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sábado, 2 de maio de 2015

LIVROS QUE EU LI #6 - SOCIOLOGIA


Os frágeis laços humanos




Nesta sexta parte da série Livros Que Eu Li, quero te convidar a fazer uma breve reflexão comigo sobre o quão frouxos estão os laços humanos. Eu sou de um tempo que quando necessitávamos de algo (uma xícara de açúcar, por exemplo) íamos até a porta, ou mesmo ao muro do quintal e pedíamos ao vizinho, que gentilmente nos concedia e ficava com um crédito conosco. Na primeira oportunidade pagávamos e as contas se acertavam. A reciprocidade existia e, muitas das vezes éramos abordados pelo mesmo vizinho com um agrado, um bolo caseiro, um cafezinho ou uma visita para jogar conversa fora apenas. Nesse tempo a comunicação e inter-relacionamento pessoal eram feitos, em sua maioria, face a face, senão um contato mais caloroso e presencial era preferencialmente exigido. Nada de e-mails, celulares, menos ainda, internet com suas mídias sociais e toda a parafernália tecnológica que atualmente nos cercam neste ciberespaço (termo citado a primeira vez pelo escritor norte-americano Willian Gibson em seu excelente livro
Neuromancer - Ed. Aleph, 312 pgs. -, de 1984), frio e impessoal e que sacramentam o distanciamento, o isolamento e a falta de socialização. Éramos diretos e presentes. Hoje somos adicionados ou apenas mais um. Quando conhecemos alguém logo a pergunta é feita: "Você tem Face/WhatsApp?" Preferiria ser convidado, se não para a comemoração (uma daquelas clássicas), pelo menos a um almoço para ver o álbum com fotos sem ter que acessar alguma mídia social.

As consequências deste novo e triste cenário são escancaradas no nosso dia-a-dia fútil, superficial e desorientado: a extrema banalização da nossa intimidade em exposição de fotos e dos relacionamentos interpessoais ("em um relacionamento 'sério'" com quem mesmo?). Quando queremos nos relacionar, ficamos íntimos de um personagem de uma novela ou participamos do desenrolar ensimesmado, degradante, sinistro, bizarro e deformante de um reality show qualquer (hoje tem para todos os gostos...). Que conteúdo humano pode existir em termos 600 amigos (fui bem modesto na quantidade) em nossa rede social se na hora que necessitamos daquela xícara de açúcar termos que comprar um quilo, pela internet de preferência, para não termos que aguentar as histórias tristes do caixa do supermercado? Que proximidade, calor, abraço, ligação sentimental, amor e sanidade pode haver em uma conversa pelo Twitter? Como gerar intimidade e afeto com as pontas dos dedos teclando um computador? Aliás o verbo teclar, substituiu, rápida e aterrorizadamente, o verbo conversar. Se você não se encontra com sua personalidade, não se preocupe, crie um "avatar" e idealize o seu existir virtual mais atraente, inteligente e seguro de si. E se você não quiser ser você é só criar um perfil fake em alguma rede social. Você pode ser o que e quem quiser.
                                                                                   
Sou inimigo do mundo virtual? É óbvio que não, senão eu não estaria nele. Mas, o mundo virtual facilita, não? Liquefaz os relacionamentos, aludindo Zygmunt Bauman em seu excelente

Amor Líquido: Sobre as fragilidades dos laços humanos - Ed. Jorge Zahar, 192 pgs., de 2004, onde a frivolidade da vida traspassa os relacionamentos tornando-os "substituíveis". Não gostou, troca, ou melhor, bloqueia, melhor ainda, excluí, manda para o lixo eletrônico, fica invisível, offline, separa, mata, agride, desrespeita, polui, ignora. Tudo tem o mesmo valor: nenhum.













Lembro-me muito bem de quando era estudante do ginásio (entenda-se, ensino fundamental), há uns quase trinta anos atrás, e tive de ler o livro

1984 - Companhia das Letras, 416 pgs., de George Orwell, para fazer um trabalho. Não dormi umas duas noites, aterrorizado pelo cenário lúgubre, frio, impessoal, opressor e cerceador das liberdades do relacionamento humano previsto pelo escritor. Este livro foi escrito em 1940 e, guardadas as devidas dimensões e métricas sociais, errou apenas o sujeito agente da opressão que não o próprio homem, autoritário e enganador, mas sim a tecnologia aliada aos recursos abundantes encontrados na paupérrima natureza humana.








Agostinho de Hipoma (354-430 dC) [conhecido universalmente como Santo Agostinho, foi um dos mais importantes teólogos e filósofos dos primeiros anos do cristianismo cujas obras foram muito influentes no desenvolvimento do cristianismo e filosofia ocidental], no final de sua vida disse: "O Homem tem um buraco tão grande, do tamanho de Deus, e só Ele pode preenchê-lo." Não tem segredo algum, nos aproximaremos uns dos outros assim que nos aproximarmos de Deus. E nos relacionaremos melhor com o outro, na medida em que nos relacionarmos com Deus. Não preencheremos o "vazio" de nossas almas, ansiosas do Eterno, com vãs substituições, com relacionamentos frágeis e superficiais ou nos afastando do proceder sob óptica do Reino de Deus, onde o "EU" egoísta, narcisista e separatista será suplantado pelo coletivo subserviente, "ajudador" e adorador do nosso Deus Eterno Pai de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

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