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sexta-feira, 2 de março de 2018

NADA É TÃO NOVO, NADA É TÃO VELHO NOS 90 ANOS DO OSCAR




Há pouco mais de nove anos, Forest Whitaker e o então presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas Sid Ganis tomavam o palco do Samuel Goldwyn Theater para divulgar a lista de filmes indicados à 81° edição do Oscar. Os dois estavam ali para anunciar ao mundo que “O Curioso Caso de Benjamin Button” era o filme com maior número de indicações da temporada e colocar “Quem Quer Ser um Milionário?” no futuro caminho da vitória que culminaria em surpreendentes oito estatuetas entregues ao longa de Danny Boyle com toques do cinema de Bollywood, incluindo aí o cobiçado prêmio de Melhor Filme.

O que Whitaker e Ganis (em sua última participação no Oscar como presidente da Academia) não previam, porém, é que aquela lista de indicados despertaria uma reação tão contrária e incisiva do público e da mídia. Nas horas seguintes ao evento, surgiram nos veículos jornalísticos e nas (então poucas) redes sociais uma grande quantidade de artigos e comentários criticando as escolhas da Academia, julgando-as como “fora da realidade” e observando como os filmes contemplados pela organização em nada refletiam o status da indústria.


Os tempos mudaram...(?)


Se os votantes do Oscar viam em obras como “Benjamin Button”, “Quem Quer Ser um Milionário?”, “Frost/Nixon”, “Milk - A Voz da Igualdade” e “O Leitor” a safra divina e digna de prêmios, a “plebe” via como retrocesso o fato de “O Cavaleiro das Trevas” de Christopher Nolan ter sua participação limitada às categorias técnicas e a uma pequena lembrança ao trabalho imenso de Heath Ledger como Coringa na categoria de Melhor Ator Coadjuvante, sendo privado da disputa por troféus maiores como Filme ou Direção.

Ledger eventualmente venceria na categoria em caráter póstumo e as tensões da época se dissipariam, mas seria em virtude deste cenário que a Academia anunciaria ainda naquele ano um conjunto de medidas que buscavam uma atualização do Oscar aos novos tempos. Entre elas, a maior de todas era a expansão do número de indicados a Melhor Filme, que passaria de cinco a dez indicados de forma a contemplar com maior propriedade a quantidade de ótimas produções feitas pela indústria ao longo do ano.

O tempo passou e Nolan eventualmente conseguiu se infiltrar na categoria de Melhor Filme com o seu “A Origem”, mas é só agora, quase nove anos depois, que o cineasta enfim conseguiu se por como um dos cinco indicados ao prêmio de Melhor Direção. Mas assim como o status do diretor em Hollywood – que deixou de ser um a mais no bolo para se tornar em um dos principais (e mais divisivos) nomes da indústria -, o Oscar também passou por diversas mudanças e adaptações, em parte graças à essa expansão dos nomes incluídos em sua categoria principal mas também por conta de polêmicas que fizeram a Academia abrir as portas para uma nova e gigantesca quantidade de votantes.

Se o Oscar representa uma indústria, ele de certa forma também personifica seus problemas

Os indicados


Neste período de tempo que quase alcança o posto de uma década, a principal premiação do cinema estadunidense passou por um amplo processo de renovação, que começou com a resolução de dez indicados em 2010, atravessou a falta de reconhecimento da diversidade na indústria e encara novas reformulações perante os escândalos de assédio sexual a seus trabalhadores. Se o Oscar representa uma indústria, ele de certa forma também personifica seus problemas: na falta de um cavaleiro para salvá-lo das trevas, o Oscar se afundou em problemas mais graves com o #OscarsSoWhite e agora deve passar por um novo questionamento de propósitos em tempos de #MeToo.

São estes três casos distintos que norteiam a nova lista de indicações que a Academia soltou na manhã do dia 23 de janeiro de 2018, comemorando a chegada da 90° edição de seus cobiçados Academy Awards. Pela primeira vez atuando como presidente da entidade em uma temporada de Oscar, John Bailey introduziu os apresentadores Andy Serkis e Tiffany Haddish sob a expectativa clara do começo de um novo ciclo para uma premiação que de fato mergulha mais uma vez no desconhecido. 

Depois de admitir diversos novos membros e reorganizar tanto a casa, o Oscar dos filmes de 2017 traz uma perspectiva refrescante, pautada por uma imensa maioria de votantes que está em sua primeira ou segunda participação na escolha dos indicados e vencedores das estatuetas.

Esta nova perspectiva traz um clima ainda maior de mistério sobre quem pode acabar com o Oscar mas também ajuda a trazer a ele um quê de imprevisibilidade, e foi justo esta definição que norteou o anúncio dos indicados. A cada nova categoria era revelada uma surpresa diferente, quebrando um teto de certezas diferente por vez. 

Quebras de jejuns históricos aconteceram, como Rachel Morrison se tornando a primeira mulher indicada a um Oscar de Fotografia e a Netflix surgindo com “Mudbound” em algumas das principais categorias, superando pela primeira vez do preconceito de parte dos votantes com produções cinematográficas do canal de streaming; movimentos políticos foram feitos, a exemplo da entrada de última hora de Denzel Washington – no lugar do suposto assediador James Franco – entre os indicados a Melhor Ator ou a nomeação a Christopher Plummer em Ator Coadjuvante por sua “brava” e rápida participação em “Todo o Dinheiro do Mundo”. 

Mesmo algumas vitórias morais se deram, como “Logan” se tornando a primeira adaptação de quadrinhos a figurar na categoria de Melhor Roteiro Adaptado e a lendária Agnès Varda enfim figurando na lista de indicados por seu “Visages, Villages”.

Os dois grandes oponentes da vez, “A Forma da Água” e “Três Anúncios Para um Crime”, sintetizam temas em voga na Hollywood de hoje

Surpresas também não faltaram à principal categoria da premiação, que reflete um pouco deste tom de começo e fim de ciclos atualmente em movimento na Academia. Se filmes como o “The Post - A Guerra Secreta” de Steven Spielberg, o “Dunkirk” de Nolan e especialmente o “O Destino de Uma Nação” de Joe Wright fazem notar a presença dos tipos de produção que norteavam o Oscar no passado e ainda devem guiá-lo no futuro próximo, a entrada de produções como “Lady Bird - A Hora de Voar”, “Me Chame Pelo Seu Nome” e “Corra” apontam os novos caminhos (e possíveis clichês) da cerimônia.

No meio deste caminho, os dois grandes oponentes da vez se materializam na forma de “A Forma da Água” e “Três Anúncios Para um Crime”, obras que de um jeito ou de outro sintetizam temas em voga na Hollywood de hoje como a apologia ao passado da indústria, o comentário social explícito, o olhar irônico e o retorno do horror ao mainstream das massas.


Conclusão


A categoria que mais sintetiza este olhar em transformação do Oscar está, porém, na Direção. Dos cinco indicados, dois são cineastas debutantes que trazem diversidade ao histórico da categoria – Gerwig sendo a quinta diretora indicada na História e Peele o também quinto diretor negro – e os três supostos “veteranos” – Nolan, Thomas Anderson e Guillermo del Toro – foram consagrados entre o fim dos anos 90 e o começo dos 2000, “jovens” à beira ou no começo de seus cinquenta anos. Não esperamos mais gafes como a já histórica ocorrida no ano passado, quando anuncia a prêmiação de melhor filme para o favorito da noite, o cantante “La La Land - Cantando Estações”, no lugar do verdadeiro premiado “Moonlight - Sob a Luz do Luar”, mas podemos observar que sim,  o “novo” sem dúvida começou a ocupar os espaços da Academia. O que nos aguardará daqui a dez anos?


A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.

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