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sábado, 6 de outubro de 2018

ESCRITO NAS ESTRELAS - ESPECIAL: ANGELA MARIA, O SILÊNCIO DE UMA VOZ DE OURO

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O mundo da música nacional - que há tempos anda órfão de grandes, verdadeiros e genuínos talentos (com raríssimas exceções) - ficou mais pobre com a morte no sábado (29/9) dessa que, junto com Marlene (✞1922/★2014), Emilinha Borba (✞1923/★2005), Dalva de Oliveira (✞1017/★1972) e Isaurinha Garcia (✞1923/★1993) foi uma das grandes damas da inesquecível e tão aclamada era do rádio no Brasil.

E é assaz lamentável que nessa geração tecnológica, onde postulantes a celebridades artísticas brotam feito erva daninha no fértil, porém nada seletivo mundo digital, mesmo sem necessariamente ter o essencial talento para conquistar um mínimo de respeito, muitos praticamente desconhecem o grande legado que Ângela Maria deixa para a história da MPB.

Nasce uma estrela


A cantora Angela Maria — Foto: Reprodução / Facebook
Abelim Maria da Cunha é seu nome de batismo, mas ela é mais conhecida como 
Angela Maria. Nascida no dia 13 de maio de 1929, na cidade de Conceição de Macabu (na época ainda pertencia a Macaé), no interior do estado do Rio de Janeiro, Abelim foi viver ainda menina na baixada fluminense e nos subúrbios carioca.

Doce Sapoti


Foi o presidente Getúlio Vargas (admirador do seu trabalho), poucos anos antes de falecer, quem a apelidou de Sapoti. Sapoti é uma popular fruta brasileira, mais consumida na região Norte do país. O presidente explicou para a cantora que ele a chamaria assim porque sua pele era da cor da fruta e sua voz tão doce quanto seu sabor.

Influenciada por Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida (1914/1988) - outro grande da nossa música -, Marlene e Emilinha Borba, cantou no final dos anos quarenta em boates do Rio e participou de vários programas de calouros nas rádios da cidade, deslumbrando a todos os seus ouvintes com a sua voz potente e doce.

Não demorou muito para ela ser contratada para gravar e se apresentar em programas da rádio Mayrink Veiga e Nacional. Sua primeira gravação data de 1951, pelo selo RCA Victor. O disco-teste trazia os sambas "Sou Feliz" (Ari Monteiro e Augusto Mesquita) e "Quando Alguém vai Embora" (Cyro Monteiro e Dias Cruz). A cantora conseguiu vender um volume superior ao que necessitava para garantir sua contratação.

As próximas gravações foram sucesso ainda maior: "Sabes Mentir" e "Não Tenho Você". Os próximos anos foram marcados por mais sucessos: 

"Babalu". 


A cantora Ângela Maria, amiga de Cauby Peixoto, se emocionou no tributo ao cantor na Virada Cultural — Foto: Flavio Moraes/G1
"Babalu", da compositora cubana Margarita Lecuona, é considerado seu maior sucesso. Em sua discografia, "Babalu" recebeu diversas roupagens, sempre com notas alongadas e agudos que causam arrepios, coisas que só quem tem voz consegue realizar. Com a Bossa Nova e o iê-iê-iê dos anos sessenta, Angela continou a fazer sucesso, participando de todos os programas da juventude. 

Elis Regina (1945/1982), jovem cantora que comandava o programa Fino da Bossa, reconhecia Angela Maria como sua maior professora e influenciadora. No Corte Rayol Show, Agnaldo Rayol fazia de Angela sua convidada mais frequente. Até no Jovem Guarda, programa referência do movimento jovem de rock and roll, Angela foi cantar. 

Nos anos 1970 gravou repertório considerado moderno, aclamado pela crítica: "Os Argonautas" de Caetano Veloso e "Gente Humilde" de Chico Buarque, Garoto e Vinícius de Moraes, esta última se tornando um dos seus maiores sucessos. Nos anos 1980 trabalhou bastante em projetos com o amigo Cauby Peixoto (✞1946, falecido em 2016), em que excursionavam por todo o Brasil levando boleros, sambas, rumbas e serenatas.

Diva e diversa


A cantora Angela Maria Foto: Divulgação
Gravou sambas-enredo, repertório em homenagem à Dalva, disco com canções de Adelino Moreira… É impossível falar de todos os seus feitos aqui. Fica o conselho: busque a sua discografia e aproveite o que há de melhor da música popular. Teve parcerias interessantes ao vivo com Nelson Gonçalves e dois álbuns com o cantor Agnaldo Timóteo.

Timóteo, quando saiu de Minas para buscar uma oportunidade como cantor no Rio, foi pedir a sua ajuda e trabalhou como seu motorista por alguns meses até o sucesso chegar. "Tango pra Teresa" é um sucesso do repertório de Angela com a participação ao vivo do amigo no programa Som Brasil.

Da sua geração, Angela era a mais longeva, tanto com uma carreira artística ininterrupta. É a cantora brasileira que mais gravou álbuns. Agora, após 66 anos desde a sua primeira gravação, Angela grava pela Biscoito Fino o seu último álbum 'Angela Maria e as canções de Roberto & Erasmo'.

São dez pérolas preciosas do repertório de Roberto Carlos, nove delas sendo assinadas por Roberto e Erasmo. Erasmo Carlos, aliás, participa da faixa "Sentado à Beira do Caminho", dividindo os vocais com a cantora em um dueto que é surpreendente, pois o tremendão é figura associada ao rock nacional (sendo um dos seus pioneiros e precursores).

Angela Maria mostra que conhece bem o repertório do Rei, não escolhendo o repertório óbvio, selecionando canções não antes regravadas como "Despedida" e "Você Em Minha Vida". "Desabafo" já faz parte do seu repertório desde que a gravou com Roberto Carlos no seu disco 'Amigos' de 1995, numa reunião com colegas de peso da MPB (Emílio Santiago [1946/2013], Djavan, Nana Caymmi e outros).

A última faixa do álbum traz um dueto com o cantor Cauby Peixoto, seu maior parceiro musical, na faixa "Como é Grande o Meu Amor Por Você". Esta gravação consta no álbum de 2013 que ela gravou com seu amigo – para o álbum 'Reencontro'. Os sons de "Sua Estupidez", "Eu Disse Adeus" e "Não se Esqueça de Mim" parecem inéditos, com arranjos únicos e que não lembram nenhuma outra (re)gravação. É um trabalho nota dez!

Conclusão


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Aos 88 anos, Angela Maria conquista as novas gerações - e aqui me refiro aos que têm gosto musical - com seu carisma, sua energia física, impostação vocal e interpretação. Várias gerações ouviram suas canções e acompanharam suas transformações.

Nenhuma outra artista conseguiu os feitos de Angela, nenhuma viveu tanto com tanto sucesso. Nenhuma que gravou em 78 RPM conseguiu sobreviver para ver o mercado fonográfico se modificar e conseguir acompanhar sua mudança. Sim, ela lançou seus trabalhos nas plataformas de streaming também (e era assídua nas redes/mídias sociais)! É isto mesmo, é impressionante sua trajetória e como ela conseguiu acompanhar seu tempo!

Aceitou novos desafios: no ano passado gravou um CD à vontade, voz e violão, para mostrar que não depende das grandes orquestras como de costume em suas gravações. O trabalho feito pela Sapoti é do tipo que jamais será esquecido por qualquer geração porvindoura. Foi feito para ficar e durar, afinal, música boa não tem prazo de validade.

Angela Maria pode ser chamada, com justiça a sua história, de rainha da canção popular. Parabéns, Angela Maria, pelos seus oitenta e nove anos de sucesso! Obrigado por nos presentear com seu talento! Angela se foi no fim da noite do último sábado, vítima de uma parada cardíaca no Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo, após 34 dias de internação por infecção generalizada. Sua presença vai, mas sua voz fica... para sempre.

A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.

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