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sábado, 20 de abril de 2019

ESCRITO NAS ESTRELAS - TOM JOBIM

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Em uma fria manhã de 8 de dezembro de 1994, morria em Nova York — aos 67 anos — o músico carioca Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Um dos maiores expoentes da música brasileiro no mundo, Tom Jobim superou as barreiras que limitavam a sonoridade tupiniquim e levou a bossa nova como criação nacional – pautada em própria autoria — para o mundo. 

Mais que uma voz: um mito


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Um certo cantor de voz muito grave, da cena paulistana da década de 1980, costumava interromper suas apresentações e perguntava muito seriamente para sua plateia: 
"Você conhece Tom Jobim?" 
Diante dos sorrisos desconcertados pela pergunta repentina, ele insistia: 
"Você realmente já ouviu Tom Jobim?… É preciso ouvir Tom Jobim". 
Qual brasileiro não conhece Tom Jobim?

Criado em Ipanema (mas nascido na Tijuca), Jobim começou a se arriscar nos primeiros acordes sob o comando do professor alemão Hans Koellreutter. A tentativa de carreira na arquitetura cedo foi substituída pela certeza da dedicação ao piano  e aos bares e boates de Copacabana, que na década de 1950 fervilhavam tanto quanto a criação de Vinicius de Moraes (✰1913/✟1980), com o qual se juntou para criar trilha sonora da peça (e posteriormente o filme) "Orfeu da Conceição", ainda em 1953.

Jobim é um desses gigantes dos quais é difícil falar algo, dada a responsabilidade. Nascido em 25 de janeiro de 1927, se vivo fosse, estaria com 91 anos. Seria inútil qualquer homenagem ou tentativa de engrandecer sua formidável obra musical, de forma que tentarei neste artigo, um mapeamento da sua presença significativa, da sua figura e do seu papel no imaginário da cultura brasileira.

O Tom da cultura


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Tom não era apenas o "maestro soberano". Era o Tom da ligação profunda com a poesia de Vinícius de Moraes, de Carlos Drummond de Andrade (✰1902/✟1987) e de Manuel Bandeira (✰1886/✟1968). Era o Tom da literatura, ao ler Guimarães Rosa (✰1908/✟1967) e trazê-lo para sua música em "Urubu" e "Matita Perê". Era o Tom da política, ao compor "Sinfonia da Alvorada" para a Brasília de JK (✰1902/✟1976). Era o Tom da natureza no clamar, no seu último disco, 
"salvem as flores, salvem a primavera"
em "Forever Green". Era o Tom do humor refinado e da simplicidade nas entrevistas que concedia.

O "pai" da Bossa Nova


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Nos idos da década de 1950, quando o samba encontrou-se com o cool-jazz, originando a Bossa Nova, o Brasil viveu uma vanguarda artística que não conhecia. O novo momento político se misturou com uma Belle Époque das artes — como se referem os franceses. Jovens talentosos, dados à boemia e à vida noturna, com a cabeça em um projeto de procura da identidade cultural nacional, num momento em que a Semana de Arte Moderna de 1922 já havia aberto as portas para experimentação antropofágica e em que Tom herdava Villa-Lobos (✰1887/✟1959). Eram momentos de tensão do pós-guerra, das possibilidades democráticas de crescimento sociocultural e político-econômico, da construção da moderna Brasília.

Em 1964 "Garota de Ipanema" ganhou o Grammy de música do ano, batendo artistas como The Beatles, Rolling Stones e Elvis Presley (1935/✟1977). Até o fim da década de 1970, Tom Jobim havia apresentado clássicos como "Samba do Avião", "Só Danço Samba", "Ela é Carioca" e "O Morro Não Tem Vez".

Acho que uma das maiores importâncias (do trabalho dele) é ter levado a música brasileira para o mundo. Esse impulso da bossa nova foi brasileiro, foi do Tom, e o fato disso ter sido criado e ter ultrapassado tantas fronteiras é notável, é louvável. Agora cabe à população e ao governo nunca deixar esse legado desaparecer.

Antônio Carlos Internacional Jobim


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Tom Jobim e Frank Sinatra em 1967
Fatores que ventilavam um esperançoso ar de inserção do país no cenário internacional e que davam ao nacionalismo uma sensação menos tensa comparada ao pesado cenário europeu e mundial. O Brasil aparecia como possibilidade de modernidade e de receptividade e a Bossa Nova era providencial nessa conjuntura.

Era um ritmo simpático, leve, beira-mar, mas também da vida noturna, do prazer das conversas ao som do violão, bem próximo da imagem que o país desejava passar para si mesmo e para a cena internacional. Saíamos do nacionalismo-exaltação, às vezes exageradamente orquestrado, de Ari Barroso (✰1903/✟1964), para uma versão menos grandiloquente e mais intimista, mais conceitual, mais realista e mais sóbria em seu discurso poético e musical. 

Tom e seus companheiros criaram esse que é um dos estilos musicais populares mais difíceis de interpretar, devido à união de uma cadência rítmica bem específica ao refinamento dos altos e baixos das melodias e a uma harmonia rebuscada (com acordes abertos às sétimas, nonas, décimas-terceiras etc.), mas também receptiva a dissonâncias e experimentações modais.

Por um lado, produziram um terreno fértil tanto para o amadurecimento harmônico de nossa música quanto para a recepção de sonoridades externas, por outro, pelo apelo à erudição necessária para o aprofundamento estético, deram esse ar conceitual à música, inexistente nos estilos brasileiros anteriores. 

A Bossa Nova cumpriu bem seu papel. Mostrou ao Carnegie Hall e ao mundo que o balanço do samba era inventivo, pois estava atento e aberto tanto às influências impressionistas de Debussy e Ravel quanto às tendências mais inventivas do jazz. E ainda revelava um Brasil e brasileiros extremamente desimpedidos, espaçosos e competentes para unir o gingado africano com as harmonias jazzísticas. Talvez um Brasil que mesmo os brasileiros não conheciam. 

Mas Tom, apesar dos muitos clichês músico-biográficos, transcende a Bossa Nova. Ele não apenas elevou nosso patamar de qualidade, mostrando para nós mesmos que nossa música em nada deve a outros gêneros, como passou a figurar ativamente no nosso imaginário cultural. 

Ao mesmo tempo em que gravava com artistas do peso de Frank Sinatra (✰1915/✟1998), Oscar Peterson (✰1925/✟2007), Ella Fitzgerald (✰1917/✟1996), Elis Regina (✰1945/✟1982), Miucha (✰1937/✟2018) e Edu Lobo, Tom Jobim também brilhava nos festivais de música das emissoras de tevê brasileiras. A exposição internacional do carioca o levou a gravações ao vivo no Canadá, França, Estados Unidos e mais.

Foram parcerias geniais. Tantos nomes foram atraídos pelo trabalho de Tom que marcaram a história da música e sempre ficaram na memória. Sobre o sucesso internacional,  a exposição lá fora conseguiu, apenas, ser mais comercial. Não, acho que não faz mais sucesso lá fora não. O que ocorre é que lá fora ele consegue ser muito mais comercializado, e aqui nem tanto. Mas em termos de sucesso, acho que ele é consagrado em todo lugar.

Conclusão

Um Tom para cada brasileiro

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A sensualidade das curvas que Niemeyer (✰1907/✟2012) tanto reivindicou estão tão presentes em sua obra quanto nas idas e vindas de "Wave" e de "Garota de Ipanema". O timbre característico do trompete de Miles Davis (✰1926/✟1991) reivindica a simplicidade e genialidade em sua interpretação de "Corcovado". 

A genialidade de um ofício parece figurar quando, ao observarmos o produto em sua superfície, não compreendemos e não adentramos no tortuoso processo pelo qual ele foi realizado. "A Felicidade", "Chega de Saudade", "Águas de Março" (só para citar algumas) parecem ter nascido prontas — sem dor, sem sofrimento — com toda naturalidade. É quase como acreditar num criacionismo, num estalar de dedos, no milagre da criação instantânea e espontânea. 

Tom quis ser arquiteto. Talvez por isso a sensação dos silêncios e intervalos na Bossa Nova flua de maneira tão natural e arriscada quanto quem caminha pela sinuosidade dos corredores curvos ou pelas as curvas sensuais das mulheres, que Tom e Vinícius com tanto esmero cantaram. 

É provável que o grande legado de Tom seja essa impressão de espontaneidade e descontração no fazer. (Re)conhecemos Tom na brasilidade desse charme da criação da beleza. Quisera qualquer brasileiro exercer seu ofício com a naturalidade e desembaraço de quem compôs "Samba de Uma Nota Só" e "Samba do Avião", e ao mesmo tempo falava de passarinhos: e daí sair "Passarim". 
  • Uma dica: "A música segundo Tom Jobim", de 2012, dirigido por Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim é mesmo um "evangelho" da nossa cultura: documentário sem cara de documentário, vai ao tom do Tom.
O último trabalho de estúdio de Tom Jobim foi "O tempo e o Vento", em 1985.

[Fonte: Correio Brasiliense - Jornal Opção, por Vitor Hugo Goiabinha é doutor em história pela UFG, professor de história na UEG, no Colégio Sagrado Coração de Jesus – Pires do Rio, e na Faculdade Brasil Central-Goiânia]

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