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terça-feira, 16 de maio de 2017

FILME QUE EU VI, LIVRO QUE EU LI: "O NOME DA ROSA"

Em se tratando dessa obra, é possível fazer uma análise conjunta sobre o livro e o filme. Aliás, se você leu o livro, não deixe de ver o filme e vice-versa.


O tema


Estranhas mortes começam a ocorrer num mosteiro beneditino localizado na Itália durante a baixa idade média, onde as vítimas aparecem sempre com os dedos e a língua roxos, são cenas de "O Nome da Rosa". O mosteiro guarda uma imensa biblioteca, onde poucos monges tem acesso às publicações sacras e profanas.

A chegada de um monge franciscano (no filme Sean Connery em uma interpretação de tirar o fôlego), incumbido de investigar os casos, irá mostrar o verdadeiro motivo dos crimes, resultando na instalação do tribunal da santa inquisição.

Contexto histórico


A Baixa Idade Média (século XI ao XV) é marcada pela desintegração do feudalismo e formação do capitalismo na Europa Ocidental. Ocorrem assim, nesse período, transformações na esfera econômica (crescimento do comércio monetário), social (projeção da burguesia e sua aliança com o rei), política (formação das monarquias nacionais representadas pelos reis absolutistas) e até religiosas, que culminarão com o cisma do ocidente, através do protestantismo iniciado por Martinho Lutero na Alemanha em 1517.

Culturalmente, destaca-se o movimento renascentista que surgiu em Florença no século XIV e se propagou pela Itália e Europa, entre os séculos XV e XVI. O renascimento, enquanto movimento cultural, resgatou da antiguidade greco-romana os valores antropocêntricos e racionais, que adaptados ao período, entraram em choque com o teocentrismo e dogmatismo medievais sustentados pela Igreja.

No filme, o monge franciscano representa o intelectual renascentista, que com uma postura humanista e racional, consegue desvendar a verdade por trás dos crimes cometidos no mosteiro.

Contextualização


Discussão dos elementos formadores da cultura moderna, o surgimento do pensamento moderno, no período da transição da Idade Média para a Modernidade.

No Filme


O "Nome da Rosa" pode ser interpretado como tendo um caráter filosófico, quase metafísico, já que nele também se busca a verdade, a explicação, a solução do mistério, a partir de um novo método de investigação. E Guilherme de Bascerville, o frade fransciscano detetive, é também o filósofo, que investiga, examina, interroga, duvida, questiona e, por fim, com seu método empírico e analítico, desvenda o mistério, ainda que para isso seja pago um alto preço.

  • O Tempo
Trata-se do ano 1327, ou seja, a Alta Idade Média. Lá se retoma o pensamento de Santo Agostinho (354-430), um dos últimos filósofos antigos e o primeiro dos medievais, que fará a mediação da filosofia grega e do pensamento do início do cristianismo com a cultura ocidental que dará origem à filosofia medieval, a partir da interpretação de Platão e o neoplatonismo do cristianismo. As teses de Agostinho nos ajudarão a entender o que se passa na biblioteca secreta do mosteiro em que se situa o filme.

  • Doutrina Cristã
Neste tratado, Santo Agostinho estabelece precisamente que os cristãos podem e devem tomar da filosofia grega pagã tudo aquilo que for importante e útil para o desenvolvimento da doutrina cristã, desde que seja compatível com a fé (Livro II, B, Cap. 41). Isto vai constituir o critério para a relação entre o cristianismo (teologia e doutrina cristã) e a filosofia e a ciência dos antigos. 

Por isso é que a biblioteca tem que ser secreta, porque ela inclui obras que não estão devidamente interpretadas no contexto do cristianismo medieval. O acesso à biblioteca é restrito, porque há ali um saber que é ainda estritamente pagão (especialmente os textos de Aristóteles), e que pode ameaçar a doutrina cristã. Como diz ao final Jorge de Burgos, o velho bibliotecário, acerca do texto de Aristóteles –
"a comédia pode fazer com que as pessoas percam o temor a Deus e, portanto, faz desmoronar todo esse mundo."

  • Disputa de Filosofia
Entre os séculos XII e XIII temos o surgimento da escolástica, que constitui o contexto filosófico-teológico das disputas que se dão na abadia em que se situa O Nome da Rosa. A escolástica significa literalmente "o saber da escola", ou seja, um saber que se estrutura em torno de teses básicas e de um método básico que é compartilhado pelos principais pensadores da época.

  • Influência aos Pensamentos
A influência desse saber corresponde ao pensamento de Aristóteles, trazido pelos árabes (mulçumanos), que traduziram muitas de suas obras para o latim. Essas obras continham saberes filosóficos e científicos da Antiguidade que despertariam imediatamente interesses pelas inovações científicas decorrentes.

  • Consolidação Política
A consolidação política e econômica do mundo europeu fazia com que houvesse uma maior necessidade de desenvolvimento científico e tecnológico: na arquitetura e construção civil, com o crescimento das cidades e fortificações; nas técnicas empregadas nas manufaturas e atividades artesanais, que começam a se desenvolver; e na medicina e ciências correlatas.

  • Pensamento Aristotélico
O saber técnico-científico do mundo europeu era nesta época extremamente restrito e a contribuição dos árabes será fundamental para este desenvolvimento pelos conhecimentos de que dispunham de matemática, de ciências (física, química, astronomia, medicina) e de filosofia. O pensamento agora (Aristotélico) será marcado pelo empirismo e materialismo.

  • A Época
O enredo desenvolve-se na ultima semana de 1327, num monastério da Itália medieval. A morte de sete monges em sete dias e noites, cada um de maneira mais insólita – um deles, num barril de sangue de porco, é o motor responsável pelo desenvolvimento da ação. A obra é atribuída a um suposto monge, que na juventude teria presenciado os acontecimentos.

Estes livro e filme são uma crônica da vida religiosa no século XIV, e relato surpreendente de movimentos heréticos. Para muitos críticos, o nome da rosa é uma parábola sobre a Itália contemporânea. Para outros, é um exercício monumental sobre a mistificação.

  • O Título
A expressão "O nome da Rosa" foi usada na Idade Média significando o infinito poder das palavras. A rosa subsiste seu nome, apenas; mesmo que não esteja presente e nem sequer exista. A "rosa de então" , centro real desse romance, é a antiga biblioteca de um convento beneditino, na qual estavam guardados, em grande número, códigos preciosos: parte importante da sabedoria grega e latina que os monges conservaram através dos séculos.

  • Biblioteca do Mosteiro
Durante a Idade Média umas das práticas mais comuns nas bibliotecas dos mosteiros eram apagar obras antigas escritas em pergaminhos e sobre elas escreve ou copiar novos textos. Eram os chamados palimpsestos, livretes em que textos científicos e filosóficos na Antiguidade clássica eram raspados das páginas e substituídos por orações rituais litúrgicos.

O nome da rosa é um livro escrito numa linguagem da época, cheio de citações teológicas, muitas delas referidas em latim. É também uma crítica do poder e do esvaziamento dos valores pela demagogia, violências sexuais, os conflitos no seio dos movimentos heréticos, a luta contra a mistificação e o poder. Uma parábola sangrenta patética da história da humanidade

  • Pensamento
O pensamento dominante, que queria continuar dominante, impedia que o conhecimento fosse acessível a quem quer que seja, salvo os escolhidos. Em "O nome da Rosa", a biblioteca era um labirinto e quem conseguia chegar no final era morto. Só alguns tinham acesso. É uma alegoria do Umberto Eco, que tem a ver com o pensamento dominante da Idade Média, dominado pela igreja. A informação restrita a alguns poucos representava dominação e poder. Era a idade das trevas, em que se deixava na ignorância todos os outros.

  • História/Enredo
Em 1327 William de Baskerville (Sean Connery), um monge franciscano, e Adso von Melk (Christian Slater, em um dos seus melhores papéis no cinema), um noviço que o acompanha, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. William de Baskerville pretende participar de um conclave para decidir se a Igreja deve doar parte de suas riquezas, mas a atenção é desviada por vários assassinatos que acontecem no mosteiro. 

William de Baskerville começa a investigar o caso, que se mostra bastante intrincando, além dos mais religiosos acreditarem que é obra do demônio. William de Baskerville não partilha desta opinião, mas antes que ele conclua as investigações Bernardo Gui (F. Murray Abraham), o Grão-Inquisidor, chega no local e está pronto para torturar qualquer suspeito de heresia que tenha cometido assassinatos em nome do diabo. 

Considerando que ele não gosta de Baskerville, ele é inclinado a colocá-lo no topo da lista dos que são diabolicamente influenciados. Esta batalha, junto com uma guerra ideológica entre franciscanos e dominicanos, é travada enquanto o motivo dos assassinatos é lentamente solucionado.

O ano é 1327. Representantes da Ordem Franciscana e a Delegação Papal se reúnem num monastério Beneditino para uma conferência. Mas a missão deles é subitamente ofuscada por uma série de assassinatos. Utilizando sua brilhante capacidade de dedução, o monge franciscano William de Baskerville, auxiliado pelo seu noviço Adso de Melk, se empenha para desvendar o mistério. 

Mas antes que William possa completar sua investigação, o monastério é visitado pelo seu antigo desafeto, o Inquisidor Bernardo Gui (F. Murray Abraham). O poderoso Inquisidor está determinado a erradicar a heresia através da tortura e se William, o caçador, persistir na sua busca, também se tornará caça. Mas à medida que Bernardo Gui se prepara para acender a fogueira da Inquisição, William e Adso voltam à biblioteca labirintesca e descobrem uma verdade extraordinária …


Resumo de "O Nome da Rosa"


Do ponto de vista do filme que hoje está sendo abordado, notamos que a história passa em um mosteiro na Itália Medieval. A idade média assistiu, em sua agonia um grande debate Filosófico Religioso. Perdido o equilíbrio do tomismo, o homem medieval caiu em dois extremos opostos.

De um lado os humanistas racionalistas Frei Guilherme de Ockham, um édito moderno. Tais humanistas cultivaram o antropocentismo julgaram que graças Pa ciências e a técnica, o homem seria capaz de vencer todas as misérias do mundo, até criar uma era de grande prosperidade material e de completa felicidade natural.

De outro lado místicos com visão extremamente pessimista da realidade. Para eles o mundo era intrinsecamente mau e irredimível por ser obra de um deus perverso, distinto da divindade. Acreditavam que a razão humana era má e só seria desejável perder-se no nada divino.

No mosteiro, sete monges morrem estranhamente, isto aborda muito a violência. Há também uma violência sexual, no qual mulheres se vendem aos monges em troca de comida e muitas vezes depois são mortas.

Movimentos ecléticos do século XIV, a luta contra a mistificação, o poder, o esvaziamento de valores pela demagogia, são mostrados em um cenário sangrento sobre a política da historia da humanidade.


Conclusão


Como contexto histórico o filme apresenta a Baixa Idade Média (século XI ao XV) a qual é marcada pela desintegração do feudalismo e formação do capitalismo na Europa Ocidental.

As mortes, o ponto chave da obra, eram muito semelhantes, às características sintomáticas comuns, eram dedos e línguas roxos, o que apontava evidencias de que as mortes eram causadas pelo mesmo motivo: a leitura do livro envenenado, que fora escrito por Aristóteles e que exaltava a subliminaridade do riso, o que quebraria todo um alicerce dogmático que a igreja católica afirmava. 

O acesso a este livro era restrito, por ser considerado um ameaça ao segmento à doutrina cristã. A igreja defendia que a comédia proporcionava ao homem a falta de temor a Deus, e isso enfraqueceria as bases do poder da igreja sobre os cristãos.

A igreja católica guardara por muito tempo livros e escrituras, e não permitia em nenhuma circunstância que os cristãos fossem detentores de determinados conhecimentos, para que não houvesse questionamento a respeito da doutrina e para garantir a existência dos fundamentos da religião. 

Quem questionasse ou fosse contra aos dogmas da igreja era severamente punido pela inquisição que fora criada para garantir que a igreja, que estreitava laços com o poder monárquico, permanecesse no topo da pirâmide socioeconômica da época.

O renascimento que iniciou-se na Europa no início do século XIV, mesmo período que transcorre o filme, atrita com a igreja. Enquanto movimento cultural, o renascimento resgata da antiguidade Greco-romana, os valores antropocêntricos e racionais, que apresentados se opunha ao teocêntrismo e ao dogmatismo medieval alicerçado e elevado pela igreja. 

Baseado na teoria renascentista o monge franciscano Willian de Braskerville, usava da ciência para solucionar os crimes do mosteiro e desagradava a santa inquisição na figura do inquisidor Bernardo Gui.

Foi através da ciência que diversos mistérios da igreja foram desvendados. O conhecimento que a igreja dotava, foi adquirido da razão e da lógica, e ciente do grande poder que a sabedoria pode oferecer a alguém, trancafiou-se muitos livros por muito tempo e junto com eles conhecimento, com o intuito de permitir que a sociedade leiga continuasse ignorante, pois isso seria mai rentável para a igreja.

As questões que orbitaram pela detenção do conhecimento, iam muito alem da obediência e do temor, chegam a questões mais ousadas e egoístas, de caráter social e econômico. O que se aprisionou por séculos nas bibliotecas eclesiásticas foi muito mais que livros, foram verdades, que possibilitariam ao povo da época "sair da escuridão".

A razão e a ciência tiveram ascendência sobre a religião, pois através destas muito se foi revelado, inclusive o excessivo poderio da igreja, que contribuiu pra o misticismo e o embaraço do desenvolvimento intelectual de séculos de existência, regado por muita proibição, ignorância e sangue.

Enfim, trata-se de uma obra perturbadora e que requer muito, mas muito discernimento espiritual e filosófico. Quer ver um filme mais light esqueça "O Nome da Rosa". Quer ler um livro mais leve? Vá ler "A culpa é das estrelas".
  • Bibliografia

Filme: O Nome da Rosa, Globo Filmes e Produçoes

Livro: O Nome da Rosa, Autor: Umberto Eco, Editora: Record, 574 páginas

A Deus toda glória.
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