida. Se aceitarmos o princípio de que os resultados da vida são provenientes de nossas escolhas temos que consequentemente considerar os julgamentos, pois como escolher entre o bem e o mal sem o uso do juízo?

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