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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

ACONTECIMENTOS - AYRTON SENNA, A MORTE DE UM ÍDOLO



"Seja você quem for, seja qual for a posição social que você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá." 
Ayrton Senna

Um sobre comum e popular: Silva. Um rosto sem traços comuns aos galãs midiáticos. O corpo também não era "essas coisas". Sem o uniforme e a fama, provavelmente ele não despertaria muito a atenção. Contudo, ao vestir o macacão, Ayrton Senna e o carro tornavam-se uma só entidade indissociável que sentia cada reação da pista e executava manobras inacreditáveis.

Alguns disseram que era um homem sem medo. A verdade é que o piloto encontrava no equilíbrio perfeito entre habilidade e fé - ele era cristão confesso - os caminhos para correr como nenhum outro adversário poderia prever. Superava qualquer dificuldade em busca das vitórias.

A imagem deste brasileiro, considerado um dos maiores esportistas da história, é reconhecida nos quatro cantos do mundo, seja por seu talento e sua determinação excepcionais, ou por desempenho quase mágico.

É um mito do automobilismo mundial, contando com uma história de sucesso que inclui 41 vitórias, 65 pole positions e 3 campeonatos mundiais na Fórmula 1.

O Legado de Conquistas


O legado de conquistas de Ayrton Senna elevou o nível do esporte a outro patamar. Após 20 anos, ainda há marcas a serem batidas pelos novos pilotos da Fórmula 1 e pesquisas atuais ainda apontam que o piloto e considerado o melhor de todos os tempos.

Entre algumas marcas invejáveis estão as suas 41 vitórias na Fórmula 1, o terceiro piloto com o maior número em toda a história. As 65 poles conquistadas em 10 anos de carreira somente foram superadas no décimo-quinto ano de carreira do único piloto a alcançá-las, Michael Schumacher. Entre as marcas ainda não superadas estão as seis vitórias em Monte Carlo, que lhe rendeu o apelido "Rei de Mônaco".

Triste domingo foi aquele...


Uma batida violenta, na sétima volta do GP de San Marino, na Itália, em 1994, tirou a vida do tricampeão mundial de F-1. Era a terceira etapa de uma temporada que não ia nada bem para Senna. Ele ainda não havia conquistado pontos no campeonato e via um novato, Michael Schumacher, disparar com duas vitórias (o alemão viria a conquistar seu primeiro título naquela temporada). 

Ayrton passou os dois anos anteriores comendo poeira dos carros da Williams e, justo quando se transferiu para a equipe com o melhor veículo, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) proibiu as tecnologias que davam vantagem à escuderia azul e branca. O fim de semana do GP, disputado no circuito de Ímola, já estava carregado por causa de um acidente grave de Rubens Barrichello, nos treinos de sexta-feira, e da morte do austríaco Roland Ratzenberger no sábado. No domingo,1º de maio, foi a vez de Senna.

O passo a passo da morte que chocou o Brasil há 22 anos


  • Sangue na pista


A pista de Ímola tinha muitas ondulações. Os carros de F-1 precisam "grudar" no asfalto e, numa superfície irregular, ficam instáveis e sujeitos a derrapar. Para complicar a situação, os veículos da Williams estavam difíceis de guiar, já que a equipe ainda estava se adaptando à proibição do uso do sistema de suspensão eletrônica.

  • Curva da morte


A Tamburello já havia sido palco de acidentes. Em 1987, Nelson Piquet bateu no mesmo ponto a 280 km/h por causa de um pneu furado. Dois anos depois, Gerhard Berger, amigo de Senna, bateu e incendiou sua Ferrari no muro da curva. Após o acidente de Senna, a curva virou uma inofensiva chicane – sequência de curvas de baixa velocidade.

  • Roda murcha


Uma teoria culpa os pneus. Na primeira volta da corrida, os pilotos tiveram de dirigir devagar por causa de um acidente. Com isso, os pneus esfriaram e perderam 25% da pressão. O carro ficou 5 mm mais baixo, o que pode ter desestabilizado a aerodinâmica. Isso teria causado a perda de aderência da Williams com a pista.

  • Fora de controle


A explicação mais famosa é a de que a coluna de direção, que liga o volante às rodas da frente, quebrou. Senna pediu aos engenheiros que aumentassem o tamanho da peça em 1,8 cm para que o volante ficasse mais próximo dele. Segundo a Justiça italiana, a solda de um pedaço extra de metal teria sido mal feita e causado a quebra da coluna.

  • (Sem) Fio da meada


Os sistemas eletrônicos do carro enviam dados de performance a computadores da equipe. É a chamada telemetria. No caso de Senna, os dados revelam que havia força sendo aplicada na coluna de direção, o que provaria que ela não quebrou antes do impacto. Também dá para saber que o piloto acionou freios e soltou o acelerador.

  • Impacto profundo


O carro não estava tão rápido (216 km/h) e a batida não foi frontal – pilotos já escaparam com vida de acidentes mais violentos. A falta de sorte foi que, na batida, a roda direita ficou prensada entre o muro e o carro. Isso causou a quebra do braço da suspensão, que entrou pela viseira do capacete, perfurou o crânio e atingiu o cérebro.

  • À espera de um milagre


A ambulância levou dois minutos para chegar ao local do acidente – tempo demorado na opinião de especialistas em segurança de corridas. Já fora do carro, Senna teve o pescoço cortado para poder respirar (traqueostomia). Após mais 15 minutos, um helicóptero levou o piloto ao hospital Maggiore, em Bolonha. Ele morreu 40 minutos após ser internado.
"Voltando àquele trágico domingo, 01/05/1994, (...) Senna estava sozinho, numa sala dotada de muitos equipamentos, típica desses centros de recuperação. (...) Estava nu, apenas com uma toalha pequena sobre a genitália. Para se ter uma ideia do que estou dizendo, nós, eu e o padre, não o reconhecemos. Soubemos que era Senna porque um médico nos disse que aquele era o paciente que procurávamos. Seu rosto estava irreconhecível. Sua cabeça ficou do tamanho de uma bola de basquete. Enquanto o corpo não apresentava nenhuma lesão aparente e estava branco, branco, sua cabeça tinha a cor quase negra e estava desfigurada.
Mais tarde, conversando com o doutor Servadei, ele me explicou que quando o traumatismo craniano é profundo, como no caso de Senna, em geral há o rompimento das camadas nervosas que envolvem o tecido nervoso. 
Como entre essas camadas correm liquor, líquido cefalorraquiano, e ele mantém-se sob elevada pressão entre essas camadas, quando ocorrem lesões nelas o seu extravasamento gera um edema
generalizado, desfigurando qualquer superfície da sua forma original. Isso foi o que se passou com Senna. 
Como a perícia técnica apurou que a barra push-rod da suspensão da Williams perfurou o seu frontal, pressionando a cabeça contra a parte de trás do cockpit e causando a fratura de toda base craniana, Senna teve desde lesões ósseas genéricas a danos amplos e irreversíveis no tecido nervoso. Esse quadro justificou sua aparência irreconhecível já minutos depois do impacto da Williams no muro da curva Tamburello."

Lívio Oricchio, jornalista, em reportagem especial ao Estadão 27 de agosto de 2006 


  • Maior de todos


Em 2012, a emissora britânica BBC elegeu Ayrton Senna como o melhor piloto de todos os tempos na F-1.

Imagens mostram o carro de Senna soltando faíscas (indicando contato do assoalho com o solo) antes da Tamburello. Confira em abr.io/sennacrash.

Além do crânio perfurado, não havia outra lesão no corpo de Senna: nenhum osso quebrado ou hematomas. Os bombeiros chegaram 20 segundos após o acidente, mas não tinham o que fazer, já que não houve incêndio. Como resultados da tragédia, o acidente tornou a F-1 mais segura.
A segurança aumentou. Hoje, as rodas são "amarradas" ao carro para não voarem, há reforços nas laterais e uma comissão de segurança da F-.

  • Caso encerrado


A Justiça italiana investigou o caso até 1997. Membros da equipe Williams, incluindo o dono, Frank Williams, foram julgados e absolvidos. "Culpa" de quem? O jornalista Flávio Gomes, especializado em automobilismo, explica: "Não há culpados no sentido de alguém ter sido negligente ou descuidado."

Conclusão


Só há uma palavra para descrever o estilo de Ayrton Senna: ousado. Ele fazia seus carros irem além do que eram capazes. Foi assim que deu inúmeras alegrias ao povo brasileiro e fez história na Fórmula 1, até o fatídico 1º de maio de 1994. Na curva Tamburello, do GP de San Marino, na Itália, despediu-se, fazendo o que mais amava. Há exatos 20 anos, o país perdia um dos maiores pilotos do automobilismo mundial. 

A morte de Ayrton Senna mudou para sempre os rumos da Fórmula 1. Para o bicampeão mundial da categoria, o brasileiro Emerson Fittipaldi, que já havia se aposentado no auge da carreira de Senna, o acidente foi um marco. "Ajudou os construtores a descobrirem novas formas de melhorar a segurança dos carros", argumenta o ex-piloto.

Uma das primeiras atitudes, de acordo com ele, foi subir o cockpit para proteger a cabeça dos atletas. "Houve mais consciência sobre a questão da segurança. Se vale pensar como consolo, sua morte ajudou a melhorar a modalidade", pontua. Vários outros acidentes ocorreram na F-1 desde 1994, mas nenhum terminou com a morte de pilotos.

Fittipaldi acrescenta ainda que a morte do ídolo causou a perda do interesse dos brasileiros por esse esporte. 
"Ayrton era espetacular. Ele ia ao limite dele, da pista e do carro. Infelizmente, morreu no topo da carreira. Isso, inclusive, esfriou o interesse do público pela F-1. Quem tem menos de 25 anos hoje não conviveu com aqueles momentos fantásticos e não sabe da magnitude de tal piloto", 
lamenta. Eu mesmo, nunca mais me interessei por esse esporte, desde a manhã daquele triste domingo.

[Fonte: Livro The Death of Ayrton Senna, de Richard Williams; documentário Seismic Seconds: The Death of Ayrton Senna, da National geographic; e sites The Guardian, Terra Brasil, abril.com, The Independent, BBC, VEJA eFastCompany]

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