"Como é precioso o teu amor, ó Deus! Os homens encontram refúgio à sombra das tuas asas. Eles se banqueteiam na fartura da tua casa; tu lhes dás de beber do teu rio de delícias. Pois em ti está a fonte da vida; graças à tua luz, vemos a luz" (Salmos 36:7-9).
Setembro é o mês dedicado à prevenção do suicídio. Por mais desconfortável e desagradável que seja, é urgente a necessidade de entendermos mais sobre o tema. Trata-se de um assunto complexo e que não está nem de longe perto de acabar (se é que um dia acabará...). Mais do que uma questão espiritual ou pessoal, o suicídio é uma importante questão de saúde pública.
Escrever sobre suicídio é uma tarefa bastante difícil — ainda mais atualmente, com o advento das redes/mídias sociais/digitais, onde parece que as pessoas vivem uma vida utópica, sem problemas, de alegria constante e, claro, muita ostentação —, pois não existem motivos que justifiquem este ato.
Não sei qual é a sua opinião, caro leitor, mas creio não haver respostas para as indagações quanto aos motivos que levam uma pessoa ao suicídio. Apesar das diversas especulações, o assunto é, na verdade, inesgotável. Todavia, podemos contar com o parecer científico de psicólogos, médicos, pesquisadores e, principalmente, com a visão bíblica a respeito. Mas a pergunta que sempre permanecerá é: Por quê?
Setembro Amarelo
O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, que tem como objetivo alertar a população a respeito da realidade do problema no Brasil e no mundo, e discutir as formas de prevenção. A prevenção precisa começar nas famílias, nas escolas e também nas comunidades, como as igrejas.
Segundo relatórios da OMS (Organização Mundial da Saúde) e de Programas de Saúde Mental, cerca de 1 milhão de pessoas cometem suicídio por ano. Nas estatísticas de tentativas (suicídios não concretizados) este número sobe para entre 15 a 25 milhões por ano. Para cada pessoa que comete suicídio, cerca de seis a dez pessoas próximas sofrerão de adoecimento emocional decorrente desta situação.
Dados estatísticos
Atualmente é a segunda maior causa de morte entre jovens (15—29 anos), um alto índice também em idosos e grupos populacionais que incluem pessoas que foram vítimas de violência. Apesar de sua maior incidência ser em países de baixa renda e desigualdade social, vem apresentando crescimento em países desenvolvidos com o aumento de quadros depressivos e abuso de álcool/drogas. O Brasil é hoje o oitavo país do mundo em número de suicídios.
Tirar a própria vida já é a segunda principal causa da morte em todo mundo para pessoas de 15 a 29 anos de idade — ainda que, estatisticamente, pessoas com mais de 70 anos sejam mais propensas a cometer suicídio. Os dados são do relatório publicado em 2014 pela OMS.
Recentemente, uma revista de grande circulação nacional divulgou dados alarmantes do relatório que a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou em 2016: a cada quatro segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo. Em nosso país, o Jornal Brasileiro de Psiquiatria publicou um estudo do Scielo chamando a atenção para o aumento da tendência de suicídio entre adolescentes e jovens de 10 a 19 anos.
Em todo o planeta, as mortes por suicídio chegam a 800.000 por ano, segundo a OMS. Esse panorama demonstra que a realidade do risco global de mortes por suicídio na juventude induz à busca de medidas que diminuam o avanço dessa problemática.
"O suicídio é um assunto complexo. Normalmente, não existe uma razão única que faz alguém decidir se matar. E o suicídio juvenil é ainda menos estudado e compreendido",
disse à BBC Ruth Sunderland, diretora do ramo britânico da ONG Samaritanos, que se especializa na prevenção de suicídios.
No Brasil, o índice de suicídios na faixa dos 15 a 29 anos é de 6,9 casos para cada 100 mil habitantes, uma taxa relativamente baixa se comparada aos países que lideram o ranking – Índia, Zimbábue e Cazaquistão, por exemplo, têm mais de 30 casos. O país é o 12º na lista de países latino-americanos com mais mortes neste segmento.
A boa notícia é que a OMS afirma que os suicídios são preveníveis. Entretanto, essa prevenção só será efetiva mediante a adoção de estratégias mais efetivas. É necessário, portanto, implementar ações mais eficazes de prevenção do ato suicida nos programas voltados à educação e à saúde, principalmente nas regiões cuja população jovem compõe o grupo de risco.
Um resumo panorâmico sobre a morte
Por quê, por quê... perguntamos. E não encontramos respostas. Ou melhor, elas não existem. O suicídio é uma separação extremamente abrupta. Nenhuma teoria seria capaz de explicar e desvendar os motivos que levam uma pessoa a se matar, a tirar a própria vida. O suicídio é um ato ambíguo (de insegurança), e suas razões, complexas. Obviamente, é impossível falar em suicídio sem falar em morte, os dois estão intimamente ligados. Impossível é também refletir sobre a vida sem deixar de pensar na morte.
Em muitas culturas, a morte é encarada como uma fase natural da vida, pois trata-se de algo necessário para o equilíbrio da sobrevivência do grupo, sendo considerada um elemento intrínseco à natureza. Há civilizações em que a pessoa, ao ficar doente, se mata. Faz isso simplesmente porque não pode mais produzir, ou seja, ser útil à sua comunidade. Nas primitivas sociedades tribais, a morte era encarada como parte integrante do viver diário. Isto é, as pessoas lidavam com a morte sem bani-la, com naturalidade. Para elas, a morte era um ato contínuo da vida.
No final do século XVIII, o luto leva a família a manifestar uma dor que nem sempre era sentida. A partir de então, tornou-se comum as pessoas chorarem muito, desmaiarem e jejuarem. Tudo isso por conta da morte. Ainda nessa época, em vez de os entes queridos dos falecidos confiarem seus mortos à Igreja, como era costume, eles passaram a se preocupar com o local da sepultura. Queriam um lugar em que pudessem ir livremente fazer suas visitas melancólicas e devotas, além de depositarem flores nos túmulos, em homenagem à lembrança do morto. Então, os cemitérios foram planejados.
Hoje em dia, quando alguém morre, as pessoas (na maioria) procuram conter o choro, não demonstrando suas emoções. As manifestações de sentimentos, como o luto, por exemplo, foram abandonadas. O uso de roupas pretas nessas ocasiões, nem pensar. Pois dão um aspecto de morbidez. E ressurgem também as mortes mais, digamos, até certo ponto, aceitáveis, ou seja, por velhice, pelas chamadas causas naturais ou por doenças incuráveis. Nesses dois casos, a morte é aceitável por ser um fato irreversível, é claro!
Alguns idosos, por serem considerados improdutivos, estão sendo terrivelmente marginalizados por suas famílias. Sem dó nem piedade, são enviados aos asilos para ali morrerem sem nenhuma dignidade e carinho de seus parentes. O que é lamentável!
- Escrevi especificamente sobre este assunto ➫ aqui.
Suicídio entre pastores
Mais recentemente, um assunto gerou bastante polêmica no segmento cristão: o suicídio de pastores. De acordo com o Instituto Schaeffer,
"70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, 71% se dizem esgotados, 80% acreditam que o ministério pastoral afeta negativamente suas famílias e 70% dizem não ter um amigo próximo".
A causa mais comum noticiada para o suicídio de pastores e líderes é a depressão, associada a esgotamento físico e emocional, traições ministeriais, baixos salários e isolamento por falta de amigos.
Por que pastores se deprimem? Como pode um homem de Deus ficar tão abatido assim?
- A Bíblia menciona homens e mulheres fiéis que ficaram neste estado e que desejaram morrer — entre esses estão Rebeca, Jacó, Moisés e Jó. — Gênesis 25:22, 37:35; Números 11:13-15; Jó 14:13. Especialmente Elias (1 Reis 19:4)
- Elias teve um ministério de sucesso: previsão da seca; ressuscitou uma criança; enfrentou os profetas de Baal; etc.
- Tinha vigor físico — correu à frente do carro de Acabe (18:46) — ou seja, não tinha problemas físicos;
- Uma ameaça real — jurado de morte — fez perder o sentido da vida em um escalonamento (19:3,4):
- Preocupação com a vida
- Isolamento social
- Desistência da vida
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Tabu dentro e fora da igreja
O tema da morte é historicamente um tabu ao ser abordado e em muitas culturas é evitado a todo custo — inclusive, inexplicavelmente, até mesmo no segmento cristão. Mas o custo do silêncio é alto. O tema da "morte voluntária", como no caso do suicídio, encontra ainda mais estigma e dificuldade de abordagem, por ser muitas vezes atribuído desordenadamente à temática da loucura, ou em círculos religiosos, ao pecado.
Se o tema do suicídio é tabu em muitos ambientes e culturas, imagine em comunidades cristãs! Muitas comunidades cultivam um discurso triunfalista que busca afastar qualquer vestígio de sofrimento e fragilidade, discurso que não condiz com o que realmente vivemos em nossa jornada de discipulado, intimidade com Deus e transformação contínua, tantas vezes permeada pela dor em um mundo caído. Outros tantos atribuem cruelmente as fragilidades à falta de fé, agravando ainda mais o quadro emocional.
O estigma, a vergonha, a impotência, a dificuldade em se compreender os fenômenos em saúde mental, as distorções teológicas que não abrem espaço para o diálogo. Como seres humanos, não estamos imunes aos sofrimentos psíquicos e angústias da alma. Leia sua Bíblia e encontrará uma diversidade de pessoas em sofrimento e questionamento, vivendo todas estas situações na companhia e amparo do Eterno.
Temos dificuldade em abordar questões emocionais, da subjetividade, que por tantas vezes nos parecem inacessíveis e inomináveis. Os sofrimentos de ordem psíquica mostram-se multifatoriais, sejam desequilíbrios químicos, aspectos biológicos, socioculturais e até mesmo "religiosos".
Como comunidade cristã, sofremos de maneira geral com a dificuldade de integração entre temas da saúde mental e espiritualidade cristã, tão necessária e urgente nos dias atuais. Precisamos incentivar o diálogo para auxiliar na prevenção desta questão do suicídio, por exemplo, bem como de tantas outras que assolam a saúde emocional. A depressão, a ansiedade, o burnout, os transtornos de personalidade, o suicídio, o trauma, a violência, entre outras questões, afetam pessoas de todas as nações, classes sociais e crenças.
Afetam líderes e liderados, pastores e ovelhas. Precisamos cuidar uns dos outros e de nossas lideranças, tantas vezes exauridas em seus ministérios e necessitando de atenção e tempo disponível para cuidar dos aspectos de sua saúde física, mental ,espiritual, etc. Precisamos atuar tanto na prevenção quanto no cuidado com aqueles que já sofrem e os que são impactados pelas consequências desta realidade.
O papel da comunidade cristã
O papel da comunidade no auxílio à prevenção é de singular importância nestes processos de adoecimento multifatoriais. Não podemos caminhar sozinhos em meio à dor. Quando a comunidade sai da postura da negação ("isso não acontece com discípulos de Jesus" — quantas vezes escuto isto...) e as pessoas se percebem humanas, frágeis, parte de um mundo caído e que necessita de restauração e ressurreição interior, aí sim, começamos a dialogar.
Quando nos percebemos tão necessitados da Graça de Deus e tão dependentes Dele, buscando sentido para a vida e razão para a existência, nos aproximamos do sofrimento do próximo com uma escuta mais amorosa e misericordiosa.
Quando nos tornamos conscientes acerca destas questões, a comunidade se torna um espaço potencial que pode promover cuidado e restauração. A construção de vínculos de apoio mútuo, o senso de pertencimento, o contexto para a busca de sentido da vida e o espaço frutífero para nutrir a esperança, desfrutando da intimidade de Deus e uns dos outros.
Precisamos da comunidade de amigos e irmãos que nos incentivem na vida devocional, nos integrem em serviço ao próximo. Comunidade que esteja atenta para discernir os sinais de adoecimento psíquico e fatores de risco. Que respeite as fragilidades, que caminhe na direção do outro com ação e oração. O primeiro passo é nossa abertura para ouvir sobre estes temas e falar abertamente sobre eles. Esta realidade está presente em todas as nossas comunidades.
É importante pontuar que precisamos reconhecer nossos limites. Deus age de diversas maneiras. Precisamos de abertura às parcerias e encaminhamentos, agregando todos os recursos que Deus nos doou e disponibilizou nas diferentes áreas de conhecimento e atuação, para que o cuidado seja integral.
Somos seres bio-psico-sociais-espirituais e precisamos cuidar de todos estes aspectos que compõe o todo. Sejam líderes, membros da comunidade, psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, etc, todos contribuindo para que este cuidado seja mais amplo e eficaz.
Conclusão
O que podemos fazer para dar suporte a quem sofre com pensamentos suicidas?
Como cristãos conscientes de nossas limitações e fragilidades humanas (o ser cristão não nos transforma em seres de uma casta especial da humanidade) , devemos agir com compaixão, misericórdia, empatia e amor, apresentando a esta pessoa o refúgio que somente em Deus produzirá paz.
Textos bíblicos que apresentem o Senhor como refúgio, castelo forte, fonte de esperança, e como alguém poderoso para abrir um caminho onde não parece ser possível haver saída. Além disso, é importante que, sempre em amor, incentivemos esta pessoa a procurar um médico, a fazer exames, a tomar os medicamentos prescritos e a cumprir tudo o que lhe foi aconselhado biblicamente.
O que não podemos fazer é nos distanciarmos ou nos portamos com superioridade, como se fôssemos mais espirituais, melhores ou tentar parecer que isso nunca poderá nos acontecer (mesmo porque, isso é uma grande mentira).
Algumas ideias para evitar isso podem ser convidar esta pessoa para um passeio, para uma caminhada, para correr numa praça, para cozinhar com você algum prato do qual ela goste, incentivá-la a fazer boas e saudáveis refeições, compartilhar com a pessoa como você mesmo tem encontrado esperança e força em Deus para vencer suas próprias tribulações.
A Deus, toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não é opcional, é obrigatório!
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações.
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