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quarta-feira, 18 de julho de 2018

ACONTECIMENTOS - 18 ANOS DO SEQUESTRO DO ÔNIBUS 174: A MAIORIDADE DE UMA TRAGÉDIA SOCIAL



















Há exatos 18 anos, um crime de repercussão internacional parou o Brasil e revelou, dentre outras coisas, o despreparo das forças de segurança e a bizarra face das mazelas sociais em pleno centro da conhecida Cidade Maravilhosa, cartão postal do país e cenário natural na ficção. Só que foi tudo real e em tempo real.

O caso


No dia 12 de junho de 2000, diversos cidadãos brasileiros estavam cumprindo parte de suas rotinas diárias ao embarcar no ônibus da linha 174, no Rio de Janeiro. O que essas pessoas não esperavam era que, por volta das 14h20min, um pesadelo teria início. Esse foi o horário em que Sandro Barbosa do Nascimento ingressou no veículo, armado e transtornado, dando início ao sequestro que tomou a atenção e invadiu os noticiários do dia.

A partir desse momento o Brasil parou. Não havia uma emissora de televisão que não acompanhasse o andamento do sequestro, o qual já indicava o prelúdio de um desfecho trágico.

Sandro deu início ao sequestro, hostilizando os passageiros, mas sem fazer com que o ônibus parasse, o que veio a acontecer cerca de vinte minutos após a abordagem inicial, em razão de uma vítima ter conseguido avisar a polícia do crime que estava em curso. Com isso, o veículo teve o trânsito interrompido pela polícia e o terror se intensificou.

No meio da confusão havida, o condutor do ônibus, assim como o cobrador lograram êxito em se evadir do local pulando as janelas e correndo pela porta traseira. Nesse momento, Sandro, com a finalidade de intimidar os presentes e a multidão que por ali se aglomerava realizou um disparo contra o vidro dianteiro do ônibus, aumentando o pânico instaurado. Vamos lembrar o caso no seu tempo real, conforme registros oficiais dos altos processuais.

Às 14h25 do dia 12 de julho de 2000, 


quando estava em frente ao hospital da Lagoa, na rua do Jardim Botânico, Sandro fez sinal para o ônibus 174, que fazia o trajeto Gávea – Central do Brasil. De bermuda, camiseta, chinelo e revolver 38 à mostra, pulou a catraca e sentou-se em um banco perto da janela. Um dos passageiros notou a arma e sinalizou para um carro da polícia.

Dois policiais interceptam o ônibus em frente ao Clube Militar, e o sequestro tem início. O motorista, o cobrador e vários passageiros conseguem fugir de dentro do ônibus. Porém, Sandro fica com cerca de dez reféns.

Às 14h40, 


mais policiais chegam ao local e começam as negociações. O Bope (Batalhão de Operações Especiais), a conhecida e temida tropa de elite da polícia carioca, é chamado para conduzir a negociação com Sandro. Os policiais, sem saber o nome do criminoso, passam a chamá-lo de Sérgio. O sequestrador pede o boné de um policial militar, que passa a usar virado para trás.

Sandro parece visivelmente alterado. Em um determinado momento, ele pede para a refém Luciana Carvalho dirigir o ônibus para saírem do local. Nesse momento, ele se queixa da presença da imprensa e diz para a polícia tirar os fotógrafos e cinegrafistas de perto do veículo. A polícia ainda não tinha isolado a área.

Roteiro de um drama real

Às 15h48 


Sandro atira contra o para-brisa do ônibus para intimidar a polícia e a imprensa, sem acertar ninguém. Com o passar do tempo, ele começa a falar para as câmeras que o filmavam. 
"Eu acho que a televisão permitiu que ele se sentisse poderoso", 
afirma uma das reféns, no documentário "Ônibus 174", de José Padilha. 
"Na medida em que ele sabia que estava sendo filmado e queria ser filmado."
De acordo com os reféns, ele os obrigava a chorar e a gritar, para que a situação dentro do ônibus parecesse ainda mais dramática. Inicialmente, ele não faz nenhuma exigência. Sandro diz aos reféns que não quer se entregar pois teme ser morto pelos policiais ou na cadeia.

Às 16h02, 


o refém Carlos Leite Faria, 35 anos, pula a janela do veículo e é brevemente detido como suspeito de ser cúmplice de Sandro. Meia hora depois, Sandro olha para um refém, vê sua bolsa e questiona se o rapaz é estudante. Ao receber uma resposta positiva, afirma: 
"Então vai embora que você deve estar atrasado". 
William Nunes de Moura, 28 anos, sai do ônibus e diz que Sandro parece estar drogado e grita muito.

A refém Janaína Lopes Neves, de 23 anos, é obrigada a escrever com batom no para-brisa do ônibus: 
"Ele vai matar geral às 6h. Arrancaram a cabeça da mãe dele!". 
Outras frases como 
"ele tem um pacto com o diabo" 
também foram escritas pela refém.

Às 17h24, 


Damiana Nascimento de Souza é libertada após dizer para Sandro que tinha um irmão na cadeia. Ela já havia sofrido dois AVCs (acidente vascular cerebral) anteriormente e estava passando mal. No episódio, ela sofreu mais um AVC, perdendo a fala e os movimentos do lado esquerdo do corpo.
"Da mesma forma que vocês 'é' perverso (sic), eu também não sou de bobeira não", 
grita Sandro de uma das janelas do ônibus. Apontando a arma para a cabeça de uma das reféns, ele afirma que irá matá-la às 18h 
"para o Brasil inteiro ver" 
se não receber uma granada. 
"Há 15 anos, arrancaram a cabeça da minha mãe", 
continua. 
"Eu não tenho nada a perder não."

Luz, câmera, ação... Terror!


Na opinião de psicólogos e cientistas sociais, ele prolongou a situação pois ali sentiu-se poderoso, deixou de ser um menino de rua "invisível", indiferente aos outros, como sempre fora.

O tenente-coronel José Oliveira Penteado, então responsável pelo comando da operação, queria que algum membro do Bope atirasse em Sandro, e atiradores foram posicionados. A localização do sequestrador favorecia uma ação desse tipo: Sandro estava em um ônibus cercado por janelas que permitiam vê-lo.

Ele, inclusive, colocou a cabeça para fora do ônibus diversas vezes. Segundo policiais presentes na ação, houve mais de dez oportunidades para se efetuar um disparo na cabeça de Sandro sem colocar os reféns em risco. No entanto, Penteado recebe várias ligações de autoridades não reveladas dizendo para não matar o sequestrador.

Às 17h38, 


Sandro coloca um lençol na cabeça de Janaína e diz que irá matá-la. O sequestrador coloca Janaína no chão do ônibus e vai a uma janela, com outra refém, para exigir R$1.000,00 duas granadas e um fuzil.

Em alguns momentos o sequestrador acabou até mesmo simulando a eliminação de uma refém, fingindo ter puxado o gatilho contra sua cabeça e ordenando que não se levantasse do chão, como forma de intimidar a polícia e a sociedade em geral.

Sandro então dispara para baixo, supostamente na direção de Janaína. A refém que ele segurava consigo põe a cabeça para fora da janela e diz que ele matou a garota no chão. Do lado de fora, não é possível ver o que acontece com Janaína, que finge ter sido atingida. O sequestrador ameaça matar outra mulher. Segundo as reféns, ele mudava muito de planos. Um dos policiais entrega um telefone celular para o sequestrador.

Um homem de muletas é libertado. Seguiram-se horas de desespero. O sequestrador apontava ostensivamente a arma contra a cabeça das vítimas,  Todas mulheres, dizendo que iria matá-las. 

O desfecho

Às 18h44, 


Aproximadamente quatro horas após o início do inferno, por volta das 18h50min, Sandro resolveu descer do ônibus, levando consigo a refém Geisa Firmo Gonçalves, de 20 anos, quem lhe servia de escudo humano. Ele segura Geísa pelos cabelos, aponta o revólver contra sua cabeça e diz aos policiais que esta é a última chance de negociação, senão ele irá matar a refém e suicidar-se.

Ao avistar possível oportunidade de eliminar o criminoso, um policial do BOPE efetuou um disparo que, por erro de pontaria, atingiu a refém e não o sequestrador. Diante do movimento desastrado da polícia, Sandro teve tempo de reagir e atingir Geisa com três disparos nas costas.

Escondido na frente do ônibus, o policial do Bope, soldado Marcelo Oliveira dos Santos, 27 anos, aproxima-se de Sandro lentamente pelo lado direito, tentando não ser notado. Porém, quando ele prepara sua submetralhadora HK para atirar, Sandro vira a cabeça em sua direção. O policial erra o tiro e acerta de raspão o queixo de Geísa.

O sequestrador atira nas costas da refém, e ambos caem no chão. Ele faz ainda dois disparos em Geísa antes de ser desarmado. Para os trinta e cinco milhões de brasileiros que acompanham ao vivo pela TV, a impressão é a de que ele havia sido atingido. A refém faleceu, mas Sandro não foi alvejado. Ainda estava vivo, sorte que não lhe acompanhou na trajetória até a Delegacia de Polícia. Com efeito, após os disparos, Sandro foi imobilizado e houve tentativa de linchamento, frustrada pela polícia que o colocou no porta-malas de uma viatura.

A multidão de curiosos avança na direção do sequestrador com a intenção de linchá-lo. Com dificuldade, a polícia coloca Sandro em um camburão, onde ele morre por asfixia. Segundo os policiais que estavam dentro do carro, ele estava muito agressivo, tendo quebrado o braço de um policial e mordido outros. A solução, segundo os policiais, foi fazer ele "desmaiar" por meio de uma "gravata".

No transporte até a Delegacia, Sandro veio a falecer por asfixia. Os policiais que realizaram o transporte de Sandro responderam por seu homicídio, mas foram considerados inocentes da acusação.

QUEM ERA SANDRO BARBOSA DO NASCIMENTO


Uma das frases ditas pelo autor do sequestro do ônibus 174 apresenta um traço de quem era Sandro do Nascimento.

"Aí, parceiro: pode me filmar legal. Se liga só: eu estava na Candelária, o bagulho é sério, mataram os irmãozinhos na maior 'judaria'. Então eu não tenho mais nada a perder mais, não, irmão!", 
dizia Sandro.

A frase em destaque aponta que o autor foi vítima, em 1993, de uma das chacinas mais cruéis que aconteceu no Brasil. Sandro estava entre os jovens sem teto que sobreviveram à chacina realizada por policiais militares. Nessa chacina, oito jovens foram assassinados (escrevi sobre esse acontecimento ➫ aqui).

Conclusão

Uma operação policial desastrosa


Apesar de toda violência cometida por Sandro durante o sequestro, a tragédia do ônibus 174 também ficou marcada como uma operação policial errônea, sendo exemplo do que não se deve fazer em casos semelhantes. 

Conforme já pontuado, o trágico desfecho causado pelo evento teve, em grande parte, contribuição de uma atuação desastrada da polícia que, ao tentar neutralizar o bandido, acabou por atingir o queixo da vítima que era utilizada como escudo. Com isso, o sequestrador, armado, disparou três vezes nas costas da refém Geisa, jovem de 21 anos que estava com dois meses de gravidez. Isso gerou, pelas próprias autoridades de segurança da época, críticas no que tange a operação de liberação dos reféns.

A atuação policial durante o sequestro foi alvo de críticas à época


A polícia afirmou posteriormente que o soldado que atirou agiu por iniciativa própria – homens do Bope têm esse grau de autonomia. A ação policial foi criticada por uma série de erros e falhas durante a ação: a área demorou para ser isolada, o sequestrador não foi morto quando ele estava mais vulnerável, ou seja, dentro do ônibus, a arma usada por Santos era inadequada, os policiais não tinham rádio e comunicavam-se por sinais, entre outras.

Os dois policiais acusados de assassinar Sandro foram considerados inocentes por um júri popular. A perícia mostrou que Geísa foi atingida por quatro disparos: o primeiro, feito pelo policial, de raspão no queixo, e os outros três, de Sandro – dois no torax e um no braço.

Além do documentário de José Padilha, feito em 2002, o sequestro também foi adaptado para o cinema em "Última Parada 174" (2008), dirigido por Bruno Barreto. Após o crime, a linha 174 mudou de número para 158. Mudou-se o número da linha do ônibus, mas será que além disso mais alguma coisa mudou?

[Fonte: Canal Ciências Criminais, por doutores César Lima e Felipe Faori Bertoni, via Jus Brasil; Ig , por Fernando Serpone, especial para o caderno Último Segundo, publicado em 02/06/2011]

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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