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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

"OLHA O GÁS!" - IDENTIDADE CULTURAL EM CRISE

No passado você tinha Chico Buarque, Caetano Veloso (ante de virar admirador de black bloc), Geraldo Vandré, Gilberto Gil entre outros. O Problema do Chico Buarque é ele gostar de Fidel, Che e da ditadura dos Castro, o que manda às favas seus discursos populistas. Não estou dissertando conceitos políticos aqui. Portanto, preciso ser justo, fora isso, Chico é um dos maiores compositores da história.

E o erro de alguns esquerdistas revolucionários é que levam ao pé da letra muitas músicas da época da ditadura. Elas são lindas, eu gosto, mas para por aí. Não dá para sonhar com revolução como a cubana ou a russa de 1917 em pleno século 21.

Apenas alimenta os neuróticos que pensam que o Brasil corre riscos de cair numa ditadura comunista (!!!) ou bolivariana como a Venezuela ou virar uma Cuba de dimensões continentais. Quem pensa assim ainda vive com a mentalidade da guerra fria. Não passou pela queda do Muro de Berlim. E isso vale tanto para direitistas quanto esquerdistas.

Hoje os ícones da MPB são coisas tais como Latino, Valesca Popozuda e Anitta (essa, inclusive, inexplicavelmente já angariou vários prêmios por sua "obra"). Com todo o respeito com quem gosta (e não tem nada de errado de gostar desse tipo musical, aliás, somos todos livres para gostar e desgostar do que bem quisermos), mas pra mim não dá. 

Meu gosto não bate com muitas das músicas da atualidade. E o grande problema é qualificar qualquer coisa lançada hoje em dia de "arte", "genial", "craque" (ou seria "crack"?), "fenômeno". Como bem disse uma vez o grande Ariano Suassuna (1927-2014): 
"...E qualquer porcaria recebe o rótulo de 'genial', o que diremos sobre Beethoven?". 

Se tudo é arte nada é arte


Alguns afirmam que será preciso mudar o sistema econômico. Eu defendo a ideia de que é preciso mudar a nossa cultura.

Quanto a esse ponto, é preciso que saibamos muito bem o que queremos. A sociedade de hoje é voltada para o dinheiro. Para o que se voltará a cultura que pretendemos construir amanhã?

Priorizar a produção e o consumo de cultura mostra-se um processo muito mais vantajoso do que o que corresponde ao modelo atual de produção e consumo de bens materiais. O modelo econômico baseado no acúmulo de bens gera um imenso desgaste ambiental sobre o planeta, pois para produzir bens materiais cada vez mais recursos naturais são necessários.

A produção de cultura e de conhecimento mostra-se focada sobretudo nos recursos humanos, no ser humano. Ao contrário dos recursos naturais, os recursos humanos não se esgotam e podem até mesmo ser aprimorados ao produzir cultura. Quanto mais cultura e conhecimento produzimos, mais cultura e conhecimento consumiremos. Nesse cenário ideal, o dinheiro e a energia da sociedade são direcionados diretamente de uma pessoa a outra, pois todos podem se envolver no processo de produção de cultura, gerando um círculo virtuoso.

Cultura ou capitalismo, eis a questão


Outro sério problema da lógica de produção baseada nas coisas é que ela gera um pensamento egoísta. Os recursos são limitados, e por isso, na divisão de bens da sociedade, para um indivíduo ter mais, outro necessariamente deverá ter menos. A lógica consiste em: "quanto mais eu tenho, menos você tem". Trata-se de um jogo chamado perde-ganha, no qual para que eu ganhe é preciso que alguém perca.

Por outro lado, no modelo baseado na cultura, quanto mais eu acumular cultura e conhecimento, mais terei a oferecer ao próximo. No caso da produção de cultura, pode-se afirmar que acontece "um milagre da multiplicação": quanto mais eu dividir a minha cultura com outros, mais a cultura se multiplicará.

A lógica de uma sociedade baseada na cultura favorece a discussão e constrói uma sociedade mais participativa. Dessa forma, desestimula o egoísmo que, na sociedade atual, parece atuar como um vírus, tornando os indivíduos cada vez mais mesquinhos e interessados apenas nos próprios problemas

A mudança do capital para o cultural só depende de nós, pois para uma cultura mudar é preciso que cada um mude. É preciso (re)pensar e valorizar a cultura e o conhecimento humano. Deixar de priorizar o capital material e começar a perceber o valor do capital humano que existe à volta. É preciso voltar a prestar atenção às pessoas.

Hoje, há todos os recursos para que isso seja possível, pois com o desenvolvimento da tecnologia o conhecimento e a cultura humana estão cada vez mais acessíveis. Na história da humanidade, em nenhum outro momento foi tão fácil produzir e compartilhar cultura e conhecimento. Porém, é preciso ter cuidado: se não ficarmos atentos para o curso da história, poderemos nos perder no mar de irrelevâncias que existe à volta e deixar passar a chance de tornar o nosso tempo luminoso.

Conclusão


A cultura do instável dá importância às situações efêmeras, pois as duradouras tinham, desde sempre, a marca odiosa do que podia ser identificado com o tradicional. O avesso do efêmero é o tradicional, mas o tradicional possui um poder petrificante de ações e pensamentos. Sair das petrificações institucionais de antigas formações sociais haveria que significar, quase que necessariamente, uma ruptura com suas características. E quanto ao sujeito? Poderia permanecer firme e estável? Continuaria o sujeito centrado das antigas instituições sociais?

Evidentemente, a crise da pós-modernidade é a crise do sujeito. Todavia, esse breve excurso explicativo tende a ser por demais simplista: uma tentativa de comparar a sociedade como conseqüência pura e direta da ruptura com os padrões tradicionais. Mais do que isso: o descentramento do sujeito deve ser entendido não como algo que se buscou e se quis, mas como crise. 

A mais importante talvez seja a crise das identidades. No chamado mundo pós-moderno, não há mais um ponto referencial em torno do qual o sujeito gravita e se constitui firme, mas vários pontos referenciais que não trazem segurança, pelo menos não do ponto de vista anterior, cuja significação era justamente a de uma firmeza estática. Bem mais que o culto ao efêmero, a pós-modernidade deve ser entendida como tempo crítico do homem e de seus referenciais de centro.

Que a crise configura uma oportunidade é uma frase batida. Então que a crise mundial seja uma oportunidade, não no sentido apenas de ser apenas uma janela de novos negócios, mas também uma razão para revermos valores e repensar a sociedade.

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