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sexta-feira, 13 de julho de 2018

DISCOS QUE EU OUVI - 45: "ON THE ROCK", RESGATE





Como todos os meus seguidores e leitores aqui do blog sabem, apesar de minha confissão religiosa ser a de cristão protestante (sempre em reforma), não sou o tipo que rotula música e muito menos entro no interminável imbróglio teológico e/ou espiritual(?) sobre a licitude e/ou conveniência do consumo da chamada "música secular" (ou "música do mundo") por cristãos. E nem adianta ninguém insistir que não irei entrar nesse já antigo debate, muito menos irei escrever algo a respeito. Quem quiser, que faça uma boa pesquisa na internet e conseguirá encontrar uma quantidade inumerável de conteúdo sobre esse assunto. É o que digo sempre, para mim música é música e música boa não tem rótulo.

Há algum tempo estou para escrever este artigo sobre um dos melhores álbuns do rock nacional da década de 1990, que "coincidentemente" é de uma banda cristã que, inclusive, durante muito tempo foi chamada de "a primeira banda de bispos do Brasil". Estou falando do sensacional disco "On The Rock", da Banda Resgate.

Muitos citam a fundamental participação de Rick Bonadio nas produções do Resgate, Katsbarnea e Brother Simion. Mas, foi com Paulo Anhaia que o quarteto formado por Zé Bruno, Hamilton Gomes, Marcelo Amorim e Jorge Bruno ampliou sua visão e alcançou maior maturidade.

Até eu envelhecer


A formação da banda pouco se alterou desde seu início, e nessa época, pra esse disco, teve a seguinte ficha técnica: no baixo, Marcelo Amorim (primeiro à direita); nas guitarras e violões: Zé Bruno (segundo à esquerda) e Hamilton (segundo à direita); teclados: Zé Bruno e Paulo Anhaia; na bateria, Jorge Bruno (primeiro esquerda) e os vocais por conta de Zé Bruno e Paulo Anhaia. 

Em 1995, a Banda Resgate já estava na estrada por volta de seis anos, e este era o terceiro trabalho lançado. Dos quatro integrantes (que são os citados na ficha técnica com exceção de Paulo Anhaia), apenas o Jorge mantinha cabelos curtos, os outros três ainda ostentavam longas cabeleiras. 

Antes de trabalharem com Anhaia, Zé e Hamilton já o conhecia nos tempos escolares. Em meados de 1995, souberam que Paulo estava trabalhando como produtor. O guitarrista estava no Estúdio 43 após ter trabalhado num álbum do Velhas Virgens, lançado em janeiro daquele ano. 

A banda decidiu gravar com ele, que passou a acompanhar os ensaios do Resgate. Seus membros contam, no encarte da coletânea "Pretérito Imperfeito, mais que Perfeito" que Paulo ajudou muito a banda a evoluir, dando dicas de composições, trabalhando em arranjos, melodias, estruturas e experimentações. As sessões foram feitas ao vivo entre junho e outubro daquele ano.

O álbum


"On The Rock" foi gravado num sistema digital composto por fitas ADAT (algo bastante comum na época), com Hamilton e Zé dividindo as guitarras e violões, enquanto Marcelo e Jorge, ficaram a cargo do baixo e da bateria, respectivamente. 
Entretanto, também há utilização de sintetizadores, executados por Zé Bruno juntamente com o próprio Paulo Anhaia, que colaborou nos backing vocais.

A capa e design do álbum foram feitas por Wagner Garcia, mais conhecido como o Maradona. Wagner foi o baixista da formação inicial da Oficina G3. O instrumentista saiu do grupo, dando lugar à Duca Tambasco em meados de 1993. Maradona produziu a arte gráfica de muitos discos deste período, mas segundo relatos, hoje o baixista está afastado do cristianismo.

Apesar de ser uma banda que predominantemente permeia o hard rock e o pop rock, os membros do Resgate sempre tiveram uma queda pelo heavy metal. Algumas canções do primeiro álbum até tentavam puxar para as vertentes mais pesadas do rock, mas a exigência técnica para os músicos é grande, e o quarteto não se sentia, de certa forma completamente capaz de seguir este rumo.

No entanto, a ousadia falou mais alto, e "On The Rock" é um registro que levou o Resgate para outro nível, embora com um pé bem fincado no hard – as canções estão bem mais articuladas, os riffs das guitarras de Zé Bruno e Hamilton são marcantes, produzindo um trabalho ótimo de se ouvir do início ao fim. Desde a crítica religiosa feita em 'Doutores da Lei', a pegada pulsante de 'Acusador', o humor de 'Papo de Lóki', 'Fogo' e até mesmo baladas memoráveis como 'Palavras', o álbum, como um todo consegue manter uma consistência sem soar morno ou monótono.

Faixa a faixa


O cd é composto por 14 faixas, então vamos a elas. 

A primeira é 'Doutores da Lei', ela aborda a questão dos falsos mestres, que ensinam como viver e não vivenciam o que eles mesmos apregoam. Daí a necessidade de recusar a viver como esses, pois 
"Quem conhece a liberdade, a quem o próprio Deus chamou, não aceitará se submeter a nenhuma escravidão". 
É melhor viver em santidade, e caso tropece, ter humildade de reconhecer o erro e buscar o perdão de Deus assim 
"Misericórdia quero e não holocaustos é preciso aprender". 

A seguir, vem 'Acusador', que mostra a confiança daquele que é liberto por Deus: 
"Eu sei - fui comprado por um alto preço, Eu sei – você tá debaixo do meu pé, Eu sei – nada poderá me separar, do amor de Deus", 
e a certeza de que contra isso o acusador mentiroso nada pode fazer. 

'Abrir os Olhos' é a faixa de número 3. Possui uma interessante letra que alerta para que as pessoas se acheguem a Deus enquanto há tempo, quem não o faz, acaba assistindo 
"ao seu próprio velório, do pior lugar". 
Nela, Zé Bruno imprime bastante intensidade no vocal, e consegue transmitir como é a vida de correria moderna: 
"Corre todo dia, toda hora, Em todo tempo, feito louco, dando volta, fica tonto, sem parar pra pensar, trabalha o dia inteiro, junta grana, põe no banco, paga conta, compra roupa, sem parar pra pensar". 
A quarta música chama-se 'Papo de Lóki, que fala de transformação, mudança. Daquele pessoal que antes vivia down (mal), mas ao escutar a mensagem de salvação e pensar a respeito, decidiram mudar para melhor, e depois disso não foram mais reconhecidos porque 
"a gente pirou, agora a gente é crente, agora a gente é lóki"
Esta música, mais recentemente, ganhou uma versão punk rock, cantada por Zé Bruno juntamente com a banda Militantes, no dvd destes o "Mais ao vivo do que nunca" em 2006. 

Sabe aquelas músicas clássicas, aquelas que não podem faltar em nenhuma coletânea e nem em nenhum show? Assim é a próxima faixa desse álbum, '5'50 AM' (Dez pras Seis) [junto com 'Daniel', que é faixa do álbum anterior, "Novos Rumos", de 1993], se tornou uma das músicas de maior sucesso do Resgate. A letra é bem melancólica e fala aborda um tema bem sério e polêmico: a depressão, o que a torna atual.

A letra diz:
"Abro os olhos sob o mesmo teto todo dia, tudo outra vez; Acordo, um tapa no relógio a mente tá vazia, são 5'50 AM; Hoje a morte do meu ego, está fazendo aniversário; Será que eu vou chegar ao fim de mais um calendário? Eu não sei..."
Forte, não?! 

A faixa seis, intitulada 'Tempo', baseia-se em Eclesiastes 3, e como o título denota, discorre acerca de todas as coisas terem seu momento oportuno para acontecer. Em seu início, e em alguns outros momentos durante sua execução, ouve-se badaladas de um relógio e sons de sinos, o que sugere o agir do implacável tempo. 

'Príncipe' - que é a minha preferida do álbum -, cujo conteúdo remete a Isaías 9:6, é uma faixa bem simpática e doce de se ouvir, por conta de alguns prolongados "Aleluia!". Lembra canções do período natalino. A letra faz referência ao advento e poder de Jesus, o Messias. 

A seguir, não tem música de fato, 'Tá aberto lá?, Só pra sabê!', são apenas duas frases que Zé Bruno cita em tom de brincadeira. Essa faixa, que é de autoria de Jorge Bruno, se a consideramos como música, é capaz de entrar na lista das que possui menor duração de todos os tempos, cerca de 10 segundos. 

A nona canção, 'Sobre a Rocha' (On The Rock, em inglês) opõe dois tipos de pessoas: o tolo e o sábio. Enquanto o primeiro não crê em Deus e constrói sua casa sobre a areia, o segundo confia sobremaneira em Deus e edifica seu lar sobre a rocha mesmo 
"Contra todas as evidências, contra a voz dos fariseus, como sábio fazer minha habitação, sobre a Rocha". 

Na décima, 'Fogo', vemos mais uma amostra da veia cômica da Banda. Em todos os meses do ano e em todos os dias da semana (indo e voltando) chega-se a conclusão de que 
"Todo dia é dia de cachorro louco, todo dia é dia de fogo no cão". 
Vários latidos, e até uivos, complementam a letra para lá de animal. 

'Solidão' vem logo depois e discute a questão de viver só, sugerindo o Filho de Deus como 
"'Amigo em todo tempo', presente mais que perfeito pra quem vive só".
Dessa música foi produzido um vídeo muito bacana, nele Zé Bruno interpretou um velho homem que vivia isolado, acometido de constantes tremedeiras, a observar os ponteiros de um relógio e sentado numa cadeira de balanço. Maquiagem forte, excelente caracterização. 

'Em Vida' temos uma música bem agitada, composta por trocadilhos com a palavra título da canção e a sonoridade da letra "v", assim: 
"Vida curta, vida longa, quero a vida a vida inteira, pra viver; Vida curta, vida longa, em Jesus a vida inteira, pra viver". 
Muito boa. 

Prosseguindo, temos uma balada das mais conhecidas, a agradabilíssima 'Palavras' - outra que eu amo. Afinal 
"Como uma lâmpada para os meus pés, como luz no meu caminho; As tuas palavras, que alimentam, o meu interior"

Concluindo o cd, 'He'll Come Again', uma bonita versão em inglês, feita por Paulo Anhaia, da música 'Ele vem' (de autoria de Zé Bruno e Hamilton) que compunha o repertório do primeiro disco da banda "Vida, Jesus e Rock'n Roll"(1991). 

Conclusão


"On The Rock", 23 anos depois, é talvez o melhor álbum do Resgate. Talvez porque, quando se fala no grupo paulista, as opiniões são muito variáveis. Existem pessoas que preferem o álbum "Resgate" (1997) ou até mesmo o "Praise" (2000). Ainda, há os que possuem preferência a títulos mais recentes, como "Até eu Envelhecer" (2006), "Ainda não é o Último" (2010) e (o sim, sem dúvida, muito bom também) "Este Lado Para Cima" (2012, já escrevi sobre ele no 18º capítulo dessa série). Mas isto é independência de gostos pessoais, entretanto, é indiscutível que "On The Rock", de 1995 é um divisor de águas na história do quarteto.

Paulo Anhaia continuaria a trabalhar com a banda por muitos anos. Atualmente, o instrumentista segue trabalhando com o quarteto, tendo participado, inclusive da gravação de 25 anos do Resgate. Para "semi finalizar" este review, nada melhor que citar a dedicatória que a própria banda fez e que está no encarte do disco "On The Rock": 
"Este álbum é dedicado a todos aqueles que um dia acreditaram que os malucos deste mundo poderiam ser transformados pela loucura da pregação. Agora a gente é Lóki"
A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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