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terça-feira, 20 de setembro de 2016

CAMPANHA DIGA NÃO À POLÍTICA DENTRO DA IGREJA!

Antes de mais nada, quero deixar bem claro que não tenho absolutamente nada contra a política em si. Muito pelo contrário, sou a favor de que o cristão seja consciente em sua participação política e que, por isso, não deve se alienar e procurar exercer sua cidadania com responsabilidade. Também não entrarei no mérito e/ou no demérito do cristão se envolver ativamente com política, apesar de eu achar bíblica e espiritualmente inconveniente que pastores se metam nisso. 

Mas uma coisa que é absolutamente inaceitável de tão absurda é que pastores permitam que as igrejas pelas quais são responsáveis se transformem em QGs políticos.

Pingando os "is"

Mais uma eleição se avizinha e duas opiniões antagônicas e radicais têm sido adotadas por muitos cristãos. De um lado estão os que se envolvem no processo, apoiando candidatos indicados pela liderança da igreja. Qualquer que ouse questionar é reputado por rebelde. Do outro lado estão os que defendem o distanciamento da igreja do processo político eleitoral. Há que se buscar o ponto de equilíbrio. 

A igreja, enquanto instituição, deve manter-se isenta, permitindo que seus membros exerçam cabalmente sua cidadania. Porém isso não lhe tira a responsabilidade de orientá-los quanto ao uso consciente do direito de votar. Não confundamos isenção com alienação, nem engajamento com comprometimento. 

Uma igreja pode engajar-se no processo de conscientização, desempenhando o papel de agente politizador. Mas jamais deve comprometer-se com qualquer que seja a ideologia, partido ou candidatura, sob pena do prejuízo de seu papel profético. 

Cada membro deve ser estimulado a pensar por si mesmo, e fazer suas próprias escolhas. Portanto, a função da igreja é pedagógica, não ideológica.

A despeito disso, um número cada vez mais expressivo de cristãos tem se engajado em campanhas políticas. Uns até movidos por ideais (ainda que ingenuamente), outros por interesses pessoais. Aproveitando-se disso, candidatos ávidos pelos votos dos fiéis assediam sistematicamente as igrejas durante a época de eleições. 

É de embrulhar o estômago ver certos candidatos que nunca pisariam num ambiente de culto ao Senhor, em período de pleito, tirando fotos sorridentes abraçados com lideranças eclesiásticas, para ilustrarem suas campanhas políticas, na tentativa de captar os votos dos "crentes".

Propina gospel


O que para alguns líderes pode ser traduzido como provisão de Deus em tempo de crise, para outros menos ingênuos, tal assédio revela o caráter oportunista e desonesto de nossa classe política, e por isso, deve ser rechaçado. Para fazer a ponte entre pastores e políticos surge a figura do pulpiteiro, geralmente alguém pertencente ao meio evangélico ou egresso dele, e que domina o evangeliquês. Convenhamos, basta uma boa dose de "glória a Deus!, aleluia!, amém!" para convencer a muitos incautos.

Num País de 46 milhões de evangélicos, o pulpiteiro pode pesar mais para uma candidatura do que o marketeiro profissional. Mesmo alguns líderes tidos como referência ética no meio, acabam cedendo ao assédio do pulpiteiro. A lógica é simples: se a maioria se beneficia disso, por que ficar de fora? Que mal haveria em aceitar uma "oferta" generosa para apoiar publicamente um candidato? 

Ademais, parece mais simples (e conveniente) apontar um candidato, do que ensinar o povo a votar com consciência. Não é debalde que durante esta época muitas igrejas concluem suas obras, adquirem equipamento novo de som, ou aquela tão sonhada propriedade para a construção do novo templo. É também nesta época que muitos líderes eclesiásticos desfilam de carro novo, ou anunciam à igreja que depois de tanto tempo de trabalho ininterruptos, finalmente sairá em férias com a família logo após os festejos de fim de ano. 

O que está em jogo, afinal? Não é apenas a postura ética que escorre pelo ralo da conveniência. Um candidato capaz de oferecer propina (este é o nome correto) em troca de votos, do que será capaz depois de eleito? E mais: de onde ele consegue tanto dinheiro para bancar esta compra de votos no atacado? Que grupos estariam por trás de sua candidatura? Que interesses têm? 

Portanto, líderes que se rendem (ou se vendem) às propostas destes políticos estão cometendo traição. Traem seu povo, sua consciência, seus votos ministeriais, e o pior, seu Deus. Deveriam ler atentamente a advertência proferida pelos lábios do profeta Isaías: 
"Os teus príncipes são rebeldes, companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno, e corre atrás de presentes. Não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa das viúvas" (Isaías 1:23, ênfase minha). 
Está na hora de darmos um basta nesta famigerada prática. Púlpito não é palanque, e igreja não é curral eleitoral, mas aprisco das ovelhas de Cristo. Pastores, preparem-se para prestar contas ao dono da Igreja. Deus não os terá por inocentes. Portanto, 
"apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente, não por torpe ganância, mas de boa vontade, não como dominadores dos que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando se manifestar o sumo Pastor, recebereis a imarcescível coroa de glória" (1 Pedro 5:2-4, ênfase minha).

"À César o que é de César..."


Embora reconheçamos a postura antiética e vexatória de muitos líderes no que tange à política, não podemos nos afastar do processo político, mas nos engajar no afã de produzir entre as ovelhas de Cristo uma consciência política sadia e honrosa. Cidadania celestial e cidadania terrena não são necessariamente excludentes. 

Como cristãos comprometidos com o futuro da humanidade, precisamos encarnar os valores e princípios do reino de Deus e expressá-los através de nossa conduta no processo político/eleitoral. 

Conclusão


Sem mais delongas, leiam o que diz a Constituição:

Lei n.º 9504/97, Artigo 37 § 4º: (1) 
Art. 37. Nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do Poder Público, ou que a ele pertençam, e nos de uso comum, inclusive postes de iluminação pública e sinalização de tráfego, viadutos, passarelas, pontes, paradas de ônibus e outros equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de propaganda de qualquer natureza, inclusive pichação, inscrição a tinta, fixação de placas, estandartes, faixas e assemelhados. (Redação dada pela Lei nº 11.300, de 2006) (g.m.) 
§ 4o Bens de uso comum, para fins eleitorais, são os assim definidos pela Lei no10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil e também aqueles a que a população em geral tem acesso, tais como cinemas, clubes, lojas, centros comerciais, templos, ginásios, estádios, ainda que de propriedade privada.(Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009). (g.m.) 
Artigo 13 da Resolução 22.718/2008 do Tribunal Superior Eleitoral: (2) 
Art. 13. Nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do poder público, ou que a ele pertençam, e nos de uso comum, inclusive postes de iluminação pública e sinalização de tráfego, viadutos, passarelas, pontes, paradas de ônibus e outros equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de propaganda de qualquer natureza, inclusive pichação, inscrição a tinta, fixação de placas, estandartes, faixas e assemelhados (Lei nº 9.504/97, art. 37, caput). (g.m.) 
§ 2º Bens de uso comum, para fins eleitorais, são os assim definidos pelo Código Civil e também aqueles a que a população em geral tem acesso, tais como cinemas, clubes, lojas, centros comerciais, templos, ginásios, estádios, ainda que de propriedade privada. (g.m.) [ênfases minhas].
Preciso dizer mais alguma coisa? 

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