Ao longo destas mais de duas décadas de vida cristã tenho percebido que muitas igrejas acabam mesmo sendo movidas por eventos. Aliás, até que não é difícil gerenciar (não seria pastorear) uma igreja assim, dou a dica para você: basta fazer uma reunião antes de findar o ano com todos os líderes da igreja, elaborar um calendário repleto de atividades semana após semana. A você caberá cobrar antecipadamente ao responsável que tome providências para que a atividade programada seja cumprida. Seja rigoroso, exigente. Tire fotos e divulgue nas redes sociais, faça relatórios, coloque tudo no site da igreja e mostre que o "circo" está em movimento. A caravana circense passa, os cães ladram e nada acontece. Só há o bramidos dos cães. Se alguém ficar doente no meio do caminho é só falar que a pessoa tem de dar um jeito e se sacrificar para o "reino" pois o show não pode parar. O pior é os pastores que não se deixam levar pela onda dos eventos, acabam sendo chamados de retrógrados, "religiosos" e sem visão!
Um dado curioso é que, em geral, as denominações históricas no Brasil foram organizadas por missionários norte-americanos. Vamos lembrar que uma das ideologias impulsoras da cultura norte-americana é o pragmatismo, que focaliza a ação, a utilidade. Creio que temos aqui as raízes históricas que podem ter nos induzido a reduzir o Cristianismo a atividades eclesiásticas, de modo que ser cristão significa simples e meramente trabalhar na igreja. Isso pode ter passado para as outras denominações que surgiram ao longo da história da igreja no Brasil.
Nesse sentido o pastor da igreja passa a ser gerente de calendário em vez de pastorear, cuidar do rebanho. O afeto, tão caro ao espírito do pastoreio, é substituído pelo poder, pelo comando, de modo que quando o pastor está chegando perto de alguém logo se pode pensar "Lá vem o sermão (sinônimo de bronca, de cobrança)!"
Será preciso recuperar o lado relacional, convivencial, terapêutico, piedoso e amigo do pastoreio. Infelizmente ao longo do tempo confundiu-se o dom pastoral com a função da gestão eclesiástica e muitos pastores acabam tendo de investir tempo nisso, pouco sobrando para o cuidado das vidas e não apenas da utilidade de cada ovelha para o trabalho eclesiástico.
Igreja é muito mais do que evento, é uma comunidade terapêutica, provedora de acolhimento, de comunhão, compartilhamento, de socorro, de serviço, de testemunho, de aprendizagem, de disciplina também. É um ambiente fértil para o desenvolvimento da vida em adoração e glorificação a Deus, o resto é vento.
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