- O texto deste artigo é o esboço da palavra que eu ministrei no culto dominical, do dia 27/09/2020, no templo do Ministério Evangélico Gilgal, a congregação onde estou servindo ao Senhor como pastor.
"Então Pedro, aproximando-se dele, disse: 'Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?' Jesus lhe disse: 'Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete'". [...] "Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. E, se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes no dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; perdoa-lhe. Disseram então os apóstolos ao Senhor: 'Acrescenta-nos a fé'" (Mateus 18:21,22; Lucas 17:3-5).
A questão do perdão é delicada, porém, muito mais que uma doutrina fundamental no alicerce da vida cristã o perdão é um princípio divino. Por isso precisamos entender o quão precioso ele é.
A falta do perdão — tanto na liberação, quanto no pedido — provoca um aprisionamento espiritual que nos encarcera interiormente a sentimentos nocivos, peçonhentos, malignos e mortais. Essa prisão vai além do campo espiritual e desemboca (e/ou se manifesta) no físico.
Falar sobre não é tão simples como pensamos, pois, bem mais do que apenas saber sobre o que o conceitua, praticá-lo é o nosso maior desafio. Lânguidos e eloquentes discursos são apenas subjetivos se cada um de nós não estiver disposto a realmente praticar o perdão. Jesus na clássica e conhecida oração do Pai Nosso — que não é, como muitos pensam, uma "reza" a ser repetida, mas sim um ensino do Mestre sobre como deve ser a estrutura essencial das nossas orações (no Pai Nosso, Jesus no ensina todos os elementos que devem constar em nossa oração) —, Jesus explica a força do perdão (Mt 6:12). Ou seja, em resumo, o perdão não é uma opção, é uma decisão e ele é uma linguagem do Céu na Terra.
O grande equívoco sobre o perdão
Perdoar não significa esquecer
Existem pessoas que resolvem pegar o passado e enterrá-lo. Preste atenção: você não é o senhor do tempo, o seu passado não é para ser enterrado, mas sim redimido no Sangue de Jesus Cristo. Descave o seu passado, o que você precisa é perdoar, é colocá-lo aos pés da cruz, para que ele seja redimido.
- Primeiro caso equivocado: perdoar esperando recompensa.
- Segundo caso: enterrar o passado.
- O terceiro caso: não perdoar, porque essa pessoa lhe fez mal.
Só quem já conseguiu perdoar verdadeiramente alguém sabe a sensação de leveza e tranquilidade que isso traz. E essa sensação vem, inclusive, acompanhada de outras vantagens para nossa saúde física e mental. Porém, para conquistar tudo isso, é preciso respeitar o processo e se permitir, porque esse ato tem mais a ver com nós mesmos do que com a pessoa que enxergamos como objeto de nosso perdão.
A noção de perdão em nossa cultura é carregada de uma conotação moral, é considerado um ato de amor que produz uma transformação nas pessoas, que redime e nos torna melhores do que antes.
"A ideia é bonita, está presente na poesia, mas deixa de lado algo psiquicamente mais importante, que é a ideia de que o verdadeiro perdão envolve reparação",
explica psicólogo e psicanalista Christian Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo). Porém, uma coisa é certa: vale a pena se dedicar a essa empreitada.
É comum imaginarmos o ciclo do perdão completo quase como uma página em branco. Sem mágoas, sem ressentimentos, mas também sem história, algo impossível de alcançar. Então, imagine que o processo do perdão é como olhar para suas dívidas simbólicas. Assim como você tem o banco, que registra o que comprou, gastou, quanto precisa devolver e retribuir, todos temos um passivo com pessoas, situações, lugares, com nossos sonhos, o que se deixou de fazer. Por isso, a inspeção dessa dívida simbólica é importante.
"Quem fica obcecado com a página em branco é porque não quer ver o extrato bancário, porque está com medo. Esse é o primeiro momento, olhar e ver o real tamanho da dívida simbólica, porque ao mantermos isso fechado, os juros aumentam, o valor se inflaciona e vira um monstro que, na realidade, não existe, mas existe na fantasia",
elucida Dunker.
Depois é chegada a hora de pensar nos atos reparatórios. Cada pessoa tem um jeito. Como pagar aquela dívida, em que moeda? De que forma? Isso não importa, o que vale é acontecer a reparação da experiência prejudica.
"Pense com calma em como prefere consertar isso. Existem pessoas que podem ajudar a fazer isso, conversas que ajudam. Muitas vezes em conversas com amigos, pessoas que confiamos e mudamos nosso entendimento, procurando um ângulo em que a história possa ser recontada",
ele reforça.
Entendido isso, vamos ver quatro importantes pontos sobre o perdão.
1 — O perdão é uma vontade de Deus (Mt 18:21, 22)
A pergunta de Pedro soava como se o espírito de perdão fosse uma mercadoria que pudesse ser pesada, medida e contada; como o ato de perdoar pudesse ser parcelado pouco a pouco até um limite bem definido. Se esse limite fosse atingido, então a distribuição do perdão deveria cessar.
Talvez Pedro quisesse parecer bonzinho, piedoso, espiritual e tinha a capa da religião para o amparar, mas os cálculos de Deus transcendem a mesquinhez da matemática humana, pois tudo o que vem de Deus é infinito, eterno e sobrenatural.
Mas e resposta de Jesus definitivamente acabou com esse tipo de pensamento. Ele até respondeu a pergunta de Pedro usando da mesma lógica quantitativa; mas Jesus fez isso um modo que ficasse clara a qualidade abundante e incontável do perdão. É exatamente disso que se trata a expressão "setenta vezes sete".
70 x 7?
O resultado desse cálculo simples não era ensinar que seus discípulos deveriam perdoar quatrocentos e noventa vezes (que é o resultado de 70×7). Ao contrário disso, o objetivo de Jesus Cristo era ensinar que o verdadeiro perdão jamais poderá ser contabilizado.
Então ao dizer que seus discípulos deveriam perdoar não apenas sete vezes, mas até setenta vezes sete, basicamente Jesus estava dizendo que seus seguidores deveriam perdoar sem jamais cessar; eles deveriam demonstrar essa atitude compassiva quantas vezes fosse preciso.
O desejo de Deus é que estejamos sempre prontos a pedir e a liberar perdão.
2 — O perdão é condicional (Mt 18:23-35)
Nesta parábola, Jesus ilustra de maneira ampla e objetiva que o perdão do Senhor a nós é condicional e/ou proporcional à nossa disponibilidade em perdoar aos outros. O perdão divino é um dos componentes da graça, no entanto, é, ao mesmo tempo, condicional em que, proporcionalmente, estejamos dispostos a perdoar os outros também.
Ou seja, o perdão é prático e tem seus efeitos, gera seus frutos. Queremos ser perdoados? Então, pratiquemos o perdão. Aquela frase absurda — que, inclusive é dita por muitos crentes —, "Eu não sou Deus para perdoar", não faz sentido algum.
3 — O perdão é uma decisão (Mt 18:26, 27)
Não existe um "preparo psicológico" para o perdão. Eu não tenho que "sentir" para perdoar. Tudo o que nós precisamos para liberar perdão já nos foi dado através de Jesus (Lc 23:33, 34 cf. Atos 7:54-60).
O perdão não nasce do nosso sentimento, mas sim da nossa decisão, que é uma decisão de amor, uma graça que Deus nos dá. Algumas vezes, perdoamos querendo algo em troca ou falamos: "Perdoei tal pessoa, mas ela não muda"; no entanto, o perdão é nosso. Não podemos esperar mudança nem reconhecimento, o perdão precisa ter gratuidade.
Há pessoas que se decidem a não perdoar, e se você livremente não toma a decisão de perdão, você não entra no rio da misericórdia.
4 — O perdão é uma questão de fé (Mt 18:18, 19)
No texto citado acima, vemos a importância da concordância entre os envolvidos em questões espirituais. É necessário fé para perdoar. A fé e o perdão andam juntos e são inseparáveis, indissociáveis. Por esse motivo, quando foi confrontados sobre a realidade do perdão, os discípulos logo clamaram:
"...Senhor, acrescenta-nos a fé!" (Lc 17:5).
Só através da fé progressiva conseguiremos praticar o perdão. Há um mover sobrenatural no Céu e na Terra quando o perdão entra em ação. Por isso as forças opositoras, criam tanto resistência para exerçamos esse princípio do Senhor.
Como o perdão pode fazer bem para quem perdoa
Uma análise de diversos estudos feita por pesquisadores do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da University College London, na Inglaterra, mostrou que raiva e a hostilidade podem aumentar a incidência de doenças cardíacas em pessoas saudáveis. Os pesquisadores inclusive sugerem que intervenções voltadas para a administração da raiva e da hostilidade sejam adotadas como parte de programas de prevenção de doenças cardíacas.
"O perdão é extremamente eficaz no controle da raiva, pois seu objetivo é exatamente esse: libertar a pessoa que perdoa dos efeitos nocivos que surgem quando nos vemos prisioneiros dessas emoções",
conta Flora Victoria, mestre em psicologia positiva aplicada pela Universidade da Pensilvânia.
Existem também inferências indiretas do perdão. Um processo de perdão abandonado pela metade gera um nível elevado de culpa. Já a culpa é uma variante da angústia.
"Quanto mais angustiados, mais expostos ficamos para doenças psicosomáticas, desenvolvimento de sintomas psicológicos, dificuldade em ter contato com o outro de forma empática. Nos individualizamos, ficamos solitários conforme não criamos laços",
destaca Dunker.
Outras diversas pesquisas já constataram que a falta do perdão, contribuí e potencializa a ocorrência de graves problemas físicos de saúde, como depressão e até mesmo câncer.
Conclusão
Conseguir se livrar da mágoa pode ajudar principalmente na redução do estresse e na mudança da percepção de perigo em relação às outras pessoas.
"Quando não perdoamos, o mundo é um lugar mais assustador. É mais provável que você sinta desconfiança e que se ofenda mais facilmente",
diz o psicólogo Luskin.
O perdão é um componente nos relacionamentos, em todos os âmbitos. Ele nos ajuda a entender também que podemos lidar com a nossa dor para que tenhamos maior probabilidade de confiar novamente.
O perdão tem dois extremos, dois polos, não antagônicos, mas de ligação: a liberação e o recebimento. Ou seja, tanto e beneficiado quem libera, quanto quem recebe o perdão. Próximo passo: sem demora pedir ou liberar perdão, seja qual for o caso e fazer isso sem conjecturas, questionamentos, especulações, sem delongas.
[Fonte: Instituto de Psicologia]
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. A pandemia não passou, a guerra não acabou.
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