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sexta-feira, 5 de maio de 2017

DISCOS QUE EU OUVI - ESPECIAL: O MEIO SÉCULO DO "SGTº. PIMENTA"

Considerado pela crítica especializada como o Melhor Disco de Pop/Rock da história, o "Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band", clássico dos Beatles fez 50 anos no dia 1º de junho. A obra foi concebida no apogeu da cultura hippie, no ano de 1967. O título longo nos faz perder o fôlego, mas a música criativa do melhor disco dos Beatles (e um dos melhores de todos os tempos no âmbito da música pop) nos inebria a alma e nos faz viajar (e não constitui uma bad trip!). 


Beatlemaníaco, eu? Nunca fui


Nunca cheguei a ser um fã dos Beatles. Nunca entendi tanto furor em torno dos "quatro rapazes de Liverpool". Contudo não consegui passar incólume à tudo o que eles representaram para a música mundial. E "Sgt. Pepper's", o oitavo disco de estúdio da banda, que, coincidentemente, nasceu no mesmo ano que eu, foi um dos que eu ouvi mais por curiosidade devido a tudo o que se falava sobre ele, do que por interesse musical propriamente dito.

E há de tudo em Sgt.Pepper’s: dos efeitos sonoros inéditos para a época, passando pelos acordes indianos de George Harrison, até chegar à brilhante orquestração de George Martin em 'A day in the life'. Guardadas as devidas proporções, o LP (como soa antigo este termo!) constituiu para o "fab four" e para a música pop aquilo que as "Memórias Póstumas de Brás Cubas" foram para Machado de Assis e para a literatura brasileira: um divisor de águas e um ponto de maturidade alcançada e desejada. 


Antes e depois


A rigor, se comparado com os álbuns anteriores, sobretudo com as primeiras e ingênuas canções de "Help" e "A Hard day’s night", nem parece mais a mesma banda (ou conjunto, como se dizia no Brasil até não muito tempo atrás). Os temas adolescenciais cederam lugar às observações sobre os dilemas da própria geração a que os quatro cabeludos pertenciam, com arranjos mais elaborados, que não mais se limitam a banais solos de guitarra ou de gaitinhas à la Bob Dylan. 

Em Bob Dylan, aliás, os Beatles se inspiraram, como, por exemplo, na belíssima 'She’s leaving home', ou nos versos que celebram o estranhamento do cotidiano londrino (ou de qualquer metrópole) de 'A Day in the life'. 

Antonioni, em "Blow up", de 1966, parece ter antecipado alguns dos temas esmiuçados pelos Beatles no "Sgt. Pepper’s": a alienação da juventude, o desapego aos temas mais sérios e uma imensa, por vezes inócua, vontade de rebelar-se contra a geração anterior e de mudar o mundo. Em Antonioni, "filósofo" do cinema, o olhar é crítico, e as imagens traduzem o imenso vazio e o caráter "inofensivo" dessa rebeldia divertida e descompromissada. 


Por que virou clássico?


Ringo, John (1940/80), Paul e George (1943/01)
As canções dos Beatles limitam-se a constatar e corroborar estes anseios de mudança, mas as melodias cativantes, a imensa criatividade nos arranjos e até mesmo na capa do disco, mais o auxílio inestimável do "quinto Beatle", isto é, George Martin, emprestam ao "pop" um caráter mais profundo, que ao mesmo tempo diverte, sacode e faz pensar, sem cair na banalidade comercial ou na transformação do rock numa espécie de droga em forma de música que arrastou tantas outras bandas para o abismo. 

Para compreender a genialidade dos Beatles neste memorável disco, basta observar a construção criativa de 'A day in the life', que realiza uma colagem de vários eventos do cotidiano urbano aparentemente dissociados, realizando uma colagem entre um acidente fatal de automóvel, um enfadonho filme de guerra, naturalmente relatando as proezas do exército britânico, a pressa de quem não quer perder o ônibus e os intermináveis buracos de uma rua londrina. 

Cada "episódio", pausadamente declamado pela nasalada e cativante voz de John Lennon, é entremeado por arranjos orquestrais num "crescendo" ensurdecedor, além da bateria precisa de Ringo Starr e pela voz final que nos quer manter "ligados", isto é, não alienados. 

Parece pouco? Talvez não pareça tanto, se comparado ao que fizeram Vivaldi, Beethoven, Mozart, Verdi ou Wagner. Mas, no âmbito exclusivamente do pop, quem chegou a tanta criatividade? Na minha modesta opinião, ninguém. Houve e há tantas outras bandas bastante criativas no mundo do rock, inclusive no nacional, mas nunca ninguém ousou tanto, com tantos belíssimos resultados, como em "Sgt. Pepper’s".


Lado um, lado dois


  • Lado 1
  1. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, 
  2. With a Little Help From My Friends, Lucy in the Sky With Diamonds, 
  3. Getting Better, 
  4. Fixing a Hole, 
  5. She’s Leaving Home, Being for the Benefit of Mr. Kite

  • Lado 2   
  1. Within You Without You, 
  2. When I’m Sixty-Four, 
  3. Lovely Rita, 
  4. Good Morning Good Morning, 
  5. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (reprise),
  6. A Day in the Life 
Sgt. Pepper foi amplamente visto pelos seus ouvintes como uma trilha sonora para o "Verão do Amor", em São Francisco. Vários jovens se reuniram para uma nova experiência social. O Summer of Love foi o marco na contracultura hippie.

O mundo desde então viu hippies, primaveras, a coragem de transgredir, o repúdio aos preconceitos de cor, a família se adaptando ao conceito da afetividade, a coragem de assumir a sexualidade, seja ela qual for. Você dirá que exagero. Não! Tudo, rigorosamente tudo, veio depois da pimenta. Não adianta alegar que tem gente, até no mais graduado posto do planeta, vomitando ódio, fomentando o preconceito e erguendo barreiras ao diferente. 

Toda essa caretice é pontual e efêmera. É reação, coisa de reacionário. Passarão, e nós passarinho. A vida tem, por natureza, a vocação divina de seguir em frente. O sargento cinquentão é o que podemos, com toda a segurança, chamar de clássico dos clássicos: é ouvido com todos os sentidos, em sons e explodindo cores. Chegou ao mundo para lhe dar o rumo da paz e do amor. E qualquer criança sabe que esse é o caminho certo.

Conclusão


Lançado em 1º de junho de 1967, tornou-se um sucesso comercial e crítico, permanecendo durante 27 semanas no topo das tabelas de álbuns do Reino Unido e 15 semanas na primeira posição nos Estados Unidos. A revista Time o considerou "uma evolução histórica no progresso da música" e a New Statesman elogiou a sua elevação da música pop ao nível de arte. Ele recebeu quatro Grammy em 1968, incluindo a categoria Álbum do Ano, o primeiro LP de rock a receber tal honra.

Em 2003, a Biblioteca do Congresso Americana inseriu "Sgt. Pepper's" no Registo Nacional de Gravações, honrando o trabalho como "culturalmente, historicamente, ou esteticamente significante". No mesmo ano, a revista Rolling Stone colocou-o em primeiro lugar na lista dos "500 Melhores Álbuns de Sempre" com a justificação de que é 
"uma aventura inultrapassável em conceito, som, composição, arte da capa e tecnologia de estúdio pelo melhor grupo de todos os tempos de rock and roll." 
Em 2014, com mais de 30 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, ele se tornou o álbum mais vendidos da história da música. Por isso tudo eu não podia deixar de registrar aqui os meus parabéns ao Sargento Pimenta.

A Deus toda glória.
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