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terça-feira, 20 de março de 2018

ESPECIAL OBEDIÊNCIA - 3) OBEDIÊNCIA E SALVAÇÃO

A questão sobre a relação da obediência e a salvação não deve ser menosprezada, pois tal relação é evidente nas escrituras. Entretanto, a questão que se nos impõe nesse artigo é: A obediência produzir a salvação? Que existe deliberada relação entre obediência e salvação nas escrituras não se pode negar, contudo, devemos nos perguntar: Existe causalidade entre um e outro? É a salvação que promove a obediência, ou a obediência que promove a salvação?


À luz das Escrituras


Segundo nos instrui Mateus, o jovem rico teria perguntado ao nosso Senhor: 
"Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?"(19:16). 
A este Jesus respondeu: 
"Se você quer entrar na vida, obedeça aos mandamentos" (v. 17). 
Ao que esse texto parece indicar, nosso Senhor ensina que a obediência à Lei é um requisito para a Salvação. Paulo também parece favorecer a esse conceito quando diz: 
"Não me atrevo a falar de nada, exceto daquilo que Cristo realizou por meu intermédio em palavra e em ação, a fim de levar os gentios a obedecerem a Deus" (Romanos 15:18).
Esse texto parece indicar que a missão de Paulo era de levar os gentios à obediência a Deus, como uma missão de salvação. Será que a obediência é necessária para alguém chegar a salvação?

A obediência como causa da salvação


Em primeiro lugar, devemos colocar em perspectiva o diálogo entre Cristo e o Jovem rico. Observe primeiramente que a questão do jovem estava equivocada: 
"Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?" (Mt 19:16). 
Esse jovem acreditava que a vida eterna era resultado da qualidade do seu esforço. Contudo, Cristo ao invés de exortá-lo pela incoerência de sua afirmação, Ele responde à altura da sua pergunta: 
  1. Primeiro ele qualifica o sentido do termo bom (Bom só tem um!) e então; 
  2. Ele quantifica a extensão da bondade requerida (Obedeça os mandamentos!).
O plural do termo "mandamentos" indica que Cristo em em mente todos os mandamentos apresentados na Torá, ao invés de uma lista restrita. Em outras palavras, se bondade é o caminho da salvação, perfeição é necessária. Como a desobediência de somente um ponto da lei tornaria o homem culpado de toda ela (Tiago 2:10), Cristo ensina nessa parábola que para o homem a salvação é impossível (Mt 19:26), se a obediência é o caminho escolhido. Em outras palavras, o foco dessa perícope não é estabelecer que a obediência causa a salvação, mas que a obediência a Lei não pode levar a salvação! 

Isso coloca por terra os argumentos infundados dos indoutos que defendem que a obediência é a causa da salvação. Há aqueles que se abstém do convívio dos incrédulos por não suportarem sua desobediência aos mandamentos divinos. Há aqueles que evitam e/ou são evitados por sua constante e irritante mania de tentar cercear a pecaminosidade de outros, como se isso fosse um serviço divino. Se sentem arautos da moralidade divina e querem impor suas preferências morais como forma de expandir a influência do Reino de Deus. Entretanto, todas essas iniciativas à parte da Graça encontrada Somente em Cristo não tem valor eterno e servem apenas para exaltar o ego do religioso orgulhoso que se considera juiz dos homens.

Alguns o fazem de modo tão persuasivo que existe pessoas que jamais encontraram a Cristo como salvador, mas por se submeterem a um rígido código moral (que eventualmente nem ético é) pensam ser portadores da luz divina, quando na verdade são apenas homens e mulheres enganados pela religiosidade vazia. Esse é o grande perigo do LEGALISMO! Ele impõe a obediência como fundamento da salvação e condena os desobedientes. É nada mais que uma perversão da verdade e um modo de aprisionamento religioso. Não salva e não pode salvar! É moralidade vazia, é legislação sem vida. É a mais cruel forma de aprisionamento religioso. É avesso à Cruz e a Cristo. É contra a Glória de Deus.

A obediência como salvação


Em segundo lugar, nós precisamos colocar em perspectiva algumas informações das escrituras relacionadas com a salvação e a obediência. Paulo, por exemplo, usava os termos "fé" e "obediência" de modo intercambiável. Observe que em Romanos 1:8 ele afirma 
"...que a vossa fé é anunciada em todo o mundo...",
 mas em 16:19 ele afirma: 
"...pois a vossa obediência chegou ao conhecimento de todos". 
Nesse caso, Paulo usa o mesmo conceito em termos que parecem antagônicos. Entretanto, esse sentido é visto claramente em Romanos 15:18: 
"Não me atrevo a falar de nada, exceto daquilo que Cristo realizou por meu intermédio em palavra e em ação, a fim de levar os gentios a obedecerem a Deus". 
Aqui é evidente a consideração de Paulo sobre o início da fé como obediência a Deus. Obviamente ele não tem em mente a moralização do mundo, como alguém poderia sugerir, mas sua evangelização: 
"Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado" (1 Coríntios 2:2).
Essa co-relação é também exposta em sentido negativo, pois Paulo quando refere-se a judeus não convertidos ele diz: 
"Porquanto, ignorando a justiça que vem de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se submeteram à justiça de Deus" (Rm 10:3). 
A não sujeição, ou desobediência à Justiça que vem de Deus faz com que os judeus estejam fora da participação da fé salvadora. De modo semelhante Paulo diz em Romanos 10:16: 
"No entanto, nem todos obedeceram ao evangelho". 
A resposta ao evangelho foi entendida por Paulo como um ato de obediência, mas isso não significa que a obediência seja o meio de recebimento da salvação. Isso significa que a fé em Cristo é uma resposta obediente ao decreto salvífico de Deus.

Esse conceito é bem visto na conhecida declaração de Paulo sobre os gentios e judeus, antes e depois da fé, em Romanos 11:30-32: 
"Assim como vocês, que antes eram desobedientes a Deus mas agora receberam misericórdia, graças à desobediência deles, assim também agora eles se tornaram desobedientes, a fim de que também recebam agora misericórdia, graças à misericórdia de Deus para com vocês. Pois Deus colocou todos sob a desobediência, para exercer misericórdia para com todos"

Em 2 Coríntios 9:13 a fé é vista como a submissão da confissão do evangelho de Cristo: 
"...glorificam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo". 
Nesse texto a NVI traduziu a obediência que acompanha a confissão, o que segmenta o conceito de "obediência como demonstração de fé" em "obediência que segue a confissão". Caso seja isso verdadeiro, a fé acontece antes da obediência, o que nos soa muito mais sensato.

O que isso nos instrui é que, para Paulo, a aceitação da mensagem aparece com um ato de obediência, pois a mensagem do evangelho está centrada no reconhecimento de Cristo morto e ressurreto como Senhor além de exigir a renúncia da autocompreensão antes da fé, e a inversão da direção volitiva (i.e. conversão).

Essa obediência da fé é de fato a obediência verdadeira, aquela que a lei havia exigido, mas pelo mau uso da lei os judeus a reprimiram e instituíram a justiça própria como meio para se gloriarem nas obras da lei. Contudo, a atitude do homem debaixo da fé é radicalmente antagônica a do judeu, observe: 
"Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?" (1 Co 4:7). 
Isso por que a Salvação oferecida por Deus tem por objetivo 
"...que ninguém se glorie..." (1 Co 1:29; Efésios 2:8,9), 
mas 
"...aquele que se gloria, glorie-se no Senhor..." (1 Co 1:31; 2 Co 10:10), 
como o fez Abraão (Rm 4:20).

A implicação dessa submissão a Cristo como Senhor para participação da fé, não significa que a salvação vem pelo reconhecimento e submissão do senhorio de Cristo, mas implica na inabilidade das obras pessoais, ou da justiça própria para a salvação. É o reconhecimento humilde da impossibilidade de auto-salvação, e a plena dependência aos méritos de Cristo como único mediador entre Deus e os homens. Em outras palavras, crer é obedecer, ou submeter-se a Deus. Com essa compreensão em mente, podemos compreender o que Paulo que dizer quando chamou os judeus de rebeldes em Romanos 15:31 (eles não creem, portanto rejeitam).

Nesse sentido, a concepção de Paulo afirma que a fé não acontece primariamente com arrependimento e conversão (demonstrado pelo pouco uso que essas palavras tem na literatura paulina), mas com a obediência que renuncia a justiça própria. O princípio fundamental, portanto, é que a Graça divina foi manifesta em Cristo Jesus (Rm 3:21-4) que agora conclama todos os homens (1 Timóteo 2:4; Tito 2:11) para si mesmo (2 Co 5:19) por meio do ministério da igreja (1 Co 1:21), e a fé (Ef 2:8) é a resposta obediente a esse chamado.

A salvação como causa da obediência


Por fim, precisamos colocar em ordem a relação entre salvação e obediência. Como já demonstrado, a obediência é incapaz de produzir a salvação. Também já vimos que eventualmente as escrituras (especialmente Paulo) usa o conceito da fé salvadora como um ato de obediência. Agora, resta-nos demonstrar que a obediência verdadeira é produzida pela salvação. É Pedro quem nos ensina que os eleitos são eleitos para a obediência, e não o inverso: 
"...eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo" (1 Pedro 1:2). 
As preposições aqui fazem toda a diferença e merecem ser observadas com atenção. As expressões "segundo" (preposição grega κατα), "em" (gr. εν) e "para" (gr. εις) são usadas com cada uma das pessoas da Trindade e oferecem a descrição do processo da salvação.
  • (1) Os cristãos são eleitos por Deus segundo a presciência divina, e não por causa da presciência divina. Em outras palavras, o conhecimento prévio de Deus não foi a causa da escolha, mas a escolha estava em conformidade com ela. Para Pedro a determinação divina e Seu conhecimento antecipados dos fatos não estavam em conflito (Atos 2:23), e representam a Suprema Soberania Divina sobre a história humana (1 Pe 1:20).
  • (2) Os cristãos são eleitos por meio da santificação do Espírito Santo. A preposição grega εν aqui funciona como um um dativo de instrumentalidade que manifesta o meio pelo qual a ação da eleição é realizada. Em outras palavras, "Deus [n]os escolheu para serem salvos mediante a obra santificadora do Espírito" (2 Tessalonicenses 2:13). É a ação do Espírito Santo o meio pelo qual a eleição é realizada. Isso manifesta que a ação humana em resposta à escolha divina é precedida/acompanhada pela obra Santificadora do Espírito Santo.
  • (3) Os cristãos são eleitos para a obediência. Por fim, a ação divina é que aquele que foi salvo por sua Graça seja então obediente. A obediência, portanto, segue a obra santificadora do Espirito Santo, e consequentemente é parte da manifestação da mesma. A também preposição εις manifesta o objetivo pelo qual nós fomos salvos, isto é, nos fomos salvos para obedecermos. Isso é complementado pela expressão "aspersão do sangue de Jesus Cristo", que denota a consagração ministerial (cf. Êxodo 29:21; Levíticos 8:30; Hb 10:22).

Conclusão


Em outras palavras, as escrituras afirmam que a salvação precede a obediência, e que na verdade, a eleição é o fundamento da obediência cristã. Isso não significa que homens não regenerados não possam agir em conformidade com a estipulação moral divina (Rm 2:14,15; cf. At 10:1,2), mas segundo a escritura a tal conformidade não é fundamento para a salvação. O evangelho é necessário para a salvação (cf. At 4:12; 10:36-43), e para o salvo a obediência é exigência (1 Jo 2:3-11).

[Fonte: NAPEC - Apologética Cristã, por Marcelo Berti]

A Deus toda glória.
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