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terça-feira, 9 de junho de 2020

ESPECIAL — RACISMO ESTRUTURAL: TEMA VOLTA À PAUTA, MAS, VOCÊ SABE O QUE É?

"Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam" (Romanos 10:12).
"Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos" (Colossenses 3:11). 
"Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3:28).
Por três vezes, e  de forma enfática, o apóstolo Paulo, em um cenário essencial e religiosamente excludente, chama a atenção de seus discípulos sobre a igualdade racial e social promovida por Jesus Cristo tanto em seus ensinamentos, quanto no símbolo máximo de sua morte vicária na cruz do calvário, justamente para o cumprimento da vontade de Deus na união dos povos. Mas, o que vemos é que a humanidade absolutamente nada aprendeu sobre isso.

A força de um símbolo


Ainda não sei se foi o espetáculo da democracia ou uma reles, mesmo que emblemática, luta de poder. Nas ondas de protestos e manifestações antifacistas e antirracistas que vêm inundando o mundo, desde o assassinato do segurança negro George Floyd, 46 anos, pelo policial branco Derek Chauvin, 44 anos, com a cumplicidade de outros três policiais: Thomas Lane, J. Alexander Kueng e Tou Thao, ocorrido no dia 25/05/2020, em Minneapolis, no estado do Minnesota (EUA), chegando também aqui no Brasil, ajudou não só a acirrar e polarizar os ânimos, como a trazer à tona o debate sobre tradições e símbolos. 

Além do ato de se ajoelhar e gritar palavras de ordem, os punhos cerrados, revivendo o símbolo do movimento operário internacional contra os "exploradores capitalistas" e o poder constituído, é outro símbolo que voltou como marca nas manifestações de protestos. Que impacto esses gestos têm sobre a recepção do público? Eu me interesso menos pela política do que pela simbologia. 

Não pretendo entrar no mérito jurídico do caso, até porque sou leigo no tema. Mas, no contexto específico, observo como a simbologia é chamada a intervir em situações extremas — e se desloca ela própria para o centro do picadeiro, ou da ágora, se quisermos ser mais otimistas com a democracia. E o que tem o símbolo em questão com o tema racismo estrutural? Ou melhor, o que vem a ser mesmo o racismo estrutural? Eu me debrucei em pesquisas para escrever este artigo e tentar explicar da forma mais resumida possível essa temática que volta com tanta força e barulho na pauta do contexto atual.

Racismo estrutural, o que é?


Para entender do que se trata o racismo estrutural, é preciso dar um passo atrás. Entender, antes de tudo, o que é racismo — e o lugar que ele ocupa na formação da sociedade brasileira. Pois bem:

O que é Racismo?


Vamos pensar nos materiais usados para a construção de uma casa. São necessários cimento, vergalhões, tijolos, areia e água para a construção do alicerce. Ao subir os vergalhões, os tijolos são sobrepostos um ao outro, fixados sobre camadas de cimento. Isso dará sustentação a toda construção.

Conseguiu imaginar a construção desse alicerce? E o que essa história toda tem a ver com a definição de racismo?

Na construção da sociedade brasileira, o racismo é o cimento. Ele é o elemento que sustenta a estrutura social, política e econômica da sociedade brasileira.

O Brasil carrega uma história de 300 anos de escravidão. Dentre os países da América, o nosso foi o último a "abolir" a escravidão negra formalmente, em 1888. Depois de mais de um século, ficou enraizado no inconsciente coletivo da sociedade brasileira um pensamento que marginaliza as pessoas negras, as impede de se constituírem como cidadãs plenas.

Isso posto, vamos adiante:


O que é racismo estrutural? É essa naturalização de ações, hábitos, situações, falas e pensamentos que já fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro, e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Um processo que atinge tão duramente — e diariamente — a população negra.
"Você é um negro de alma branca."
No cotidiano da sociedade brasileira estão normalizadas frases e atitudes de cunho racista e preconceituoso. São piadas que associam negros e indígenas a situações vexatórias, degradantes ou criminosas. Ou atitudes baseadas em preconceitos, como desconfiar da índole de alguém pela cor de sua pele.

Outra forma comum de racismo é a adoção de eufemismos para fazer referência a negros ou pretos, como as palavras "moreno" e "pessoa de cor" — como se identificar e/ou se assumir negro fosse uma vergonha. Essa atitude evidencia um desconforto das pessoas, em geral, ao utilizar as palavras "negro" ou "preto" pelo estigma social que a população negra recebeu ao longo dos anos.

Essas ações reverberam nas instituições públicas e privadas. No Estado e nas leis que alimentam a exclusão da população negra. Elas se materializam, por exemplo, na ausência de políticas públicas que possam promover melhores condições de vida a essa população.

Por que essa discussão importa?

"Preto parado é suspeito, correndo é ladrão e voando é urubu."
As questões raciais são estruturantes porque fazem parte da construção das nossas sociedades. As subjetividades que nos compõem — os nossos preconceitos, por exemplo — acabam construindo as relações sociais que estabelecemos. E essas relações estão impregnadas de uma construção histórica equivocada, que mantém a população negra em posição de subalternidade.
Ocorre hoje (9/8) o lançamento da obra "O que é racismo estrutural?"
Como explicou o filósofo Silvio Almeida, autor do best seller "O que é racismo estrutural?" (editora Letramento, 1ª edição, 2018, 204 páginas), em entrevista ao programa Canal Livre de ontem (07/6), na Band, longe de ser uma anomalia, o racismo é "o normal": 
"Independentemente de aceitarmos o racismo ou não, ele constitui as relações no seu padrão de normalidade".
Esse equívoco de narrativa resulta na desvalorização da cultura, intelecto e história da população negra. Mina suas potencialidades e, principalmente, aumenta o abismo criado por desigualdades sociais, políticas e econômicas.

É um problema evidenciado por números. No Brasil, pessoas negras são mortas com mais frequência que pessoas não negras: os negros representam 75% das vítimas de homicídio, segundo o Atlas da Violência de 2019. São maioria, também, em meio à camada mais pobre da população: dos 10% de brasileiros mais pobres, 75% são negros, segundo o IBGE.

Brasil, eco ou voz?

"Apesar de você ser negro(a), tem traços finos." 
Para falar sobre os efeitos do racismo na sociedade brasileira é preciso encará-lo como um fenômeno essencialmente transversal. É preciso entender que ele forma uma teia de violências que afeta jovens, homens e mulheres encarceradas e encarcerados; que define os mecanismos que regem o tráfico de mulheres e meninas; que afeta a vida da população LGBTQI+, da população quilombola e ribeirinha;e que explica o preconceito contra as religiões de matriz africana, ameaçando seu direito de existir. 

Apesar da abolição da escravatura ter sido assinada há 131 anos, a sociedade brasileira continua perpetuando várias palavras e expressões em seu vocabulário que são carregadas de racismo. "Denegrir", "meia-tigela", "mulato(a)", "cabelo ruim (e/ou "cabelo duro", "cabelo pixaim")" e "negro(a) de traços finos" são alguns exemplos de uma lista que tornam o preconceito contra a cor da pele como algo natural e comum.

Conclusão


Em resumo, é a naturalização de pensamentos e situações que promovem a discriminação racial formam o racismo estrutural. No texto desse artigo, entendemos o significado do termo, e as consequências do fenômeno. 

Ah, e voltando aos símbolos, só para concluir, os punhos erguidos e fechados se popularizaram a partir de 1917, com a Revolução Bolchevique, ocorrida na Rússia. Expressam o desafio aos poderosos e a solidariedade entre os explorados do mundo inteiro. Evocaram a luta das esquerdas contra a exploração do trabalho operário. 

A imagem de Lênin (✰1870/1924) em 1917, dos Panteras Negras nos Estados Unidos nos anos 60 e dos anarquistas de Maio de 1968 (para não citar o gesto de vitória do saudoso jogador de futebol e homem de esquerda Sócrates — 1954/2001), são suficientemente eloquentes para que o espectador associe os atuais militantes à legião dos oprimidos. 

Tudo isso faz crer que os manifestantes não ergueram o punho por impulso, mas com a intenção de comover os meros espectadores, presentes ou que viram a imagem à distância. Quiseram figurar como Lênin e Sócrates ressurrectos. Desejaram reabilitar a luta de classes. 

Mas, há que se lembrar, porém, que desde os tempos da saudação a Ishtar na Babilônia, o gesto serviu para outros fins, inclusive como parte da estatuária do comunismo totalitário e dos rituais nazista e da supremacia branca  há até uma foto de Adolf Hitler (✰1889/1945) posando com o gesto. 

Enfim, salve-se a relevância e legitimidade da luta (Inglória? Ainda não sabemos. Oxalá, não seja!) pela igualdade. Os símbolos se desgastam, perdem a capacidade de persuasão e até de inverterem os sinais. Certos poderosos gostam de subestimar a inteligência alheia. A História aqui não volta como farsa, porque farsa pelo menos faz as pessoas rirem. No Brasil, como nos Estados Unidos, a História se repete como treta.

[Fonte: Brasil de Direitos, por Maria Tereza Ferreira]

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso. 
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