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segunda-feira, 26 de junho de 2017

PASTOR: VOCAÇÃO, CHAMADO MINISTERIAL OU PROFISSIONAL LIBERAL NA FÉ? - 1

Este artigo foi inspirado por uma conversa informal que eu tive com uma irmã que congrega na mesma igreja que eu. A questão é um tanto complicada de se abordar que não será possível fazê-lo em um só artigo, senão ele ficaria muito extenso.

A falta de envolvimento pessoal e conhecimento dos que comentam sobre esta questão determinam, a meu ver, a realidade dos fatos. Uma realidade de muita confusão quando se discute o assunto proposto. Cada grupo ou denominação religiosa entende do seu jeito e criam o seu formato, tornando o entendimento correto e bíblico mais uma opinião ou argumentação como as demais.

Conceito de vocação


Antes de qualquer reflexão, é necessário que saibamos o que significa a palavra "vocação". Ela vem do latim vocare que significa "chamado". Antigamente este termo significava qualquer espécie de aptidão. Por exemplo: aptidão para medicina, música, artes, etc. Depois ele foi adquirindo um significado religioso passando a designar o chamado de Deus. Vocação sempre indica um chamado. E quem chama sempre deseja alguma resposta da pessoa a quem chama. Deus não age de forma diferente. Só que ao chamar, antes de pedir, Ele dá. Deus, chamando o homem lhe dá a vida, a existência, e com a vida, dá-lhe também a liberdade.

"Vocação" é convite pessoal que Deus dirige a cada um. Cada ser humano tem algo de pessoal e uma maneira pessoal de realizá-lo. Ao descobrir sua vocação, o homem está se descobrindo a si mesmo. Daí a necessidade de permanecer atento a tudo, para perceber sua própria vocação.

Conceito de chamado ministerial


É comum vermos jovens, adultos e até crianças pensando sobre seu futuro ministerial, onde servirão, em que área trabalharão, e percebo que, com frequência, um grave erro ocorre quando ainda não temos convicção do que é um Chamado (ou Ministério), e como nos encaixamos nele. Neste artigo, falarei brevemente sobre os "chamados" de um servo de Deus, e discorrerei sobre este erro infelizmente comum entre os cristãos, e que infectou inclusive a mim por algum tempo, até que entendesse melhor esse assunto, meditando na Palavra de Deus.

Entendo que um cristão tem na verdade dois chamados ou ministérios. Um é o que considero Chamado Geral, e o outro, chamo de Chamado Específico, mas antes de defini-los, precisamos entender o que é um "chamado" ou "ministério". Hoje em dia, a palavra "ministério" adquiriu uma conotação um pouco mais "pomposa", mais "formal", fazendo com que muitos esquecessem seu significado original, primário. A palavra "ministério" denota a área ou cargo em que "ministramos", ao passo que a palavra "ministrar" pode ser substituída simples e corretamente por "servir". No dicionário, encontramos as seguintes definições:
  • Ministrar: Servir; oferecer; exercer uma função incumbida.
  • Ministério: Cargo ou ocupação em que se ministra.
Logo, "ministrar" equivale a "servir", e "ministério" é a "ocupação em que servimos".
  • Servir: Estar a serviço de algo ou alguém; ser servo ou criado de alguém; estar às ordens de alguém.
Ter um ministério equivale a ter um cargo no qual servimos a algo ou alguém, e no contexto em que estamos inseridos, ou seja, o contexto cristão, esse algo ou alguém é o Senhor. Se consultarmos os idiomas vernáculos das Escrituras, como o grego, chegaremos às mesmas conclusões, porém de uma forma até mais clara. Amiúde, a palavra traduzida como "servo" é uma tradução do termo grego "doulos" (e.g. Mateus 20:27), e segundo o Dicionário do Novo Testamento Grego, esta palavra pode ser traduzida como "escravo", "criado", "sujeito ao serviço", "reduzido à escravidão", ou seja, quando Cristo nos chama de servos, está nos chamando de "escravos", "criados sujeitos às Suas ordens". 

Para alguns, isso pode ser algo ultrajante, humilhante, mas certamente esse raciocínio só pode ser engendrado por pessoas com um coração endurecido, afinal, sabendo que tudo o que Deus faz é bom e coopera para o nosso bem, certamente, servi-lO é uma grande honra e privilégio. Algumas pessoas têm orgulho de seus chefes, patrões, mas muitos crentes no Senhor se envergonham ou não aceitam ser considerados "servos de Deus". Outros simplesmente acham o termo bonito, mas não o praticam. Certamente, o simples chamado a servir ao Senhor dos Senhores e Rei dos Reis é um privilégio infinitamente maior que o de servir a qualquer outra pessoa, e deve ser para nós, motivo de grande honra.

Nós, cristãos, somos servos do Senhor, e precisamos entender que servir não é a mesma coisa que "fazer algo que nos convém", ou "fazer algo que nos interesse", algo que "aceitemos e nos achemos no direito de cumprir ou desprezar", mas sim uma posição de servir incondicionalmente ao Senhor, onde for, como for e quando for. 

Ter um ministério é ter um cargo onde exercemos os serviços e tarefas que o Senhor nos atribui, e que devem ser cumpridos, a despeito de nossa conveniência, nosso "estado de espírito", nosso ânimo. Somos servos do Senhor, e isso deve ser visto como um prazer e uma honra, portanto devemos servi-lO com zelo, temor e alegria.

Essa ideia não é muito clara, tampouco bem-vinda nos nossos dias, afinal, o evangelho pregado hoje em dia é mais voltado para o bel prazer humano que para o Reino de Deus, e se tudo agora é voltado aos nossos interesses, é previsível que o "serviço incondicional" não se adequará a esse evangelho. É por isso que é tão raro vermos pessoas colocando-se à disposição do Reino como o Apóstolo Paulo, como um verdadeiro servo de Cristo, que dizia "esmurrar o próprio corpo" (1 Coríntios 9:27) e estar disposto a sofrer o que for para cumprir a boa vontade do Senhor.


As definições dos "dois Chamados"


Como disse, entendo que todo cristão tem dois Chamados ou Ministérios a serviço do Senhor, e seguem abaixo as definições de cada um:


Chamado Geral


Chamado Geral é aquele chamado que todo cristão tem, a despeito de suas características, personalidade, preferências, gostos, aptidões. É o chamado que todo filho de Deus possui, e esse chamado compreende todas as funções a serem praticadas por um cristão, e podem ser consideradas funções inatas no novo homem, ou seja, quando aceitamos a Jesus e passamos a integrar Seu Reino como servos, já assumimos essas responsabilidades. Repito que estas são as funções que todo cristão deve exercer, não importando seu Chamado Específico. São funções como:
Etc...

Estas práticas devem ser exercidas por todo cristão, ou seja, todos nós devemos orar, buscar a Deus, interceder, adorar, pregar o Evangelho, servir a Deus e ao próximo, independentemente de nosso ministério específico, nossa personalidade, nossas preferências, nossas virtudes ou defeitos. Devemos fazer isso, pois estas práticas são parte fundamental da vida cristã, e todos devemos praticá-las.

Chamado Específico 


Este chamado é diferente, pois se trata de algo específico dado por Deus a cada cristão, de acordo com o que Ele acha melhor, ou seja, Deus olha nosso perfil, nossas preferências, as habilidades que nos deu e de acordo com elas, nos encaixa num ministério específico, que não é comum a todos os demais, mas sim algo específico para nós. Não que seja exclusivo para mim ou para você, mas trata-se de algo que não é inclusivo a todo cristão. Com base em Efésios 4:11, vou citar alguns Chamados Específicos:
  • Apóstolo
  • Profeta
  • Evangelista
  • Pastor
  • Mestre
Nem todos os filhos de Deus são profetas, nem todos são evangelistas, nem todos serão apóstolos, pois estes ministérios são específicos para cada cristão. Deus olha o perfil de cada filho Seu, e inclina o coração deles para este ministério mais adequado. É algo semelhante à concessão de dons. Em 1 Coríntios 12, lemos que o Espírito Santo capacita cada um com dons que lhe serão úteis para edificação da Igreja, ou seja, dará dons para uma pessoa conforme a maior utilidade e proveito, no contexto ou particularidades do ministério exercido por ela. 

O chamado específico também funciona assim. Se você é uma pessoa que ama estudar e obter novos conhecimentos, muito provavelmente Deus te usará como um mestre, que ensinará a Palavra a outros. Se você se sente incrivelmente compelido a pregar o Evangelho a todos que se achegam a você, é mais provável que Deus te use especificamente como um evangelista, e por aí vai. Neste assunto, gosto de fazer um paralelo com os dons. Perceba o seguinte:
  1. Existem pessoas que têm dons de cura, não existem? Sim! Porém, Deus diz em Sua Palavra que todos devemos orar, e os enfermos serão curados!
  2. Existem pessoas que têm o dom da fé, não existem? Sim! Porém, a Palavra nos diz que todos devemos ter fé, e orar!
Por quê? Porque Deus quer que todos nós pratiquemos e vivamos Sua Palavra, Seus Mandamentos, mas para alguns, Deus aquece mais o coração para que exerçam aquela determinada função com mais empenho, com mais freqüência, com mais preparo. Todos nós devemos orar por cura, mas uma pessoa que tem esse dom fará isso com mais fogo no coração, digamos. 

Não que os demais não façam com ardor, mas quem tem o dom de cura se sentirá mais compelido a orar pela cura, provavelmente com mais fé que uma pessoa que não tem esse dom. Na vida ministerial acontece algo parecido. Todos nós devemos fazer diversas coisas, mas alguns a farão com mais proficiência que outros, pois são chamados especificamente para aquilo, todavia não estão isentos das demais tarefas comuns a todos os cristãos. Uma pessoa que tem o ministério profético, por exemplo, não pode jamais dizer:
-Não vou pregar o Evangelho, pois isso é coisa de Evangelista!
Não! Pregar o Evangelho é tarefa para todos, porém, os que têm esse ministério específico farão isso com mais dedicação.

Como disse no início, vejo que muitas vezes ocorre um grande erro no tocante à vida ministerial de muitas pessoas, e considero vital abordarmos e compreendermos isto, para que não erremos ou sejamos omissos em coisas que não podem nem devem ser esquivadas.

O erro consiste em almejar demais um ministério futuro, e acabar se esquecendo do ministério que já temos, ou seja, de todas as responsabilidades e funções já atribuídas a nós, desde que nos convertemos!

Por algum tempo, cai no erro de ambicionar tanto um Chamado Específico, almejando um cargo ou ocupação notável e importante, que esqueci (ou fingi esquecer) de praticar meu Chamado Geral, que normalmente é menos visível e honroso aos olhos humanos que o status de ser um "grande pregador" ou "missionário transcultural", e vejo que muitos ainda incorrem neste erro, de olhar tão além, e acabar esquecendo de cumprir seu chamado no tempo presente. Vou dar alguns exemplos:
  • Há pessoas que dizem que seu futuro chamado é pastoral, mas hoje, não servem a igreja, não ajudam no que ela necessita, não se prontificam a auxiliar as ovelhas, ou seja, olham o possível Chamado Específico Futuro, mas ignoram o Chamado Geral Presente, como se no momento ela não tivesse que fazer nada a não ser aguardar as portas do pastorado se abrirem.
  • Outros querem ser grandes missionários, e almejam ir para a África ou para os confins da terra, mas não pregam o Evangelho onde estão, não participam de grupos missionários, de intercessão por missões, de trabalhos evangelísticos, ou seja, olham para o Chamado Específico que pode vir, mas não fazem nada neste momento, conforme aquilo que está em suas mãos, e que já foi determinado por Deus. Há pessoas que sentem um "chamado para a Índia", e assim, recusam-se a fazer algo que não se relacione com aquela nação. Não fazem nada enquanto não pisam ali, justificando-se que seu chamado é para com os indianos.
  • Algumas pessoas sonham em trabalhar integralmente como músicos, ministros de louvor, mas se recusam a servir em outras áreas, pois vislumbram apenas o ministério tão sonhado de rodar o mundo ministrando louvor. Dizem:
- Não! Não vou me comprometer com outra tarefa, pois meu chamado é para outra coisa. 
São indivíduos que podem estar com a vida travada, pois olham tanto para o futuro, que esquecem que o maior chamado delas é servir, e não apenas no futuro, mas servir hoje, amanhã, depois de amanhã, e no mês que vêm...
Se Deus nos promete algo, não devemos esperar a concretização dessa promessa sentados, mas sim trabalhando. Temos que aguardar a realização de Sua Palavra servindo! Imagine-se como um chefe, e raciocine o seguinte:
  • Fulano quer ser um missionário, mas não serve a igreja, não ajuda os pastores, não se preocupa com as ovelhas, não se prepara em sabedoria e conhecimento, não vai à igreja, não demonstra disposição em servir e não frequenta orações por missionários! É óbvio que não o contratarei como "missionário"! Sua vida demonstra que ele não se preocupa com aquilo que diz sonhar, não busca capacitação, e tão somente quer algo grandioso, recusando-se a fazer o que já pode fazer onde está!
Embora eu não seja Deus, e Seus planos e pensamentos sejam infinitamente maiores que os meus, imagino que esse seja um raciocínio válido, pois não é coerente usar uma pessoa folgada, relaxada, para uma obra tão honrosa como a de servir ao Senhor em uma área específica (Jr 48:10)

Como alguém pode querer ser um missionário transcultural que salvará vidas pela pregação do Evangelho, se, onde está, é negligente e ignora o clamor do seu próximo, que ruma ao inferno a passos largos?

Como alguém pode ambicionar ser um "ceifeiro", se, onde está, não prega o Evangelho para ninguém, não participa de nenhum grupo de evangelismo, não frequenta nenhum grupo de intercessão por trabalhadores do Reino, que morrem ao redor do mundo sem um auxílio e amparo espiritual?

Como alguém pode pretender ser um pastor, que terá uma igreja e que cuidará de suas ovelhas, se atualmente, não demonstra nenhum zelo pela Casa do Senhor, não manifesta nenhuma simpatia, empatia ou preocupação com as ovelhas que o ladeiam, não dá a mínima em ter compromisso com ministérios, ignora a questão da submissão e sequer freqüenta regularmente os cultos de uma igreja?

Como alguém pode desejar ser um "grande" profeta, se não paga o preço em oração em busca por dons, não estuda a Palavra, não mortifica sua carne para ouvir a voz do Senhor, não ora nem se consagra, tampouco se santifica?


Profissional liberal na fé


Há diferença entre o "profissional liberal" e o "trabalhador autônomo", você sabe muito bem. Para deixar mais claro eu lhe explico: O termo autônomo é usado para indicar quem trabalha por conta própria sem vínculo empregatício. Quem trabalha como autônomo não possui horário, nem recebe salário, mas sim uma remuneração prevista em contrato. Não se exige, como requisito do trabalhador autônomo, o diploma de curso superior.

Agora quando se refere ao profissional liberal, fala-se daquele que tem nível universitário ou técnico. Ele tem uma graduação especifica para o exercício da profissão. O profissional liberal está registrado em uma ordem ou conselho profissional e é o único que pode exercer determinada atividade. Sua responsabilidade é bem maior pelo produto de seu trabalho. Entram na lista médicos, advogados, jornalistas, dentistas, psicólogos, entre outras categorias .

Agora note que tanto pode ser autônomo o advogado, o médico, o engenheiro, o contador, quanto o vendedor de tecidos, o vendedor de livros religiosos, vendedor de almoço. Sem dúvida podem ser empregados.

Uma realidade que você precisa notar é que há semelhança entre o discípulo de Jesus e o profissional Liberal ou autônomo. O discípulo de Jesus é alguém que está ligado a um conselho sim, mas formado por outros discípulos como ele. Também é alguém que desenvolve suas capacidades espirituais com vistas a conhecer na vida, a mente de Cristo Jesus para servir outros. Para servir a Deus, como expressão de amor é necessário que você O ame e tenha experimentado o que Ele realizou por você.

Jesus da uma orientação de profissional liberal aos seus discípulos quando diz: 
 "...vocês não devem ser chamados 'mestres'; um só é o Mestre de vocês, e todos vocês são irmãos. A ninguém na terra chamem 'pai', porque vocês só têm um Pai, aquele que está nos céus. Tampouco vocês devem ser chamados 'chefes', porquanto vocês têm um só Chefe, o Cristo" (Mt 23:9,10).
Mas as semelhanças terminam aí.
  • Mais sobre este assunto aqui.
A Deus toda glória.
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