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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

PERSONALIDADE RELIGIOSA - BISPO EDIR MACEDO


A quem seja admirador do Bispo Edir Macedo, gostaria de esclarecer que não é meu intuito nesse artigo fazer qualquer juízo de valor sobre ele e muito menos fazer críticas pessoais. Todo o conteúdo do artigo é baseado em pesquisas de fatos que já foram comprovados, divulgados pela imprensa e outros até foram extraídos dos registros biográficos do próprio bispo Macedo. 

O artigo, de conteúdo imparcial, é a sequência da série especial que enfoca personalidades religiosas, portanto, não é a pessoa e sim a personalidade, o homem público Edir Macedo que estará sendo retratado abaixo.

"Templo é dinheiro?"


A variação da máxima de Benjamin Franklin ["Tempo é dinheiro"] enquadra-se com precisão idílica a Edir Macedo, o televangelista, religioso e empresário que se tornou o líder evangélico mais rico do Brasil – um bilionário. Seus dedos indicadores são tortos, os polegares finos, e todos os dez se movem com dificuldade, quase paralisados. Mas isso não o impediu de pregar e se transformar num dos maiores fenômenos religiosos das últimas décadas, no Brasil e no exterior. 

Seu poder vem de duas frentes religiosamente ligadas: na primeira, e principal, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), com presença em mais 170 outros países nos cinco continentes. A segunda frente é a Rede Record, da qual é proprietário, uma extensão da primeira. As duas formam uma espécie de força centrífuga e centrípeta simultânea, que alimenta e diversifica os dividendos surgidos da igreja. Afinal, entre as duas, a obra e a graça da generosidade dos fiéis. Raros executivos e empreendedores produziriam um "business plan" melhor do que este. 

Sua história 


O dedo do Bispo Macedo para apontar para si e sua igreja o caminho de milhões de fieis (1,8 milhão, segundo o IBGE; 8 milhões nas contas da IURD) escancarou um especial talento para atrair doações em tamanho e tempo capazes de fazer dele um bilionário. Ele segue como ninguém a "teologia da prosperidade" – é, aliás, considerado um de seus principais expoentes aqui no Brasil – , doutrina segundo a qual a bênção financeira é o desejo de Deus, e o discurso positivo e as doações sempre aumentarão a riqueza material do fiel. 

Mas sua glória financeira e, digamos, espiritual é também seu calvário: os adjetivos e acusações, ele as recebe no mesmo compasso com que os dízimos enchem os cofres da IURD. Macedo já foi acusado de charlatanismo, curandeirismo e enriquecimento com a exploração da fé. 

O bispo parece, no entanto, estar preparado para enfrentar os adversários de toda espécie. Tal atributo vem de longe. Devido ao problema físico nas mãos, sofreu bullying na infância, segundo revelou na biografia arrasa-quarteirão "Nada a perder." Disse ele: 
"Muitas vezes senti complexo de inferioridade. Me considerava o patinho feio da escola e até da família. Sempre fui motivo de zombaria. Muitos adultos e meninos da minha idade me chamavam de dedinho". – Nada a Perder: Momentos de Convicção Que Mudaram Minha Vida - Livro 1, Editora Planeta, 2012, 240 páginas

Conversão


Ex-católico, segundo ele, "graças a Deus" – espanta quem descobre que Edir Macedo Bezerra já foi católico de usar correntinha no pescoço, devoto de São José –, mas é verdade. Com 15 anos, numa Sexta-Feira da Paixão, foi levado pelos pais para cultuar Jesus morto e ficou assustado com a violência da imagem. Ao desistir do catolicismo, passou pelo espiritismo e frequentou terreiros de macumba, mas também ali não encontrou "as respostas desejadas". 

Nascido em 18 de fevereiro de 1945, em Rio das Flores, município do Rio de Janeiro, foi criado no seio de uma família católica praticante. Ele lembra, e relata o episódio em sua biografia, que, adolescente, chegava a ironizar os evangélicos da Assembleia de Deus que se reuniam para orar no campo de São Cristóvão. "Aleluia, aleluia! Como no prato e bebo na cuia", gritava o garoto Edir, fugindo depois de bicicleta. Nos tempos da Igreja Nova Vida, a postura foi outra. Ele revela no livro que destruiu as imagens e medalhas religiosas que levava consigo: 
"Botei todos aquelas objetos no chão, fitei os olhos deles e, apontando o dedo com desdém, desafiei: 'Desgraçados! Vocês me enganaram!'". 
Em seguida, pisou com raiva os pedaços de papel rasgados e a gargantilha.

Ainda jovem, Edir Macedo conseguiu uma colocação: emprego público na Loteria da Guanabara, obtido com o auxílio do ex-governador Carlos Lacerda, com quem a família dele tinha certa proximidade. Seu trabalho era uma mistura de contínuo com auxiliar de escritório. Isso não impediu, no entanto, que o poder lhe subisse a cabeça: certo dia, levando ao pé da letra uma recomendação interna, impediu a entrada de um monsenhor no escritório administrativo, o qual havia sido enviado pelo arcebispo para recolher um dinheiro que na época algumas sociedades católicas recebiam das loterias: 
"Eu barrei a Igreja Católica naquele dia. Simbolicamente, seria um prenúncio do que se tornaria a sina da Igreja Universal ao longo os anos",
diria anos depois.

Incômodo e riqueza permanentes 


Em 1992, o Ministério Público denunciou Edir Macedo por "delitos de charlatanismo, estelionato e lesão à crendice popular". Ele ficou preso durante 15 dias, mas se livrou das acusações. Assegura ter sido alvo de "perseguição do clero romano, políticos de prestígio, empresários da elite econômica e social, intelectuais". Na verdade, o bispo passou a incomodar – aos menos aos chamados barões da mídia – quando comprou a TV Record, por US$ 45 milhões, em 1989. No segundo volume de sua biografia, ele tenta explicar como reuniu, 12 anos depois de fundar a Igreja Universal, o capital necessário para adquirir a emissora: 
"Até hoje não sei como conseguimos. Não foi por caminhos semelhantes ao de qualquer negócio comum. Não houve cálculos detalhados nem estudos financeiros. Simplesmente, agi pela fé".
Apontado pela revista 'Forbes' com um dos bilionários do mundo, na 1268ª posição, Edir Macedo tem a fortuna avaliada em US$ 1,1 bilhão. Enquanto sua riqueza aumenta, as denúncias não param: em 2007, a Polícia Federal abriu investigação pela suposta prática de crimes de falsidade ideológica, contra a fé pública, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro – o líder da Universal teria se apropriado de recursos da igreja para formar patrimônio pessoal em empresas de comunicação.

Em 2008, reportagem da "Folha de S. Paulo" apontou Macedo com o maior detentor de concessões na mídia eletrônica brasileira, com 23 emissoras de tevê. O grupo teria registro no paraíso fiscal de Jersey, no Canal da Mancha, e seria utilizado para "esquentar" os dízimos recebidos pela Universal.

Nada a Perder [mesmo!]


Escrita em parceria com o vice-presidente de jornalismo da Record, sua emissora de televisão, "Nada a perder" ganhou o segundo volume no ano seguinte, e veio um terceiro a seguir (2014), e seu lançamento foi um sucesso da América do Sul à Europa. Segundo dados da editora Planeta, o primeiro vendeu, em apenas cinco meses, mais de um milhão de exemplares em todo o mundo. 

Foi o título mais vendido no Brasil em 2012, de acordo com o portal Publishnews, especializado no mercado editorial. Superou o best-seller mundial "50 tons de cinza" e também as biografias de Steve Jobs e Eike Batista. Nem é preciso dizer que o livro contou com eficiente estratégia de divulgação. Na centenária livraria El Ateneo, em Buenos Aires, mais de 50 mil exemplares foram vendidos numa só tacada; para conseguir uma assinatura do autor, filas enormes se formaram. 

O sucesso – comprar o livro é dever obrigatório para um verdadeiro fiel – reflete a trajetória vitoriosa e polêmica do bispo evangélico retratado no livro como um ser quase perfeito. Uma pessoa cuja principal tarefa no mundo é abrir os olhos dos outros diante de um poderoso inimigo, o qual ele próprio faz questão de nomear com todas as letras: "A sina da Universal é barrar a Igreja Católica".

"O Bispo..."


O jornalista Douglas Tavolaro, autor da biografia autorizada diz que não é fácil escrever sobre o próprio patrão. No livro, o líder da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da Rede Record fala em livro do ódio à Globo.

Com o título de 'O Bispo - A História Revelada de Edir Macedo' (Editora Larousse do Brasil, 2007, 276 páginas) e tiragem de 700 mil exemplares, o livro de Douglas Tavolaro e Christina Lemos traz em detalhes os 11 dias em que Macedo passou na prisão, em maio de 1992 - acusado de charlatanismo e c

urandeirismo -, seu ódio pela Rede Globo, seus gostos e hábitos, dramas e o futuro que estava construindo para sua igreja.

Veja trechos:
  • Sobre a deficiência na mão esquerda (dedos indicadores finos e os polegares maiores)
"Eu era o patinho feio da família. Tinha a sensação de que tudo o que eu fazia dava errado: era a pipa cortada, eram os balões que pegavam fogo. Às vezes, me sentia um es
torvo."
  • Sobre a sua iniciação sexual
"Foi antes do casamento, antes da minha conversão. Foi num bordel em frente ao colégio em que eu estudava à noite."
  • Drogas
"Não sei o que é droga. Não sei o que é maconha nem cocaína. Nunca vi nenhum tipo de droga na minha frente."
  • Sexo
"Sexo é para ter prazer. A cama é a base da aliança no altar. Não são filhos, dinheiro, carinho. Se um não der o que o outro precisa, já era. É como comer e beber."

"Somos contrários ao sexo anal, mas do resto tudo é permitido entre quatro paredes. Não apoiamos o sexo antes do casamento, seguindo ensinamentos da Bíblia."
  • Medo
"Eu enfrento o diabo, mas não enfrento uma barata."
  • Deus
"Falei para Deus: Não vou andar mais com arma. Mas, se o Senhor não guardar minha vida, vou comprar uma metralhadora."
  • Milagres
"Os rituais de libertação às vezes assustam, mas são necessários. As pessoas chegam à igreja com enfermidades espirituais graves. E saem dali curadas. Se é milagre? Olha, milagre é uma parceria entre você e Deus."
  • Globo
"Avançamos bem, mas ainda é pouco. Vamos ser líderes na comunicação do Brasil. A Record será a número 1."
  • Silvio Santos
"Silvio Santos é extraordinário vendedor, homem de intuição comercial e péssimo diretor de programação. O SBT é uma lástima."
  • Igreja Universal
"Se uma pessoa vem à igreja e é explorada, não recebe nenhum benefício, ela nunca mais volta. Ou voltaria para ser explorada novamente? Claro que não. A Igreja Universal começou com poucas pessoas. As que estão conosco até hoje é porque têm sido beneficiadas. Somos acusados de exploração da boa-fé por puro preconceito."
  • Dízimo
"Veja o exemplo da terra arrendada a um trabalhador: depois de cultivada, 50% do que dela se retira é do dono da terra, a outra metade é do arrendatário. Na igreja, os primeiros 10% são colocados na obra de Deus. Ele é o dono da terra, de nossa vida."
  • Aborto
"Sou a favor do direito de escolha da mulher. Sou a favor do aborto, sim. A Bíblia também é."
  • Homossexuais
"Eu acredito na Bíblia e ela é contra a prática do homossexualismo. Sou contrário à relação homossexual e não aos homossexuais. Respeito o ser humano."
  • Marinho 
"Não conheço a família Marinho, não sei se são más pessoas. Mas a instituição Rede Globo faz mal ao Brasil."

Do coreto...


A sede da Igreja Universal do Reino de Deus fica em Del Castilho, subúrbio do Rio de Janeiro. É a catedral chamada Tempo da Glória do Novo Israel. A IURD foi fundada no verão de 1977 pelo então pastor Edir Macedo e seu cunhado Romildo Ribeiro Soares (Ele mesmo, o missionário R. R. Soares, que hoje lidera outra igreja-potência, a Internacional da Graça de Deus). Os números em torno dela assustam. Em pouco tempo, tornou-se o maior e principal grupo neopentecostal do Brasil. Aqui existem mais de cinco mil templos. Para atender aos fieis, quase 10 mil pastores (números estimados).

Um coreto foi seu primeiro e retumbante palco de pregação. Com teclado, microfone e na mão uma Bíblia, que não cessava de ser erguida aos céus, Edir Macedo não perdia um sábado de pregação no bairro do Méier, um dos mais populosos do Rio. Fazia isso ao ar livre. Eram os primeiros passos da IURD, cuja principal incentivadora foi dona Eugênia, mãe do futuro bispo. A primeira igreja seria levantada a seguir no lugar onde funcionava uma antiga funerária, no bairro da Abolição. 

Não havia sequer um ventilador, mas o negócio cresceu. Uma fábrica de móveis desativada no número 7.702 da Avenida Suburbana foi alugada para se transformar em um grande templo, com capacidade inicial para 1,5 mil pessoas. Logo precisou ser ampliado. 

Edir Macedo contou com o apoio do cunhado R. R. Soares, nome com o qual se tornaria conhecido como pregador. Eles haviam se conhecido em 1968 na Igreja Pentecostal da Nova Vida, fundada pelo americano Robert McAlister. Juntos, decidiram criar sua própria igreja, nomeada, a princípio, A Cruzada do Caminho Eterno e, em seguida, A Casa da Bênção. Macedo e Soares se desentenderam anos depois, quando a Universal já era um fenômeno, tanto religioso como econômico. 

...Ao Templo de Salomão


Inaugurado em 31 de julho de 2014, no bairro do Brás, no centro da cidade de São Paulo, o Templo de Salomão é uma obra de arquitetura monumental.

Idealizado pelo Bispo Edir Macedo, o Templo, que se tornou a sede mundial da IURD, foi inspirado no templo bíblico de mesmo nome, localizado em Jerusalém, e sua construção tem como objetivo proporcionar a "busca pelo espiritual".

Com capacidade para mais de dez mil pessoas – medidas baseadas nas orientações bíblicas –, o templo tem a altura de um prédio de 18 andares. 

Possui 36 salas de Escola Bíblica, estúdios de televisão e rádio, auditório para 500 pessoas e estacionamento para quase dois mil carros, além de 59 apartamentos quitinete e mais de 20 apartamentos com uma ou duas suítes.

O Templo possui ainda o Cenáculo, museu que traz a história dos Templos antigos, com réplicas dos artefatos originais, para que o visitante se sinta realmente nos tempos bíblicos. O local conta também a história da construção do atual templo.

A visita a esse memorial é feita acompanhada de guias do lugar, que deve ser previamente agendada. Por ser um ambiente de reverência e espiritualidade, os visitantes devem seguir algumas regras para entrar. As normas e condições podem ser consultadas no site do Templo.

Já o Passeio Bíblico consiste em conhecer a réplica do Tabernáculo de Moisés e sua história, o Memorial com a história das 12 tribos de Israel e por último o Jardim das Oliveiras centenárias. O visitante é sempre acompanhado por um sacerdote – devidamente vestido com réplica das vestes sacerdotais – , que explica todos os detalhes nesse incrível passeio com aproximadamente 1 hora de duração 

Do jeito que o diabo gosta


Os embates públicos não se resumem, porém, a enfrentar a mídia, o Ministério Público e a Polícia Federal. Abarcam também os concorrentes religiosos. Em 2013, por exemplo, acendeu o sinal amarelo da Igreja Universal diante do arqui-inimigo de Edir Macedo: Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus. Num dos momentos-clímax da briga, ambos convocaram até o demônio para ajudá-los na batalha travada pela alma e generosidade dos fiéis. Em seu programa de TV, Macedo "interrogou" o diabo – que, supostamente encarnado em uma devota, "confessou" ter se instalado na igreja rival e ser o responsável pelas propaladas curas conduzidas por Valdemiro. 

O chefe da Mundial passou recibo e rebateu as acusações no mesmo nível da elegância do adversário: no Canal 21, afirmou que "câncer" de Macedo é obra de demônio. A tréplica chegaria sem tardança. Macedo levou sua médica à TV para atestar que não sofre da doença e ainda exibiu no programa Domingo Espetacular, da Rede Record, uma reportagem sobre a compra, por Valdemiro, de três fazendas avaliadas em 50 milhões. 

Essa aguerrida disputa se deu num momento em que a Universal passou a perder fiéis e receita para a Mundial. Em 14 anos, o segundo teria conquistado mais de 20% dos seguidores do primeiro. Para quem não sabe, Valdemiro foi membro da cúpula da Universal, mas acabou preterido por Macedo na indicação para um posto de maior visibilidade. O que se viu a seguir nos ensina que não se deve desejar ter um pastor como adversário: Valdemiro rompeu com o chefe, fundou a própria igreja e, além das baixarias listadas acima, resgatou o modelo primitivo que originou o fenômeno Universal – a luta contra Lúcifer e a promessa de curas e milagres de todos tipos, pilares que Macedo substituiu pela "teologia da prosperidade". Atingia assim o nicho de fiéis de menor poder aquisitivo e altíssima credulidade.


Guerra contra a Rede Globo


É de longe a guerra entre a Rede Record e a Rede Globo, bem antes de "Os Dez Mandamentos" e "Babilônia", telenovelas exibidas por uma e outra, respectivamente, em 2015. 

A guerra começou com o episódio que ficou conhecido como o Chute na Santa, como muitos se recordam, ocorreu em 12 de outubro de 1995, dia da Senhora da Aparecida, a "padroeira do Brasil". O bispo da Igreja Universal Sergio von Helde atacou uma imagem da Senhora Aparecida a pontapés, dizendo que aquilo nada mais era do que um monte de barro, "um bicho tão feio, tão horrível, tão desgraçado". Os efeitos foram devastadores.

Apesar de o programa ter ido ao ar durante a madrugada, a imprensa o repercutiu e a reação popular foi enorme. A Igreja Universal não se manifestou oficialmente, mas o bispo Macedo teve que vir à cena pedir desculpas aos católicos. O bispo von Helde foi transferido para a África do Sul. Mais tarde, correu o boato – nunca confirmado – de que ele havia se convertido ao catolicismo, fato que, de qualquer maneira, a dupla Felipe e Falcão cantou na música "O Milagre da Santa", gravado em 2000.

  • Investida contra a sociedade


O chute na santa foi também o estopim que a Globo esperava para desfechar uma grande campanha contra a Igreja Universal, que incluía a divulgação de imagens de bispos tramando os métodos para tomar dinheiro dos fiéis, além de denúncias sobre enriquecimento ilícito de membros da igreja. As reações incluíram ainda, ironicamente, o ajuizamento de dezenas de ações por todo o país contra a Universal.

Os resultados foram menos devastadores do que a Globo esperava. Sobreviver foi quase um milagre, mas ainda assim a igreja levou anos para se recuperar do golpe. Na Record, ninguém mais chutou publicamente santa alguma. Contudo, a influência da igreja junto à programação se tornou cada vez mais explícita. Foi justamente o jornalismo que serviu de aval para manter a aparência de independência da emissora em relação à igreja (com a qual, em tese, a Record não mantinha vínculo algum, exceto o comercial, representado pela compra de espaços durante as madrugadas).

A Globo ainda "devolveria o chute" quando em setembro de 1995, exibiu "Decadência", minissérie brasileira escrita por Dias Gomes, que anos antes havia escrito o livro homônimo. Exibida entre 5 e 22 de setembro as 21h30, em 12 capítulos o autor conseguiu contar a história de vida do jovem Mariel (Edson Celulari), de sua queda até sua ascensão social como pastor, entre os anos de 1984 e 1992. 

A minissérie teve cenas maçantes como a de Carla (Adriana Esteves) tirando a calcinha e colocando sobre a Bíblia de Mariel e Mariel convencendo a esposa do pastor Jovildo (Milton Gonçalves) a ter relações sexuais com ele e não com o marido que estava possuído pelo demônio.

"Decadência" foi apresentada como parte da comemoração dos 30 anos da TV Globo e causou polêmica junto aos evangélicos, principalmente aos fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, que se sentiram ofendidos com a obra de Dias Gomes. Para tentar amenizar os fatos, a emissora apresentou um texto, lido por Edson Celulari, antes da vinheta de abertura onde dizia ser importante renovar o respeito a todas as religiões.

Apesar dos esforços para diminuir a polêmica, no dia 09 de setembro daquele ano, o jornal Folha de São Paulo apresentou uma matéria onde mostrava que as falas do pastor Mariel eram as mesmas dadas por Edir Macedo a revista Veja em 1990. A partir de então a imprensa começou a chamar de "Guerra Santa" as ofensas entre as emissoras. Um acordo entre os diretores Eduardo Lafon (então diretor da Record) e Boni (então vice presidente de operações Globo) pôs fim a troca de insultos.

Pois é. Mas a guerra estava só começando. Na noite de terça-feira, 11/08 e na quarta-feira 12/08/2009, o 'Jornal Nacional' exibiu duas longas reportagens com denúncias de lavagem de dinheiro oriundo da Igreja Universal do Reino de Deus. O telejornal até reprisou uma velha gravação, exibida em 1995, que mostrava o líder da IURD, Edir Macedo, em um bate-papo sobre como conquistar o dinheiro dos fiéis.

Os então apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes destacaram a repercussão do caso no noticiário em diversos países. O 'JN' enfocou ainda a primeira página da 'Folha de S. Paulo' (um aliado das Organizações Globo) que estampou o escândalo na manchete principal. Até mesmo, o noticiário de TV da Folha foi contaminado pela guerra midiática. A isenção perdeu força.

No dia seguinte, na quarta, a Record contra-atacou. O 'Jornal da Record' exibiu algumas matérias que ficaram no ar por mais de 15 minutos. As reportagens frisaram que a TV Globo nasceu na Ditadura Militar e que manipula as informações, principalmente no noticiário político. A famosa edição do debate Collor e Lula, cobertura tendenciosa sobre Leonel Brizola e até a atuação da emissora platinada que tentou prejudicar a reeleição do presidente Lula ganharam espaço. A IURD era uma base de sustentação do governo lulista. 'Uma rasteira na democracia' foi uma frase que ganhou força no discurso.

Nos momentos finais da reportagem do 'JR', o repórter questionou como a TV Globo teve acesso a documentos que estavam em segredo de Justiça. Depois, o noticiário exibiu as obras sociais da IURD. Para fechar a defesa, salientou-se o crescimento de audiência da Record e os programas que conseguiram, no dia anterior, a liderança isolada no IBOPE. Isso incomodaria o 'monopólio da comunicação'.

Foi o chumbo grosso travado pelas duas maiores emissoras do Brasil. A guerra ainda renderia outros rounds. Nesta disputa, convenhamos, ninguém é santo. O importante é que o conflito midiático não respingue na paciência do telespectador.

Conclusão 


A igreja criada por Edir é um reflexo dele mesmo, uma panaceia que junta retalhos de outras fés. Embora sua base seja o Evangelho e a figura de Jesus, como a maioria das seitas pentecostais, Edir misturou outros elementos, da encenação do candomblé, com o exorcismo de pessoas supostamente tomadas pelo demônio, às raízes judaicas do Velho Testamento. Lá está o templo de Salomão, conhecido como o "rei da sabedoria", na verdade uma figura controvertida na própria visão bíblica. Nos livros de Salomão, Provérbios e Eclesiastes (além de Cantares) a sabedoria terrena na verdade é vista criticamente, como a "vaidade das vaidades", em oposição à simplicidade da fé.

Sem importar-se em ser um teólogo capaz de fazer sentido, Edir é na realidade um motivador de pessoas – aí reside seu talento. Essa virtude lhe permitiu não só conquistar acólitos como também ser um extraordinário formador de quadros capazes de ampliar seu raio de ação. É impressionante sua capacidade de "produzir" bispos e pastores fiéis ao seu discurso, gestual e ideias. Graças ao seu trabalho de RH, Edir fez a Universal prosperar rapidamente no Brasil e mundo afora.

É também um pastor com tino de empresário. Já reclamou que a igreja era vista pela imprensa ingenuamente como uma exploradora do povo mais pobre. Para começar, dizia que não era o miserável que sustentava a Universal. Na verdade ele enxergara um mercado: o trabalhador que tinha emprego e renda, mas nenhuma perspectiva de subir na vida, por falta de oportunidade. Seu discurso sempre foi de que esse trabalhador pode conseguir mais, se tiver fé; ele tem dinheiro para pagar o dízimo, e a fé que o inspira é uma "fé de resultados" capaz de levá-lo a uma vida melhor.

A ideia de que ganhamos um lugar no Paraíso além da vida, pregada pela Igreja Católica, nunca foi suficiente para Edir. Ele sempre acreditou que a igreja tem de dar respostas para o ser humano ainda em vida. Sua igreja é pragmática e não há dúvida de que ajuda muita gente. Edir é polêmico porque é impossível medir a relação entre o benefício que sua igreja traz aos seus acólitos e o quanto do dinheiro arrecadado vai em benefício pessoal de seus bispos e pastores. Edir não vê nisso conflito de interesses, porque nunca pregou o discurso da vida ascética nem defendeu qualquer espécie de voto de pobreza. 

Enfim, eis o retrato do bispo Edir Macedo, – amem-no ou odeiem-no, concordem ou não com sua teologia –, inquestionavelmente, uma das mais influentes personalidade religiosa contemporânea.
[Fonte: Várias publicações na Internet]

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