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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

HINO NACIONAL BRASILEIRO: VOCÊ CONHECE SUA IMPORTÂNCIA E SABE O SEU SIGNIFICADO?

Eu sou de uma geração privilegiada, de uma época em que o Hino Nacional era entoado diariamente na cerimônia de hasteamento da Bandeira do Brasil, antes do início das aulas e que nós, alunos, tínhamos de participar da cerimônia com o devido respeito protocolar.

Época em as disciplinas OSPB e Moral e Cívica faziam parte do grade curricular do ensino fundamental. Bons tempos aqueles. O que vemos hoje é um verdadeiro atestado de antipatriotismo. É um horror a gente ver nas aberturas de Jogos Olímpicos e de Copa do Mundo alguns atletas mudos durante a execução do Hino Nacional. Uns mudos e, pior, outros fingindo que estão cantando. Não é preciso ser perito em leitura labial para ver que eles estão embromando.

Isso é só um reflexo do que vemos no dia a dia. Afirmo sem nenhum medo de errar que 9 em cada 10 crianças, adolescentes, jovens e adultos dessa geração NÃO SABEM cantar o Hino Nacional, não conhecem sua história, sua importância e muito menos ainda seu significado. Há quem consiga decorar e cantar as letras enorme do rap dos Racionais - nada contra, é só para citar mesmo -, mas não sabem e não têm nenhum interesse em conhecer o hino oficial de sua pátria. No texto desse artigo eu trago um estudo analítico da letra do Hino Nacional Brasileiro.

A história do Hino Nacional Brasileiro


O Hino Nacional parece ser um desafio para a maior parte de nosso povo. Pelo que se percebe, poucas pessoas o compreendem, haja vista as inversões de termos oracionais e algumas palavras em desuso. Acabamos, por causa disso - quando encontramos oportunidade de fazê-lo - cantando-o mecanicamente. Um trá-lá-lá irrefletido e frouxo; puxa, falta de civismo!

Portanto, mesmo sabendo haver outros trabalhos do tipo publicados na internet, resolvi despretensiosamente também escarafunchar a letra da obra e, após exame algo criterioso, pequena investigação histórica e desdobramento dos versos, disseminar, de modo mais sucinto e claro possível, as conclusões a que cheguei. 

Meu interesse com esse artigo é o de tentar contribuir, ainda que de forma mínima, para que não venha totalmente à ruína o patriotismo tão abalado em nosso país - principalmente nesses tempos de novos rumos nos quais entramos -, pois tenho desde sempre me amofinado pelo "orgulho" momentâneo - na realidade, a meu ver, pseudo patriotismo - vindo à tona somente em época de Copas do Mundo e eventos do tipo. Nada contra o esporte, isso é bom e tem de ser assim mesmo, mas só ter sentimento cívico nesses momentos, convenhamos, não é admissível e se torna uma verdadeira ode à hipocrisia.

Bem, vamos lá: para nos facilitar, separei o artigo em três breves passos, a saber:
  1. A letra aberta, com as principais marcações a serem depois desenvolvidas;
  2. A interpretação em si; e 
  3. O entendimento simplificado do poema.
Espero sinceramente que, ao menos em algum ponto ou outro, o presente opúsculo lhe seja proveitoso.

  • Autoria do hino:

A música, composta em 1822, é de Francisco Manuel da Silva (✞Rio de Janeiro/RJ, 1795 - Rio de Janeiro/RJ, 1865), que foi diretor musical da Capela Real, compositor, maestro, professor, posteriormente mestre-de-capela da Imperial Câmara, além de fundador do Conservatório do Rio de Janeiro, atual Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Tentou-se adaptar algumas outras letras à melodia estabelecida, mas a atual - e definitiva -, escolhida por meio de concurso em 1909, é de Joaquim Osório Duque-Estrada (Pati do Alferes/RJ, 1870 - ✰Rio de Janeiro/RJ, 1927), escritor, crítico literário, professor, jornalista e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). 

Note que o autor da letra nasceu cinco anos depois da morte do autor da música. O texto só foi oficializado como letra do Hino Nacional em 6 de setembro de 1922, véspera do Centenário da Independência, por Decreto do então presidente Epitácio Pessoa.

Língua estranha?


Mas pra que tanto termo complicado? O palavreado difícil, pouco comum à nossa fala do dia-a-dia, vem de um estilo poético do começo do século passado. Vemos versos enfeitados e na ordem invertida (exemplo: em vez de "As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico", o poeta preferiu escrever "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante"). É o uso da chamada licença poética. A linguagem poética era mais trabalhada do que a comum e, por isso, estranhamos tanto a letra do hino.

Significado da letra


Afinal, precisamos saber direitinho o que quer dizer a música que representa a nossa pátria, não é? Na pesquisa, usei o livro Para compreender o Hino e os Símbolos Nacionais, escrito pela professora Margarida Patriota e publicado pela Editora Saraiva. Você vai ver que o nosso hino é uma verdadeira aula de história e uma bela declaração de amor ao Brasil!

A letra



"Ouviram do Ipiranga as margens plácidas 
De um povo heróico o brado retumbante, 
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, 
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
A primeira parte do nosso hino explica que, no dia 7 de setembro de 1822, as calmas margens do rio Ipiranga, em São Paulo, ouviram o grito da Independência, proclamado por Dom Pedro I. E foi ouvido o grito forte do valente povo brasileiro. Nesse instante, no céu da Pátria, o sol da liberdade brilhou em raios intensos.
Se o penhor dessa igualdade 
Conseguimos conquistar com braço forte, 
Em teu seio, ó Liberdade, 
Desafia o nosso peito a própria morte!
Se conquistamos, com o braço forte, a garantia da igualdade política com Portugal, agora que somos livres e independentes, que conhecemos a liberdade, lutaremos até a morte por ela. O poeta dirige-se à liberdade como se ela fosse uma pessoa: "em teu coração, ó Liberdade, o nosso peito é capaz de desafiar a própria morte".
Ó Pátria amada, 
Idolatrada, 
Salve! Salve! (Refrão)
O poeta fala com a Pátria como se ela fosse uma pessoa: "Ó Pátria amada, eu te amo. Viva! Viva! Tenha sempre saúde".
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido 
De amor e de esperança à Terra desce, 
Se em teu formoso céu, risonho e límpido 
A imagem do Cruzeiro resplandece.
O poeta fala diretamente ao País: "Brasil, quando a imagem do Cruzeiro do Sul brilha em teu belo céu risonho e límpido, um sonho intenso, um raio ardente de amor e de esperança desce à Terra". O Cruzeiro do Sul é um grupo de estrelas em forma de cruz que só pode ser visto no céu do Hemisfério Sul, e está sempre presente no céu do Brasil.
Gigante pela própria natureza, 
És belo, és forte, impávido colosso, 
E o teu futuro espelha essa grandeza.
O Brasil é o quinto país do mundo em tamanho; portanto, já é um gigante pela própria natureza de seu território. Além disso, é belo, graças às matas, rios, praias, cachoeiras, belas paisagens que contém. É forte, porque tem muitas riquezas naturais. E no futuro, nossa história vai refletir, como um espelho, essa grandeza natural.
Terra adorada 
Entre outras mil, 
És tu, Brasil, 
Ó Pátria amada! 
Dos filhos deste solo és mãe gentil, 
Pátria amada, 
Brasil!
A nossa pátria é uma mãe gentil para com seus filhos brasileiros e muito amada por eles.
Deitado eternamente em berço esplêndido, 
Ao som do mar e à luz do céu profundo, 
Fulguras, ó Brasil, florão da América, 
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
O nosso país está deitado em berço esplêndido, isto é, fica muito bem localizado: metade de nossa terra ouve o embalo das ondas do mar; outra metade está emendada à Cordilheira dos Andes e a diversos países da América do Sul. No continente, o Brasil brilha como um florão (espécie de enfeite de pedras preciosas), banhado pelo sol do continente americano.
Do que a terra mais garrida 
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores. 
'Nossos bosques têm mais vida', 
'Nossa vida' em teu seio 'mais amores'.
O homem garrido era um sujeito elegante, charmoso, bonito. Naquele tempo, também se usava dizer que um lugar agradável era risonho. Nesse trecho, o poeta situa nossa terra entre as regiões mais belas do planeta. Diz ainda que nossos campos são mais floridos, nossos bosques são mais ricos e nossa vida é mais amorosa (como já cantava o poeta maranhense Gonçalves Dias no poema "Canção do exílio").
(Refrão) 
Brasil, de amor eterno seja símbolo 
O lábaro que ostentas estrelado, 
E diga o verde-louro desta flâmula 
Paz no futuro e glória no passado.
O poeta quer que as estrelas estampadas na bandeira nacional sejam símbolo de amor eterno. Daí faz votos para que o verde e o amarelo da bandeira possam um dia indicar que o futuro do Brasil será de paz, assim como seu passado foi glorioso.
Mas, se ergues da justiça a clava forte, 
Verás que um filho teu não foge à luta, 
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
O poeta deseja amor e paz. Mas se o País tiver de entrar em guerra por motivo de justiça, certamente os brasileiros enfrentarão a luta, sem vacilar em arriscar a vida pela pátria.

Conclusão


Se você ainda tem dúvida quanto ao significado exato de algumas palavras do Hino, veja o glossário abaixo:
  • Brado: grito, clamor.
  • Clava: arma primitiva de guerra, pau pesado e mais grosso numa das pontas usado pelos indígenas como arma de guerra.
  • Colosso: grande, enorme.
  • Cruzeiro: constelação (conjunto de estrelas) do Cruzeiro do Sul.
  • Espelha: reflete.
  • Flâmula: bandeira.
  • Florão: flor de ouro, decoração de ouro ou pedras preciosas em forma de flor.
  • Formoso: lindo, belo.
  • Fúlgido: que brilha, cintilante.
  • Fulguras: brilhas, desponta com importância.
  • Garrida: vistosa, graciosa, bela.
  • Gentil: generoso, acolhedor.
  • Idolatrada: cultuada, amada acima de tudo.
  • Impávido: corajoso, destemido.
  • Ipiranga: rio em cujas margens D.Pedro I proclamou a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822.
  • Lábaro: bandeira, estandarte, pavilhão, pendão, flâmula.
  • Límpido: puro, que não está poluído.
  • Ostentas: mostras, exibes com orgulho.
  • Penhor: garantia, segurança, prova.
  • Plácidas: calmas, tranquilas, mansas.
  • Resplandece: que brilha, iluminada.
  • Retumbante: ruidoso, barulhento, estrondoso.
  • Vívido: intenso, significativo, luminoso.
Bom, espero ter dado ao menos uma ínfima ajuda no resgate do patriotismo dos meus leitores e seguidores do blog Circuito Geral. E, se você conseguiu chegar até aqui na leitura desse artigo, pode crer, já meio caminho andado.

[Fonte: EBC]

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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