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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

FILMES QUE EU VI — 60: "INSTINTO SELVAGEM"

Já se vão quase quatro décadas em que a tecnologia digital e a internet surgiram, engatinhando ainda como ferramentas ao mesmo tempo impressionantes e ainda então um tanto inúteis. A década de 1990 foi bem marcante para Hollywood em suas produções cinematográficas. Assim, o cinema nos anos 1990 trabalharam com louvor para retratar e ajudar a criar nas telas um futuro tecnológico, que naquele tempo, nos enchia os olhos e nos fazia pensar em algo até inimaginável.

Hoje, a tecnologia faz de tal forma parte de nossas vidas — algo que foi ainda mais evidenciado na quarentena — que não é exagero afirmar que em muitos sentidos já vivemos nos cenários que os filmes de ficção científica do passado imaginavam. Mas nem só de filmes apocalípticos de ficção científica e aventuras com dinossauros tecnológicos viveu o cinema nos anos 90

Há 28 anos, em 20 de março de 1992, estreava "Instinto Selvagem" ("Basic Instinct"). Não só a cruzada de pernas fatal de Sharon Stone e o beijo lésbico na pista de dança (entre ela e Leilani Sarelle, "Dias de Trovão", 1990), mas todas as sequências sexuais chocaram o público na época — da abertura ao encontro derradeiro dos protagonistas.

A sinopse


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Muitos devem se surpreender ao se lembrar que já faz um quarto de século desde o lançamento de "Instinto Selvagem". Considerado ousado para a época, o longa conta a história do assassinato de um cantor de rock que chama a atenção da policia de São Francisco e a principal suspeita é a escritora Catherine Tramell (Sharon Stone, "Invasão de Privacidade", 1993). Em São Francisco, o policial Nick Curran (Michael Douglas, "Um Dia de Fúria", 1997) fica fortemente atraído por Tramell, a principal suspeita assassinato. 

Mesmo com os protestos de seus companheiros de profissão, como Gus (George Dzundza, "Mentes Perigosas", 1993) e a Dra. Beth (Jeanne Tripplehorn, "A Firma", 1993), que assim como Catherine, é formada em psicologia e apesar de ter consciência dos riscos que corre, Curran se expõe cada vez mais, mesmo quando novas mortes ocorrem. O suspense erótico sobre as investigações para encontrar um assassino em São Francisco, cuja arma era um picador de gelo, chamou atenção pelo estilo, ótimo elenco e a ousadia no uso do sexo. 

Apresentando um interessante jogo psicológico, o polêmico e perturbador thriller "Instinto Selvagem" surpreendeu positivamente ao explorar mais do que a sensualidade de sua atriz principal, a bela Sharon Stone. O diretor Paul Verhoeven ("O Vingador do Futuro", 1990) soube utilizar cenas realmente eróticas numa narrativa inteligente, fugindo do lugar comum das grandes produções de Hollywood que normalmente suavizam o sexo, e de quebra, entregando uma das cenas mais emblemáticas da década de 90. Mas, infelizmente, como um feroz picador de gelo, a indústria cinematográfica resolveu eliminar este tipo de trabalho ousado nos anos seguintes.

Riqueza no roteiro


Top 3 – Paul Verhoeven – espinafrando
Escrito por Joe Eszterhas ("Flashdance — Em Ritmo de Embalo", 1983), o roteiro de "Instinto Selvagem" é bastante ambíguo, nunca deixando claro se Catherine é mesmo a assassina. Sendo assim, a partir de determinado momento o espectador se vê num delicioso jogo de adivinhação, tentando descobrir quem é a misteriosa criminosa, através da introdução de uma série de subtramas que criam novas possibilidades, como o ciúme de Roxy (Sarelle) ou a relação amorosa que Catherine viveu com a Dra. Beth no passado. Além disso, o longa faz um intrigante estudo psicológico de Nick através dos jogos de Catherine e Beth, que deixam tanto o personagem como o espectador constantemente em dúvida sobre qual delas está falando a verdade.

A sensualidade que permeia "Instinto Selvagem" aparece logo na primeira cena, mas a trilha sinistra de Jerry Goldsmith ("Gremlins", 1984) também indica que nem só de erotismo viverá a narrativa, dando o tom do que veremos em poucos segundos, quando um movimento de câmera nos levará ao picador de gelo utilizado como arma letal para fazer a primeira vítima do filme.
INSTINTO SELVAGEM (1992) | Cinema & Debate 
Aliás, a primeira cena de "Instinto Selvagem" condensa bem o espírito desse neo-noir de Verhoeven. O sexo, movimento intenso que precede o gozo, é rondado pela iminência do crime, este consumado após a mulher, por cima, assassinar a golpes de picador de gelo o ex-roqueiro de mãos atadas na cabeceira da cama.

Esta cena deixa claro desde então o nível de realismo que veremos tanto nas cenas eróticas quanto nas cenas violentas, além de servir também para introduzir a misteriosa assassina na trama, nos mostrando do que ela é capaz. E apesar de inserir algumas sequências com bastante ação, como a eletrizante perseguição de Nick na estrada, é na criação da perfeita atmosfera de erotismo e suspense que Verhoeven se destaca, explorando com habilidade as nuances do relacionamento entre Nick e Catherine, desde o momento em que ela fala sobre seu novo livro pra ele no carro e o close do diretor capta a tensão existente entre eles.

A antológica cena: uma cruzada de pernas que entrou para a história do cinema


Instinto Selvagem. – Mauricio Georgevitch
Muitos são os filmes com cenas marcantes, aquelas que qualquer pessoa, ainda que não tenha assistido ao filme, reconheceria a cena, ou já teria ouvido falar sobre ela. Faltaria tempo para listar muitos, mas, deixo como exemplo, a inesquecível cena do sensacional longa "Platoon", realizado por Oliver Stone ("Scarface", 1983) em 1986 e protagonizado por Charlie Sheen ("Todo Mundo em Pânico 3", 2002), Tom Berenger ("A Origem", 2010), Willem Dafoe ("Homem Aranha",2002) e Forest Whitaker ("Pantera Negra", 2019), quando o sargento Elias (Dafoe), ferido anteriormente à traição por Barnes (Berenger), a fugir de um pelotão inimigo, olhando desesperado para o helicóptero americano que viera buscar as forças em retirada — escrevi sobre este filme aqui. No longa dirigido por Verhoeven a famosa cena que marcou "Instinto Selvagem" e alçou Sharon Stone ao estrelato acontece ainda na primeira metade do filme, o que é bom, pois o espectador deixa de aguardar aquele momento e passa a se concentrar na narrativa. 

Nesta cena, apenas pela disposição dos personagens, Verhoeven cria uma incrível atmosfera de tensão e erotismo, com Catherine no centro da sala cercada de homens ávidos por uma confissão, mas sempre firme e contundente em suas respostas, que invariavelmente deixam estes mesmos homens desconcertados. Na medida em que as perguntas acontecem, o espectador sente o nervosismo crescente dos policiais, inconformados com a frieza daquela mulher. E então, repentinamente, ela cruza as pernas, deixando marmanjos eufóricos e os investigadores literalmente sem rumo, algo que o diretor capta com precisão através de um close rápido na reação deles. Desde então, fica evidente que a espontânea e astuta Catherine sabe muito bem utilizar a sensualidade a seu favor. Sempre insinuante e sensual, Sharon Stone oferece um desempenho eficiente, olhando diretamente nos olhos das pessoas e falando com muita firmeza, além de dizer palavrões e frases que os homens não esperam ouvir com tanta frequência da boca de uma mulher ("Gostava dele?", pergunta Nick e ela responde "Gostava de transar com ele!").

A polêmica sobre a cena, não ficou apenas fora das telas. Sharon Stone acusou Paul Verhoeven de ter incluído a cena sem o consentimento dela. Em entrevista, a atriz disse que se assustou quando viu a cena sendo exibida em uma sessão premier do longa. Verhoeven, lógico, nega tudo e a polêmica se arrasta.  Mas, cá entre nós, do que Stone está reclamando? A cena é um dos grandes momentos do filme — muitos são os que foram ao cinema só para vê-la — e, como eu disse acima, a responsável por dar um up na carreira dela, que até então, tinha feito participações consideradas medianas tanto por público quanto por crítica. E mais, se ela se sentiu assim tão incomodada, como diz, com a cena, porque anos depois, quando já estava com 59 anos, ela voltou a reproduzi-la, causando um verdadeiro auê midiático? Com a palavra, miss Sharon Stone!

Conclusão


Instinto Selvagem, 25: Por trás da cruzada de pernas mais famosa do cinema  - BOL Fotos - BOL Fotos
Apesar do fato de que "Instinto Selvagem" é lembrado até hoje como o filme no qual Sharon Stone faz a famosa cruzada de pernas, onde deixa entrever seu hábito de não usar calcinha, não há qualquer arbitrariedade no longa. O filme é todo calculado para aditivar o suspense de uma sexualidade feminina latente, tão forte que se configura em ameaça real ao dominante universo masculino.

Paul Verhoeven — embora tendo feito carreira falando a respeito de aparências, revestindo ele mesmo o cinema de um caráter complexo por debaixo de tramas aparentemente simplistas ou de relativo mau gosto — é, contudo, um grande cineasta, daqueles que produzem arte sem descuidar do público — assim como Alfred Hitchcock (1899/1980) — e que, por isso mesmo, às vezes é tão incompreendido e atacado.

Morte e sexo (algo mais para o lúdico, do que para o promíscuo e vulgar), assim, desde o início, andaram juntos numa narrativa que alude ao cinema de Hitchcock ao mesmo tempo em que o subverte por incorporar o sexo (em Hitch tão velado) de maneira mais intensa. Por isso "Instinto Selvagem" é um filme que merece, por honra ao mérito, estar incluído entre os melhores thrillers de suspense, não só da década de 1990, como da sétima arte. Lógico, vai receber o meu carimbo de
  • O filme está disponível na plataforma de streaming Netflix (eu o revi lá, para escrever este artigo).
  • Em 2006, o filme teve uma segunda parte, trazendo novamente a Sharon Stone no papel de Catherine Tramell, porém, a sequência, que foi dirigida por Michael Caton-Jones ("O Despertar de um Homem", 1993), não obteve o mesmo êxito que o primeiro e quase nem mais lembrado.
  • Título Original: "Basic Instinct"
  • Elenco: Michael Douglas, Sharon Stone, George Dzundza, Jeanne Tripplehorn, Denis Arndt, Leilani Sarelle, Bruce A. Young, Chelcie Ross, Dorothy Malone, Wayne Knight, Daniel von Bargen, Stephen Tobolowsk
  • Direção: Paul Verhoeven
A Deus, toda glória. 

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