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quarta-feira, 31 de julho de 2019

LIVROS QUE EU LI - "MORAL E ÉTICA - DIMENSÕES INTELECTUAIS E AFETIVAS", YVES DE LA TAILLE


Tive a oportunidade de ler esse livro, por ocasião de quando fazia o curso de Administração, como um complemento à disciplina de Ética. Inclusive, o texto desse artigo é em atendimento ao pedido da professora Líllian Barreto, que lecionava a disciplina citada.

Sobre a obra


O binômio "moral e ética" é alvo de especulações sobre seus sentidos. Cotidianamente, ambas são tratadas como sinônimos. À luz das ciências, são tidas como conceitos distintos. Na obra "Moral e Ética - Dimensões Intelectuais e Afetivas" (192 págs., Ed. Artmed), Yves de La Taille, pesquisador e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), amplamente reconhecido por seus estudos sobre a chamada Psicologia Moral – ciência preocupada em desvendar por quais processos mentais uma pessoa chega a intimamente legitimar, ou não, regras, princípios e valores morais - aborda os dois conceitos em profundidade, focando o que representam essas duas palavras na Filosofia. 

La Taille trata com precisão de diversas questões para as quais a Psicologia Moral moderna tem procurado respostas. Mas por que se remeter à Filosofia e buscar autores do passado, como René Descartes (✩1596/✟1650), Immanuel Kant (1724-1804), Émile Durkheim (1858-1917) e Aristóteles (384-322 a.C)? Porque esta obra não é fruto de ideias infundadas, mas sim uma produção que reúne o que há de mais relevante sobre os fatores que levam as pessoas a agir com base em valores. 

O objetivo do livro, finalista na lista de indicados ao Prêmio Jabuti de 2007, é proceder a uma reflexão sobre os processos mentais por meio dos quais a pessoa legitima e segue valores, regras e princípios morais. Sem dúvida, uma obra importante não só para psicólogos e educadores, mas ainda para aqueles que, como eu, desejam fazer uma reflexão sobre esta dimensão da conduta humana sob o enfoque da Psicologia.

A síntese do livro


Nos três capítulos, o autor distingue o significado de moral e ética para esclarecer o que está implícito nos dois conceitos. Da moral, ele resgata a ideia de um dever para garantir a regulação da convivência humana. Comparar possibilidades de ação, perceber a necessidade do outro e pensar no que está em jogo faz parte da dimensão intelectual envolvida no ato de agir bem. Mas, como o "saber" fazer pode não ser suficiente, é preciso um "querer" fazer. Essa é a dimensão afetiva do agir, que é traduzida pela palavra ética. 

Nesse ponto, La Taille vai de Jean Piaget (1896-1980) aos contemporâneos para traçar uma linha do desenvolvimento afetivo, que começa no despertar do senso moral e termina com a formação da personalidade ética. Nesse passeio, distingue a presença de sentimentos como culpa, indignação e simpatia. Inspirado por sua paixão pela Psicologia Moral, é aqui que o autor apresenta uma das mais belas conclusões sobre como educar - ainda que não se remeta à Educação diretamente: 
  • somente tendo por si autorrespeito, é possível respeitar os outros.
Simples, elegantes, profundos, autor e obra são únicos - quem não os conhece perde a chance de compreender a natureza humana e suas mais belas lições. 

O artigo sobre ética e moral o autor faz uma introdução sobre as questões éticas e morais no período antes da era cristã na Grécia onde as concepções sobre o ajuizamento ético têm evoluído ao longo da historia da humanidade.

Na Grécia antiga os filósofos entendiam que ética e moral era o equilíbrio entre a natureza e o homem. Nos dias de hoje o autor mostra a necessidade de novos parâmetros mais objetivos acerca do que é eticamente plausível ou do que é posto como politicamente correto.

Apenas o ser humano é constituído como ser ético por causa do uso da razão, capacidade, liberdade e consciência dos seus próprios atos, envolvendo a si mesmo, o outro e a sociedade. Porem o agir ético é também pautado pela autonomia da vontade, o respeito à integralidade, à pluralidade, e a alteridade.  Neste contexto a ética envolve o individual extensivo ao coletivo, onde é afetado pelos aspectos políticos, econômicos e cultural. 

A ética e a moral é individual cada pessoa tem a sua, a qual se baseia em princípios, valores e sentimentos que cada um trás dentro de si mesmo de acordo com seus ensinamentos, através dos costumes familiares, cultural, políticos e social.
Ou seja, o meio em que vive, sendo assim cada individuo faz sua própria escolha é possível se aproximar ou distanciar dos valores éticos de outra pessoa.

Sobre a concepção do que é moral o autor retrata que é uma prática real das pessoas que se expressam por costumes, hábitos e valores culturalmente estabelecido, onde uma pessoa é moral quando age em conformidade com os costumes e valores consagrados, por conveniências, convicções, mais não necessariamente por ética. 

Conclusão


Na conclusão da obra, o autor explica o porquê da separação, à qual muitos psicólogos se opõem, das dimensões afetiva e cognitiva contidas na sua proposta de moralidade. A seu ver, são dimensões irredutíveis uma à outra, não havendo vantagem em fundi-las, o que não significa não relacioná-las. 

Identificando-se com Piaget, considera que a afetividade é a energética da ação e que a inteligência corresponde às estruturas de pensamento que as guiam. Outro aspecto que justifica a relação razão-afetividade é o fato do desenvolvimento de uma depender do da outra. Se o intelecto avança é porque o indivíduo tem interesse e necessidade de pensar nos conteúdos sobre os quais avança. 

Por outro lado, o desenvolvimento da simpatia pelo sofrimento do outro depende de que se considere legítimo o motivo deste sofrimento, caracterizando, assim, a influência da esfera cognitiva sobre a afetiva. Um último aspecto abordado diz respeito à ocorrência do desenvolvimento intelectual e afetivo, que a seu ver, é uma potencialidade, que não se desenvolverá em condições adversas. Tal constatação leva o autor a apontar a importância da Educação para a formação moral e ética das crianças e, também, de adultos.

Finalmente, vale ressaltar que o autor apresenta uma extensa pesquisa sobre os valores de jovens estudantes de Ensino Médio, realizada recentemente com uma amostra representativa da população estudantil de São Paulo. Esta pesquisa permitiu não só traçar um perfil deste jovem, em termos de como vê as instituições sociais e outras instâncias da vida, mas ainda apreender um certo mal estar em suas opiniões, pois, de modo geral percebe a sociedade contemporânea em estado de anomia, o que pode comprometer a consecução de seu projeto ético.

Em tempos onde o entendimento e aplicação do que seja moral e ética têm sido cada vez mais relativados, apesar de absolutos em sua essência, a leitura desse livro torna-se fundamental.
A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.


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