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quarta-feira, 13 de março de 2019

SOCIEDADE NA U.T.I.: TEM ALGUMA EXPLICAÇÃO PARA O MASSACRE EM SUZANO/SP?


"O homem nada mais é do que aquilo que faz de si mesmo" (Jean-Paul Sartre).
O Brasil hoje amanheceu estarrecido com mais uma tragédia que marca negativamente estes primeiros meses do ano de 2019. Dois atiradores entraram em uma escola na manhã desta quarta-feira (13/3), na cidade de Suzano, 50 km de distância de São Paulo, e dispararam contra alunos e funcionários cometendo suicídio em seguida. Segundo o Corpo de Bombeiros, foram atingidas dezenas de pessoas. Ao menos 23 foram encaminhadas a hospitais.

De acordo com a Polícia Militar de São Paulo, os dois atiradores são ex-alunos da instituição de ensino. Guilherme Taucci Monteiro, que efetuou parte dos disparos, tinha 17 anos. Luiz Henrique de Castro, seu comparsa, tinha 25. O aniversário de Luiz Henrique seria no próximo dia 16, quando ele faria 26 anos. Já Monteiro atingiria a maioridade no dia 5 de julho. Os dois se suicidaram assim que a PM chegou à instituição de ensino. 

Fotos expostas em redes sociais mostram ainda que os dois atiradores tinham artefatos que lembram bombas caseiras, os quais acabaram não sendo detonados. Eles usavam máscaras e tocas. Uma das balaclavas tinha o desenho de uma caveira na região da face. Ambos também portavam relógios virados para baixo. As investigações preliminares dão conta de que os dois assassinos eram membros de um fórum na internet com conteúdo extremista que propaga o ódio contra negros, mulheres, homossexuais e cristãos, além de serem adeptos a games de jogos violentos. 

Sociedade doente 


A vida contemporânea cheia de regras e adestramento fez com que houvesse uma padronização completa das pessoas, de tal maneira que todos se comportam do mesmo modo, falam das mesmas coisas, se vestem mais ou menos do mesmo jeito, possuem as mesmas ambições, compartilham dos mesmos sonhos, etc. Ou seja, as particularidades, as idiossincrasias, aquilo que os indivíduos possuem de único, inexistem diante de um mundo tão pragmático e controlado.

Vivemos engaiolados, tendo sempre que seguir o padrão, que se encaixar em normas pré-determinadas, como se fôssemos todos iguais. Sendo assim, a vida acaba se transformando em uma grande linha de produção, em que todos têm que fazer as mesmas coisas, ao mesmo tempo e no mesmo ritmo, de modo a tornar todos iguais, sem qualquer peculiaridade que possa definir um indivíduo de outro e, por conseguinte, torná-lo especial em relação aos demais. 

Somos enjaulados em vidas superficiais e nos tornamos seres superficiais, totalmente desinteressantes e desinteressados, inclusive, para nós mesmos. Sempre conversamos sobre as mesmas coisas com quem quer que seja, ouvindo respostas programadas pelo padrão, o qual nos torna seres adequados à vida em sociedade.

Entretanto, para que serve uma adequação que transforma todos em um exército de pessoas completamente iguais e chatas, que procuram sucesso econômico, enquanto suas vidas mergulham em depressões?

Esfria-se o amor, aumenta-se a iniquidade 


Este terrível massacre na escola no interior de São Paulo, é a prova inequívoca de que partes da sociedade estão doentes. Ver esses jovens fuzilando outros em uma ação orquestrada com requintes militares e fazendo postagens em redes sociais de todo o planejamento da barbárie que cometeriam é algo assustador. O problema é uma completa falta de responsabilidade, pais que não controlam seus filhos, escolas que não dão disciplina, faltam valores morais e éticos, falta de educação e consideração humana. 

Lamentavelmente essa é uma grande verdade e se não forem planejadas ações efetivas, a doença é altamente contaminante. Diriam alguns como justificativa, que devido às precariedades econômicas, com empregos e salários estagnados, movimentos de contestação social são inevitáveis, mas o que vimos nesse triste episódio da vida real foi um comportamento bárbaro de ódio sem sentido. 

Enfim, em vários níveis do relacionamento humano a maldade e o desejo de causar danos ou impedir que o outro se sobressaia, são habilmente acobertados. Inegavelmente há um conjunto de fatores que favorecem o adoecimento da sociedade humana em geral.

Mal do mundo 


Em várias regiões são observados atos descontrolados de violência e falta de consideração. Vamos relembrar alguns: Na pacata Noruega, Anders Behring Breivik, assassinou 77 pessoas. No Brasil, houve o sequestro de ônibus para roubo dos passageiros, o massacre na escola infantil em Janaúba/MG, o ataque do atirador do shopping em São Paulo e o massacre na outra escola em Realengo, no Rio de Janeiro. Nos Estados Unidos faltaria espaço para listar os casos semelhantes. Tem ainda os massacres em Londres e os ataques terroristas no Oriente Médio. 

Em uma sociedade que deu mais ênfase às aparências, valorizando mais o ter do que o ser, a grande doença está na educação das novas gerações que foram direcionadas para um enrijecimento e acabaram ficando afastadas do sentido da vida. Perderam o contato com o eu interior e tudo passou a ser válido e aceito, como mentir, enganar e burlar. Diante da aspereza, tudo levou à perda do senso de equilíbrio, fundamento básico das ações humanas. Sem compreensão, passamos a agir movidos pela melancolia e revolta.

Equilíbrio: a base de tudo


A necessidade do equilíbrio em tudo deveria ser ensinada já pelos pais na orientação dos filhos desde cedo. Quem recebe algo, deve retribuir, é uma lei natural. Na vida notamos a falta do equilíbrio em tudo. Especuladores ganhando à custa dos incautos mantidos na indolência. Oportunistas galgando postos no governo para tirar o máximo de vantagens pessoais. 

Enfim, a lei oposta ao equilíbrio, de levar vantagens sobre os demais em todas as situações, criou um ambiente de desarmonia e insustentabilidade mundial. Todos devem trabalhar com dedicação, esforçando-se por aprender a fazer um bom trabalho. Por outro lado, todos devem ter direito ao trabalho e a uma remuneração condigna, e todos devem ter oportunidade de receber boa educação. 

No Brasil, as autoridades e as elites não deram a devida atenção para o bom preparo de sua população. Predomina a cultura da bajulação da chefia para ficar em destaque, ou por medo. Os níveis salariais praticados sempre foram muito baixos impedindo a formação de poupança; os produtos oferecidos, de baixa qualidade; a escola e muitos pais, pouco esforço têm feito para formar seres humanos de qualidade. 

Conclusão


Qual o sentido de adequar-se a uma sociedade que mata sonhos, porque eles simplesmente não se encaixam no padrão? Uma sociedade que prefere teatralizar a felicidade a permitir que cada um encontre as suas próprias felicidades. Uma sociedade que possui a obrigação de sorrir o tempo inteiro, porque não se pode jamais demonstrar fraqueza. Uma sociedade que retira a inteligência das perguntas, para que nos contentemos com respostas rasas. Então, por que se adequar? 

Os nossos cobertores já estão ensopados com os nossos choros durante a madrugada. O choro silencioso para que ninguém saiba o quanto estamos sofrendo. Para manter a farsa de que estamos felizes. Para fazer com que mentiras soem como verdade, enquanto, na verdade, não temos sequer vontade de levantar das nossas camas. 

O pior de tudo isso é que preferimos vidas de silencioso desespero a romper com as amarras que nos aprisionam e nos distanciam daquilo que grita dentro de nós, esperando aflitamente que o escutemos, a fim de que sejamos nós mesmos pelo menos uma vez na vida sem a preocupação de agradar aos outros. 

Somos uma geração com medo de assumir as rédeas das próprias vidas. E, assim, temos permitido que outros sejam protagonistas destas. É preciso coragem para retomá-las e viver segundo aquilo que arde dentro de nós, mesmo que sejamos vistos como loucos, pois só assim conseguiremos sair das depressões que nos encontramos. É preciso sacudir as gaiolas, já que, como diz Alain de Botton: 
"As pessoas só ficam realmente interessantes quando começam a sacudir as grades de suas gaiolas". 
E, sobretudo, é preciso ser inadequado, porque não se adequar a uma sociedade doente é uma virtude. 

Ou seja, é a atuação da lei do equilíbrio que, quando não respeitada, sempre atrairá consequências adversas, provocando o adoecimento da sociedade. Para sanar a nossa sociedade doente necessitamos de líderes e liderados que reconheçam e respeitem a grande lei do equilíbrio.
"Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna" (Judas 20,21). 

A Deus, o Pai, toda glória. 
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           E nem 1% religioso.

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