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domingo, 24 de fevereiro de 2019

ACONTECIMENTOS - OS 20 ANOS DA MORTE DO CALOURO DA USP

O estudante Edison Chi Hsueh, morto durante trote na USP (Crédito: Reprodução )
Na maioria das faculdades brasileiras os alunos recém ingressos são recebidos com tinta, máquinas de cortar cabelo e brincadeiras de mal gosto. Além disso, se tratando da Medicina da USP, há mais um agravante. Há 20 anos a faculdade foi marcada pela morte do estudante Edison Tsung-Chi Hsueh, encontrado morto na piscina da instituição, no dia seguinte do trote da faculdade.

O dia fatídico


Certamente ingressar na Universidade de São Paulo (USP) é um dos grandes sonhos muitos jovens estudantes. Todos os anos, para muitos o desejo de entrar na USP começa muito antes do ano de formatura do ensino médio. Parece um sonho! Entrar numa das maiores, mais concorridas e endeusadas universidades públicas do País sem precisar enfrentar novas provas. Mas, na prática, o processo não é tão fácil. A procura é muito grande! 

Porém, em 1999, no dia 23 de fevereiro, uma terça-feira, o sonho colorido se transformou em um bizarro pesadelo e revelou o seu lado obscuro, com o caso mais emblemático de trote universitário violento. 

A recepção aos calouros de Medicina terminou com a morte do estudante Edison Chi Hsueh, de apenas 22 anos. Segundo testemunhas, ele foi jogado em uma piscina olímpica mesmo após ter dito aos veteranos que não sabia nadar.

O estudante de medicina foi encontrado morto dentro da piscina da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz, que pertence ao diretório acadêmico da Faculdade de Medicina. No local, havia ocorrido uma festa de confraternização entre calouros e veteranos dois dias antes. 

Recém-ingresso na faculdade, Hsueh estava na comemoração. A Polícia informou que a morte pode ter acontecido durante ou após a festa. Segundo a família, ele não sabia nadar. Apesar de o corpo não apresentar sinais de violência, a polícia não descartou a hipótese de homicídio (intencional ou não). A bermuda do estudante estava manchada com tinta, sinal de que ele passou por um trote. Os 180 alunos do 1º ano de medicina participaram na manhã de segunda-feira da aula inaugural.

Depois da aula, eles foram pintados com tinta pelos veteranos. Por volta das 12h, um grupo de aproximadamente 200 pessoas (entre veteranos e calouros) foi para a associação para participar de uma festa de confraternização.

Duração


Segundo as investigações, a festa durou pelo menos até as 18h, com muita cerveja e acesso livre à piscina. O que aconteceu depois disso ninguém sabe. Segundo informações dadas pela direção da Faculdade de Medicina, o IML (Instituto Médico Legal) informou que o corpo ficou por cerca de nove horas dentro da água. O corpo, que estava submerso na piscina, foi encontrado por volta das 7h30 da terça-feira por um funcionário da limpeza. Isso indica que o estudante teria morrido às 22h30 do dia anterior.

Os acusados

Impunidade


O Superior Tribunal de Justiça - STJ trancou a ação penal em relação a todos os acusados, em fevereiro de 2005. Os acusados Frederico Carlos Jaña Neto, Ari de Azevedo Marques Neto, Guilherme Novita Garcia e Luís Eduardo Passarelli Tirico ficaram livres da ação penal a que respondiam pela morte de Hsueh. Eles eram veteranos do curso de Medicina da Universidade de São Paulo e foram acusados de causar a morte por afogamento do calouro durante um trote. Mas, mesmo com toda a repercussão nacional que o caso ganho, os quatro acusados pela morte foram absolvidos pelo Superior Tribunal Federal - STF.

Trote ou assassinato?

O "prêmio" de Edison


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Depois das brincadeiras, os estudantes caminharam até a Associação Atlética. No bosque, foram lavados com jatos de tinta - os calouros pelas veteranas, as calouras pelos veteranos. Seguiram então até a arquibancada em frente à piscina. Enfileirados, acompanhados pelo som de uma bateria, entoaram alguns hinos.

Ao ouvir gritos de ordem, caíram na água. Dois calouros relatam que, devido ao grande número de pessoas, aqueles que estavam na frente eram empurrados. 
Filho de imigrantes chineses de Taiwan, de classe média, Edison não foi visto perto da piscina. 

De acordo com o laudo médico, ele morreu de asfixia mecânica. Entrou na água e não voltou a emergir. A lenta agonia durou entre três e cinco minutos. A piscina é profunda - tem entre 2 e 4 metros. Cerca de uma centena de alunos pulou ao mesmo tempo, provocando evidente situação de risco. A água estava turva devido ao excesso de tinta e aos restos da farinha despejada nos estudantes durante o trote.

Edison não foi visto perto da piscina, mas seu corpo sem vida foi encontrado dentro dela. Este foi o "prêmio" que o brilhante aluno recebeu pela realização de seu sonho.

O que mudou?


Mas, de lá para cá muita coisa mudou. No ano seguinte da morte de Edison a direção da faculdade aboliu qualquer tipo de trote e os veteranos deixaram de lado as pinturas no rosto e os cortes de cabelo, para serem guias dos novos estudantes, mostrando as instalações da faculdade.

Semana do calouros


A recepção aos estudantes não termina no dia da matrícula. Na primeira semana de aula dos calouros, que neste ano está sendo entre 21 e 25 de fevereiro, não há aula, apenas atividades de integração. 

O mais próximo dos trotes convencionais acontece nessa semana. Existe um dia apropriado para os estudantes que querem se pintar e os veteranos programam um dia para que os calouros façam pedágio nos carros que circulam pela Avenida Dr. Arnaldo, nos arredores da faculdade.

Como é o trote ao redor do mundo


As brincadeiras com os "bixos" não é exclusividade do Brasil. Veja como é em outros países e como os governos lidam com os exageros e abusos.

Muitos pensam que só no Brasil o trote é considerado um evento que pode terminar em violência ou abuso. Um engano. Executado há mais de setecentos anos, o trote surgiu na era medieval e permanece espalhado pelo mundo até hoje. Foi apenas a partir do século 20 que o trote passou a receber limites e punições para quem os comete.
  • Suécia - O "nollning", o trote sueco, é sempre um sucesso. O motivo é simples: o rito de iniciação dos nórdicos inclui algo raro: nudez. Tudo por causa de um jogo chamado "klädstreck" ou "fila de roupas".
  • Espanha - Chamado de "novatada", o trote na Espanha ocorre apenas em universidades grandes ou tradicionais e raramente é violento. 
  • França - Não pense que os franceses são requintados e de bom gosto também na universidade. Após vários casos de violência e até de mortes, o trote, conhecido como bizutage, foi proibido por lei em 1998.
  • Portugal - A universidade de Coimbra, a mais antiga em Portugal, registra casos de trotes no século 16, na era medieval. Trote, não. Na terrinha, o termo correto é "praxe" e corresponde não só à primeira semana, mas ao ano inteiro de aulas.
  • Canadá - Apesar de ser um país reconhecido pela educação e os baixos índices de criminalidade, os trotes no Canadá são marcados por abuso de álcool e violência contra estudantes. Chamado de "frosh week", muitos estados criaram leis proibindo esse tipo de trote.

Conclusão


No ano seguinte à morte de Edison, o então governador Mario Covas (1930-2001) sancionou uma lei proibindo trotes violentos no estado de São Paulo. No entanto, denúncias de abusos em rituais de boas-vindas ainda são frequentes. Em 2015, a Assembleia Legislativa de São Paulo criou uma CPI para apurar violações de direitos humanos nas universidades paulistas. A faculdade de Medicina da USP, a mesma de Edison, foi citada em cinco denúncias de estupro.

Recentemente, também foram identificados sites com mensagens que incentivavam o abuso sexual de alunas da Universidade Federal do Ceará e da Universidade de Brasília. Isto sem contar as ocorrências que evidenciam outros tipos de humilhações e manifestações racistas. Ou seja, apesar da tragédia e das leis, na prática, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. Pra frente, Brasil!


A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade. 
     E nem 1% religioso.

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