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quinta-feira, 12 de abril de 2018

ESCRITO NAS ESTRELAS - ESPECIAL: CHICO ANYSIO

No dia 12 de abril de 1931 nascia em Maranguape, no Ceará, Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, mais conhecido como Chico Anysio, humorista cuja história se confunde com o surgimento da televisão brasileira.

Um homem, muitas faces


Chico Anysio criou personagens que entraram para o imaginário nacional como “Professor Raimundo”, com o bordão 
“E o salário, ó!”. 
Ao todo, foram mais de 200 personagens em 65 anos de carreira. Além de humorista, Chico Anysio também foi ator, dublador, escritor, compositor e pintor. O humorista começou a carreira na década de 50, na Rádio Guanabara, onde ficou evidente o seu “talento para imitar vozes”. 

Em 1957, ele fez sua estreia na telinha, na extinta TV Rio, onde criou o personagem “Professor Raimundo”. Seus programas de maior sucesso foram na Rede Globo, onde comandou 
  • “Chico City” (1973-1980), 
  • “Chico Total” (1981 e 1996, em períodos espaçados, as hoje chamadas “temporadas”),
  • “Chico Anysio Show” (1982-1990) e, 
  • “Escolinha do Professor Raimundo”.
Como escritor, o humorista foi autor de 21 livros, entre eles sucessos da década de 70 como “O Batizado da vaca”, “O telefone amarelo” e “O enterro do anão”. Seu último livro foi “O canalha”, lançado em 2000. No final de sua vida, o humorista passou por uma série de problemas de saúde. 

Após ficar internado durante três meses, ele morreu no dia 23 de março de 2012, no Hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio. Ele morreu após uma parada cardiorrespiratória, causada por falência múltipla dos órgãos, decorrente de choque séptico por infecção pulmonar (tinha um histórico de dependência tabagista, era um fumante inveterado).

Chico Anysio teve oito filhos e completaria 87 anos. Ele foi casado cinco vezes, sendo que o seu relacionamento mais conhecido foi o com a ex-ministra da Economia do governo do presidente Fernando Collor, Zélia Cardoso de Mello — com quem teve dois filhos.

Político implícito, política explícita


Com o desaparecimento de Chico Anysio, vale lembrar o dito rikiano de que “a fama é a soma de todos os equívocos em torno de alguém”? Ou estamos assistindo a grandes e justificadas homenagens ao mais importante humorista das últimas seis décadas?

Ciente da força corrosiva do humor e da sátira, Chico criava personagens obstinadamente, talvez intuitivamente, sabendo que o jogo da linguagem crítica é, em si, o jogo do espírito em seu aspecto lúdico.

A irreverência no trato com autoridades e seu refinado senso de resistência política o levaram a um intenso processo de criação, como se não quisesse perder um só detalhe do que estivesse à sua volta. Operando com similaridades e antíteses, captou, com sua lente fina, as luzes e o dia-a-dia do povo brasileiro, dos oligarcas aos estratos populares que não se curvam ao desencanto e à decepção.

Do rádio à televisão, Chico Anysio foi um perito em extrair de múltiplos detalhes da nossa formação cultural significados precisos, dissolvendo mitos e máscaras com o ácido sulfúrico da piada certeira e do sarcasmo.

Como ninguém, ele soube fazer isso com ternura, estranha ternura onde o lado amargo da vida é plenamente resgatado pelo humor atordoante. Há quem diga que, como os poetas, os humoristas habitam um mundo em decomposição e decadência, mas o fazem de forma visceral, com arte feita do mais puro aço da reflexão e da lucidez crítica.

Dotado de profunda consciência social, o cearense de Maranguape tinha uma face pouco conhecida, que vai bem além do talentoso humorista, autor e compositor: a de um resistente que não se curvou às tentativas de cooptação dos setores golpistas aglutinados, nos anos 1960, na rede de propaganda geral e doutrinação do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES).

Conforme nos revela René Armand Dreifuss* (1981: 248),
“a elite orgânica se aproximou de inúmeros produtores, atores e diretores famosos de televisão, tais como Gilson Arruda e Batista do Amaral. Favorecia o uso de programas cômicos, quando possível. Rui Gomes de Almeida observava que uma piada contra um político provocaria um 'dano enorme'. Negava, ao contrário, o apoio aos atores que não cooperassem ou agissem contra os programas, as linhas de raciocínio e as pessoas que o IPES patrocinava. Tal foi o caso do humorista Chico Anysio, sagaz observador da realidade social”.
Na melhor tradição do humor de combate, ainda que sem engajamento explícito, Chico não renegou princípios. Entendeu corretamente e cumpriu com competência a melhor missão do humor: a de fiscal mordaz e crítico visceral das estruturas do poder. Na galeria de mais de duzentos personagens, há lugar de destaque para a velha oligarquia e parlamentares com um profundo sentimento antipopular. Tudo operado com destreza e rara sensibilidade.

Criações de Chico Anysio ganham livro ilustrado


Aos 76 anos de idade e com já mais de 60 de carreira, Chico Anysio se deu conta de que sua imensa galeria de personagens vivia no imaginário popular, mas não estava catalogada em um meio duradouro como o livro. 

Para resolver esse problema, se juntou a Ziraldo -na verdade, foi pressionado por ele, que acalentava o projeto há anos- e criou uma enciclopédia ilustrada de suas principais criações, o livro “É Mentira, Chico?”. Lançada por um selo da editora Resultado, a obra é um passeio por 77 personagens clássicos do humor brasileiro, retratados por 40 dos principais cartunistas do país.
“Esse livro é a comprovação de que eu trabalhei muito”, 
disse Chico. 
“Esse país cresceu me vendo”, 
completa, sem modéstia e, possivelmente, sem equívoco. 

O título é uma referência à frase marcante do personagem Pantaleão, que aparece na capa caricaturado por Ziraldo — uma repetição da capa do livro “É Mentira, Terta?”, de 1973.

Cada uma das criações catalogadas no livro ganhou uma biografia própria, um texto com uma cena humorística e pelo menos uma caricatura. 
“Se o Chico morrer, morrem cem personagens com ele, porque a TV não eterniza nada. Vivemos 50 anos com aqueles tipos e eles iam sumir”
“profetizou” Ziraldo, que escreveu uma introdução e desenhou, além do Pantaleão, o Professor Raymundo. 

Bordões antológicos e inesquecíveis 


Os que acompanharam pelo menos parte das quase quatro décadas de Chico na TV vão lembrar dos bordões clássicos. 
Tipos variados como “Bento Carneiro, o vampiro brasileiro” (“Minha vingança sará 'malígrina'.”), “Nazareno” (“Ca-la-da!”) ou “Jovem” (“Pô, mãe, eu sou jovem!”) são tão memoráveis que os trejeitos e as entonações de Chico vêm à mente a partir da leitura dos textos. 

Os 77 tipos registrados no livro são os que o humorista conseguiu guardar — na memória ou em arquivo — entre os mais de 200 que afirma ter criado. Nele estão o galã “Alberto Roberto, o corrupto “Justo Veríssimo”, o gay “Haroldo” — aliás, devido aos vários personagens de caricatura gay, se fosse hoje, certamente Chico seria sumariamente rotulado como homofóbico pela serelepe militância LGBTS... —  , a apresentadora “Neyde Taubaté” e o favorito do humorista, o “Professor Raymundo Nonato” —  que, sob protestos de uns e aplausos de outros, está sendo repaginado pelo seu filho Bruno Mazzeo, fruto do seu casamento com a atriz Alcione Mazzeo —, seu altego. 

Chico dizia ter orgulho especial do mestre da “Escolinha do Professor Raymundo” por ter sido quem abriu as portas do rádio e da TV não apenas para ele, mas para gerações de humoristas.
“Zé Trindade, Costinha, Mussum, Zilda Cardoso... a 'Escolinha...' era a maior empregadora desse país”,
vaticinou.

Cartunistas


“É Mentira, Chico?” também funciona como um “portfolio da caricatura brasileira atual”, como define Ricky Goodwin, curador do livro e responsável por selecionar, com Ziraldo, os artistas que ilustraram a obra. 
“Procurei escolher buscando variedade geográfica, de estilos e também cronológica, desde artistas consagrados até revelações novíssimas”, 
disse Goodwin. 

E assim há desenhos de Lan, Aroeira, Ique, dos irmãos Caruso, Cárcamo, Loredano. Segundo o curador, a seleção de quem ia desenhar que personagem foi feita por sorteio e houve a decisão de doar todos os direitos autorais resultantes das vendas do livro para o Retiro dos Artistas. 
“Só conseguimos fazer o trabalho pelo amor que as pessoas sentem pelo Chico Anysio e o respeito que têm pelo Ziraldo, porque todo mundo trabalhou de graça”, 
disse Goodwin.

Conclusão


Na ausência de herdeiros, o panorama, após sua morte, é desolador. Grande parte do atual elenco do humorismo atual — principalmente muitos dessa geração de youtubers — é a descriminação do gênero como mote para piadas grosseiras, imbecis e sem a menor graça.
Programas como os extintos “Casseta & Planeta” e “CQC” restabeleceram uma velha sina: no Brasil, homens que tiveram voos de águia ou condor acabam em incursões galináceas, saltando direto para o poleiro. Enquanto outros, ainda jovens, antecipam a hora do perjuro.

Vai-se a multiplicidade que transforma. Fica a vala comum do transformismo. Não esperem perspicácia, iconoclastia irônica e imaginativa. O que toma a cena como “humor político”  nada mais é do que o fascismo que lhe sorri. C

Chico Anysio deixou um legado registrado em mais de 200 incorporações que certamente estão eternizadas em uma constelação de mais de 200 estrelas.

[Fonte: Viomundo (por Gilson Caroni Filho); *DREIFUSS, René Armand, 1964: a conquista do Estado. Ação Política, Poder e Golpe de Classe, Vozes, Petrópolis, Rio de Janeiro, 1981; Folha de São Paulo; History]

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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