Total de visualizações de página

quarta-feira, 3 de maio de 2017

QUEM "INVENTOU" A IGREJA?


"Ele [JESUS] é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina" (Atos 4:11).
"Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na casa de Deus, que é a Igreja de Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade" (1 Timóteo 3:15).
É cada vez mais crescente o número de pessoas que se autodenominam cristãs, mas que se recusam a fazer parte de uma igreja local. Esses grupos se reúnem em lares e outros espaços, mas não aceitam que estes espaços recebam o "rótulo" de igreja. "A igreja sou eu", "Deus não habita em templos feitos por homens"..., afirmam categóricos os componentes desse grupo. Ambas as afirmações são biblicamente corretas se estiverem devidamente inseridas dentro de seus respectivos contextos. Isolados assim, soam como uma frágil desculpa, uma falácia facilmente refutada por qualquer um que tenha um mínimo de conhecimento das Escrituras.

Os motivos que fazem com que essas pessoas se recusem a fazer parte de uma igreja local (ou igreja institucionalizada, conforme gostam de dizer) são os mais diversos possíveis e não julgo ser relevante citá-los e/ou debatê-los aqui. Se você quiser mais detalhes sobre esse fenômeno eu escrevi sobre o assunto: clique ➫ aqui e ➫ aqui.

O propósito desse artigo não é o de convencer essas pessoas que elas devem congregar. Elas são livres para fazer o que bem quiserem de suas vidas. Mas sim de expor o motivo pelo qual eu acho fundamental que todos congreguemos.


Jesus, o criador da igreja


Jesus é a pedra angular do edifício da Igreja. A pedra principal que sustenta toda a edificação. Os apóstolos e os profetas são o fundamento, o alicerce, tanto da Igreja quanto da verdade. Eles foram capacitados de modo especial por Deus para transmitirem e defenderem a verdade no início da Igreja. E somente o ensino deles conforme o temos na Bíblia é o fundamento da Igreja verdadeira, em todas as épocas. 

Daí nosso Senhor ter mudado o nome de Cefas (caniço no hebraico) para Pedro (Petros no grego que significa pedra). Ele pensava no fundamento ao lhe dar este nome, porque não se faz um alicerce com caniços. Todavia, não somente Pedro é o fundamento, como também todos os demais apóstolos e profetas. Não se falou em sucessão apostólica, até mesmo porque o fundamento já foi colocado de uma vez para sempre pelos apóstolos do Senhor.

Tendo eles morrido, foi concluído o alicerce sobre o qual estão sendo erigidas as colunas da Igreja e da verdade, a saber, todos os demais cristãos, tanto os dos dias dos apóstolos, como os das demais épocas. Quando nosso Senhor deu a Cefas o nome de Petros ele pensava apenas no fundamento e não em chefia geral da Igreja, tanto que nos dias do próprio Pedro, coube ao apóstolo Paulo e não a ele, supervisionar o maior segmento da Igreja, a saber, os gentios, enquanto Pedro era encarregado para supervisionar a Igreja da circuncisão, a saber, os judeus. 

Cabe destacar que o líder da Igreja de Jerusalém não foi sequer Pedro, mas Tiago, um dos irmãos segundo a carne do Senhor Jesus, que juntamente com Judas, eram também filhos de Maria e de José. A Bíblia diz alguma coisa sobre governo e organização de uma igreja? Isso é realmente importante? Será que existem diversas estruturas de igreja no Novo Testamento?


Entendendo a estrutura organizacional da Igreja à luz das Escrituras


As primeiras igrejas começaram carismáticas, como é aparentemente demonstrado em Atos 2 e 2 Coríntios, e terminaram presbiterianas, como alguns dizem ser o caso em 1 e 2 Timóteo e Tito? Ou o Novo Testamento dá testemunho de uma forma consistente de governo de igreja local?

Deus criou a Igreja, e isso implica que Ele possui toda a autoridade na (sobre a) Igreja. Deus nos diz o que a Igreja é e como ela deve funcionar. Como a igreja deve ser organizada? De novo, a resposta está na Bíblia.

Precisamos saber o que a Igreja deve ser, antes de podermos avaliar o que nossas igrejas estão fazendo e o que devemos continuar fazendo. Imagine tentar ser um bom marido ou esposa se você não sabe o que é o casamento. Um tipo de liberdade vem com a ignorância, e outro tipo (bem diferente) vem com a instrução. A liberdade de ignorância é irrestrita, mas também infrutífera. Sinta-se livre para tentar usar o piano como um aspirador de pó! A liberdade que vem com instrução - usar algo de acordo com o propósito para o qual foi idealizado - é muito mais satisfatória, como usar um piano para fazer música.

A Confissão de Fé de New Hampshire define uma igreja local nos seguintes termos:

  • Uma Igreja visível de Cristo é uma congregação de crentes batizados, associados por aliança na fé e na comunhão do evangelho, observando as ordenanças de Cristo e governados por suas leis, exercendo os dons, direitos e privilégios investidos neles pela Palavra de Cristo; seus únicos oficiais bíblicos são bispos, pastores e diáconos, cujas qualificações, direitos e deveres são definidos nas Epístolas a Timóteo e a Tito.
Uma igreja é governada pelas leis de Cristo e vive em obediência aos seus ensinos. Em outras palavras, a Bíblia ensina às igrejas como funcionar. Isto é o que a Confissão de Fé de Westminster disse muito bem:
  • Todo conselho de Deus, concernente a todas as coisas necessárias para a sua própria glória, a salvação do homem, a fé e a vida, é expressamente apresentado na Escritura ou pode ser deduzido da Escritura por consequência boa e necessária; ao que nada, em tempo algum, deve ser acrescentado, ou por novas revelações do Espírito, ou por tradições de homens (CFW 1.6; cf. 2 Timóteo 3:15-17; Gálatas 1:8,9; 2 Tessalonicenses 2:2, grifo acrescentado).

Objeções


Entendo que muitos dos evangélicos contemporâneos podem não aceitar a ideia de que a Bíblia nos diz como devemos organizar nossas igrejas. Há poucas razões para isso. Muitos questionam, explícita ou implicitamente, se a Bíblia realmente ensina esse assunto. 

Entre a maioria dos evangélicos e até em seminários batistas de nossos dias, é sugerido que não há nenhum padrão consistente de governo no Novo Testamento (Se essa tem sido a sua suposição, pergunte a si mesmo o que você faria se houvesse ensino sobre esse assunto na Bíblia). Outros ressaltam que a Escritura pode ser considerada "suficiente" mesmo sem abordar especificamente cada questão que possa surgir em nossa mente. Ou eles dizem que pessoas imaginam coisas e as introduzem na Bíblia.

É claro que estes dois últimos pontos são verdadeiros. No entanto, para verificarmos que a Escritura é "suficiente", precisamos observar que ela é suficiente para nos ajudar a fazer o que Deus quer que façamos. E, na Bíblia, Deus demonstra que se importa realmente com a organização e a estrutura da igreja local. Ele estabeleceu diferentes tipos de pessoa na igreja, incluindo mestres e administradores (1 Coríntios 12:28).

Parece que Deus está interessado na "boa ordem" da igreja local (Colossenses 2:5). E chama as igrejas a considerarem diligentemente a vida e a profissão de fé de seus membros (Mateus 18:15-17; 1 Co 5; 1 João 4:1-3).

Outros podem rejeitar toda essa conversa, dizendo que ela não é importante. Há quase uma impaciência para com qualquer coisa que não é essencial. Muito frequentemente, crentes contemporâneos têm apenas duas marchas em sua bicicleta teológica: essencial e insignificante. Se algo não é essencial à salvação, isso é tratado como insignificante e, portanto, descartável. 

Mas a Bíblia nos apresenta várias questões que não são essenciais à salvação, porém, apesar disso, são importantes, e até necessárias, em termos de obediência à Palavra de Deus. Obedecer a essas questões produz bom fruto. Questões de governo e organização se enquadram nesta categoria. Na vida de uma igreja local, elas podem, às vezes, se tornar crucialmente importantes para a saúde e a sobrevivência da igreja.

Uma última objeção a ser considerada pode ser apenas: "Ninguém pensa nisso!" Mas esta objeção é historicamente infundada. Há muito os cristãos têm pensado nessas questões, que constituem o motivo porque denominações inteiras se chamam Presbiteriana, Congregacional, Metodista ou Episcopal..., designações que se referem a como essas igrejas fazem as coisas. 

John Bunyan e Jonathan Edwards, John Wesley e C. H. Spurgeon - todos eles acreditavam que a Bíblia nos ensina como devemos organizar nossas igrejas (me recuso a acreditar que esses heróis estavam errados). Alguém poderia até dizer que a Nova Inglaterra foi fundada por causa dessas questões, assim como foram as igrejas batistas. Muitos cristãos antes de nós pensavam que essas questões são importantes porque as viram na Bíblia.

Falando pela congregação em que sirvo, nossa igreja concorda, tal como os cristãos que viveram antes de nós, que a Bíblia ensina realmente essas questões. Cremos que tais questões são tão importantes, que devemos considerar e estudar com atenção a Escritura na esperança de acharmos algumas respostas sobre como devemos organizar nossa vida em união na igreja local. Nosso alvo é moldar a estrutura e as práticas de nossa igreja, em conformidade com o ensino explícito e implícito da Escritura, achado em mandamentos e exemplos.

1. Quem é a igreja?


Havendo estabelecido o princípio básico de sermos dirigidos pela Escritura e consideradas algumas objeções populares, voltemo-nos agora para três exemplos de como o ensino da Bíblia sobre questões de governo é importante, ainda que muitos cristãos hoje raramente entendam ou apreciem o que a Bíblia diz sobre isso.

A primeira e mais básica questão sobre o governo da igreja é "Quem é a igreja?". E a resposta é muito simples: os membros constituem a igreja local. E, assim como a Bíblia determina em que a congregação crê, ela também determina quem possui a palavra final sobre quem são os membros da congregação.
  • Em Mateus 18:15-20, Jesus ensinou que, se pessoas não se arrependem de seus pecados, devem ser excluídas da igreja local. E chamou a igreja a fazer isso.
  • Em 1 Coríntios 5, Paulo seguiu o ensino de Jesus. Disse que toda a igreja local - não apenas os presbíteros - excluísse de seu número um pecador impenitente.
  • Em 2 Coríntios 2:6, Paulo se referiu a uma punição infligida “pela maioria” a um membro que se desviara. De novo, ele não estava escrevendo aos presbíteros e sim à congregação como um todo.
Nessas passagens sobre disciplina, vemos o significado de ser membro de igreja local. A disciplina traça um círculo ao redor dos membros da igreja. Práticas cuidadosas de membresia e disciplina têm o propósito de separar a igreja do mundo e, por meio disso, definir e manifestar o evangelho.

Igrejas que não praticam membresia e disciplina formais tornam mais difícil para os crentes que são parte da igreja seguirem a Cristo, e mais difícil para suas lideranças saberem por quem devem prestar contas (Hebreus 13:17). De fato, iria mais além e diria que igrejas que não praticam membresia autoconsciente estão em pecado, visto que sem ela os cristãos não podem seguir mandamentos bíblicos básicos. De acordo com o Novo Testamento, os líderes da igreja precisam saber quem é e quem não é um membro da congregação. E, talvez o mais importante, os cristãos precisam saber isso - para o bem de sua própria alma!

2. Quem é, finalmente, responsável?


Um segundo assunto de governo que a Bíblia aborda é: quem é finalmente responsável pelo que acontece numa igreja? O exemplo anterior tocou nesse assunto, mas quero deixar claro: o Novo Testamento dá a responsabilidade final à congregação.

Parece que o Novo Testamento dá a responsabilidade final à congregação nas questões de disciplina e, por implicação, de membresia. Considere novamente as três passagens já mencionadas - como 2 Coríntios 2:6 - nas quais a maioria tomou a decisão de julgar um membro que havia pecado. A igreja tomou a decisão.

Parece também que a Bíblia dá autoridade final à congregação nas questões de doutrina e, por implicação, na escolha de líderes. Isto é evidenciado, por exemplo, no apelo de Paulo às congregações da Galácia para que confiassem em seu próprio julgamento acima do julgamento de um apóstolo ou mesmo de um anjo se um apóstolo ou anjo tentasse alterar o conteúdo do evangelho (Gálatas 1:6-9). 

Outra vez, não foram os pastores que Paulo chamou a agir. Em outra carta, ele censurou igrejas de se reunirem ao redor de muitos mestres para que estes lhes dissessem o que gostavam de ouvir (2 Timóteo 4:3). Certamente esse é um exemplo de autoridade congregacional usada pobremente. O apóstolo João exortou outra igreja a fazer o oposto - exercer cuidadosamente sua responsabilidade por atentar ao ensino que recebia (2 João 10,11).

Nesses exemplos, o Novo Testamento mostra claramente que não era algo externo à igreja local, como uma associação de igrejas, ou uma assembleia geral, ou um bispo, que tinha a responsabilidade final pelo que acontecia numa igreja local. Era a própria congregação. Também não era um subconjunto de membros, como um concílio, presbíteros ou um pastor, que detinha a autoridade final. 

Embora os mestres tenham maior responsabilidade devido ao seu ensino público da Palavra (Tiago 3:1), essas decisões são, em última instância, questões de responsabilidade da congregação.

Essa responsabilidade final da congregação não precisa anular a autoridade pastoral. Pelo contrário, pode tanto reforçá-la quanto protegê-la contra o abuso de tal autoridade. Numa igreja saudável, a congregação sempre (ou quase sempre) apoiará os presbíteros. Ambos os grupos terão o mesmo entendimento da Escritura e adotarão a mesma opinião em questões práticas. 

A responsabilidade da congregação prescrita no Novo Testamento não é como uma reunião de cidade da Nova Inglaterra, sem pessoas maduras para liderar. Normalmente, as congregações devem se submeter com alegria aos pastores e lideranças da igreja. No entanto, devem também manter a capacidade de rejeitar o que os pastores ou líderes talvez apresentem aos membros. Isso é um freio de emergência importante, bíblico e, às vezes, preservador do evangelho que foi revelado por Deus em sua Palavra.

3. As igrejas devem ter líderes múltiplos?


Essa pergunta desperta mais um exemplo do que a Bíblia ensina a respeito de governo da igreja. Se a conversa sobre o que a Bíblia ensina a respeito de estrutura da igreja é recebida com ceticismo por parte de muitos evangélicos hoje, afirmações sobre a natureza e o número de oficiais numa igreja seguem o mesmo caminho.

Com o devido respeito para com aqueles que discordam, acho que a Bíblia ensina claramente que as congregações locais devem ser guiadas por uma pluralidade de líderes. Esse é o padrão consistente de igrejas no Novo Testamento. 

Por exemplo, Paulo orientou que presbíteros (líderes) fossem constituídos nas igrejas em cada cidade (Tito 1:5; cf. Atos 14:23). Ele se dirigiu aos presbíteros (ou "bispos") como um grupo na igreja em Filipos (Filipenses 1:1). E fez o mesmo com os presbíteros da igreja em Éfeso (Atos 20:17). Tiago se referiu também aos "presbíteros da igreja" (Tiago 5:14). 

Em resumo, em nenhuma passagem o Novo Testamento diz algo como: "Submetam-se ao presbítero de sua igreja". Em vez disso, a palavra "presbítero" sempre ocorre no plural. O exemplo é uniforme (cf. as referências aos presbíteros na igreja em Jerusalém, em Atos 11:30; 15:2; 21:18). Se Paulo e os apóstolos encorajaram e instruíram as primeiras igrejas a seguirem esse padrão, parece que também devemos segui-lo.

Essas conclusões são importantes porque Deus nos revelou sua vontade sobre tais questões. A reação cristã deve ser ouvir e atender à Palavra de Deus. William Ames, autor de Marrow of Divinty, texto de teologia usado por décadas em Harvard, asseverou esta mesma coisa:
"O homem (...) não tem poder nem de remover qualquer daquelas coisas que Cristo deu à sua igreja, nem de lhes acrescentar coisas desse tipo. No entanto, de todas as maneiras, ele pode e deve certificar-se de que as coisas que Cristo ordenou são promovidas e fortalecidas 
(...) [Porque somente Cristo é 'o cabeça' da igreja]. A igreja não pode fazer para si mesma novas leis e instituir novas coisas. Ela deve cuidar apenas de achar claramente a vontade de Cristo e observar suas ordenanças com decência, ordem e a maior edificação resultante."

Conclusão


Minha esperança é que o leitor veja como a magnífica suficiência das Escrituras nos liberta da tirania da mera opinião de homens. Deus se revelou em sua Palavra. Ele está falando conosco, preparando-nos para representá-lO hoje e vê-lO amanhã! Uma congregação de membros nascidos de novo - cumprindo as responsabilidades que Cristo lhes deu em sua Palavra, reunindo-se regularmente, guiados por um corpo de presbíteros (líderes) piedosos - é o quadro da igreja que Deus nos dá em sua Palavra - a igreja que Ele chama de sua "casa", comprada com seu próprio sangue (1 Timóteo 3:15; Atos 20:28; cf. Marcos 3:31-35). 

Finalmente, considere o que Deus está fazendo por meio da igreja. Paulo disse: 
"Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor [E aqui, por lógica contextual, Paulo não está se referindo a um indivíduo, mas a uma congregação, uma igreja local e não tem como distorcer, negligenciar, ignorar e/ou suprimir esse fato.]" (Efésios 3:10,11, ênfase acrescentada). 
Isso é o que Deus está fazendo! Portanto, o nosso interesse deve ser semelhante ao de Paulo 
"[*] que a igreja revele e manifeste a glória de Deus, vindicando assim o caráter de Deus contra toda a calúnia de esferas demoníacas, a calúnia de que Deus não é digno de que vivamos por Ele. Deus confiou à sua igreja a glória de seu próprio nome."

[Fonte: [*] trecho do livro "A Igreja: O Evangelho Visível", de Mark Dever, lançamento de Setembro de 2015 da Editora Fiel.]

A Deus toda glória.
 Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog
https://circuitogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos, sempre com um viés cristão, porém sem religiosidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário