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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

FILMES QUE EU VI - ESPECIAL: "MEU PÉ ESQUERDO"

Em tempos das Paralimpíadas Rio 2016, onde atletas deficientes físicos de várias nacionalidades dão um verdadeiro show de superação pessoal e um exemplo de garra, determinação e autoestima, as discussões sobre políticas de inclusão deveriam - mas não estão - no topo das discussões políticas aqui no Brasil, onde teremos eleições municipais no próximo mês e onde a inclusão ainda é uma questão utópica para pessoas que convivem diariamente com algum tipo de deficiência física, metal e/ou intelectual e precisavam de mais investimentos em acessibilidade por parte do poder público.

Graças a Deus não tenho nenhum tipo de deficiência, mas me solidarizo com essas pessoas que muitas vezes têm que enfrentar o preconceito, a discriminação e o desrespeito por parte de muitos que se julgam "normais" pelo fato de não serem portadores de alguma deficiência. 

Tenho acompanhado as Paralimpíadas e vendo o quanto uma pessoa é capaz quando ela acredita em si mesma e não cede às circunstâncias, por mais adversas que elas sejam. Vendo esses super atletas eu me lembrei de um filme emocionante e maravilhoso que assisti há algum tempo: Meu Pé Esquerdo.

Mais que um, uma lição de vida


O filme é baseado na história real de Christy Brown, filho de uma família irlandesa. Ele era um dos vinte filhos da família, dentre os treze que sobreviveram. Christy nasceu com paralisia cerebral e teve todos os movimentos do corpo comprometido, apenas o pé esquerdo não estava paralisado. 

Ao saber a notícia do seu nascimento do filho nessas condições, o pai se revoltou e foi afogar suas mágoas num bar, como sempre fazia. Os amigos do bar caçoavam dele ferindo a sua masculinidade, o que muito o humilhou ao ponto de responder ao balconista, "irá para o caixão antes", quando lhe foi perguntado se o colocaria em uma instituição. O menino cresceu junto com a família sofrendo todo tipo de rejeição e humilhação por parte do pai que não o considerava como um Brown. 

A família era de classe pobre e o filho passava por momentos bem difíceis, sem nenhum tipo de acessibilidade em casa e nenhuma assistência médica. A mãe era a única pessoa da família que entendia Christy e fazia tudo por ele. Queria vê-lo bem e se empenhava para amenizar o constrangimento que o filho passava e desejava que, mesmo naquelas condições, ele fosse feliz. 

A mãe deixou a família passar frio e fome, quando o marido ficou desempregado, para não mexer nas economias que fazia com a finalidade de comprar a cadeira de rodas do filho. Christy ao longo do tempo apresentava alguns sinais de melhora. Já balbuciava palavras, que só a mãe entendia, era observador e extremamente inteligente. A mãe lhe ensinava as primeiras letras, os irmãos o envolvia em algumas brincadeiras na rua com os colegas. 

Ele não era bem aceito, mas seus irmãos o defendiam das provocações que sofria. Com seu pé esquerdo, Christy conseguiu pedir ajuda para sua mãe que caíra das escadas, prestes a ter o bebê que esperava. Escreveu no quadro colocado no chão, segurando o giz entre os dedos do pé esquerdo, a palavra "mãe". O pai ao ver aquilo se comoveu, tomou o filho no colo e levou até o bar dizendo que ele era mesmo um Brown. 

Dali em diante Christy foi se superando cada vez mais. Lia, escrevia e pintava com muita precisão. A mãe compra sua cadeira de rodas e a sua vida ganhou novo sentido, mais comodidade, porém ainda não tinha acessibilidade em casa. Sua mãe, mulher corajosa e desejosa de dar o melhor para o seu filho, inicia a obra do quarto de Christy na parte baixa da casa. Chrsty vê o esforço da mãe e vai ajudá-la mexendo a massa com seu pé esquerdo. O pai e os irmãos chegam, acham que não dariam conta, mas eles continuam. 

Então o pai arregaça as mangas e convida os filhos para pegar junto na obra. Em pouco tempo o quarto ficou pronto. 

Um dia, o amor


Christy é ajudado pela Drª. Eileen Cole, médica especialista em paralisia cerebral. A Drª. Cole tratava Christy em casa, ele não se adaptou na clínica, pois era tratado como criança. Através de exercícios feitos pela Doutora, o rapaz foi melhorando a fala. A paixão de Christy pela médica foi inevitável e trouxe grande dor para ele e sua mãe, pois não era correspondido. Christy se tornou conhecido por sua pintura e o livro que escrevera sobre sua vida. 

Christy não se permitiu desistir do amor, e foi aí, então, em um evento em sua homenagem - convidado pela Drª. Cole para participar de um chá beneficente com a exposição de seus trabalho. Foi lá que conheceu a enfermeira Mary Car, com a qual se apaixonou e foi correspondido. Casou-se em 5 de Outubro de 1972.  Christy é exemplo de superação. Com seu trabalho ajudou no sustento da família. Órfão de pai, o rapaz nunca desamparou os seus.

Filmaço!


Não há como deixar de aprender com histórias como a de Brown, que as condições de adversidade representadas por uma paralisia cerebral ou pelo atrofiamento de um dos membros são impedimentos apenas em nossa própria cabeça e que, esforço, dedicação e solidariedade são elementos que podem promover autênticos milagres. 

O filme não é só mais uma história de auto-superação, é um clássico desses que ensinam e ao mesmo tempo constrangem, pois que dotados de alta dose de sensibilidade, verdade e genialidade. Entretanto, com muito esforço e persistência, unindo a vontade de viver com necessidade de se expressar, ele consegue atingir seu principal objetivo, ser visto e tratado com igualdade.

A arte foi para ele, a forma mais coerente de se expressar, de transmitir seus sentimentos e de provar sua autonomia para todos que o viam como um "pobre vegetal", pois foi através da literatura e da pintura, principalmente dessa última, que ele se revelou e conseguiu atingir o interior das pessoas, conseguiu também, transpor preconceitos, propalar seu drama e além de conquistar o respeito da comunidade encontrou um meio para sobreviver financeiramente.

Oscar mais que merecido


No papel em que merecidamente ganhou o Oscar, o ator Daniel Day-Lewis (O Último dos Moicanos, 1992; A Insustentável Leveza do Ser, 1988; Gangues de Nova York, 2002; Lincoln, 2012) tem uma interpretação "inteligente, engraçada e leve" (conforme dito pelo jornal Los Angeles Times) no papel de Christy Brown, escritor, poeta, pintor... e vítima de paralisia cerebral. Em uma história que explode com paixão, humildade e vida, Meu Pé Esquerdo revela-se uma conquista de enormes proporções! 

O filme trata das dificuldades vividas por Christy. A sociedade o via como um "doido" ou retardado e por tal razão desacreditavam sobre o seu potencial.

Chisty Brown foi escritor, artista plástico e poeta e escreveu um livro intitulado My Left Foot (Meu Pé Esquerdo), sua autobiografia, que deu origem ao filme, onde escreveu:

             Christy Brown ✩1932-✞1981
"Quase todos os médicos que me viram e me examinara rotularam-me como um caso interessante mas sem esperanças. Muitos disseram à minha mãe, com delicadeza, que eu era deficiente mental e que seria assim. Foi um grande choque para uma jovem mãe que já tivera cinco crianças saudáveis. Os médicos estavam tão certos do que diziam que a é de minha mãe em mim parecia quase uma impertinência. Asseguraram-lhe que nada poderia ser feito por mim.  
Ela recusou-se a aceitar a verdade inevitável – como então parecia – de que eu não tinha esperanças. Ela não podia e não acreditariam que eu era um imbecil, como os médicos afirmavam. Não havia nada nesse mundo em que pudesse se basear, nem uma mínima evidência para apoiar a sua convicção de que, embora o meu corpo fosse aleijado, a minha mente não era. Apesar de tudo que os médicos lhe disseram, ela não podia concordar. Não creio que soubesse por quê – apenas sabia, sem que a menor sombra de dúvida lhe passasse pela mente."

Conclusão


A safra de filmes de 1989 é excepcional. De Nascido Em 4 de Julho, que deu o Oscar de Melhor direção para Oliver Stone e trouxe Tom Cruise talvez na melhor interpretação de sua carreira, ao simpático Flores de Aço, que lançou Julia Roberts como estrela -, passando por Sociedade dos Poetas Mortos (já o enfoquei aqui: http://circuitogeral2015.blogspot.com.br/2015/06/filmes-que-eu-vi-4-sociedade-dos-poetas.html), Campo dos Sonhos, Tempo de Glória, Cinema Paradiso, As Aventuras do Barão Munchausen, Batman, Indiana Jones e a última cruzada, dentre outros – e que inclui o excepcional Meu Pé Esquerdo.

Comovente e importante para conscientizar todas as gerações, Meu Pé Esquerdo suscita reflexões e nos permite compreender melhor a dificuldade das pessoas que tem deficiências, assim como serve de referência para estimular o auxílio e integração dos deficientes ao pleno convívio social. Mais que recomendado, é um filme indispensável.

Ficha Técnica


  • Meu Pé Esquerdo (My Left Foot:The Story Of Christy Brown)
  • País/Ano de produção: Inglaterra/Irlanda, 1989
  • Duração/Gênero: 98 min., Drama 
  • Direção de Jim Sheridan
  • Roteiro de Jim Sheridan, Shanne Connaughton e Christy Brown
  • Elenco: Daniel Day-Lewis, Brenda Fricker, Ray McNally, Alison Whelan, Kirsten Sheridan, Declan Clogham, Eanna McLiam, Marie Conmee, Cyril Cusak. 

Prêmios

  • Oscar: Melhor Ator – Daniel Day-Lewis e Melhor Atriz Coadjuvante – Brenda Fricker
  • Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado
  • Bafta (prêmio entregue anualmente pela British Academy Film Awards): Melhor Ator – Daniel Day-Lewis e Melhor Ator Coadjuvante – Ray McAnally
  • Indicações: Melhor Filme, Melhor Maquiagem e Melhor Roteiro Adaptado
  • Globo de ouro – Indicações: Melhor Ator/Drama – Daniel Day-Lewis e Melhor Atriz Coadjuvante – Brenda Fricker, inexplicavelmente não levou os prêmios.
  • Independent Spirit Awards: Melhor Filme Estrangeiro

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