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sexta-feira, 9 de março de 2018

DISCOS QUE EU OUVI - 42: "THE DARK SIDE OF THE MOON" - PINK FLOYD

Existem discos que fizeram sucesso, e existe "Dark Side Of The Moon". A obra eternamente popular do Pink Floyd vendeu mais de 15 milhões de cópias nos Estados Unidos desde o lançamento, em 1º de março de 1973, e mais de 45 milhões ao redor do mundo. Uma verdadeira preciosidade do rock clássico, o álbum fez dos criadores – o baixista e vocalista Roger Waters, o guitarrista e vocalista David Gilmour, o tecladista e vocalista Rick Wright e o baterista Nick Mason – incrivelmente ricos.


Há 45 anos...


Formação clássica do Pink Floyd (1973, com David Gilmour,
Nick Mason, Roger Waters e Richard Wright
O ano era 1973. A era de fanatismo pelos Beatles tinha terminado, juntamente com a rotura da icônica banda, e tinham rompido para o estrelato míticas e futuramente eternas bandas de hard rock (AC/DC, Led Zeppelin, Deep Purple) e de heavy metal (Black Sabbath, Judas Priest). Enquanto Bob Dylan se mantinha nas sombras, David Bowie (✰1947/✞2016) estava no auge da sua carreira.

Os The Stooges dominavam o espectro abrasivo da primeira arte e bandas como Rush, Genesis, Camel, Yes, Jethro Tull e Van Der Graaf Generator constituíam a bíblia da música progressiva. Inaugurava-se também o movimento do Krautrock alemão, com bandas como os aclamados Kraftwerk, os polarizadores Neu! e os célebres Can. Digamos que os anos 70 foram a loucura no que tocou à atividade musical.

Mas os Pink Floyd eram toda uma história diferente. Podemos chamar "homens-máquina" a uns Kraftwerk, "camaleão" ao autêntico David Bowie ou "padrinhos da música pesada" aos Black Sabbath, mas os Pink Floyd ultrapassaram qualquer adjetivação possivelmente atribuível. Não eram apenas uma banda ou artistas de música, mas verdadeiros magos. 

Progenitores de toda uma sonoridade autêntica e há anos luz da época em que foi inserida. Basta ouvir o disco de estreia da banda, ainda com Syd Barrett enquanto líder e vocalista da banda, "The Piper At The Gates Of Dawn". Basta ouvir "Meddle", já concebido com o infame quarteto liderado por Gilmour e Waters. Ainda assim, por muito bons que estes discos tenham sido e por muito consistente que todo o trabalho da banda tenha sido até ao ano em questão, os Pink Floyd não tinham visto a luz do sucesso até ao lançamento de "The Dark Side Of The Moon".

Novos rumos


Quando lançou sua obra-prima, o Pink Floyd já tinha sete discos na rua, reconhecimento mundial e um significado enorme dentro da Europa. Desde o início dos anos 70, o grupo contava com Waters, Mason, Wright e Gilmour; Barrett, um dos integrantes originais, deixara o grupo por desavenças e problemas mentais. 

Os primeiros esboços de "Dark Side..." surgiram ainda na turnê de "Meddle" (1971), quando a banda começou a procurar um novo tipo de abordagem para seus futuros trabalhos. A intenção era avançar em termos técnicos e criativos, produzindo um álbum que unisse a excelência da nova tecnologia digital, combinado a letras bem elaboradas.

Assim como o lendário "Sgt. Pepper Lonely Hearts Club Band", dos Beatles, este disco foi gravado no famoso e clássico Abbey Road Studios. Outra semelhança entre os dois grupos foi a colaboração com Alan Parsons, à época, um dos produtores mais renomados da indústria. Estima-se que até o meio dos anos 80, nenhum disco tenha sido mais caro do que "Dark Side... 

A possibilidade de gravar em fontes múltiplas, além de usar sintetizadores e efeitos inovadores, levou o orçamento do disco a valores exorbitantes. Além de toda a inovação técnica, a banda usou instrumentos e artifícios incidentais, como moedas, vozes alheias e som ambiente, para dar outra conotação ao álbum.

Ao passo que o esmero técnico dava à musicalidade do álbum uma característica única, os temas abordados nas composições foram por outro caminho. A impessoalidade dos trabalhos anteriores deram lugar aos assuntos mais comuns e mundanos que uma letra poderia descrever: dinheiro, ganância, problemas sociais e religião, por exemplo. Tal escolha foi um dos fatores preponderantes para o arrebatamento público que "Dark Side Of The Moon" causou. Enquanto cantava sobre os desafios cotidianos do mais simples sujeito, Gilmour conseguia incluir uma profundidade a cada frase, uma reflexão a cada verso.


A capa, um capítulo à parte


A capa de "Dark Side ..." é tão icônica que fica difícil até mesmo imaginar que ela poderia ser diferente. Principalmente se pensarmos que ela poderia ter uma imagem do personagem de quadrinhos Surfista Prateado.

O Pink Floyd produziu um disco amargo, falando profundamente de feridas sociais como a soberba, o sentimento de posse, o orgulho e a megalomania. E tudo isso está, de alguma forma, na capa de "Dark Side…", criada pelo artista visual Storm Thorgerson (✰1944/✞2013) e elaborada pelo coletivo Hipgnosis.

Segundo o Dicionário Aurélio, um prisma é um polígono 3D usado para refletir raios luminosos ou separar as cores do mesmo. Os estudiosos de ótica explicam que o preto é a ausência de todas as cores, e que a luz branca é a união de todas as cores possíveis. Logo, uma luz branca que atingisse um prisma atravessaria o objeto e sairia do outro lado transformado em uma espécie de arco-íris, com as sete cores básicas.

Ok! Mas o que isso tem a ver com o rock?


Se as letras e a música de "Dark Side Of The Moon" eram elementos complexos, a capa deveria retratar essa complexidade. Na imagem mais famosa do Pink Floyd, um feixe de luz, ao bater em um aparente espelho, se divide em uma porção de cores. Era como se o disco dissesse ao público que a sua música, embora parecesse um simples som, na verdade continha muito mais informações do que poderia julgar a vã filosofia. A capa ainda esconde outros segredos interessantes.

O Dicionário Aurélio também afirma que um prisma pode ter diversos formatos. Dentre os muitos formatos possíveis para se colocar na capa, os designers escolheram o formato triangular. Não porque ele refletiria melhor as cores ou porque ele ficaria melhor encaixado na composição, mas sim porque a forma do triângulo dentro da linguagem de signos representaria sentimentos como a ganância e a cobiça, que tinham tudo a ver com a temática do disco.

De todos os detalhes envolvidos na capa, apenas um não possui base em estudos muito profundos. Na capa original, a luz branca se divide em seis raios coloridos, ao invés das sete cores tradicionais do arco-íris. Teria isso algum significado em especial? 
"Não. Na verdade, o azul escuro não ficou esteticamente bonito junto das outras cores e então resolvemos tirá-lo fora, porque a arte deve estar acima da ciência", 
teriam declarado os próprios criadores, conforme consta na extinta revista Bizz especial 100 Maiores Capas de Discos de Todos os Tempos, publicada em 2005. 

Por ironia do destino, o disco, concebido para criticar o sistema de consumo mundial, acabou se tornando um sucesso entre os consumidores e deu ao Pink Floyd um status financeiro muito parecido com aquele que a banda criticava em suas músicas. Ainda na época de seu lançamento, entrou na Billboard 200 dos álbuns mais vendidos nos Estados Unidos. Hoje, já figura na lista dos mais vendidos da história, com mais de 50 milhões de cópias comercializadas.


The Dark Side Of The Oz


Existe alguma conexão entre o álbum do Pink Floyd e o filme "O Mágico de Oz"? Sim, embora a banda negue a existência de qualquer conexão entre as duas obras.  

Em abril de 1995, começou a rolar pela internet o boato de que o álbum, quando tocado junto ao filme "O Mágico de Oz", de 1939, traria muitas sincronias entre as músicas e as cenas do longa. Poucos meses depois, o jornalista Charlie Savage passou a investigar as semelhanças entre as duas obras, publicando suas descobertas e incentivando os leitores a tirar suas próprias conclusões. Mesmo que os músicos da banda tenham negado em várias oportunidades que o filme tenha exercido qualquer influência na produção do álbum, o mito ganhou vida própria. E não dá para negar que as coincidências (se é que são coincidências) são muitas. Vejamos:

O lado negro de Oz


0'08" – Para que a experiência dê certo, o álbum deve começar a tocar exatamente quando o leão da Metro-Goldwyn-Mayer dá seu terceiro rugido no filme.

4'01" – Enquanto Dorothy se equilibra na cerca do chiqueiro da fazenda, como se estivesse em uma corda bamba, a música 'Breathe' canta 
"...equilibrado(a) na maior onda..."
4'09" – Dorothy cai por acidente dentro do chiqueiro depois de tentar caminhar pela cerca. A queda marca o início da música 'On The Run', muito mais tensa e acelerada.

8'02" – Os despertadores no início de 'Time' meio que "acordam" Dorothy, que sonhava com um lugar bonito e livre de problemas.

11'05" – Ainda na música 'Time', quando a letra diz 
"...ninguém lhe disse quando correr...", 
a cena muda para Dorothy fugindo de casa com Totó, seu inseparável cachorrinho.

13'54" – 'Breathe' se repete no álbum, inserida no final de 'Time', e seus primeiros versos são 
"...Casa, em casa novamente..." – 
no filme, o vidente diz a Dorothy voltar para sua casa.

16'11" – Conforme o tornado começa, a música 'Great Gig In The Sky' fica mais agitada e ouvimos um gemido – análogo aos gritos de Dorothy no filme, talvez?

19'32" – Quando Dorothy vê a Terra de Oz pela primeira vez, a música 'Money' se inicia. Essa é a primeira cena colorida em todo o filme, e 'Money' é a primeira faixa do lado B do vinil.

21'13" – Quando Glinda, a Bruxa Boa do Norte, vem flutuando em uma bolha para recepcionar Dorothy na Terra de Oz, a letra de 'Money diz: 
"...não me venha com essa bobagem de que fazer o bem é bom..."
33'45" – Dorothy se despede dos munchkins e da Bruxa Boa do Norte para iniciar sua jornada por conta própria. A transição da cena marca o início da música instrumental 'Any Colour You Like'.

37'26" – Dorothy encontra o Espantalho. Sem cérebro, ele canta o que faria se tivesse um. Enquanto o Espantalho dança, os versos iniciais da música 'Brain Damage" ("Dano cerebral") repetem a frase 
"...o lunático está na grama..."

42'38" – No final de 'Eclipse', é possível ouvir batimentos cardíacos – bem no momento em que Dorothy põe os ouvidos no peito do Homem de Lata para descobrir que ele não possui coração

Conclusão


Além do massivo sucesso comercial, "Dark Side Of The Moon" foi um ponto decisivo na carreira do quarteto britânico, que marcou a transição de um Pink Floyd experimental e progressivo para um ícone do rock caracterizado pela riqueza de suas músicas. Gravado no Abbey Road Studios, em Londres, em diversas sessões entre Maio de 1972 e Janeiro de 1973, o disco transborda significado.

Sendo originalmente concebido como uma coesa coleção de canções sobre as pressões enfrentadas por um músico, "Dark Side Of The Moon" expandiu o objetivo inicial abordando assuntos mais abrangentes, como a riqueza (em 'Money'), os conflitos armados (em 'Us And Them'), a loucura (em 'Brain Damage'), crises existenciais (em 'Time') e a morte (em 'The Great Gig In The Sky'). Há muito mais o que se dizer sobre uma obra tão importante da música, mas o artigo ficaria ainda mais extenso. 

Apesar de ter sido lançado há 45 anos, este disco continuou por, pelo menos, outros 15 a tocar ininterruptamente em todos os cantos do mundo. "Dark Side..." deixou de ser um estandarte do rock, para se tornar um símbolo da música moderna. Foram cerca de 740 semanas entre os mais vendidos da Billboard, acumulando quase 50 milhões de cópias vendidas até hoje. Tendo em vista o tamanho do sucesso, era comum a criação de histórias em volta do álbum, como o mito do Mágico de Oz.

O tempo passou, inúmeros artigos (eis mais um!) e livros foram escritos sobre o álbum, mas a cada nova reprodução há quem descubra um significado inédito nas músicas de "Dark Side..." A incrível vitalidade de um produto como este está na capacidade de transcender o espaço e tempo, conseguindo falar com as gerações futuras à sua criação, sem perder a magia que encantou seus primeiros ouvintes.

Faixas do Disco:


Lado A
1) Speak To Me
2) Breathe (In The Air)
3) On The Run
4) Time
5) The Great Gig In The Sky
Lado B
1) Money
2) Us And Them
3) Any Colour You Like
4) Brain Damage
5) Eclipse

[Fonte: The Fort Wayne Journal Gazette, revista VEJA e sites Priceonomics e Know Your Meme]

A Deus toda glória.

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