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segunda-feira, 7 de setembro de 2015

UMA QUESTÃO DE AUTORIDADES

Hoje foi comemorado o feriado de 7 de setembro, 193 anos da independência do Brasil. Ainda que, devido à situação de penúria na qual o Brasil se encontra, não haja muito o que se comemorar, a data ainda marca. A Independência do Brasil é um dos fatos históricos mais importantes de nosso país, pois marca o fim do domínio português e a conquista da autonomia política. Muitas tentativas anteriores ocorreram e muitas pessoas morreram na luta por este ideal. Podemos citar o caso mais conhecido: Tiradentes. Conforme dados históricos, o bandeirante foi executado pela coroa portuguesa por defender a liberdade de nosso país, durante o processo da Inconfidência Mineira. Contudo o sentimento cívico está um tanto, digamos, adormecido. Com a explosão de mensalões, propinodutos e outras tantas corrupções no cenário político atual, a rejeição ao governo do Partido dos Trabalhadores (PT) tem enfrentado o maior índice de rejeição de todos os tempos.

Orar ou não? Abençoar ou não?


Você já pensou sobre este assunto? Será que, como cristão, posso questionar ou mesmo confrontar autoridades constituídas? Tenho que me submeter sempre? Seria correta a interpretação, por parte de alguns, de que é pecado se “levantar” contra qualquer autoridade (inclusive eclesiástica)? Hitler seria uma autoridade instituída por Deus?

Diante do momento que passamos, talvez seja importante fazer algumas considerações bíblicas a respeito de nossos relacionamentos com as autoridades. O apóstolo Paulo escreve aos Romanos, no capítulo 13, um texto clássico que exemplifica muito bem o assunto. Gostaria de tecer alguns comentários sobre este texto e sobre nossa posição diante de tais situações.

Começo ressaltando a abordagem dada pela Bíblia quando o assunto se refere à autoridade instituída em relacionamento entre pastores e o povo de Deus. Os textos que falam sobre o respeito devido às autoridades não são apócrifos. Muito ao contrário; afirmo que além de verdadeiros, são essenciais. Neles estão contidos propósitos importantes para a manutenção da ordem. Sem autoridades em uma sociedade, sejam elas civis, militares ou religiosas, tudo se transformaria em anarquia. É inimaginável viver em comunidade sem o papel das autoridades – um caos.

No entanto, há de se observar que não podemos ter uma postura de subserviência, uma submissão e obediência às autoridades de modo acrítico ou cego. Deus deu ao homem o poder de pensar, questionar e nos capacitou com um dom precioso: o discernimento. Esse nos foi dado para que, em qualquer ocasião, possamos discernir a vontade de Deus, para que possamos entender o que é certo e o que é errado, e para decidir entre o bem e o mal.

Uma boa dica para isto é sempre tomar Jesus como modelo. Nele está encarnada a soberana vontade de Deus. A velha pergunta que precisa ser feita é: Se Jesus estivesse aqui, o que faria? Esta é uma boa forma de colocarmos na balança as autoridades. Não está no padrão de Deus, que seja anátema! O que estou afirmando é que nem toda autoridade (eclesiástica ou política) foi constituída por Deus. Se não obedecem a Deus também não devo obedecê-las. Ele está acima das autoridades, sejam elas quais forem. O apóstolo Pedro diz em seu discurso (At 4:19): “...mais importa obedecer a Deus do que aos homens”.

Hitler era de Deus?


Vejamos um exemplo prático: se toda autoridade vem de Deus, como explicar Hitler, que matou milhões de pessoas e crianças inocentes? Teria sido constituído por Deus? Deveríamos ser fatalistas e ficar passivos? O que dizer, ainda, de Mussolini, Nero, Cezar, dos líderes dos antigos países da cortina de ferro, os quais mataram e torturaram homens verdadeiros, fiéis cristãos? Entender que pessoas que perseguiram e mataram inocentes foram colocados por Deus? Desculpe, não dá!

Talvez se pergunte: Qual o critério que devo observar para que possa avaliar uma autoridade? Como devo saber se devo, ou não, obedecer e honrar tais autoridades? A resposta é simples e direta: se a autoridade se opõe aos princípios de Deus, que a instituiu, perdeu seu sentido de ser. Toda autoridade deve passar pelo crivo: promove o bem e castiga o mal? Se não pode responder afirmativamente a essas assertivas, essa não é uma autoridade que merece nossa submissão. Fora com ela!

Para não passar a ideia que isto é apenas um pensamento particular, lembro que na Bíblia existem muitos homens de Deus que, sem medo, questionaram autoridades. Mais do que isto, incisivamente, colocaram seus dedos em riste na cara do “pseudo ungido”, demonstrando nenhuma submissão para com seus cargos públicos, sejam elas quais forem: reis, governadores, sacerdotes, etc.

Quando uma autoridade, ainda que constituída legalmente, não corresponde aos princípios morais estabelecidos na Palavra de Deus, pode-se dizer que esta é considerada uma autoridade apócrifa, desviada e anátema. Veja: 1 Reis 13; 16:1-7; 18:1-19; Jeremias 22:1-9.

Lembrando ainda que o Novo Testamento registra Jesus chamando Herodes de raposa (Lucas 13:32). E o que dizer, ainda, das vezes que chamou as autoridades espirituais de sepulcros caiados ou então quando vemos João Batista confrontando o grande Herodes e denunciando seus pecados (Mt 14). Ele sofreu consequências: foi preso e decapitado, perdeu a vida, mas não perdeu a moral.

Autoridades que se afastam de princípios éticos e morais, contidos na Palavra de Deus, não merecem nossa submissão. Mais do que isto, devem ser confrontadas e não confortadas, devem ser repudiadas e não inocentadas.

De um lado a outro


Mas no segmento cristão há também os que tem outra linha de pensamento. Segundo estes, para com as autoridades civis, o dever do cristão é obedecer. O crente não está isento para com as suas responsabilidades perante o seu País. Somos exortados pelas Escrituras a nos submetermos as autoridades legalmente constituídas, pois a pessoa que resiste a tais autoridades está resistindo a Deus (Rm 13:1, 2). Os crentes cheios do Espírito, descritos em Romanos 13, vivem pela lei do amor e da fé. Portanto, o que vão dizer e fazer muitas vezes será superior à sociedade que os rodeia. 

Mas muitas vezes serão incompreendidos pela sociedade. Quando a humanidade é corrupta e os governos são injustos e egoísticos, a cristandade pode ser perseguida. É aqui que se concretiza a cruz diária do crente. A única solução para este problema é a eterna dívida de amor do homem para com Deus e o próximo. O cristão tem por consciência ser submisso a autoridade constituída (Rm 13:5), mas não uma submissão cega, ignorante.

O governo humano é fundamental para a convivência do homem na sociedade e é perfeitamente aprovado por Deus. O cristão tem como obrigação garantir o cumprimento das leis. O cristão deve se submeter às autoridades, não somente por encargo de consciência, mas também devido ao castigo que é imposto àqueles que são infratores das leis estabelecidas pelo governo. Eles afirmam ser óbvio que não se torna um bom testemunho para o cristão que é achado em falta ou em estado de insubmissão para com o governo, pois primeiramente não está sendo insubmisso para com o governo, e sim, para com Deus, que foi Quem o constituiu (Rm 12:1; 13:1,2; Daniel 4:25-35; 5:21; Tito 3:1). 

Nem toda autoridade é cristã. Há e certamente haverá muitos que são ímpios, tiramos, estes responderão pessoalmente a Deus (Apocalipse 20:12). Agora, está também claro na Palavra de Deus que se a autoridade civil, legalmente constituída, for contra o que a Bíblia ensina, o cristão deve antes, obedecer a Deus do que aos homens (At 5:29).

Então...


Podemos ver, então, que a submissão do crente às autoridades manifesta-se de quatro maneiras:

a) a obediência às leis do país (ou do município);
b) o civismo: “fazendo bem” como cidadãos, respeitando os direitos dos outros, não sendo desordeiros nem estragando os jardins, os parques e as outras propriedades públicas (Rm 13:3);
c) o pagamento de impostos e taxas legais; a pessoa que rouba o governo é ladrão como outro qualquer (Rm 13:4-7);
d) a honra (ou respeito) para com os oficiais do governo, conforme a sua posição (Rm 13:7). Para que uma pessoa tenha uma vida bem sucedida nos dias de hoje, é fator importante verificar qual é a sua capacidade em verificar a mão de Deus nas atitudes, nas ações, bem como nas reações daqueles que estão investidos de autoridade sobre a nossa vida.

Verdades absolutas a reconhecer em autoridade:


1) a autoridade dos pais exerce o mais forte impacto na vida de uma pessoa, quer seja positiva, quer seja negativa. A atitude do filho para com a autoridade dos pais no presente, ou quando este os deixa, influenciará fortemente o seu futuro (Pv 6:20-23).

2) é nosso dever reconhecer na autoridade a mão de Deus, quando esta está de acordo com os padrões do Mestre. Rebelar-se contra as autoridades que Deus colocou na vida trará frustrações intensas. A pessoa, portanto, tem que saber receber ordens, para então, depois poder vir a guiar e dar orientação também (Provérbios 30:17).

3) muitos pensam que a liberdade está em escapar da autoridade quando antes melhor. Porém, aprendemos de Deus que o segredo está em se estabelecer um relacionamento correto e procurar reagir positivamente para com a autoridade que Ele colocou sobre a nossa vida. Um princípio claro, portanto é: Resistir a autoridade é resistir a Deus. O grande erro consiste em que o indivíduo não aceitar a verdade de que o próprio Deus está por trás da autoridade.

4) a autoridade dos pais advém de Deus. Ele é responsável pelos pais que lhe concedeu, e Deus é maior que seus pais (Pv 21:1). A autoridade dos pais é para obediência dos filhos, para que este venha a ter maturidade por meio dela (Cl 3;20). Quando os pais verificam que seu filho se submete à sua autoridade, sendo-lhes obediente, eles passam a verificar que já podem ter confiança em seu filho para deixar que este venha a tomar as suas próprias decisões. Por causa da maturidade que muitos jovens aceitam a autoridade de seus pais, como colocada por Deus, estes conquistam sua liberdade muito antes de casarem.

5) em todos os nossos relacionamentos existe a figura da autoridade, esta é claramente enfatizada pelas Escrituras Sagradas: Deus exerce autoridade sobre o homem (1 Co 11:3); o homem sobre a mulher (1 Co 11;3; 1 Pe 3:1-5); os pais exercem sua autoridade sobre os filhos (Êx 20:12; Ef 6:1-3); Deus exerce autoridade sobre os senhores empregadores (Ef 6.9); os servos devem obedecer a autoridade de seus patrões (Ef 6:5); os cidadãos devem obedecer a autoridade do Governo (Rm 13:1-7; Mt 22:21; 1 Pe 2:13-18).

3. Conduta em Relação aos Cidadãos


Como cidadãos, os cristãos também têm deveres em sua conduta para com todos aqueles com quem tem contato em sua vida diária. Ele deve, portanto, cumprir bem o seu papel de cidadão. A única dívida que o cristão pode ter é o amor para com todos (Rm 13:8). Muitas vezes, o emprestar dinheiro traz profundas mágoas, pode estragar amizades, arruinar a vida de uma pessoa. Deve-se tomar cuidado com essa prática. O amor do cristão para com seus semelhantes deve ser o mesmo, sem favoritismo ou exclusividade. Se é verdade que esse amor cristão deve caracterizar nossa atitude para com os demais crentes, não menos o é o fato de que temos de mostrar essa mesma disposição para com todos os homens. A Parábola do Bom Samaritano é uma ilustração belíssima do exemplo de amor para com o nosso próximo (Lc 10:30-37).

A lei está resumida no amor para com Deus: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento...” e no amor para com o próximo: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22:37; Lc 10:27; Rm 13:9; Lv 19:18). Obviamente que quem ama a Deus amará a seu próximo (1 Jo 2:10,11; 4:11,12). Além do amor, um outro motivo para sermos bons cidadãos é que a Vinda do Senhor está próxima (Rm 13:11; Lc 21:28). Com isso, a grande esperança do cristão está cada vez mais próxima, isto traz responsabilidade por parte do cristão, de viver uma vida digna e de acordo com os padrões divinos. 

Na sua vinda, seremos então tirados da atual conjuntura do pecado e das condições atuais, bem como do derramamento da ira vindoura (Rm 8:23,24; 1Ts 1:10; 4:13-17; 5:9). Por isso não devemos andar nas obras das trevas e sim, “revestindo-nos das armas da luz”. Quando Ele voltar, como nos achará? Andando nas trevas do pecado, ou como bons cidadãos dos céus, amando a Deus e ao nosso próximo?

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