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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

FILMES QUE EU VI - 26: "A LAGOA AZUL"

Essa é pra vocês que como eu já têm mais de 40 anos. Para quem tem menos também, vá lá que seja. Afinal, não querendo ser piegas, mas já sendo, saudade não tem idade.

A história



O ano era 1980 (Ah, meus dourados anos 80!). Eu era um meninote de 13 um tanto quanto "atípico", que gostava de ler livros de romance em série (tinha coleções deles!) e fotonovelas ("Foto o que?" Um dia eu explico com mais tempo). E lá se vão 37 anos!

Certo, "A Lagoa Azul" acompanha a história de duas crianças, Richard (Christopher Atkins) e Emmeline (Brooke Shields), que ao escaparem de um navio prestes a afundar, vão parar em uma ilha deserta. Com o passar dos anos vivendo lá, amadurecem, descobrem o amor e blá, blá, blá, acredito que todo mundo que teve infância e acesso a uma televisão já sabe disso. Mas para você que já nasceu na era da tecnologia e nunca assistiu a uma exibição da Sessão da Tarde, continuarei com a sinopse.

A história se passa no final do século XIX, com William Daniels (Arthur Lestrange) levando seu filho e sua sobrinha para São Francisco de navio, depois da morte de sua esposa. Mas acontece que o navio está carregado de pólvora, sabe-se lá por que. E essa pólvora acaba pegando fogo e consequentemente explodindo o navio. Momentos antes da explosão, as crianças e o pirata cozinheiro Paddy Button (Leo McKern - 1920/2002) escapam em um bote salva-vidas, mas acabam se separando de William e dos outros sobreviventes no meio da confusão.

Depois de dias a deriva no oceano, chegam a uma ilha onde encontram água, comida e roupa lavada e um barril de rum. Paddy proíbe as crianças de irem para o outro lado da ilha, habitado por um bicho-papão indígenas que realizam rituais envolvendo sacrifícios humanos, e de comerem uma fruta venenosa que os fará nunca mais acordar. A partir daí, o filme intercala cenas de Paddy ensinando técnicas de sobrevivência a Richard e Emmeline, com imagens da fauna e flora da ilha e arredores.

Essa rotina se mantém por dois anos, até que Paddy, cansado dessa vida de babá, decide beber até morrer. Com sua morte, a ligação das crianças com a sociedade se perde, salvo por algumas fotos que se salvaram do navio. Mas a vida continua, com certa tranquilidade, e ainda intercalada com imagens da fauna e flora da ilha e arredores.

Eis que depois de alguns anos, tcham, tcham, tcham: chega a puberdade. A partir daí, a vida de Richard e Em sofre uma reviravolta de 360 graus. A dinâmica entre os dois se torna mais interessante, devido às sensações e mudanças trazidas pelos hormônios em ebulição (Olha só, pareço um professor de ciências da quinta série falando), em contraste com suas mentalidades ainda infantis. Mas também é nessa hora que o filme resolve dizer repetidamente:

"Ei, os anos 80 chegaram!"



Da cena de Emmeline nadando em meio a ondas azul-marinho brilhantes com efeitos especiais totalmente excelentes, até a descoberta do sexo pelos dois, cada segundo do filme exala o pior da década perdida. Vejamos:

  • Polêmica


Brooke Shields tinha apenas 14 anos quando fez o filme. Seu parceiro em cena, o ator Chistopher Atkins já tinha 18. Como no filme os personagens passam boa parte do tempo com pouca roupa e se envolvem em uma relação amorosa, seu lançamento causou muito burburinho. 9,5 entre 10 garotos da minha época queriam ir ao cinema (que não era dentro de shoppings) só para ver a gatinha loura. 10 entre 10 garotas suspiravam com o peito nu de Atkins.

A jornalista americana Rona Barret chegou a comparar o filme à pornografia infantil. A atriz e a equipe do filme sempre garantiram que ela usava dublês de corpo para cenas de nudez e tinha sempre seus seios cobertos por seus cabelos - eles colaram os fios de uma peruca no corpo da atriz - nas gravações. 

  • Sucesso de público


Os críticos detestaram (e detonaram) "A Lagoa Azul" e Brooke Shields foi até indicada ao prêmio de Pior Atriz na primeira edição do prêmio Framboesa de Ouro, que premia os piores filmes - uma espécie de Oscar às avessas. Apesar disso, o público lotou os cinemas da época para ver o romance na ilha paradisíaca e o filme arrecadou mais de US$ 58 milhões nos EUA, sendo o nono filme mais visto do país naquele ano.

Os críticos são uns chatos e não sabem de nada!


Apesar de tudo isso, o filme consegue nos levar a reflexões bastante pertinentes. Durante sua estadia na ilha, Richard e Emmeline passam grande parte do tempo em conflito entre ações e pensamentos absorvidos da sociedade enquanto crianças e o que sentem e experienciam na nova vida sem nenhuma influência externa. Essa questão da "civilidade" do ser humano é sintetizada quando Richard, após presenciar um ritual sacrificial indígena, os compara com os homens desesperados que viu tentando escapar do navio quando criança.

E ainda podemos ir além, os realizadores inserem diversos elementos que nos permitem questionar inúmeros aspectos da sociedade. Ou não. Tá, provavelmente não. Mas o "inimigo invisível" do outro lado da ilha poderia facilmente representar uma critica velada à Guerra Fria. E as frutas venenosas obviamente representam o "fruto proibido" de Adão e Eva. Aliás, a ilha em si poderia ser uma ilustração do Jardim do Éden.

Olha só, perto do final, quando Richard e Emmeline voltam para visitar o local onde Paddy morreu, o filho deles (Sim, eles têm um filho na ilha) pega algumas frutas sem nenhum dos dois perceber. Logo depois, Emmeline volta com a criança para o barco, mas os remos caem na água. Richard tenta recuperá-los, mas tubarões o impedem. Sem remos, os três ficam à deriva novamente e são levados para alto-mar pelas correntes marítimas: Estão expulsos do paraíso. 

Mas dias depois, o pai/tio/avô William (Agora com um visual a lá Albert Einstein) aparece com um navio pra salvar todo mundo. Essa semelhança de William com Einstein não é mero acaso, claro. Ele está representando a ciência, que veio resgatá-los da tirania da religião. Vai dizer que não foi proposital.

Enfim, se você não for diabético, o filme vale ser visto para provar que eu não estou louco relembrar os bons e velhos tempos de Sessão da Tarde, quando as maiores preocupações da vida consistiam na bola que caía no pátio do vizinho e em ter que recomeçar um jogo de vídeo game do início por não ter tido tempo de anotar a senha daquela fase. Ah, teriam os peitinhos da Brooke Shields também, mas, como anteriormente informado, depois foi revelado que ela usou uma dublê de corpo. 9,5 mocinhos choram até hoje.

Is this The End?


No fim do filme - e se você nunca viu apesar de já terem se passado 37 anos da estreia e não quer saber, pode pular este item -, a gente tem esperança de que Emmeline e Richard vão se salvar quando um marinheiro diz que eles estão "apenas dormindo" quando os encontra num pequeno barco à deriva.

Apesar disso, o livro que dá sequência ao romance publicado em 1908, chamado "The Garden of God", começa com uma notícia triste: eles estão mortos. E a sequência do filme, apesar de não se influenciar muito pelo segundo livro da saga (é uma trilogia), segue o mesmo tom. Somente o filho de Richard e Emmeline sobrevive.

  • O retorno


O longa ganhou uma sequência em 1991 chamada "De volta à Lagoa Azul". O filme conta a história de Richard, filho de Emmeline e Richard, que é encontrado no barco com os pais mortos. Ele é adotado por umas das tripulantes de um navio, que já tinha uma filha. Eles acabam de volta à ilha quando um surto de cólera toma o navio e eles precisam abandonar a embarcação.O filme não foi sucesso de crítica nem de público, arrecadando US$ 2 milhões nos EUA. Aqueles que como eu deliraram com o primeiro filme, agora já homem feitos, não engolimos de jeito nenhum essa sequência.

  • Que "fim" levou


Depois do sucesso do primeiro filme da saga, Brooke não largou as telonas. Fez alguns outros filmes não tão conhecidos, mas se consagrou nas séries e filmes de TV, onde estão boa parte do seu trabalho. Até hoje Brooke está nos holofotes da mídia por conta de alguns escândalos no seu casamento e também por sua beleza. Não é toda mulher consegue chegar aos 52 com toda essa beleza e forma.

Já Christopher não se deu tão bem no mundo do cinema como Brooke. Ele até hoje participa de pequenos filmes como ator, mas nenhum de grande sucesso. Além disso, Christopher já passou por vários perrengues, como por exemplo, quando seu empresário fugiu com todo seu dinheiro. Atualmente ele participa de pequenas produções e é um empresário de sucesso no ramo de piscinas e artigos esportivos.


"A LAGOA AZUL"

  • Título Original: The Blue Lagoon (104 minutos – Romance)
  • Lançamento: Estados Unidos, 1980
  • Direção: Randal Kleiser

Roteiro: Douglas Day Stewart, baseado no livro de Henry De Vere Stacpoole

  • Elenco: Brooke Shields, Christopher Atkins, Leo McKern, William Daniels

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