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sábado, 5 de setembro de 2015

A IMAGEM DO HORROR NA SÍRIA

Uma das ilustrações de internautas que se tornaram virais nas mídias sociais

Uma notícia bombou nas mídias sociais essa semana e escancarou um problema que infelizmente passa quase desapercebido pela maioria de nós. O drama vivido pelos imigrantes em fuga do conflito entre o Estado Islâmico e as forças curdas. Os noticiários internacionais deram conta que pelo menos nove migrantes sírios morreram nesta quarta-feira (2) na costa da Turquia no naufrágio de duas embarcações que haviam partido da cidade turca de Bodrum e tentavam chegar à ilha grega de Kos, anunciaram as autoridades locais.

As imagens do corpo do pequeno imigrante que apareceu numa praia de Bodrum se espalharam nas redes sociais numa onda de tristeza e indignação com a crise migratória. A forte e perturbadora imagem também serviu para bulir com sensibilidade (quiçá, com os brios)  de muitos. No Twitter, muitos dos comentários sobre o caso passaram a ser marcados com a hashtag #KiyiyaVuranInsanlik (humanidade levada com as águas).

O menino morto apareceu depois que as duas embarcações com imigrantes naufragaram. Elas haviam partido de Bodrum e tentavam chegar à ilha grega de Kos, anunciaram as autoridades locais. A imprensa turca o identificou como Aylan Kurdi, de 3 anos. Seu irmão, de 5 anos, também morreu. Eles seriam da cidade de Kobani, na Síria, devastada pelo conflito entre o Estado Islâmico e forças curdas.

O primeiro barco, que transportava 16 pessoas a bordo, afundou em águas internacionais, segundo uma fonte da Guarda Costeira turca que pediu anonimato. Ao ouvir os gritos dos náufragos, os agentes turcos atuaram rapidamente e conseguiram salvar três pessoas, mas também retiraram sete corpos da água. Outros seis passageiros ficaram desaparecidos.

No segundo barco estavam seis sírios que também tinham Kos como destino, mas a embarcação afundou perto de Bodrum. Duas pessoas foram resgatadas, duas morreram e outras duas estavam desaparecidas. Há vários meses, pessoas procedentes da Síria, Afeganistão ou África tentam cruzar o mar Egeu para chegar às ilhas gregas, uma porta de entrada para a União Europeia (UE). O Reino Unido informou que acolherá “milhares” de sírios, em uma mudança na resposta à crise de imigrantes na Europa, diante da pressão pública.

A participação brasileira


Nos últimos quatro anos, o Brasil se tornou o principal destino de refugiados sírios na América Latina. Segundo estatísticas do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), o país abriga atualmente cerca de 1.600 cidadãos sírios reconhecidos como refugiados – o maior grupo entre os aproximadamente 7.600 refugiados que vivem no país, de mais de 80 nacionalidades diferentes.

O conflito está entrando no seu quinto ano. Para o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, António Guterres, trata-se da “pior crise humanitária da nossa era”. Segundo dados divulgados ontem pelo ACNUR, já são 3,9 milhões de refugiados sírios registrados nos países vizinhos e outros 8 milhões de deslocados dentro da própria Síria. A busca de refúgio no Brasil por parte dos sírios vem crescendo regularmente desde 2011, quando o conflito começou. À época, apenas 16 deles viviam no país como refugiados – incluindo 13 que já estavam aqui antes do início da guerra.

Com o recrudescimento do conflito, o CONARE adotou, em outubro de 2013, uma Resolução Normativa (#17) para desburocratizar a emissão de vistos para cidadãos sírios e outros estrangeiros afetados pela guerra e dispostos a solicitar refúgio no país. Tal medida aumentou o número de chegadas e impactou no perfil do refúgio no Brasil, uma vez que o CONARE vem aprovando quase a totalidade das solicitações de refúgio relacionadas à guerra na Síria.

Como resultado desta tendência, o CONARE registrou em 2014 um recorde de 1.326 solicitações de refúgio feitas por cidadãos sírios (um aumento de quase 9.000% em relação ao início da guerra síria). Assim, no ano passado, os sírios se tornaram o maior grupo entre os refugiados que vivem atualmente no Brasil.

Para o ACNUR, as perspectivas dos refugiados sírios e dos deslocados dentro do país são preocupantes, pois as condições de vida estão se deteriorando em uma escala alarmante. A grande maioria dos 3,9 milhões de refugiados que se encontram na Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egito não vislumbra a possibilidade de voltar para casa em um futuro próximo e tem poucas oportunidades de recomeçar a vida em outra parte do mundo. 

Dentro da Síria, os quase 8 milhões de deslocados internos compartilham quartos lotados com outras famílias ou se abrigam em prédios abandonados. A maioria encontra-se em lugares de difícil acesso – inclusive áreas sitiadas pelos diferentes grupos armados que integram o conflito.

Sozinhos ou em grupos familiares, os refugiados sírios que chegam ao Brasil são atendidos por organizações não governamentais, com o apoio do ACNUR, do Governo do Brasil e do setor privado. Os atendimentos estão concentrados em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas há casos em vários outros pontos do país. Após um período de adaptação, os refugiados têm conseguido reestruturar suas vidas e voltar a fazer planos para o futuro. Com ajuda do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), parceiro do ACNUR no atendimento a refugiados e solicitantes de refúgio no Distrito Federal, este casal empreendedor tenta agora abrir uma pequena empresa para ampliar o comércio de doces e acelerar sua autonomia financeira.

Qual a resposta/participação da Igreja?


Infelizmente o fato é que a Igreja Cristã tem feito muito pouco diante do muito que se quisesse podia fazer. A guerra civil na Síria é noticiada diariamente pela mídia. Quantos foram mortos hoje nesse terrível conflito? Armas químicas estão sendo usadas? Quem é o responsável por esse massacre? Essas são questões que precisam ser respondidas.

O fundador da conhecida Missão Portas Abertas, Irmão André, sempre se pergunta quando vê essas notícias: “E quanto à Igreja? Como estão meus irmãos?”. Eles estão presos no meio de um conflito entre dois grupos na Síria. A Portas Abertas tem ajudado a muitos cristãos que passam por dificuldades nesse país. Muitos perdem seus trabalhos por causa de ataques dos rebeldes. Eles saqueiam os escritórios e depois ateiam fogo.

A Portas Abertas tem ajudado muitas igrejas através do serviço de assistência a cristãos refugiados. “Eu fiquei muito preocupado sobre como conseguir dinheiro para me sustentar, mas o Senhor me abençoou com seu presente maravilhoso. Primeiramente eu agradeço a Deus por cuidar de nós. Além disso, estou impressionado com sua generosidade, embora você não nos conheça. Eu oro para que Deus abençoe todo aquele que tem nos ajudado e que lhe retribua o dobro ou triplo do que tem nos dado”, Disse um cristão de uma igreja ortodoxa armênia em Aleppo em agradecimento à atuação do Irmão André através da Portas Abertas.

Grande é esta obra...


Há anos, a Portas Abertas juntamente com igrejas locais de várias denominações começou um trabalho de ajuda a refugiados na Síria. Primeiro em cidades como Aleppo e Damasco, e hoje o trabalho em toda a Síria. Mais de 1,4 milhão de pessoas já deixou a Síria e os números recentes apontam para mais de quatro milhões de pessoas desabrigadas no país. Os combates entre as tropas do governo e o chamado Exército Livre da Síria continuam em várias partes do país. Ambos se declaram bem-sucedidos e acusam um ao outro de cometer grandes atrocidades. Jihadistas de todas as partes vem à Síria para lutar contra o governo, eles têm uma clara agenda islamita.

Sem futuro

Os cristãos estão presos no meio dessa luta. Antes da guerra civil na Síria começar, os cristãos eram cerca de 8% da população. Sob o governo de Assad, ele mesmo membro de uma minoria, os cristãos tinham bastante liberdade. Agora isso está mudando. Alguns veem os cristãos como apoiadores do regime de Assad e os jihadistas não veem futuro para pessoas adeptas de outras religiões se não o Islã.

Rede de contatos

Nos últimos anos, a Portas Abertas construiu uma rede de contatos no país e começou a trabalhar com várias denominações, isso antes de qualquer previsão sobre o que poderia acontecer no futuro. Em países vizinhos, como o Iraque, o envolvimento da Portas Abertas tem sido muito necessário. Um colaborador que coordena o trabalho na Síria disse: “Nós agradecemos pela rede de contatos que foi construída nos últimos anos. Por causa dela hoje podemos oferecer ajuda a grande parte do país. Claro, fazemos isso em parceria com outras agências missionárias, então não ficamos parados onde já existe ajuda. Nós não oferecemos apenas ajuda prática, mas também ajuda espiritual”.

Muitos têm nos perguntado sobre como funciona o projeto de apoio a refugiados, e como poderiam nos ajudar. Esse projeto é novo para nós, e confessamos: é tudo muito assustador! Tivemos de alugar um centro espaçoso em Vila Velha, tudo nos últimos 2 meses, e desdobrar o projeto através de vários contatos.

Até agora, são mais de 2 milhões de sírios que deixaram seu país por conta da guerra. Famílias cristãs têm nos procurado, geralmente perseguidas no processo de escape. Os rebeldes têm identificado cristãos na fronteira, o que geralmente termina em assassinato.

As famílias vendem o que possuem e vêm ao Brasil por conta própria. A inserção de imigrantes refugiados no Brasil, se dá em 2 etapas:

  • Etapa 1: O processo documental inicial. A estimativa é que em 30-40 dias cada indivíduo já tenha 3 documentos importantes: o refúgio provisório, o CPF e a carteira de trabalho. Nessa etapa as missões responsáveis pelo acolhimento do refugiado precisar acompanhar todos os protocolos junto à Polícia Federal e os órgãos competentes. Durante esse tempo, eles precisarão ser cuidados com apoio médico, odontológico, pastoral, emocional. Há também as necessidades básicas: roupas, cestas, alimentos em geral, itens de higiene, remédios. Quanto ao voluntariado, é preciso uma seleção bem criteriosa, pois tanto a circulação nas instalações - que nem sempre têm uma estrutura ideal - trata-se de pessoas ainda assustadas, de quem está se conquistando a confiança. Esta é uma excelência oportunidade e um considerável desafio de se colocar em prática o que tanto ouvimos de e/ou levamos aos púlpitos de nossos confortáveis templos.
  • Etapa 2: Com os documentos em mãos, as famílias serão efetivamente inseridas na comunidade brasileira, o que é desafiador. Será preciso uma conexão com igrejas e empresas de comunidades árabes no Brasil, por facilidades de ajuste cultural e linguístico. Uma igreja brasileira poderia receber uma família de sírios; mesmo uma empresa poderia fazê-lo diretamente. Mas há que se seguir os critérios do CONARE (órgão competente para cuidar das questões dos refugiados, instalado no Ministério da Justiça em Brasília) e o ITAMARATI, para supervisionar o processo.

Ou seja, é uma grande seara missionária. Há muito o que se fazer. Vejo algumas pessoas falando em missões pra lá, missões pra cá sem fazer nada de prático e sem sequer sair do lugar. Não seria esta uma excelente porta de atuação missionária? E, caso não possamos atuar como voluntários, não poderíamos ao menos orar?

[Fonte: diversas publicações na Internet e Missão Portas Abertas]

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