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quarta-feira, 24 de abril de 2019

FILMES QUE EU VI - 48: "OS EMBALOS DE SÁBADO À NOITE"


Quando fazemos menção a este filme, dois tópicos são sempre que abordados. O primeiro é "filmes de discoteca"; o segundo é a música da banda inglesa estrelada pelo trio de irmãos Gibb – Barry, Robin (✰1949/2012) e Maurice (1949/2003) – Bee Gees. Não se pode pensar num sem que o outro nos venha à mente.

Assim, a união desses dois assuntos fez ou faz surgir "Os Embalos de Sábado à Noite" - um filme que retrata bem a adolescência daquela época e que, à sua maneira, traz um intenso sentimento de nostalgia. O retrato de uma geração sob luzes estroboscópicas, em meio ao sexo irrefreado, à dança e às suas músicas: estes são [ou foram] "Os Embalos de Sábado à Noite".

Ah, aquelas noites de sábado...


A sensação nostálgica a que me refiro não é literal: o filme faz com que queiramos vivenciar aquele momento. Tal como o personagem vivido por John Travolta, o espectador também sente aquela vontade quase incontrolável de dançar em torno daquela multidão que o observa.

Digo isso porque o filme apresenta algo que já não acontece mais. Hoje as coreografiazinhas de baladas são bem bregas e na maioria das vezes somente pessoas que vivenciaram as épocas áureas das discotecas - quando o filme foi lançado, eu estava com apenas 10 aninhos de idade - se arriscam a ir dançá-las, mas é bem interessante quando vemos várias pessoas dançando a mesma coreografia, ao som de uma música legal e de muitas luzes piscantes. Ao som de Bee Gees e da música "Disco Inferno", do The Trammps, muitos chegam a pensar que nasceram na época errada!

Falando assim, vocês pensam que eu tenha o considerado um grande filme. Na verdade, achei-o um pouco acima de mediano. Quando o vi - aluguei a fita de VHS em uma vídeo locadora e assisti num aparelho de vídeo cassete -, buscava ver bastantes cenas na discotecas, muitas danças, etc. Gostaria de chamá-lo de dispersivo e afirmar que ele perde tempo nos mostrando informações incoerentes com o tema proposto, mas não é isso que acontece.

É importante ressaltar que esse é um filme sobre um rapaz que gosta de dança e não um filme sobre dança. Logo, o enfoque do filme é correto ao mostrar as situações e emoções pelas quais passa e vive Tony Manero – juventude complicada numa família que não aceita bem suas opções e que insiste em fazer comparações; como se não bastasse, há ainda uma garota que não sai de cima e outra que não lhe sai da mente.

Assim, misturando algumas cenas na discoteca, que é o templo de Tony, e a sua vida fora dela, "Os Embalos de Sábado à Noite" nos traz uma obra interessante, mas definitivamente não era aquilo que eu buscava.

A sinopse

Ou se, preferir, spoiler


O longa conta a história do bacanudo Tony Manero, vivido por Travolta – em seu primeiro grande papel no cinema –, na época com 23 anos. O rapaz divide seu tempo como vendedor em uma loja de tintas durante o dia, e suas noites no clube 2001 Odyssey, onde é conhecido como O Rei das Pistas. Além de seus ternos claros e camisas e cordões cintilantes, Manero precisa conviver com seu amargo pai e o peso da comparação com seu irmão padre – fardo imposto por sua mãe.

O fantasma deste santo irmão Frank Jr. (Martin Shakar) já começa no nome do homem; quem foi digno de herdar a alcunha do pai foi exatamente o filho mais velho, que decidiu seguir a carreira do celibato e da batina. Tony, por outro lado, vai para o extremo oposto: sua vida noturna inclui revezar o espaço do carro para suas transas e de seus amigos, e seu total descaso com as mulheres é uma das pontas de preconceito que o filme retrata.

Manero e seus amigos demonstram serem racistas (mesmo usando a execrada expressão "nigger" quando falando de seu pênis), machistas e xenófobos em relação aos latinos – apesar deles mesmos serem somente a segunda geração de imigrantes italianos, visto que sua avó não fala inglês no filme.
Se a mãe de Tony o empurra para a noite, é por causa de seu pai que ele é tão bem sucedido. Frank Sr. (Val Bisoglio), desempregado há meses, vê seu filho sustentando a sua casa, e aproveita todas as oportunidades possíveis para massacrar e menosprezar o garoto. Em um dado momento, Tony recebe um aumento por seu ótimo trabalho na loja de tintas, e Frank Sr. o despreza devido ao aumento ser de somente quatro dólares. Tony, enfurecido, grita de volta: 
"Um aumento diz que você é bom. Sabe quantas vezes me disseram que eu era bom? Duas prras de vezes! Com este aumento hoje, e quando eu dançava na discoteca!"
Em outras palavras, Tony não vê seu futuro por um caminho pio, como seu irmão, porém ojeriza se tornar um fracasso, como vê seu pai.

Além de encontrar nas pistas a admiração e o amor que não tem em casa, vê nela sua possibilidade de crescimento e futuro. Não é à toa, então, a citação destacada no início deste texto: para Tony, não há nada mais íntimo do que dançar. Enquanto sexo é somente o momento, o presente que ele rejeita, na dança ele vê seu amanhã – e isso ele não está disposto a dividir com qualquer uma.

Crítica social


E esse é outro elemento muito interessante do longa. Tony e seus amigos estão no Brooklyn, e usam a ponte que liga o bairro suburbano à rica Manhattan como lugar de escárnio, onde se penduram e mijam, literalmente, na estrutura que liga os pobres e os ricos. Ainda assim, quando exposto, Tony demonstra saber todos os detalhes da ponte, demonstrando como anseia cruzar e seguir seu sonho de dançar, que persegue com tanto afinco, dentre a outra classe de Nova Iorque.

Todos esses alicerces ajudam a configurar uma estrutura riquíssima num filme excelente, dadas as devidas proporções. Como se isso não fosse o bastante, a cena icônica do número solo de Manero é apenas um dos ótimos atos de dança no filme. As músicas originais, compostas pelos saudosos Bee Gees, acrescentam outra camada de carisma ao já instigante roteiro, e daí entendemos o sucesso estrondoso de bilheteria e a marca que este filme deixou na sociedade estadunidense – e mundial.

Starring John Travolta


A interpretação de John Travolta lhe rendeu uma indicação ao Oscar e não vi nenhuma injustiça em apenas indicá-lo. Sua performance é boa e bastante correta, mas acredito que os seus concorrentes pudessem estar melhores - só para constar, ele competiu com o elogiado Woody Allen no famosíssimo "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa". Karen Lynn Gorney está bem num papel de apoio, mas sua personagem é um pouco complicada e acho que a atriz não encontrou o tom ideal ao compô-la e isso fez com que eu simplesmente não simpatizasse totalmente com Stephanie, a paixão de Tony.

Só na última cena que senti a densidade da personagem, que deveria ser assim o tempo todo, já que demonstra com afirmações em todas as cenas que ela não é tão fútil como Tony. Talvez fosse necessário que não parecesse haver química entre os atores para que o tom do relacionamento de seus personagens fosse certo e coerente com a cena final; mas também é possível pensar que os atores não tinham mínima vontade de gravarem juntos, porque dá pra perceber que não estão à vontade totalmente em cena - e isso se mostra um ponto negativo para o filme.

Conclusão

Entre estupros, uso de drogas, danças, brigas, xenofobia e sonhos despedaçados sob o peso de uma realidade insuportável, não se deixe enganar: "Os Embalos de Sábado à Noite" está mais para um "Trainspotting" mais palatável do que para "Dirty Dancing". Dos primeiros acordes de "Stayin’ Alive", com Tony e o contraste de suas roupas com sua lata de tinta, até seu abrupto final (traço de filmes da época), "Saturday Night Fever" (título original) vai te fazer suar frio, seja de excitação, nojo ao testemunhar o nascimento de uma geração única – e de um estilo destinado à marginalização que se recusa a morrer.

De um modo geral, dá pra ver esse filme sem problemas. É uma obra mediana, apenas. Não há grandes picos nas atuações nem no desenvolvimento da história. Começa e termina como imaginávamos que fosse acontecer e não nos surpreendemos com nada nem nos descontentamos a ponto de considerá-lo de menos do que mediano. Se você busca uma boa obra que retrate a dança, não veja essa. Mas se busca apenas diversão ao som de uma boa trilha sonora -que inclui as famosas e dançantes "Night Fever"
e a romântica "How Deep is Your Love" - , 
invista seu tempo em conferir essa produção.

Imagem relacionada
Ficha Técnica 
"Saturday Night Fever"
Data de lançamento 3 de julho de 1978 (1h 58min)
Direção: John Badham
Elenco: John Travolta, Karen-Lynn Gorney, Joseph Cali
Gêneros: Musical, Drama, Romance
Nacionalidade: EUA

A Deus, o Pai, toda glória! 
E nem 1% religioso.

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