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segunda-feira, 11 de julho de 2016

FILMES QUE EU VI - 14: FILADELFIA

Em meados dos anos 1980, uma doença desconhecida assustou e mudou o comportamento das pessoas em todo o planeta. A AIDS foi inicialmente identificada como "a peste gay", o que ajudou a aumentar o preconceito e, em consequência, a ignorância, pois quem não era gay, se julgava seguro.

A liberalidade dos anos 70 acabava de maneira abrupta. Repentinamente, o mundo não era mais o mesmo. Mudaram os costumes e as pessoas tiveram que amadurecer. Hoje a doença mata cada vez menos, todos estão mais conscientes e os remédios se mostraram eficazes em torná-la crônica e menos letal.

O dia 01 de dezembro foi estabelecido como o dia mundial de luta contra a Aids. Neste artigo vou falar sobre um dos filme que abordam o tema de forma séria e importante para a conscientização do espectador. E para não perder o hábito, USE CAMISINHA! 

Um filme, triste uma realidade


O que torna este filme espetacular, além da impressionante atuação de Tom Hanks (e de Denzel Washington, claro) é a maneira delicada e ao mesmo tempo agressiva com que o diretor tratou a questão do preconceito contra os homossexuais e, principalmente, contra os portadores do vírus HIV. 

Um dos primeiros filmes de Hollywood a falar abertamente sobre a AIDS, "Filadélfia" emociona não apenas por tratar com extrema sensibilidade desta terrível doença, mas também por abordar com extrema coragem outro tema bastante complicado, que é o preconceito contra os homossexuais. 

Através da triste história de seu protagonista e, principalmente, da trajetória do advogado que o defende, o longa dirigido por Jonathan Demme (de "O Silêncio dos Inocentes") nos mostra como este preconceito é desprezível e que todos podemos mudar, desde que estejamos dispostos a isto. 

Sinopse


Escrito por Ron Nyswaner ("O despertar de uma paixão", 2006), "Filadélfia" nos conta a história do promissor advogado Andrew Beckett (Hanks), que é despedido de um importante escritório da Filadélfia quando seus superiores, especialmente o renomado Charles Wheeler (Jason Robards), descobrem que ele é portador do vírus da AIDS. Inconformado, ele procura o competente advogado Joe Miller (Washington), que encontra no caso de Andrew um verdadeiro desafio pessoal, sendo obrigado a lutar contra o seu próprio preconceito. 

Vamos falar sobre AIDS? 


"Filadélfia" veio ao mundo numa época em que a AIDS ainda era um grande mistério e quando poucos filmes tinham coragem de falar abertamente do assunto. 

A doença era um verdadeiro tabu e todo tipo de boato circulava entre as pessoas, que não se preocupavam em saber exatamente como o vírus era contraído e quais eram as consequências que ele trazia, algo que o longa ilustra muito bem, especialmente através do personagem Joe Miller, interpretado por Denzel Washington. 

Mas, antes disto, a narrativa nos apresenta o advogado Andrew Beckett, que observa atentamente as pessoas ao seu redor enquanto faz exames de rotina – e seu olhar de compaixão por aqueles homens debilitados fisicamente se revelaria uma trágica ironia do destino. Na vida profissional, Andrew vive um momento especial, sendo escolhido para cuidar do caso de um dos mais importantes clientes do escritório comandado por Charles Wheeler. 

Mas tudo muda quando algumas manchas começam a aparecer em seu corpo, gerando a desconfiança de seus companheiros de trabalho ainda durante as comemorações de sua nova conquista (e a trilha sonora sombria indica o destino cruel do protagonista neste momento). 

Ladies and gentlemen, the Oscar goes to... TOM HANKS!!! 


Sofrendo uma visível transformação física, Tom Hanks tem uma atuação maravilhosa (ele perdeu aproximadamente 20 quilos para interpretar Andy nos estágios finais da doença), ganhando a empatia do espectador com seu jeito simpático (como o fato dele sempre perguntar sobre a filha recém-nascida de Joe quando o vê) e nos comovendo com sua luta pela vida e por seus direitos – e neste aspecto, o apoio incondicional de sua família "mente aberta", que ainda não era tão comum na época, é muito importante. 

O contraste entre o Andy contente e saudável do início e o homem abatido do final é chocante, e Hanks colabora muito para isto com seu semblante triste e abatido (destaque também para a excelente maquiagem feita no ator). Além disso, desde a primeira cena, quando se enfrentam num tribunal, Hanks e Washington conseguem criar uma empatia vital para o sucesso da narrativa. 

Denzel Washington... e o elenco 


E se a transformação de Andrew é física, a de Joe é puramente psicológica e Washington demonstra isto muito bem, defendendo com veemência seu cliente, primeiro por causa da lei, depois porque muda sua postura diante da homossexualidade, chegando a frequentar uma festa gay com o agora amigo Andy. 

E para isto, ele não mudou sua opção sexual, apenas passou a respeitar uma opção diferente da sua, o que não o impede de ficar irritado quando um gay lhe passa uma cantada numa farmácia. 

Esta transformação começa a ocorrer quando Joe resolve ajudar Andy numa biblioteca (após se esconder atrás dos livros para que ele não o veja), interrompendo uma constrangedora conversa entre Andy e um funcionário incomodado por sua presença. O desempenho de Washington melhora ainda mais durante o julgamento, onde ele se solta, dando um show de interpretação e conferindo emoção em seus argumentos ao confrontar a irônica (irritante até) advogada que defende o escritório de Wheeler.
 
Aliás, ela consegue irritar até mesmo o controlado Andrew, como podemos notar quando repete seguidas vezes a palavra "fato" e, no segundo plano, Andy olha fixamente pra ela. Fechando o elenco, Antonio Banderas interpreta Miguel, o parceiro de Andrew, e o veterano Jason Robards vive Charles Wheeler, o poderoso dono do escritório de advocacia. 

Jonathan Demme, a direção 


Como grande parte da narrativa se passa dentro de um tribunal, "Filadélfia" poderia se tornar cansativo, mas felizmente Demme emprega elegantes movimentos de câmera no julgamento, nos fazendo passear pelo local com seus travellings ou com um pequeno plano-sequência que nos leva do banheiro masculino até o meio do tribunal, além de, por exemplo, nos aproximar de Joe quando ele fala perto do juiz sobre o medo que as pessoas têm dos homossexuais através de um zoom, que serve também para agigantá-lo na tela.
 
Além disso, o diretor conta com a montagem de Craig McKay, que insere flashbacks, como quando alguém cita um momento vivido na sauna entre Charles e Andrew, o que confere um ritmo mais interessante a narrativa. 

O diretor demonstra ainda sensibilidade na criação de planos simbólicos, como o contra-plongèe que diminui os advogados na biblioteca quando eles leem sobre o que caracteriza o preconceito contra os "aidéticos" (na época do filme esse termo, que posteriormente foi abolido pela medicina, ainda era aceito), refletindo o quão pequeno e desprezível é este sentimento, ou nas primeiras cenas do longa, quando somos levados pelas ruas da cidade, embaladas pela linda música tema de Bruce Springsteen "Streets of Philadelphia" (vencedora do Oscar de melhor trilha original), num passeio que faz "Filadélfia" nascer já nostálgico, apresentando uma espécie de despedida do local em que Andy viveu – e que foi o berço do movimento libertário no país. 

Aliás, a fotografia sem vida de Tak Fujimoto ilustra bem este sentimento, deixando as ruas acinzentadas e tristes. Finalmente, vale destacar os belos planos aéreos da cidade, outro plano-sequência que nos leva pelos convidados na festa de Andrew e os constantes closes que destacam as feridas na cabeça do protagonista. Chocante! Magnífico! 

A mensagem 


Enquanto acompanharmos os argumentos apresentados no julgamento, a mensagem principal de "Filadélfia" é plantada em nossas mentes. 

E mesmo pessoas que ainda têm preconceito podem começar a repensar o assunto, especialmente após o comovente momento em que Andy pede para Miguel parar de medicá-lo, claramente desistindo do tratamento e preferindo seguir o seu destino, mas não sem antes organizar uma festa, que serve como uma espécie de despedida das pessoas que ama. 

Mas, quando a festa acaba, Andy sente que o fim se aproxima – algo que Joe percebe nitidamente – e desiste de ensaiar suas falas para o dia seguinte no tribunal, se entregando à música, numa cena tocante, onde Hanks confere muita emoção cantando ópera com sentimento, deixando Joe perplexo por testemunhar um homem que estava se despedindo da vida naquele momento. 

Washington demonstra muito bem esta sensação, refletindo o instante em que Joe finalmente se deu conta que de fato Andrew estava morrendo. Neste momento é válido reparar como a iluminação da cena muda durante a performance apaixonada de Andrew, refletida nos tons avermelhados da fotografia de Fujimoto, assim como as sombras que envolvem Joe simbolizam o vazio de seu coração naquele instante. 

Após este momento intenso, Joe chega em casa e abraça a filha carinhosamente, dizendo que a ama, enquanto a ópera continua presente em sua memória, como bem reflete a trilha sonora. Ele sequer consegue dormir. Finalmente, Joe estava completamente transformado, como fica evidente no hospital, quando demonstra muito carinho pelos familiares de Andrew, incluindo Miguel. 

No dia seguinte ao turbilhão de emoções, Andy aparece totalmente debilitado no julgamento, tossindo, falando baixo e bastante magro. E enquanto a advogada faz uma série de questionamentos, ele começa a passar mal, algo ilustrado no plano levemente inclinado e na voz distorcida da advogada, caindo no chão e sendo levado ao hospital. O plano seguinte se inicia mostrando sua cadeira vazia no tribunal e, como ele mesmo tinha previsto, Joe ganha a causa, mas Andy não estava lá pra ver. 

Conclusão 

The End 


A despedida de Andrew no hospital é tocante, com o ângulo baixo da câmera de Demme nos colocando praticamente sob o ponto de vista dele enquanto seus familiares passam um por um. E é difícil segurar as lágrimas ao ver aquelas pessoas que parecem pressentir que aquele momento seria o último com seu ente querido. 

Após sua morte, a cerimônia de despedida, com o vídeo de Andrew criança, também emociona bastante, e o clipe final, embalado pela triste música "Philadelphia", de Neil Young, encerra este filme sensível e corajoso, que fala abertamente sobre a AIDS e, principalmente, mostra como o preconceito é algo completamente sem sentido e idiota, pois, afinal de contas, independente de nossas opções sexuais, somos todos seres humanos. 

"Filadélfia" é um filme corajoso que só poderá ser admirado por quem tiver a coragem de assumir seu preconceito e não for covarde para abandoná-lo. 

Filadélfia (Philadelphia), EUA, 1993 
Dirigido por Jonathan Demme. 
Elenco: Tom Hanks, Denzel Washington, Joanne Woodward, Jason Robards, Antonio Banderas, Roberta Maxwell, Karen Finley, Mark Sorensen Jr., Jeffrey Williamson, Charles Glenn, Ron Vawter, Anna Deavere Smith, Stephanie Roth, Lisa Talerico, Robert Ridgely e Buzz Kilman. 
Roteiro: Ron Nyswaner. 
Produção: Jonathan Demme e Edward Saxon. 
Vencedor de 2 Oscar: Melhor ator - Tom Hanks e Melhor canção original: "Streets Of Philadelphia" - Bruce Springsteen
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Deus, o Pai, toda glória.
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E nem 1% religioso.

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