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quinta-feira, 9 de julho de 2015

O ESPÍRITO SANTO "EM" - COMO SE DEU O CUMPRIMENTO DA PROMESSA

Considerando que é comum dizer que o Espírito Santo só foi dado no capítulo 2 de Atos, por ocasião da formação da igreja, é comum surgirem dúvidas do por que Jesus diz aos discípulos "Recebei o Espírito Santo" ao soprar sobre eles em João 20. Mais uma vez eu saliento. Nunca devemos tomar uma passagem isoladamente ou cairemos em erro. Sabemos que o Espírito Santo não é uma mera influência ou poder, embora ele influencie o crente e o revista de poder. O Espírito Santo é uma Pessoa da Trindade, tão real e distinto quando o Pai e o Filho. Enquanto estava aqui, o Filho fazia companhia aos discípulos. Após a ressurreição seria a vez do Espírito Santo consolá-los. Vamos analisar os fatos, fazendo um cruzamento de dados.

João 14:16 -  "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre" (aqui ele diz "outro" Consolador porque naquele momento o Consolador era o próprio Jesus). Quando o Espírito Santo viesse transmitiria aos apóstolos as coisas que Jesus ficou de dizer a eles, porém não disse porque não poderiam suportar (ou entender) por ainda não estarem capacitados pela habitação do Espírito em si mesmos para terem entendimento espiritual. Sigamos a trilha:

João 16:12-14  - Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir (Jesus aqui está deixando claro a unidade em essência entre Ele e o Espírito Santo). Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar."

Continuando. Aqueles que acham que a Bíblia é apenas uma coletânea de verdades, e não a Palavra de Deus, a revelação do Espírito de Deus ao homem que foi completada pelo ministério dos apóstolos e profetas do Novo Testamento nos evangelhos, Atos, epístolas e Apocalipse, não conseguem evitar passagens como a que Paulo diz em 1 Coríntios 14:37:

"Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor".

Ou o que Pedro diz em sua epístola, ora prometendo continuar "falando" à igreja, ora colocando as cartas de Paulo no mesmo nível das Escrituras inspiradas do Antigo Testamento:

2 Pe 1:14-15  - "Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, como também nosso Senhor Jesus Cristo já mo tem revelado. Mas também eu procurarei em toda a ocasião que depois da minha morte tenhais lembrança destas coisas (obviamente por meio de suas epístolas)." 

2 Pe 3:15-16 - "E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e IGUALMENTE AS OUTRAS ESCRITURAS, para sua própria perdição." 

Portanto, hoje quando alguém ministra o faz fundamentado na Palavra de Deus que temos completa, usando do dom que recebeu e dirigido pelo Espírito Santo que habita em si.

1 Pe 4:10-11 - "Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre." 

Voltando agora à questão específica, sabemos que o Espírito Santo foi dado em sua plenitude no dia de Pentecostes e que ali o Espírito desceu para habitar nos crentes individualmente e na igreja coletivamente. Sigamos para Atos dos Apóstolo:

Atos 2:1-4 -  "E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo. ("cheios" aqui no sentido de plenos, completos, repletos, transbordantes)."

1 Co 3:16 - "Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós (veja o pronome no plural, porque aqui fala da habitação do Espírito na igreja coletivamente)?"

1 Co 6:19 - "Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? (aqui é a habitação individual do Espírito em cada crente)."

Ef 2:22 - "No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito. (aqui mais uma vez no sentido coletivo)."

Sabemos também que todos os salvos depois daquela data fazem parte do corpo de Cristo e foram batizados [no contexto da promessa] com o Espírito Santo lá atrás, naquele dia, mesmo que não estivessem presentes àquela "inauguração" e tivessem se convertido muito depois.

1 Co 12:13 - "Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, [isto aconteceu no dia de Pentecostes] formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido  ("bebido", novamente uma figura de linguagem, indicando o "ingerir", ou seja, colocar dentro, "encher-se" do Espirito) de um Espírito ("um Espírito", indicando unidade)."

Continuando nosso cruzamento de dados, observemos que Jesus também deixou claro que eles precisariam permanecer em Jerusalém após a sua ressurreição e ascensão, porque só então receberiam a promessa da vinda do Espírito Santo.

Lc 24:49 - "E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai [em Joel 3]; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder (aqui Ele fala do batismo, da capacitação que o recebimento do Espírito lhes daria, e é do alto que viria)."

At 1:4-5 - "E [Jesus], estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse Ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias." 

Continuando. Tendo esta verdade muito bem estabelecida, isto é, de que o Espírito só desceria ao mundo no dia de Pentecostes para habitar na igreja, coletivamente, e no salvo, individualmente, o que significaria a passagem em que Jesus assopra sobre os discípulos o Espírito Santo? Mais uma vez faremos bem em ler o contexto todo. 

Jo 20:19-23 - "Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, [que depois seria chamado de 'dia do Senhor' quando os discípulos celebrariam a ceia do Senhor] e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: 'Paz seja convosco.' E, dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado [recordação de seu sacrifício e sua morte - observe que, ao contrário de Tomé, os demais discípulos não pediram para ver nada, Jesus os mostrou porque quis: Deus trabalha (e muito) com imagens]. De sorte que os discípulos se alegraram [ou seja, depois que viram as "provas"], vendo o Senhor [o privilégio dos cristãos congregados ao seu nome]. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: 'Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós [comissionamento dos cristãos genericamente - são aqui chamados de discípulos - e não como na comissão dada em Mc 16 que tinha um caráter mais apostólico e também profético, já que será obedecida também pelo remanescente judeu fiel após o arrebatamento da igreja]'. E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei [o] Espírito Santo [remetendo à Gênesis 2:7]. Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos. 

Passo a passo o cumprimento da promessa, segundo os princípios de Deus


Aqui encontramos todos os elementos prometidos à igreja ou assembleia, antes mesmo de ela existir. Veja que Jesus se coloca no meio deles, como ocorreria depois, quando "dois ou três" estivessem congregados pelo Espírito em seu nome. A sua presença no meio seria o que caracterizaria a igreja congregada e dotada de sua autoridade para julgar e decidir, como é mencionado aqui o poder para perdoarem pecados no sentido administrativo (como faz um júri humano) também mencionado em Mateus 18:20 e mais tarde executado em 2 Coríntios 2, provavelmente referindo-se ao caso do homem que foi colocado fora de comunhão em 1 Coríntios 5 por pecado moral.

2 Co 2:5-11 - "Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos.Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor. E para isso vos escrevi também, para por esta prova saber se sois obedientes em tudo. E a quem perdoardes alguma coisa, também eu; porque, o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos por Satanás; Porque não ignoramos os seus ardis." 

Prossigamos no cruzamento de dados. Da passagem aprendemos que a presença de Jesus  mais o poder do Espírito Santo é igual a capacidade ou poder de julgar. Era esta capacitação que eles estavam recebendo quando lhes foi soprado Espírito (atente para o fato de na frase no original faltar o pronome "o", devendo ser lido "Recebei Espírito Santo"). Eles recebiam ali capacitação para serem enviados, como Jesus os enviava, numa alusão a Adão, que tendo vindo da terra, precisou receber de Deus o sopro da vida para ser alma vivente (Gn 2:7). O Senhor Jesus, o segundo e último Adão, é espírito vivificante (1 Co 15:45) e é neste caráter que os discípulos recebem poder, mesmo não tendo sido ainda habitados pelo Espírito. O que Jesus soprou sobre eles NÃO FOI O ESPÍRITO SANTO. O que Jesus fez foi seguir os passos da criação no ato da recriação. Ao soprar sobre eles, Jesus os estava VIVIFICANDO (lembre-se que TODA A HUMANIDADE FOI MORTA COM O PECADO DO PRIMEIRO ADÃO - Rm 3:23) e, só após terem sido vivificados em Jesus, estariam prontos para receber o Espírito Santo, por isso Jesus disse após soprar: "Recebei [o] Espírito Santo" e logo depois os manda esperar para que DO ALTO, ainda seguindo milimetricamente o projeto do Pai, eles fossem revestidos (REVESTIR = 1 - tornar a vestir; tapar; 2 - cobrir;  3 - fazer o revestimento de; 4 - [fig.] dar a aparência de; colorir; 5 - encher-se; vestir-se; 6 - ornar-se; tomar formas mais belas; 7 - munir-se; 8 - aparentar; 9 - resguardar-se). A própria vida do Cristo ressuscitado é aqui na energia do Espírito, pois apesar de ter sido morto, ele foi vivificado pelo Espírito.

1 Pe 3:18 -  "Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito".

Portanto a passagem toda é uma prévia ou "maquete" de como seria a igreja assim que o Espírito efetivamente viesse habitar nela coletivamente e no crente individualmente. Como eles poderiam ser enviados ao mundo, para representá-Lo do modo como Ele havia sido enviado do Pai, exceto se possuíssem Sua vida ressurreta? A vida natural que receberam de Adão não dava a eles qualquer competência para tal missão. Eles não tiveram poder enquanto o Espírito Santo não foi derramado abundantemente em Pentecostes, mas agora eles tinham a vida [o sopro] e a natureza [o revestimento] que tornava a missão possível. Não lemos desta ação nos outros evangelhos mas lemos em Lucas 24:1-53, "... Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras (v. 45)". Aquela abertura de seus entendimentos foi, conforme cremos, o resultado do assoprar de Sua vida em ressurreição. Observe que, se o Espírito Santo tinha de descer, vir do alto [como na imagem da pomba, indicando liberdade e superioridade], como poderia Jesus ter-Lhe soprado nos discípulos, se o próprio Jesus ainda não havia sido assunto ao céu?

Todavia no Evangelho de João existem as duas coisas que estão conectadas a isto: primeiro o assoprar lhes deu capacidade para testemunharem no mundo como tendo sido enviados por Ele; e, segundo, para serem dotados de poderes administrativos no sentido de perdoar ou reter pecados, não eternamente, é claro, mas governamentalmente. No evangelho de Mateus vemos que o Senhor, antes de Sua morte e ressurreição, indicou que tais poderes seriam conferidos a Pedro (Mt 16:19) e aos apóstolos como um todo (Mt 18:18), em cada ocasião fazendo alusão ao futuro. Aqui o poder é efetivamente conferido. A princípio, não há dúvida, o poder foi apostólico, e vemos Pedro fazendo uso desse poder em Atos 5:1-11, e o Espírito Santo ratificando sua decisão de maneira inequívoca. Mas em 1 Coríntios 5:3-5, 12 e 13 temos Paulo exercendo esse poder e convocando a igreja a agir juntamente com ele na exclusão do malfeitor. Em 2 Coríntios 2:4-8 nós o encontramos convocando a igreja a reverter a ação já que o malfeitor havia se arrependido. Então eles deviam tirar ou perdoar o pecado; e o versículo de João 20:10 é muito instrutivo neste sentido. 

O Batismo com o Espírito Santo - ou no Espírito Santo (tanto faz): O Espírito de Deus vindo fazer morada na Igreja (indivíduo) para a edificação da  igreja (coletivo) em Atos (movimentos) dos Apóstolos (e/ou do Espírito)


A promessa

Em dois lugares diferentes e em duas ocasiões diferentes, Jesus se referiu abertamente à descida do Espírito Santo. A primeira ocorrência foi no Cenáculo de Jerusalém, na véspera de sua morte (Jo 14:16; 15:26; 16:7 e 16:13). A segunda, no povoado de Betânia, perto de Jerusalém, quarenta dias após a ressurreição e no dia de sua ascensão (At 1:8). Cerca de novecentos anos antes, porém, por boca do desconhecido profeta Joel, Deus havia prometido: “[...] vou derramar meu Espírito sobre todo tipo de gente – Seus filhos vão profetizar e também suas filhas. Seus jovens terão visões e seus velhos terão sonhos. Vou derramar meu Espírito até sobre os escravos, tanto homens quanto mulheres” (Jl 2:28-29). Quando a promessa se cumpriu, logo veio à mente de Pedro essa passagem das Escrituras, que ele conhecia de cor, e a citou em seu discurso (At 2:16-21).

João Batista também mencionou o evento do Pentecostes: “Eu os batizo com água para mostrar que vocês se arrependeram dos seus pecados, mas aquele que virá depois de mim os batizará com o Espírito Santo e fogo” (Mt 3:11). E o próprio Jesus, além daquelas promessas proferidas no Cenáculo, fez uma curta referência à futura provisão do Espírito: “Porque naquela hora o Espírito Santo lhes ensinará o que devem dizer” (Lc 12:12).

A espera


A descida do Espírito dependia da ascensão de Jesus, como ele declarou: “Eu falo a verdade quando digo que é melhor para vocês que eu vá. Pois, se não for, o Auxiliador não virá; mas, se eu for, eu o enviarei a vocês” (Jo 16:7). Porém, o Espírito Santo não veio na tarde nem no dia seguinte a sua ascensão. Jesus prometeu a vinda do Espírito, mas não forneceu nem o dia nem a hora desse evento próximo, pois não caberia a eles “saber a ocasião ou o dia que o Pai marcou com a sua própria autoridade” (At 1:7). Jesus deu uns "dias de folga" para os discípulos. A ordem de se espalhar e de ir por todo o mundo pregar o evangelho deveria ficar suspensa até o cumprimento da promessa: “[...] fiquem em Jerusalém e esperem até que o Pai lhes dê o que prometeu, conforme eu disse a vocês” (At 1:4). A espera durou sete dias. Curioso é que a maior parte dos discípulos morava em outras cidades, especialmente na Galileia. Nesse período, eles ficaram hospedados, quem sabe, na mesma sala ampla, mobiliada e arrumada onde se reuniram com Jesus antes de sua morte (At 1:12-13). O tempo foi ocupado com reuniões de oração e a escolha de Matias para assentar-se na cadeira vaga de Judas, o traidor.

O surto (impulso, arrancada)

A história está cheia de “de repente”. De repente, os sabeus atacaram os servos de Jó e levaram todo o seu gado; de repente, veio um vento do deserto e derrubou a casa onde estavam os dez filhos de Jó; de repente, chegou o dia da desgraça; de repente, o muro desmoronou e caiu no chão; de repente, apareceu a mão de um homem e escreveu umas palavras na parede branca da sala do banquete de Belsazar; de repente, a terra começou a tremer. A descida do Espírito Santo aconteceu de repente ou inesperadamente. O evento era esperado, mas o dia e a hora eram desconhecidos. Aconteceu no quinquagésimo dia depois do Sábado de Aleluia, em dia de festa (Festa das Semanas) e em dia de domingo, antes das nove horas da manhã. Naquele momento, “todos os seguidores de Jesus [provavelmente os 120 mencionados no capítulo anterior] estavam reunidos no mesmo lugar [talvez num recinto qualquer do templo]” (At 2:1).

O surto, ou o impulso inicial provocado pela descida do Espírito Santo foi algo público – em contraste com o nascimento de Jesus –, notório, marcante, inesquecível e tremendo. Houve sinais audíveis – “o barulho de um vento soprando muito forte” que enchia o recinto – e visíveis – coisas parecidas com chamas que se espalhavam como línguas de fogo. Houve também alguns fenômenos. De posse do poder e da soberania do Espírito Santo, os discípulos começaram a falar em outras línguas as grandezas de Deus. Era uma formidável mistura de louvor e testemunho. Cada um dos imigrantes de diversas procedências como Palestina, Oriente Próximo, Norte da África, Sul da Europa e ilhas do Mediterrâneo, que moravam em Jerusalém, ouvia, em sua própria língua, o que os discípulos falavam. Muitos desses estrangeiros e nativos já tinham visto fenômenos extraordinários apenas cinquenta dias antes, no dia da crucificação de Jesus, como as três horas de escuridão em pleno dia e o tremor de terra. Os mais religiosos tinham conhecimento também daquele estranho e discreto fenômeno do rompimento do véu do templo exatamente após a morte de Jesus.

O fato é que todos em Jerusalém, estupefatos, não conseguiram entender o que estava acontecendo. Com a explicação do fenômeno e a pregação sobre a morte e a ressurreição de Jesus dadas por Pedro, quase 3 mil pessoas acreditaram na mensagem anunciada, foram batizadas e se juntaram ao grupo dos seguidores de Jesus (At 2:41).

O comandante


Jesus fez uma clara ligação da pessoa do Espírito Santo com a Grande Comissão: “Porém, quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra” (At 1:8). Essa associação é transparente em todo o livro de Atos, o primeiro volume da história de missões. Tão transparente que há quem sugira que o livro deveria se chamar “Atos do Espírito Santo”.

É o Espírito Santo quem comanda o trabalho. Vê-se isso claramente no ministério de Filipe e de Paulo. O Espírito ordenou a Filipe que se aproximasse daquela carruagem que levava o tesoureiro e o administrador das finanças da rainha da Etiópia. Graças a essa orientação, o homem se converteu, foi batizado e introduziu o evangelho na Etiópia (At 8:29-38). Foi o Espírito quem levou Filipe daquela estrada deserta para evangelizar as cidades entre Azoto e Cesareia (At 8:39-40).

Foi o Espírito quem interrompeu a reunião de oração daqueles cinco líderes da igreja de Antioquia e tirou dois dentre eles – Barnabé e Saulo – para o trabalho missionário (At 13:2). Graças a essa intervenção do Espírito, os dois amigos iniciaram sua primeira viagem missionária. Mesmo mais tarde separados, Barnabé e Paulo continuaram a viagem para pregar o evangelho, com itinerários diferentes.

Em outra ocasião, o Espírito Santo bloqueou por duas vezes os planos de Paulo de pregar na Ásia e na Bitínia, para forçar sua ida e de seus companheiros para a Macedônia (At 16:6-10). Graças a essa manifestação do Espírito, a Europa foi alcançada para Cristo e se tornou um celeiro missionário por vários anos. Paulo se deixava dirigir, como se pode ver no encontro que ele teve com os presbíteros de Éfeso em Mileto: “Agora eu vou para Jerusalém, obedecendo ao Espírito Santo”. Além de traçar o itinerário de Paulo, o Espírito não escondeu dele as prisões e o sofrimento que o esperavam (At 20:22-23).

Quando Pedro estava confuso com a visão dos animais imundos que teve em Jope e com o convite de Cornélio, o Espírito Santo deixou tudo claro e lhe disse: “Agora apronte-se, desça e vá com eles [os portadores do convite]. Vá tranquilo porque fui eu que mandei que eles viessem aqui” (At 10:20). O fato é que, em trinta anos de missões, o evangelho alcançou os mais importantes centros urbanos do mundo e nele se estabeleceu (Jerusalém, Éfeso, Corinto, Atenas e Roma).

O missionário precisa dar abertura ao Espírito, para que ele o leve para o lugar certo no tempo certo, pois a visão do Espírito é panorâmica tanto no sentido geográfico como histórico. Ele tudo vê – vê o presente e o futuro. Ele tem agenda, tem estratégia, tem prioridade. Ele tem direito de comandar, de empurrar alguém para algum lugar.

A unidade


A consciência que a igreja primitiva tinha da presença do Espírito Santo era tão grande que Pedro disse a Ananias que ele havia mentido ao Espírito Santo e a Safira que ela havia conspirado contra o Espírito Santo (At 5:1-11). Não podia ser mais cuidadosa a carta pastoral que os apóstolos e os presbíteros enviaram aos irmãos de Antioquia, da Síria e da Cilícia: “Porque o Espírito Santo e nós mesmos resolvemos não pôr nenhuma carga sobre vocês” (At 15:28).

As plenitudes


É no livro de Atos dos Apóstolos que a expressão “cheio do Espírito Santo” aparece mais vezes em toda a Bíblia. Em duas ocasiões, fala-se de uma plenitude coletiva: “Todos ficaram cheios [ou embriagados] do Espírito Santo”. A primeira foi no dia de Pentecostes (At :4) e a outra foi quando Pedro e João foram soltos da cadeia por falta de provas (At 4:31). As demais passagens mencionam uma plenitude individual: Pedro cheio do Espírito Santo (At 4:8), Estêvão cheio do Espírito Santo (At 6:5; 7:55), Barnabé cheio do Espírito Santo (At 11:24). Subentende-se que os sete diáconos eleitos eram como Estêvão, cheios do Espírito Santo, por causa da orientação dada pelos apóstolos (At 6:3).

A Bíblia fala em diferentes plenitudes negativas – mãos cheias de sangue, olhos cheios de adultério, casa cheia de coisas roubadas, cidades cheias de violência etc. – e outras positivas – uma tribo cheia da bênção do Senhor, lábios cheios de louvor, uma velhice cheia de vida, coração cheio de júbilo etc.

Não há mistério algum na expressão “cheio do Espírito”. Plenitude significa alguma coisa cheia até entornar – talhas cheias de água, cestas cheias de pães e peixes, vale cheio de ossos – ou alguma pessoa cheia de algum privilégio – cheia de graça, cheia de temor do Senhor, cheia de poder. Logo, plenitude do Espírito significa estar cheio da presença do Espírito, do poder do Espírito, da unção do Espírito, da direção do Espírito. O contrário da plenitude do Espírito é a plenitude de si mesmo. Paulo refere-se a certas pessoas “cheias de si” (Cl 2:18). Uma plenitude não combina nem convive com a outra. 

Guardadas as devidas proporções, talvez alguém possa dizer sem mentir, sem exagerar, sem se exaltar e sem tomar o nome de Deus em vão o que o profeta Miqueias declarou ao povo de Jerusalém e de Samaria, para diferenciar-se dos falsos profetas: “Mas quanto a mim, estou cheio do poder do Espírito do Senhor, do amor pela justiça e da coragem para anunciar, sem medo, o castigo que Deus dará a Israel por causa de seus pecados” (Mq 3.8). Contudo, por uma questão de prudência e de recato, seria melhor deixar que os outros digam que algum de nós está cheio do Espírito Santo!

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