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sábado, 6 de junho de 2020

FILMES QUE EU VI — 58: "FOOTLOOSE — RITMO LOUCO"

Com a pandemia mundial do novo coronavírus, o mercado cultural foi um dos que mais sofreram. Com os fechamentos de shoppings, as visitas às salas de cinema localizadas dentro desses centros comerciais, também estão proibidas por tempo ainda indeterminado, para evitar as aglomerações.

O mercado cinematográfico paralisou suas produções — também por tempo indeterminado. Assim, muitos filmes que já estavam em fase final de produção, tiveram suas gravações adiadas e algumas até mesmo canceladas, por isso, novos lançamentos no cinema, ao menos por enquanto, é algo que não vai mesmo acontecer

Ainda não se sabe quando os cinemas poderão voltar a funcionar, o que é uma pena pois essa, há tempos, é uma das atividades sociais de lazer preferida por muitas pessoas. Enquanto o cinema não volta, eu te convido a recordar comigo esse grande sucesso das telonas da década de 1980, que, mesmo não sendo lá um grande filme, não ter recebido uma boa avaliação da crítica especializada, foi um grande sucesso de bilheteria, tornando-se, portanto, um dos clássicos da década e que ainda hoje é lembrado — e, por favor, ignore, esqueça o dispensável remake de 2011, que, além de péssimo, não conseguiu nem de longe fazer jus ao original.

O cinema na década de 80


Antes de falar do filme, vou fazer um resumo do cinema nos anos 80. Os cinéfilos de carteirinha devem ter pelo menos um filme preferido que seja da década de 1980. Não, isso não é uma regra e em hipótese alguma é possível generalizar que todos os amantes do mundo cinematográfico gostem ou tenham preferência pela década mencionada. Mas para muitos — inclusive para mim — esse período foi brilhante!

Para todos os públicos e gostos


Dramas, comédias e terrores se apoderaram das telas durante os anos 1980, onde ainda tínhamos os saudosos cinemas de rua, incomparavelmente melhores do que as salas dos shoppings. Havia um pouco para todos os gostos. Aqui, vamos explorar e relembrar alguns dos nomes e filmes mais marcantes dessa década.

Primeiramente devemos relembrar que os anos 1970 foram extremamente relevantes e deixaram obras primorosas como "Laranja Mecânica" (1971), dirigido por Stanley Kubrick (✩1928/✟1999); "O Poderoso Chefão" (1972), de Francis Ford Coppola; "O Exorcista" (1973), de William Friedkin; "Chinatown" (1974), comandado por Roman Polanski; "Tubarão" (1975), dirigido por Steven Spielberg; "Carrie, a Estranha" (1976), de Brian de Palma; além do início da saga "Star Wars", orquestrada por George Lucas.

Nos anos 1980, a onda de filmes hollywoodianos se fortaleceu e a alta produtividade começou a aumentar cada vez mais. Dentro desse contexto, Spielberg se destacou e deixou um grande legado com excelentes produções, como: "E.T. — O Extraterrestre" (1982), "A Cor Púrpura" (1985) e a franquia "Indiana Jones". Isso sem contar "Os Goonies" (1985) e a trilogia "De Volta Para o Futuro", que ele produziu. Esses blockbusters continuam até hoje conquistando novos fãs e eles sempre são agradáveis de ver e rever.

Outros diretores, que tiveram sucesso na década de 1970, continuaram a realizar filmes com mais confiança. Um exemplo é Kubrick, que havia lançado "Laranja Mecânica" e em 1980 deu vida ao clássico "O Iluminado", um dos maiores longas de terror de todos os tempos. Além disso, em 1987, o cineasta presenteou o público e a crítica com outra obra, tendo como tema a guerra em "Nascido para Matar". Mais um sucesso garantido!

Woody Allen — à despeito das polêmicas nas quais se envolveu — deixou como legado oitentista o filme "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985), uma comédia das mais elogiadas de sua carreira. Brian de Palma, que havia conquistado o público com seu trabalho na década antecedente, continuou a criar produções cada vez mais elaboradas. Ele marcou os anos 1980 com "Scarface" (1983) que, provavelmente, é até hoje o trabalho mais famoso de sua filmografia.

A franquia "Star Wars" seguiu fazendo sucesso com mais dois longas: "Star Wars Episódio 5: O Império Contra-Ataca" (1980) e "Star War Episódio 6: O Retorno do Jedi" (1983). Por falar em ficção científica, em 1982, o filme "Blade Runner — O Caçador de Androides" surgiu como um divisor de águas trazendo inúmeras inovações tecnológicas ao cinema e sendo um verdadeiro marco na história da sétima arte.

Essa foi também a década da aclamada e deliciosa comédia "Curtindo a Vida Adoidado" (1986), o tipo de produção que é sempre boa de assistir novamente! Possui um dos roteiros mais divertidos e meigos do cinema! E claro, os musicais dessa década não poderiam passar em branco, já que esse foi um momento de eclosão de alguns dos longas mais ricos do gênero, como "Flashdance — Em Ritmo de Embalo" (1983), "Dirty Dancing" — Ritmo Quente" (1987) e, o filme sobre o qual falarei abaixo e que é o tema deste capítulo da série especial Filmes Que Eu Vi,  "Footloose — Ritmo Louco" (1984). Pois é! Tudo isso nos queridíssimos anos 1980!!!

Foi também nesse período que o artista David Bowie, que morreu de câncer em 10 de janeiro de 2016, fez algumas de suas grandes participações no cinema. Nessa década ele atuou em filmes como "Furyo, em Nome da Honra" (1983) e "Labirinto — A Magia do Tempo" (1986).

A década também foi um marco para o cinema da Argentina, pois em 1985, pela primeira vez, um filme do país vencia o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro: "A História Oficial". Claro que não podemos esquecer do cinema europeu. Foi durante esse período que surgiram algumas das obras mais belas e inspiradoras que conhecemos. Entre elas está "Cinema Paradiso" (1988), talvez o filme italiano mais popular da década.

No cinema alemão teve duas grandes produções comandadas por importantes nomes do país: "Fitzcarraldo" (1982), de "Werner Herzog", e "Asas do Desejo" (1987), uma produção poética de Wim Wenders. O grande diretor sueco Ingmar Bergman lançou "Fanny & Alexander" (1982), um drama complexo, sutil e marcado por grande beleza. É claro que haveria muitos outros filmes sobre os quais poderíamos comentar aqui, mas o texto acabaria por tornar-se muito longo. 

"Footloose..."


Footloose - Ritmo Louco (1984)
"Footloose...", juntamente talvez com "Flashdance...", de um ano antes, é um marco pop dos anos 80, gostem ou não do filme. E, sinceramente, é difícil descartar essa fita completamente, apesar de seus problemas.

A grande sacada do roteiro de Dean Pitchford, então estreante nessa categoria em produções cinematográficas, é contagiar o espectador com a música — sem dúvida alguma, a trilha sonora, recheada de hits oitentistas, é o grande destaque desse longa

Ele escreveu a maioria das canções e, entre uma e outra, costurou um roteiro objetivo e simples, baseado no batido conceito de "estranho em terra estranha" que funciona bem para seu propósito. E, seguindo o estilo dos musicais da época, remontando ao pioneiro "Os Embalos de Sábado à Noite", de 1977, as músicas não são cantadas pelos personagens, apenas tocadas de forma diegética na película, o que retira a aura de fábula da história e facilita uma certa identificação com a trama. 

Diversão, sem maiores pretensões


Footloose 1984 – Revivendo os anos 80s
O filme em si, não tem nenhuma pretensão de ser "o filme". É, basicamente, um longo e divertido vídeo clipe de 107 minutos. E não há dúvidas que, em termos pop, as canções compostas por Pitchford ficam na cabeça de qualquer um que goste dos ritmos energéticos a que ele se propôs. 

Soundtrack



Desde a música título, a contagiante 'Footloose' (Kenny Loggins),
que abre a fita, passando pela dançante
'Let's Hear It For The Boy' (Deniece Willians), a romântica balada mais que açucarada  
'Almost Paradise' (Mike Remo & Ann Wilson) — ambas, maravilhosas e presenças obrigatórias em qualquer coletânea da década —, a frenética
'Holding Out For a Hero' (Bonnie Tyler), a deliciosamente contagiante
'Dancing In The Sheets' (Shalamar) — Nossa! Dancei demais essa música. — e outras, a sucessão de letras que marcaram a década e ainda são ouvidas aqui e ali por jovens que talvez nunca tenham visto o filme original (como eu já disse, há uma pífia refilmagem, claro), é impressionante.

O elenco


FOOTLOOSE RITMO LOUCO - CLÁSSICOS SESSÃO DA TARDE - TUDO SOBRE SEU ...
Olhando para trás, é também muito relevante ver o efetivo começo de carreira de Kevin Bacon (antes eles só fizera papéis menores e em "Footloose..." ele é a estrela), a tentativa de ascensão da terrível Lori Singer
lori singer | Tumblr
a presença do finado Chris Penn (1965/✟2006) 
christopher penn | Tumblr
e de Sarah Jessica Parker 
Footloose- Rusty (film, SJP) (With images) | Footloose musical ...
também dando seus passos iniciais. 

E, é claro, apesar da simplicidade dos papeis, é fantástico ver a facilidade com que os já então veteranos John Lithgow e Diane Wiest abraçam seus personagens, respectivamente o amargo Reverendo Shaw Moore, pai de Ariel (Lori Singer) e Vi Moore, esposa de Shaw, de longe os melhores da fita.

O que disse a crítica 


Footloose 30th Anniversary | Look
Críticos são implacáveis e bem menos emotivos em suas análises, assim como, têm a expertise em ver detalhes que muitas vezes passas desapercebidos aos espectadores e que são cruciais em suas críticas. 

Portanto, um crítico não pode viver de saudosismo e precisa olhar as obras  —  mesmo aquelas que marcaram época  —  com um olhar mais sério e técnico e é nesse momento que, de acordo com eles,  "Footloose..." começa a ruir.

Como já deixei claro acima, descontando as canções e os números de dança que as acompanham, a crítica diz que o que sobra do roteiro é uma camada quase invisível que tenta reunir a fita em uma obra coesa. Pitchford até consegue fazer um trabalho medianamente competente, mas ao jamais desenvolver de verdade os personagens, ele não dá chance aos mais novos de serem muito mais do que rostinhos bonitos e cabelos armados (ou espetados). 

Bacon demorou para aprender a ser um bom ator  e, em "Footloose...", ele consegue convencer unicamente por sua enorme simpatia e por ter o papel do jovem (Ren McCormack) que chega na cidade onde a música é proibida somente para ser rechaçado e, mais tarde, dar a volta por cima, papel esse que é impossível não simpatizar. 

Lori Singer nem faz força. É um rostinho bonitinho em um corpo esquelético a quem não foi exigido um mínimo de conhecimento do que é "atuar", por isso, ela não decolou. Chris Penn diverte no papel de Willard, "lento" e desengonçado jovem que se torna o único amigo de Ren na selva de valentões que povoam a escola. E, finalmente, Sarah Jessica Parker inaugura, em "Footloose...", o papel que repetiria para o resto da vida (até agora): o de mulher insuportavelmente chata.

Ainda de acordo com a crítica, sem muito com o que trabalhar, os atores acabam tendo que literalmente pular de um número musical para o outro, em direção a um desfecho absolutamente previsível e completamente anti-climático que poderia ter acontecido pelo menos uns 20 minutos antes se a montagem tivesse sido mais econômica e certeira e se a direção de Herbert Ross não fosse tão pouco imaginativa. Como eu disse, os críticos especializados são implacáveis!

Quando o filme vira livro


Este livro, ao contrário das adaptações de livro para cinema, é uma adaptação do filme para livro! É Baseado no roteiro de Dean Pitchford e Craig Brewer feito para o tal (indispensável sob todos os aspectos) remake de "Footloose  —  Ritmo Louco", exibido em 1984. O remake do filme nos cinemas pela Paramount Pictures, com direção de Craig Brewer, ficando Kenny Wormald no papel do protagonista vivido por Kevin Bacon nos anos 1980 e Julianne Hough como Ariel. Quase sempre adaptações me decepcionam, mas isso não aconteceu com o livro.

O prólogo do livro já me deixou com vontade de descobrir o que vai acontecer mais na frente. O livro é de leitura simples e fácil, com muitos diálogos. Ótimo para se distrair! Você logo quer saber o que acontecerá com Ren, filho que dedicou a vida a cuidar da mãe, sempre cuidou de si, e irá morar com os tios em uma cidade marcada por um trágico acidente. Fica curioso para saber o que a revoltada Ariel irá aprontar. O livro tem como problema principal as proibições impostas, resultado de uma tentativa de proteger os jovens! Proibições essas que Ren não entende e não aceita.

Apenas não gostei do final do livro, achei muito corrido e que poderia ser mais desenvolvido. Não gosto de terminar o livro com a sensação de faltar o fim! Perdi meu tempo e minha grana assistindo ao remake, mas ao menos fiquei com muita vontade de ler o livro…

Conclusão


Divirta-se com 10 filmes sobre a época da formatura – Blog
Se um filme puder ser julgado por quanto tempo ele fica em sua cabeça após o término, então "Footloose ..." teria seu lugar reservado no panteão de grandes obras. A não ser que você tenha coração de pedra, é impossível não cantar junto ou, ao menos, estalar os dedos no ritmo (ou tentando) durante a projeção e por dias depois. Isso pode não transformar "Footloose..." em um excelente filme, mas já faz dele uma boa memória para se ter.

Assim, sob os benevolentes olhos do saudosismo, "Footloose..." é uma película que sempre fará com que aqueles que viveram os anos 80 (como esse que subscreve o presente artigo) tenham boas lembranças, talvez de um passado mais simples, de filmes menos ambiciosos e de muitas festas em que o objetivo maior era esperar 'Almost Paradise' tocar para ter alguma chance  —  por mais remota que fosse  —  com as meninas…

Fichas Técnicas 

O filme
  • "Footloose – Ritmo Louco" (Footloose, EUA – 1984)
  • Direção: Herbert Ross
  • Roteiro: Dean Pitchford
  • Elenco: Kevin Bacon, Lori Singer, John Lithgow, Dianee Wiest, Chris Penn, Sarah Jessica Parker, John Laughlin, Elizabeth Gorcey, Frances Lee McCain, Jim Youngs, Douglas Dirkson
  • Duração: 107 min.
O livro
  • Autor: Rudge Josephs
  • Ano: 2011
  • Páginas: 240
  • Editora: Galera Record
[Fonte: Plano Crítico, por Ritter Fan; O Vício; Cinema 10, por Ju Vannucchi]
A Deus toda glória. 
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