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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

LIVROS QUE EU LI - "O CASO DOS DEZ NEGRINHOS"

Escolher um livro de Agatha Christie pra falar nessa série foi uma tarefa nada fácil. Certamente esse não será o único livro dela a ser enfocado aqui, pois durante muito tempo eu devorei livros e livros dessa fenomenal escritora britânica. Sinceramente, não me lembro quantos foram os livros dela que eu li, mas certamente foi quase sua obra literária inteira. Cheguei a ler três, quatro livros de Agatha de uma só vez. Fã, eu? Imagina!!!

Agatha por mim


Agatha [Mary Clarissa]  Christie (1890/1976), conhecida também como a Dama do Crime, escreveu "E Não Sobrou Nenhum / O Caso dos Dez Negrinhos" e mais aproximadamente 80 livros. Consagrada na literatura mundial, a também conhecida como "duquesa da morte" no mundo literário, é a escritora mais publicada de todos os tempos em qualquer idioma, somente ultrapassada pela Bíblia e por Willian Shakespeare (✩1564/✟1616)

Além de ter revolucionado a escrita policial, Agatha também abriu muitas portas do mundo literário para mulheres da geração futura. "E Não Sobrou Nenhum / O Caso dos Dez Negrinhos" é o seu livro mais vendido e já foi adaptado para o cinema e televisão - inclusive a atual série da exibida pela Rede Globo, "Supermax", tem seu roteiro baseado nessa brilhante obra. 

Por quê ler?

Capa original

Porque é Agatha Christie, ora! Não, mas só por isso. Desta vez Agatha Christie me surpreendeu mesmo! Quer dizer, seus livros sempre me surpreenderam, mas "O Caso dos Dez Negrinhos" foi um livro, que nem sei como descrever... surpreendente talvez. Acho que é essa palavra que chega perto do que é você pode esperar desse livro: surpresas!

Em "O Caso dos Dez Negrinhos", Agatha nos apresenta uma história cheia de mistérios e instigante. 10 distintas pessoas, tanto em classe social, personalidade, aparência, questões financeiras, são chamadas para passarem um final de semana na Ilha do Negro, que é alvo da imprensa desde que foi disputada por sua compra. 

Todas aquelas dez pessoas haviam cometido algum delito no passado, mas não haviam sido julgadas e muito menos condenadas por aquele crime. Não por enquanto. U.N.Owen, o cicerone,  os trouxe até a ilha para pagarem por aquelas mortes que ficaram esquecidas. A justiça agora seria feita com as mortes que estavam por vir. 

Quanto maior fosse a sua culpa, mais para o fim você ficaria, sofrendo com a pressão psicológica e o medo de ser o próximo. Se a sua culpa não fosse tão grande e você tivesse participado indiretamente do crime, você não precisaria se preocupar, pois você seria um dos primeiros. 

As 10 pessoas - que nem ao menos se conhecem - viajam até a ilha, mas quando chegam lá descobrem que os proprietários se atrasaram e apenas chegarão no dia seguinte. Tudo vai bem até esse momento. É claro que alguns desconfiam do que esteja acontecendo, mas a atmosfera local e a ilha em si proporcionam uma estadia agradável e confortável... até que uma estranha gravação é ouvida por todos os 10 na hora do jantar, denunciando todos ali presentes sobre crimes cometidos no passado. 

O choque é tão grande que alguns chegam a desmaiar, mas o pior está por vir... Quando um dos 10 misteriosamente morre engasgado com sua própria bebida, não falta a decisão dos 9 restantes a tentarem sair daquela ilha, que agora não é mais um local pra descansar. Mas outro problema surge: o barco que traz suprimentos para a ilha só vem na manhã seguinte, e mais outro problema surge: uma tempestade está para chegar, o que dificultará a vinda do barco.

Calma, isso não é nem o começo...


Esse é o ponto de partida do livro. Agatha criou uma história com uma névoa de mistério e personagens com o mesmo elemento, o que torna o enredo do livro interessante que não deixa você largar o livro em nenhum momento. E o que é mais legal: dentre os 10, está o assassino! 

No começo, todos suspeitam que o casal de proprietários está por trás do mistério da ilha, mas logo percebem que não há mais ninguém na ilha, além deles mesmos. E isso é o legal, você começa a apostar em quem é o possível assassino, o que nesse livro, é bem difícil saber logo de cara.

Um após o outro, os convidados começam a ser assassinados na Ilha do Negro. A única pista que eles possuem é o poema, já que o assassino faz questão de matá-los da mesma forma que os negrinhos da história vão morrendo. 

O poema, muito conhecido na Inglaterra, conta a história de dez negrinhos que morrem de formas trágicas durante a história:
"Vera postou-se diante da lareira e leu-o. Era a velha historieta infantil em versos, que lhe fez lembrar os seus tempos de criança: 
'Dez negrinhos vão jantar enquanto não chove;
Um deles se engasgou e então ficaram nove.
Nove negrinhos sem dormir: não é biscoito!
Um deles cai no sono, e então ficaram oito.
Oito negrinhos vão a Devon de charrete;
Um não quis mais voltar, e então ficaram sete.
Sete negrinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles se corta, e então ficaram seis.
Seis negrinhos de uma colmeia fazem brinco;
A um pica uma abelha, e então ficaram cinco.
Cinco negrinhos no foro, a tomar os ares;
Um ali foi julgado, e então ficaram dois pares.
Quatro negrinhos no mar; a um tragou de vez
O arenque defumado, e então ficaram três.
Três negrinhos passeando no Zoo.
E depois? O urso abraçou um, e então ficaram dois.
Dois negrinhos brincando ao sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então ficou só um.
Um negrinho aqui está a sós, apenas um;
Ele então se enforcou, e não ficou nenhum.'"
Sendo assim todos sabem da forma que poderão morrer, resta saber quando e se eles terão tempo suficiente para descobrir quem está fazendo isso antes que o poema termine e todos os dez já estejam mortos. Além disso, a cada morte, como aviso do assassino, uma das dez estatuetas de negrinhos desaparece da mesa de jantar, notificando assim, que outra pessoa jaz morta, mesmo que ninguém tenha se dado conta disso e que o corpo morto não tenha aparecido ainda.

De tirar o fôlego


A escrita da autora não perde o foco. Além de todo o mistério ser o palco da história, ela ainda estuda os sentimentos dos personagens, que de alguma forma sabem que a gravação no jantar do primeiro dia diz é verdade. Alguns relutam em afirmar que cometeram os crimes descritos na gravação, mas outros, de cara limpa resolvem dizer logo que são culpados. 

Mesmo sendo praticamente bem diferentes em opinião sobre diversas coisas, o que faz cada um suspeitar do outro, alguns acabam se aliando para "tentar pegar" o assassino entre eles.

Enfim, leia esse livro. O final é um espetáculo e um desfecho no estilo da Agatha. É incrível como você, ao acabar o livro, perceber que a verdade sempre esteve abaixo de seu nariz! Por isso, recomendo com toda certeza, pra quem gosta de um romance policial - sem detetives - com inúmeros mistérios que no final terão uma solução. 

Conclusão


Nesse livro não está presente a figura de um dos principais personagens criados por Agatha, o detetive Hercole Poirot (ou simplesmente, Poirot), protagonista de mais em mais dos 40 livros escritos por ela (às vezes acho que Poirot é o alter ego de Agatha). Esse é um livro incrivelmente bem escrito. Como eu disse, Agatha nos surpreende a cada página. 

Apesar de esta ser uma história bastante simples, e sem grandes atrativos e segredos absurdos, a autora consegue nos esconder a todo momento a identidade do assassino e terminando a história sem uma resolução cabível para o crime. 

É verdade que quando lemos a história temos que levar em conta que na época em que esta foi escrita, 1939, os recursos tecnológicos para investigação de crimes eram bastante escassos, e que se toda essa trama se passasse nos dias atuais seria completamente possível descobrir o autor do crime, mas com os recursos da época, descobrir o assassino do caso era impossível. Não fosse pela carta do assassino anexada ao fim do livro, nunca saberíamos quem foi capaz de executar tal proeza. E sim, o autor do crime é completamente inimaginável e surpreendente.

"O Caso dos Dez Negrinhos" é de nos tirar o sono. Assim como os personagens, sabemos a todo o momento como a próximo morte acontecerá, já que também seguimos o poema, mas a todo momento somos surpreendidos, pois o assassino utiliza da hora mais imprópria e impensável para agir. 

Para quem gosta de suspense essa trama é perfeita. Tente ler "E Não Sobrou Nenhum / O Caso dos Dez Negrinhos" sem ficar aterrorizado com essa série de assassinatos misteriosos. E se você se julga capaz, tente ao fim da história desvendar os segredos desse crime brutal e acusar alguém como o assassino obcecado por justiça.

  • Curiosidade


O título desse livro causou polêmica nos Estados Unidos, sendo acusado de racismo. Por isso, lá ele é conhecido como "And Then There Were None" ("E Não Sobrou Nenhum"). Recentemente o livro foi republicado no Brasil, e (não me pergunte porque) o título também foi alterado para "E Não Sobrou Nenhum". Tudo que se relacionava a negros, inclusive o poema, foi mudado, mas ainda que a história permaneça a mesma, eu, o negrinho aqui, prefiro a original: "O Caso dos Dez Negrinhos" (Maldita seja essa síndrome imbecil do politicamente correto!).

Venha se aventurar na Ilha do Negro você também, mas tenha cuidado, porque quando se trata de livros da eterna "duquesa da morte", tudo pode acontecer.

  • 6 Por 10


Mais de meio século depois da publicação de "O Caso dos Dez Negrinhos, é difícil não se surpreender com a originalidade da obra, por isso aí vão pelo menos 6 motivos para você apreciar um pouco de "O caso dos Dez Negrinhos", se é que vai sobrar algum:

1. Mistério - Qualquer livro do gênero policial que se proponha a contar uma história precisa quase que obrigatoriamente apresentar um mistério. Em "O Caso dos Dez Negrinhos" praticamente tudo é um mistério. A forma como as pessoas vão parar na Ilha, o Poema, pequenas representações de bonecos negros colocadas na casa , além da personalidade dos personagens e a forma como as mortes são executadas.

2. Atemporalidade - É um romance policial escrito há mais de 50 anos e que não tem obviedades como um detetive seguindo os passos do criminoso, ou o vilão encenando papel de mocinho.

3. Ritmo - Agatha Christie é conhecida por sua extensa produção literária, seus mais de 80 livros são a prova disso. Porém, uma das maiores dificuldades ao ler suas obras nos dias de hoje é o ritmo, que comparado a romances do gênero policial ou thrilers contemporâneos como os livros de James Patterson, Dan Brown, Stieg Larsson e Harlan Coben, pode ser considerado lento. Porém, "O Caso dos Dez Negrinhos" foge à regra. É uma história rápida, que lida com a ação decorrente das mortes que vão se sucedendo em um encaixe quase que mecanicamente perfeito.

4. Cenário - O ambiente, uma ilha, 10 pessoas "confinadas" pelo mar ao redor, e a inexplicável reunião realizada pelo senhor U.N Woen.

5. Personagens - Apesar de todos os personagens serem apresentados como pessoas de bem na sociedade, após as revelações feitas pela "voz que vem das paredes" na sala de jantar, a personalidade de cada um começa a se modelar conforme as mudanças no ambiente.

6. O Final - O fim da história explica todo o mistério, mas de uma forma que faz até as histórias de Harlan Coben parecerem previsíveis e simples.
  • Ficha do Livro:
Título Nacional: O Caso dos Dez Negrinhos
Ano de Lançamento: 1939
Número de Páginas: 219 páginas
Editora: Globo
Tradutor: Leonel Vallandro
Título Original: And Then There Where None
Ano de Lançamento: 1939
Número de Páginas: 288
Editora: St. Martin's Paperbacks

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