"A verdade é a essência da sua Palavra..." (Salmo 119:160a)
Vivemos em uma era em que a verdade é menosprezada. Em tempos atuais temos até o conceito da pós-verdade, uma nova palavra - na verdade, um neologismo, catapultado à fama graças o Dicionário Oxford - que entrou para o léxico mundial em 2016 e que desde então vem frequentando as mais diversas bocas e páginas do mundo político e jornalístico. A pós-verdade é um elegante étimo composto que pode parecer fruto da mais refinada filosofia contemporânea.
Uma coisa é fato, a maioria das pessoas não acreditam na, ou em que haja uma verdade absoluta, assim, cada um constrói a sua própria versão da verdade, que se ajusta ao seu modo de vida.
Mas, para os princípios cristãos, a Bíblia não diz que Jesus é apenas uma verdade, diz que Ele é A Verdade. Isso significa que Ele é a personificação da verdade e não há verdade fora d'Ele. Mas, para os que não gostam de papos com vieses religiosos, proponho uma análise sobre a importância da verdade sob outro prisma.
Verdade no divã
"A Verdade é um conceito amplo que pode ser definido de muitas formas, mas a melhor será sempre aquela que demonstrar a nossa Verdade Interior."
Num dos encontros com os Apóstolos, perante as suas questões sobre a Verdade, Jesus explicou que a Verdade é única, mas, como um cristal, tem muitas faces. Se uma luz incidir sobre um cristal, ela vai ser refletida por todas as suas faces, mas quem estiver a observar apenas verá a luz da face que estiver à sua frente.
Se uma porta estiver pintada de cores diferentes no interior e no exterior, a verdade sobre a cor daquela porta vai depender do lado em que o observador estiver. E se apenas conhecer um dos lados, quando lhe disserem uma cor diferente da que está a ver, dirá que está errada. Estará, do seu ponto de vista. Não do ponto de vista da Verdade da porta.
Nietzsche, filósofo alemão do século XX, afirmava que a verdade é um ponto de vista. Ele não aceitava uma definição da verdade, pois dizia não se poder alcançar uma certeza sobre a definição do oposto da mentira. O observador da porta só conseguirá entender que há outra cor que também é verdadeira quando se predispuser a mudar de perspetiva, ou seja, a abrir a porta e observar o outro lado. Só assim constatará que aquilo que considerou mentira, afinal, é verdade.
O outro lado da verdade
Assim é na vida. Muitas vezes precisamos ver o outro lado, para conhecer outras partes da verdade. Porque a Verdade é algo que nos transcende. É um conceito amplo, elevado, que deve ser visto como um guia que nos conduz. É acima de tudo um valor a ser preservado. Para viver em Verdade é preciso conseguir conceber e praticar uma série de outros conceitos e valores, que sustentam a verdade, tais como: respeito, coerência, sinceridade e genuinidade, pelo menos.
Se olharmos para a origem etimológica da palavra, veremos que cada origem nos traz uma perspetiva diferente sobre a Verdade, no entanto, complementares.
- Do grego, "aletheia", que significa 'não oculto', 'não escondido', 'não dissimulado', mostra-nos a verdade como uma manifestação da realidade presente, do que existe tal como é, no agora;
- do latim, 'veritas' que se refere à precisão, ao rigor e à exatidão de um relato, usa a linguagem para detalhar com pormenores e fidelidade o que aconteceu, ou seja, a manifestação do passado;
- do hebraico, "emunah" que significa 'confiança', mostra-nos um conceito relacionado com as pessoas e a capacidade de estas cumprirem algo que prometeram, ou seja, uma verdade projetada no futuro. É baseada na esperança e, se ligada ao conceito Divino pode representar uma profecia.
Para cada um de nós em particular, a verdade poderá ser apenas uma interpretação mental da realidade transmitida pelos sentidos. Imagine um chá morno. Para uns poderá estar ainda quente, para outros já poderá estar frio. A nossa sensibilidade definirá aquilo que é a verdade para cada um de nós. Por isso para se viver em Verdade não pode haver Julgamento.
Da perspetiva da Neurociência, cada cérebro tem um funcionamento muito próprio, por isso, a nossa perspetiva da verdade terá sempre filtros consoante a nossa realidade, as nossas experiências e memórias.
Verdade sensível
A síndrome de Pinóquio
Enquanto seres humanos, seres emocionais e sensíveis, mas também seres pensantes e criadores, o conceito da verdade pode estar também associado à conformidade daquilo que se diz com aquilo que se pensa ou se sente. No entanto, quantas vezes não conseguimos ser coerentes conosco mesmos, ou mudamos de atitude conforme as situações?
Como seria bom ter um dispositivo de alerta da verdade a funcionar 24 horas por dia em nós, para que não cometêssemos o erro de mentir, ou enganar, ou ser incoerente, mesmo que inconscientemente, ou agir em função de uma mágoa que surge e que mais tarde nos vamos arrepender, ou ficar obcecados por "pequenas" verdades que no fundo apenas nos iludem e deturpam tanto as ações do dia-a-dia, assim como, a evolução da alma?
Como escreveu Jorge Luís Borges,
"Não exageres o culto da verdade, não há homem que ao fim de um dia não tenha mentido com razão muitas vezes".
Quem não se lembra da personagem criada por Carlo Collodi, a quem crescia o nariz quando mentia? Pinóquio, um boneco de madeira que sonhava em ser um menino de verdade. A verdade para ele era ser de carne e osso, era ser humano. No entanto, quantas vezes há humanos que parecem bonecos de madeira?
Pinóquio passou por grandes desafios que puseram à prova o seu sentido de verdade e de justiça, de amor ao próximo e coerência, e por isso mereceu ser transformado num menino de verdade. Que magia foi esta que proporcionou a sua transformação? Foi a magia que nos transforma a todos quando nos permitimos senti-la: A emoção. É na emoção que está a verdade do ser humano. Na sensação de vida que se obtém nas experiências, no que se dá e recebe nas trocas entre os seres.
E como exemplo disso, não poderia deixar de mencionar a mensagem que foi passada precisamente sobre a verdade da emoção, num contexto onde, de fato, a emoção deve ser o composto primordial: a música. O cantor português Salvador Sobral fez questão de relembrar essa verdade, nas primeiras palavras que proferiu no palco do festival lusitano de música Eurovisão em 2017 (do qual foi a grande atração e o grande vencedor), cuja mensagem foi mais ou menos esta:
"Hoje em dia faz-se muita música descartável. A música é emoção, é sentimento. As pessoas perceberam a mensagem desta música e, portanto, esta vitória é para a música em geral."
"As Faces da Verdade"
Nada além da verdade?
A história do longa metragem "As Faces da Verdade" (Nothing But The Truth, EUA, 2008) é inspirada no caso da jornalista do New York Times, Judith Miller, que passou 85 dias na prisão, em 2005, por se recusar a informar, perante investigação federal, a fonte de sua matéria que revelava a identidade de um agente secreto da CIA.
No filme, a história é um pouco diferente, mas mesmo assim traz questionamento sobre o exercício da profissão. Rachel Armstrong (Kate Beckinsale) é uma ambiciosa repórter de um importante jornal de Washington D.C. e consegue descobrir uma informação muito valiosa: a identidade de uma agente secreta da CIA, Erica Van Doren (Vera Farmiga), que é mãe de uma colega de seu filho.
Erica estava infiltrada na Venezuela investigando um atentado ao presidente dos Estados Unidos e os relatórios que ela mandou negavam as acusações. Mesmo assim o presidente invadiu a Venezuela. Rachel vai conversar com Erica para avisar sobre a publicação da matéria, mas a agente nega tudo. Como a jornalista tem certeza de suas fontes, com o apoio dos editores a história vira matéria de capa.
O problema é que revelar a identidade de um agente secreto é crime de traição e o informante de Rachel é considerado uma ameaça à segurança nacional. Foi convocado um procurador especial federal, Patton Dubois (Matt Dillon), que reuniu um júri para descobrir quem é a fonte.
O problema é que revelar a identidade de um agente secreto é crime de traição e o informante de Rachel é considerado uma ameaça à segurança nacional. Foi convocado um procurador especial federal, Patton Dubois (Matt Dillon), que reuniu um júri para descobrir quem é a fonte.
Todo o drama começa quando a repórter se recusa a dar esta informação, alegando o direito à confidencialidade das fontes. Mesmo com um importante advogado que o jornal contratou, Rachel foi presa por desacato ao tribunal.
Aqui começa o primeiro impasse de Rachel. Ela seria protegida pela lei, mas como é uma situação que diz respeito à segurança nacional, é obrigada a falar. Se contar, as pessoas começarão a perder a confiança nos jornalistas e não falarão mais em off. Por outro lado, mantendo esse segredo, ela abre mão da sua liberdade, já que foi presa, e da sua família, o que inclui não acompanhar o crescimento de seu filho.
Outra questão que podemos levantar é até onde o jornalista deve ir para publicar uma matéria. Até que ponto o dever de dar a informação é válido? Ela levou em consideração o interesse público e sua carreira, mas não a vida da agente Erica, que afastou-se da família, foi pressionada pela CIA e assassinada por um extremista que acusou-a de ser anti-patriota.
Era realmente necessário revelar todas as informações dela, sendo que o mais importante era o relatório negando o atentado? Em termos éticos, quando houver risco para a segurança pessoal do inocente, o jornal deve omitir informações para não aumentar os riscos. No entanto, Rachel ficou obstinada por dar um grande furo e não levou tanto em consideração a integridade física dos envolvidos.
Ainda podemos ressaltar a posição eticamente correta dos editores do jornal, que defenderam a repórter até o fim, já que eles tinham autorizado a publicação da matéria. Um deles chegou a pensar em desistir algumas vezes, pois o jornal também era penalizado com multas altas, além dos gastos com o advogado. Mas apoiaram-na e arcaram com as consequências da decisão em conjunto.
Além disso, um dos principais assuntos – o grande mistério do filme – é justamente a fonte que revelou tudo. Muitos criticam o fato de que ela tenha conseguido a informação em uma situação na qual estava "fora" do papel de jornalista. O problema é a dificuldade de ser um profissional dentro da redação e simplesmente esquecer-se disso na vida pessoal. O instinto jornalístico dura 24 horas. É preciso medir até que ponto pode utilizar-se deste tipo de informação, que não foi dada com o intuito de ser publicada.
Por fim, é um filme que, baseado em uma história real, levanta questões polêmicas sobre a profissão do jornalista, e também como a sociedade encara isso, além de nos remeter à reflexão sobre questões de ética e verdade. Como um amante do jornalismo, sou até certo ponto suspeito para falar de um filme com essa temática, mas, no final, todos, mesmo quem não é envolvido com a atividade, são instigados a refletir a respeito e formar uma opinião.
Conclusão
Enfim, a Verdade pode ser isto: O olhar mais elevado que se pode ter sobre algo para que esse algo seja genuíno e o mais próximo possível da sua origem.
Conseguiremos nós humanos alcançar o melhor de nós para vivermos cada vez mais na magia da Verdade? Deus quer mudar as nossas vidas com a Sua Verdade e só Jesus pode remover as vendas e as amarras da mentira que nos impedem de vivê-la de forma feliz e digna.
[Fonte: Revista Progredir, por Karen Kristal]
A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://circuitogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
Querido Leonardo.
ResponderExcluirParabéns por suas magníficas colocações em relação ao preponderante tema, na verdade, sobre a verdade. Entretanto, prazeroso foi prestigiar e dispor de alguns minutos para apreciar este artigo.
Como deslumbrou Carlos Drummond de Andrade
"VERDADE
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os dois meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram a um lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em duas metades,
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
As duas eram totalmente belas.
Mas carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia."
Carlos Drummond de Andrade
Obrigado por seu precioso comentário querido professor Cláudio. Tê-lo como um leitor do meu artigo, mais do que uma honra, é um privilégio e uma enorme responsabilidade. Abraços!
ResponderExcluirParabéns Leonardo pelas elucidações.
ResponderExcluirDiante destas facetas da verdade, fico com o mestre e maior dos filósofos:
ResponderExcluir"E conhecereis a verdade,e a verdade vos libertará".
Leonardo parabéns pelos temas postados ai por você, Deus ti abençoe, e que ele ti dê muito mais. Bom, a verdade é verdade em qualquer época. Devido aos achismos e vaidades de alguns indivíduos maliciosos no decorrer da história humana e nessa época atual, que tentam desenhar ou descrever várias verdades, mas só existe uma verdade.Não estou querendo fazer um comentário religioso, mais cada um defende o que acredita. A bíblia diz que quando Jesus foi interrogado pelos doutores da lei sobre qual é o grande mandamento da lei, então Jesus disse: amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro grande mandamento. E o segundo semelhante a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois nandameman depende toda a lei e os profetas. Mateus 22:35-40. Bom, embora as pessoas acreditam no que as melhor convém e não naquilo que elas precisam, toda criatura foi criada e estabelecida por Deus. Enfim, si tudo que cada um de nós acredita ser verdade não for baseado nessas palavras de Jesus, seja; por causa da profissão dos achismos da religião da política do que meu país diz ser certo ou errado, tal pessoas que si julgam entendidas do assunto estão perdendo seu precioso tempo, eu volto a dizer; defendo aquilo que acredito.
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