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sexta-feira, 9 de setembro de 2016

DISCOS QUE EU OUVI - 20: JOHN LENNON, "IMAGINE"

Na  20ª edição da Série Especial Discos Que Eu Ouvi falarei sobre o segundo disco solo de John Winston Ono Lennon, nascido John Winston Lennon e imortalizado como John Lennon (músico, guitarrista, cantor, compositor, escritor e ativista britânico - ✩1940-✞1980). Depois da "terapia" em "John Lennon/Plastic Ono Band", o disco anterior, o ex-beatle se acalmou e optou por trabalhar com outras coisas no antológico "Imagine". 

Confesso que nunca fui fã dos Beatles. Curtia uma ou outra música. Mas considero este disco de Lennon um dos melhores dele. Escolhi falar deste álbum porque ontem (09/09), ele completou 45 anos de seu lançamento.

História do disco


Depois de sua conturbada saída dos Beatles, John Lennon não demorou muito para soltar seu primeiro disco solo, chamado de John Lennon/Plastic Ono Band. Na verdade, muito mais do que um álbum, era uma espécie de terapia sobre todos os seus problemas e traumas – desde a infância, incluindo o relacionamento ruim com a mãe, até os problemas com os seus ex-companheiros de banda ao terminar em um rompimento ruim para todos.

Esse momento foi fundamental para Lennon, que pôde, enfim, ser ele mesmo depois de muitos anos nas amarras de contratos e precisando manter certa imagem. Isso fez dele um ativista político, protestando contra as atitudes do governo americano no Vietnã e defendendo os Direitos Civis. Sentindo-se mais produtivo do que nunca, dois meses após o lançamento de seu primeiro disco solo, ele já estava em estúdio novamente para começar as gravações de um novo registro.

A ideia de começar a gravar o mais rápido possível aconteceu depois de uma jam session (reunião informal de músicos de jazz para tocar e improvisar) com outro ex-beatle, George Harrison (✩1946-✞2001). Depois de improvisar um pouco, Lennon decidiu que era hora de gravar novamente e chamou o guitarrista (que também era produtor) para fazer parte de sua nova banda de estúdio. 

Como parte do trabalho havia começado no ano anterior, já havia certa base para o início das gravações no Ascot Sound Studios. O cantor e compositor trabalhou em algumas demos por alguns dias de fevereiro, até que pôde reunir uma banda para trabalhar mais profundamente seu material. Entre os dias 23 de junho e 5 de julho de 1971, todos trabalharam duro nas canções que entraram no álbum e em mais algumas que só ganhariam vida nos discos seguintes e em "John Lennon Anthology", uma coletânea, que seria lançada apenas em 1998. Era um modo muito simples de trabalho: todos eram reunidos, o cantor explicava o que ele queria e pronto. Os ensaios começavam às 11:h00m em ponto e terminavam perto da meia-noite.

O mesmo esquema do disco passado foi usado: Lennon e a esposa Yoko Ono trabalharam com a banda, reforçada por Harrison, em seu estúdio particular. Depois, no Robert Plant Studios, em Nova York, eles chamaram Phil Spector para ajudá-los na mixagem e regravação de alguns instrumentos.

45 anos na história


Colocado no mercado americano em 9 de setembro de 1971 e em 8 de outubro no Reino Unido, o disco foi aclamado como o melhor trabalho de Lennon como artista solo, ainda mais por ser menos político e mais musical. E o single 'Imagine', muito executado nas rádios, transformou-se no hino de uma geração que beirava os 30 anos nos hippies anos 1970.

Vamos ao faixa a faixa


De cara, abrindo o Lado A, o álbum começa com o clássico [01] Imagine. A letra traz o conceito positivista sobre um tipo de mundo ideal visualizado por Lennon (como no segundo verso: "Imagine there's no countries / It isn't hard to do / Nothing to kill or die for / And no religion too / Imagine all the people / Living life in peace...": "Imagine que não exista nenhum país / Não é difícil de fazer / Nada para matar ou morrer / E nenhuma religião também / Imagine todas as pessoas / Vivendo a vida em paz..."). Inteiramente no piano, ela foi vista como muito política e provocadora ao melhor estilo de Lennon, mas com um enorme potencial para virar sucesso. E virou. Ainda hoje, principalmente no período natalino, a canção é entoada.

Uma "contra tudo que está aí", [02] Crippled Inside é um country rock que remete ao início de carreira do cantor, quando ele era fartamente inspirado por Elvis Presley (✩1935-✞1977) e outros nomes de sucesso da música americana dos anos 1950 – a letra remete ao tempo dele nos Beatles, quando ele se vestia de um determinado jeito, mas estava "aleijado por dentro". 

[03] Jealous Guy é uma de minhas preferidas neste álbum. Outra balada no piano sobre magoar alguém e pedir perdão depois por ser um cara ciumento. Ela não foi uma canção muito popular quando lançada, mas ganhou importância ao longo dos anos, principalmente como trilha de alguns momentos do casal Yoko-Lennon. A balada também embalou os romances de outros casais (inclusive foi a canção-tema de uma história romântica vivida por este que vos escreve, mas deixa isso pra lá...)

O blues rock [04] It's So Hard é o contra ponto de Lennon para 'Imagine'. Se na abertura ele fala de um mundo utópico, a quarta canção do álbum é pedrada atrás de pedrada sobre a realidade ("You gotta eat/ You gotta drink / You gotta feel something / You gotta worry / But it's so hard, it's really hard / Sometimes I feel like going down...": "Você tem que comer / Você tem que beber / Você tem que sentir alguma coisa / Você tem que se preocupar / Mas é tão difícil, é realmente difícil / Às vezes eu sinto como ir para baixo..."). 

Entre a versão gravada em estúdio, uma jam de toda banda, até a versão final, Lennon testou várias abordagens durante as gravações de [05] I Don't Wanna Be a Soldier, outra letra que ganharia o mundo algum tempo depois. Mas ele cansou e meio que disse à banda "façam o que vocês quiserem". E eles fizeram, improvisaram um bocado e ficou realmente bom. 

Virando o disco, vamos para o Lado B. Várias canções desse álbum são sobras de algum momento nos Beatles. E não foi diferente com a música de protesto [01] Gimme Some Truth, gravada na Get Back Sessions, que viraram o documentário Let It Be. Com participação de George Harrison na guitarra slide, a faixa mostra um Lennon irritado, desejando ouvir apenas a verdade por parte de alguém – governo, imprensa, das pessoas. Não a imaginaria no catálogo dos Beatles, mas faz todo sentido estar na carreira solo dele.

Yoko - a "esposa-problema" - potencializou muitas coisas em John Lennon, entre elas o lado romântico. [02] Oh My Love não só deixa isso claro, como é uma homenagem a ela, o amor de sua vida, em uma bela balada curta no piano. 

Uma pena que a briga entre Lennon e Paul McCartney tenha virado uma guerra de músicas e respostas entre os dois, que começou com o segundo em RAM e chegou aqui em [03] How Do You Sleep?. O guitarrista não tem dó do então ex-amigo e o cutuca de todas as maneiras possíveis sobre – desde 'Yesterday', um dos clássicos dos Beatles, ter sido a única coisa que fez sem ajuda até sobre a lenda de ele ter morrido em um acidente e ter sido substituído. Falando da música em si, Harrison participa tocando guitarra mais uma vez e o solo também é dele.

[04] How? é mais uma das muitas letras compostas depois de alguma sessão de terapia em que alguns demônios eram exorcizados. E parece mesmo isso, porque é uma letra de muitas perguntas e poucas respostas, meio como a nossa vida em que buscamos saber algumas coisas, mas só entendemos mais à frente, mais velhos, mais experientes. 

Por fim, a balada folk bobinha [05] Oh Yoko! encerra o disco para cima, falando de amor e desnudando Lennon e sua relação mais uma vez. Aqui, pela primeira vez em anos, ele tocou gaita. Eu diria que é a faixa que se tivesse ficado de fora não faria falta alguma, mas já que está, deixa ficar.

Conclusão


John Lennon conseguiu colocar para fora tudo que sentia em dois discos de estúdio, e ainda fez de 'Imagine' uma música que ultrapassou gerações. Depois ele se perderia na carreira, ficaria um ano longe de Yoko e se afundaria nas drogas. Mas ele ainda conseguiria um último retorno antes de morrer assassinado na noite do dia 08 de dezembro de 1980, abatido a tiros na portaria do do Edifício Dakota, em frente ao Central Park, NY-EUA, pelo jovem Mark David Chapman, um fã ensandecido e obcecado.

[Fonte: Music History, Wikipédia, Vagalume]

4 comentários:

  1. Sou um beatlemaníaco "senior" e, muito particularmente, penso que nada que Lennon fez em sua carreira solo chega aos pés do Lennon da era "beatles", especialmente entre 1964-1966, período em que a energia e o impacto em suas interpretações eram avassaladoras. E só ouvir com atenção: "Anytime at All", "I'll be Back", "I'll Cry Instead", "You're Gonna Lose That Girl", entre outras. Após a dissolução dos Beatles, foi só "ladeira abaixo": músicas "água com açúcar", baladas insípidas,capacidade vocal bem aquém da era "de ouro", salvo exceções como "Instant Karma", "Mind Games", "Starting Over" e poucas outras, mas muito poucas mesmo. Renato Cardoso - RJ

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    1. Também me considero Beatlemaníaco "Sênior" e concordo que o período de 1964-1966 do John, nos Beatles foi magnífico. Mas, mesmo respeitando a opinião acima, discordo categoricamente que depois dos Beatles as músicas do John foram só "ladeira abaixo". O disco "PLASTIC ONO BAND" e "IMAGINE" são obras de arte. "MIND GAMES", "WALLS AND BRIDGES" e "DOUBLE FANTASY" são discos excelentes. Mediano mesmo foi o "ROCK'N'ROLL" e o "SOME TIMES IN NYC"... Mas, mesmo nesses discos "medianos", ainda é possível tirar grandes canções. Os dois primeiros discos do John, "PLASTIC ONO BAND" e "IMAGINE", para mim, estão na mesma altura emocional de "HELP", "RUBBER SOUL", "REVOLVER", "WHITE ALBUM" E "ABBEY ROAD". Podem não ter aquelas grandes inovações técnicas, mas isso é um detalhe! Ouvir esses discos é uma experiência que se renova a cada audição. E, só para constar, costumo dividir a minha vida em a.I. (antes de "Imagine") e d.I. (depois de "Imagine").

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  2. Obrigado por seu comentário e informações Renato e, por gentileza, continue me dando o privilégio de sua participação no blog. Um abraço!

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  3. Em tempo Renato, como você se assumiu um "beatlemaníaco", eu escrevi sobre o clássico Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Clique no link e deixe seu comentário: https://circuitogeral2015.blogspot.com.br/2017/05/discos-que-eu-ouvi-especial-o-meio.html

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