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sábado, 10 de março de 2018

CANÇÕES ETERNAS CANÇÕES - "ANOTHER BRICK IN THE WALL", PINK FLOYD

A música "Another Brick In The Wall", composta por Roger Walters, lançada nos anos 80 pelo grupo inglês Pink Floyd se tornou polêmica justamente por criticar uma educação reprodutora, que não visa transformar o aluno em um cidadão pensante e questionador, mas sim em apenas mais um na sociedade, mais um tijolo no muro. 

É eterna porque é contestadora


A canção surge para criticar fortemente a educação modeladora mostrando o poder de imposição das autoridades e a facilidade com que a sociedade é manipulada pelas mesmas. A música se tornou polêmica no início da década de 80 e ainda nos dias de hoje provoca diversas reações por criticar uma educação que não visa transformar o aluno em um cidadão pensante e questionador, mas sim em apenas mais um na sociedade. 

O single , assim como o álbum "The Wall", foram banidos na África do Sul em 1980 depois da canção ter sido adotada por simpatizantes de um boicote de âmbito nacional que protestava contra desigualdades raciais na educação. Essas questões em torno da música despertaram o interesse em se fazer uma análise de cunho sociolinguístico. 

Ao analisarmos a música sob uma visão pragmática, ou seja, sob um ângulo onde a música se relaciona diretamente com o mundo, podemos observar que ela vai além da própria linguagem: ela constrói sentidos outros que só encontramos na análise do contexto. Significar e querer dizer são, portanto duas noções diferentes. Essa inferência, ou seja, essa leitura do "não dito" é compreendida por meio de metáforas que nascem de nossas experiências corpóreas com o meio no qual interagimos.


A letra



Vamos para a análise da canção, percebam a força ilocucionária. Existem três momentos distintos na canção: 
  • "Another Brick In The Wall" (parte I) – memórias do narrador;
  • "The Happiest Days Of Our Lives" (parte II) - retratando a figura de um professor ortodoxo e insensível, resultado de uma relação familiar falida, lacunar e cheia de traumas psicológicos; 
  • "Another Brick In The Wall" (parte III) - A educação é posta em xeque. O narrador a define como totalmente alienante e deformada. Em nenhum momento ele valoriza a moralidade, os bons costumes, a ética na escola e o respeito a qualquer forma de autoridade, até mesmo aos mais velhos. Na verdade sua música é parricida, uma motivação à rebeldia fomentando a evasão escolar. 

"Another Brick In The Wall (parte I)" 

Daddy's flown across the ocean
Leaving just a memory
Snapshot in the family album
Daddy what else did you leave for me?
Daddy, what did you leave behind for me?
All in all it was just a brick in the wall.
All in all it was all just bricks in the wall.

"The Happiest Days Of Our Lives" (Parte II) 

You! Yes, you! Stand still laddy!
When we grew up and went to school
There were certain teachers who would hurt the children in any way they could
By pouring their decisions
Upon anything we did
And exposing every weakness
However carefully hidden by the kids
But in the town, it was well known
When they got home at night, their fat and Psychopathic wives would thrash them
Within inches of their lives.

"Another Brick In The Wall" (Parte III) 

We don't need no education
We don't need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teachers leave the kids alone
Hey teacher! leave us kids alone
All in all it's just another brick in the wall
All in all you're just another brick in the wall
We don't need no education
We don't need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teachers leave the kids alone
Hey teacher! leave us kids alone
All in all you're just another brick in the wall
All in all you're just another brick in the wall
'Wrong, Do it again!'
'If you don't eat yer meat, you can't have any pudding.'
'How can you have any pudding if you don't eat yer meat?'
'You! Yes, you behind the bikesheds, stand still laddy!'

Entendendo a letra


A palavra "Educação" normalmente está associada à escola, e ao produzir, por exemplo, o enunciado: 
"We don’t need no education", 
o narrador está questionando o papel da escola na educação do indivíduo. Aqui também se incluem os Atos Perlocucionários, pois Roger Walters pretendeu provocar no interlocutor uma reflexão e, principalmente, uma mudança de atitude, ao mostrar que esse não é o tipo de educação desejada.

"Another brick In The Wall" (um outro tijolo no muro) música lançada em 1979 transmite ao público uma concepção transformadora do sistema educacional que, em sua ótica, ao invés de motivar as crianças em processo de formação, ele as oprime com suas exigências alienantes e anti-democráticas. 

Este modelo fascista negligencia os valores éticos e sua ideologia truculenta, seja de maneira torpe, com violência escancarada ou de maneira sutil é abrigada pela ação política institucional educacional. Talvez uma referência ao modelo educacional britânico que, na época, usasse de extremo rigor no trato com os alunos. É a velha forma tradicional do poder: um, dois, três; vou ver! Não pensar, apenas cumprir as ordens! Nunca esquecer o adágio popular: "manda quem pode, obedece aquele que for sábio!"

Um mecanismo castrador da identidade individual para quem entregamos nossas crianças para serem subjugadas e obrigadas a perderem seu próprio EU e passar a pensar e agir em consonância à sociedade idealizada e/ou representada pelo professor. A letra da música leva o leitor ao ambiente escolar nos anos setenta onde a postura do educador é desprovida de valores éticos; chegando a ser violento e ameaçador quando suas ideias são contra-argumentadas ou desprezadas. 

O Professor X a si próprio


A canção sugere, ainda, que tais modelos atitudinais são um reflexo da relação que os professores enfrentam em seus lares na convivência com suas esposas "gordas, neuróticas, metódicas e psicopatas". Surge, dessa forma, o(s) grito(s) de revolta: 
"Ei, professor! deixe essas crianças em paz!", "Não precisamos de nenhuma educação", "Não precisamos de controle mental"! 
É a revolta dos jovens contra a autoridade e as crenças que proferem. E para fazer valer seus ideais, violam o direito alheio e sancionam a violência como critério de suposta defesa e de auto-preservação. Um tapete vermelho feito com a arte da arrogância, do desprezo pelo espaço do outro e repleto de discurso falacioso. 

Um olhar mais criterioso nesses protestos verbais contra "a autoridade", até usando crianças em processo de formação, pode levar o leitor a pensar que tudo não passa de sentimentos de revolta, rebeldia, traumas psicológicos, efeitos do uso de drogas e conflitos familiares não solucionados. 

Enfim, dramas pessoais do compositor e vocalista Roger Waters passados para o papel e veiculados através da composição de sua canção.  Veja as traduções:

"Um outro tijolo no muro" (Parte I) 


Papai voou pelo oceano
Deixando apenas uma lembrança
Uma foto instantânea no álbum de família
Papai o que mais deixou para mim?
Papai, o que você deixou para trás por mim?
De um modo geral foi apenas um tijolo no muro.
De um modo geral foram apenas tijolos no muro.
   

"Os Dias Mais Felizes de Nossas Vidas" (Parte II) 

Você! Sim, você! 
Você não foge de mim!
Quando crescemos e fomos à escola 
Havia certos professores que machucavam as crianças de toda forma que pudessem 
Ao colocar suas decisões em tudo que fazíamos e expondo toda fraqueza mesmo aquelas escondidas cuidadosamente pelas crianças. 
Mas na cidade, sabia-se muito bem 
Quando eles chegavam em casa à noite, 
Suas esposas gordas e psicopatas desvalorizavam e maltratavam-lhes sem descanso.

"Outro tijolo no muro" (Parte III) 

Não precisamos de nenhuma educação
Não precisamos de nenhum controle de pensamento de nenhum sarcasmo negro na sala de aula
Professores, deixem as crianças em paz
Ei, professor! Deixe-nos crianças em paz!
De um modo geral, isto é apenas mais um tijolo no muro
De um modo geral, você é apenas mais um tijolo no muro Não precisamos de nenhuma educação
Não precisamos de nenhum controle de pensamento
De nenhum sarcasmo negro na sala de aula
Professores, deixem as crianças em paz
Ei, professor! Deixe-nos crianças em paz!
De um modo geral, você é apenas mais um tijolo no muro De um modo geral, você é apenas mais um tijolo no muro 
"Errado, faça de novo!" 
"Se você não comer carne, não vai ganhar pudim."
"Como você quer ganhar pudim se você não comeu a carne ainda?" 
"Você! sim, você atrás das bicicletas, você não foge de mim!"

I. Autoridade ou autoritarismo - professor X aluno e vice-versa 


A relação aluno/professor sempre foi um campo minado no ambiente educacional. De um lado temos aqueles que tentam desempenhar suas funções de educadores acreditando e defendendo os métodos tradicionais, e aqueles que procuram novas estratégias para um melhor desempenho de suas funções em sala de aula fazendo um sistema de parceria e igualdade. 

No primeiro caso ocorre a assimetria que consiste em uma forma de diálogo onde não existe democracia entre os interlocutores, o educador detém a ação ativa da fala; o aluno apenas ouve sem questionar. O modelo seguinte abre espaço para o diálogo de forma simétrica podendo facilitar o convívio em sala de aula. O problema que segue a partir da escolha do método é que, em ambos, o educador pode controlar as formas de pensar dos alunos direta ou indiretamente de forma passiva ou ativa. 

O professor detém o conhecimento, é ele quem gerencia a situação, atribui notas, organiza aquilo que o aluno expressa verbalmente ou escrito e isso, claro, é assimétrico por natureza. Cria-se então, para o aluno, a sensação de redução. Ele vê o mestre pejorativamente como aquele que dita as regras e estas devem ser seguidas de forma passiva ou forçada, mesmo esporadicamente. 

Cabe ao professor através da metodologia mais coerente à realidade que se encontre, incutir no aluno que o termo "autoridade" não deve ser recebido como uma forma de privação de seus direitos individuais ou coletivos. Nunca entender que ao receber uma ordem, isso conote a perda da autonomia do grupo discente, e sim que alguém confia em seu potencial e espera resultados. 

A figura do educador é transposta para a de um líder em busca de encontrar e potencializar seus pontos fortes. Educador e educando, juntos, têm a difícil tarefa de fazer escolhas, traçar novos caminhos, definir objetivos, e estipular novas metas, aprender a lidar com elas de forma positiva utilizando-as como ferramentas para seu desenvolvimento.

Imagens...


O videoclipe, resumidamente, trata de uma situação na qual um professor repreende e ridiculariza um aluno, na sala de aula, ao perceber que ele escreve poemas, mostrando a forte intolerância sobre as diferenças. O menino não reage à atitude do professor, mas se imagina destruindo a escola junto com seus colegas. 

Porém, a escola imaginada não é como a sua escola de fato e sim uma espécie de galpão, dividido em seções como uma fábrica de montagem, onde, anteriormente, os alunos aparecem em fila, usando máscaras sem face, como se fossem peças produzidas numa fábrica, marchando em direção a imensos moedores de carne.

Apesar de fortes, as imagens do videoclipe nos fazem pensar na educação que queremos. Ver que o professor pode tornar-se um pesadelo para os alunos nos faz pensar o quanto um bom profissional da educação pode transformar a vida de um aluno e o quanto é importante buscar ver as coisas de modo diferente, não aceitar padrões; repensá-los. 

Tentar perceber no mundo os padrões existentes e quais precisam ser quebrados para que as mudanças gerem ganhos sociais ou mesmo pessoais. Como o protagonista do videoclipe, hoje as crianças e os jovens, muitas vezes são conduzidos por forças que não conhecem na sociedade e acabam se tornando "carne moída", moldada para seguir padrões e obedecer a normas, muitas delas injustas. 

Conclusão


Além da polêmica, "Another Brick In The Wall" traz consigo a bandeira da mudança, da educação libertadora, capaz de mudar não só a escola, mas o mundo, pois se alguma mudança positiva de padrões sociais for possível ela certamente se iniciará através da educação crítica de qualidade.

Mais que uma simples canção, um simples single de uma banda de rock progressivo se reinventando para se adequar aos padrões rockstar oitentista, "Another Brick In The Wall", apesar de ser repudiada durante muito tempo por Roger Waters, que se recusava terminante a incluí-la em seus shows, tornou-se o hino dos Pink Floyd e uma canção eterna canção que recebe o meu carimbo de 
[Fonte: Whiplash]

A Deus toda glória.
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