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segunda-feira, 30 de abril de 2018

CANÇÕES ETERNAS CANÇÕES - "INÚTIL", ULTRAJE A RIGOR

Quem não se lembra do grande hit dos anos 80, "Inútil", de autoria do irreverente cantor e compositor Roger — de QI reconhecidamente elevado, diga-se —, líder do Ultraje a Rigor, banda de rock de humor ácido e contestador (e que agora está completamente desperdiçado lá no talk show do intragável Danilo Gentili)? Pasmem, trinta 36 anos se passaram desde 1982, quando essa escrachada música de protesto foi gravada e sacudiu a juventude nacional. O objetivo desse artigo é analisar passo a passo o que mudou, ou não, no nosso Brasil de 2018 em pleno período de pleito eleitoral e com a Operação Lava-Jato ainda fazendo suas proezas até pouco tempo inimagináveis — comparado aos tempos que o nosso país ainda era assolado pela ditadura militar.

Composta em 1982, gravada primeiramente em 1983, em um compacto — assim eram chamados os discos de vinil menores, que vinham com duas faixas (os simples, com uma em cada lado) ou com quatro faixas (os duplos com duas em cada lado) e eram uma alternativa mais econômica para quem não tinha dinheiro pra comprar os LPs (Long Plays); as músicas que vinham nos compactos eram geralmente os singles, ou seja, as músicas que os artistas escolhiam como as de trabalho —, "Inútil "só pode ser ouvida pelo público em 1985, no primeiro álbum do Ultraje a Rigor, "Nós Vamos Invadir a Sua Praia".

Mesmo estando em um disco lotado de sucessos (nove das onze faixas do disco foram as mais tocadas da época), "Inútil" se destacou pela letra, muito propícia para a época. Era o período das lutas pelas Diretas Já e a frase "A gente não sabemos escolher presidente” virou um hino aos jovens que saiam as ruas para lutarem pelas eleições diretas. Apesar de todo o impacto, Roger diz que quando escreveu a música não pensou muito no movimento, ele apenas queria retratar o brasileiro, visto pelos estrangeiros como indigente. Vamos à inteligentíssima letra:

Inútil

(Roger Rocha Moreira)Ultraje a Rigor


Clipe original da música (ainda em VHS), lançado no "Fantástico", em 1984
'A gente não sabemos' escolher presidente
'A gente não sabemos' tomar conta da gente
'A gente não sabemos' nem escovar 'os dente'
Tem gringo pensando que 'nóis é' indigente
 
'Inútel'!
'A gente somos 'inútel''!
'Inútel'!
'A gente somos 'inútel''!
'Inútel'!
'A gente somos 'inútel''!
'Inútel'!
'A gente somos inútel''!
 
A gente faz carro e não sabe guiar
A gente faz trilho e não tem trem prá botar
A gente faz filho e não consegue criar
A gente pede grana e não consegue pagar
 
'Inútel'!
'A gente somos 'inútel''!...
 
A gente faz música e não consegue gravar
A gente escreve livro e não consegue publicar
A gente escreve peça e não consegue encenar
A gente joga bola e não consegue ganhar
 
'Inútel'!
'A gente somos 'inútel''!...

É eterna porque...


Impulsionada pelo sucesso que o rock fazia na época, "Inútil" não conseguiu ser barrada pela censura, apesar de várias tentativas. Mesmo sem eleições diretas, "Inútil" continuou na boca das pessoas e fez com que a banda Ultraje a Rigor se firmasse como uma das maiores bandas de rock nacional, em uma época de Titãs, Paralamas, Barão Vermelho, Kid Abelha, Capital Inicial, Legião Urbana, Ira!, Engenheiros do Hawaii, RPM..., enfim, num cenário musical mais do que frutífero, onde cada banda soube registrar com louvor a sua história. 

Desmembrarei a canção de forma a contemplar pontualmente suas ideias absolutamente pertinentes à conjuntura sócio-política dos anos 80, onde o Brasil era à força submetido a um isolamento cientifico, cultural e até mercadológico. Só entrava no país o que não fosse considerado como subversivo ou afrontasse a ideologia militarista da época.

Não só era proibido importar novas ideias, mas também produzi-las no seu próprio quintal. Esse passado de certa forma impulsionou muitos bons a lutarem por democracia e dias melhores. No entanto, em pleno ano de 2018 a sociedade brasileira vê atônita a democracia falhar de modo grosseiro. O Brasil cresceu, abriu seu mercado, aprendeu a jogar, enriqueceu, mas o povo continua sendo oprimido, sem acesso à riqueza do país recentemente declarado como a sexta maior economia do mundo. E o lema do governo petista em 2011 "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", será que chegou a existir em terras tupiniquins?

"'A gente não sabemos' escolher presidente..."


Fato — O que temos vistos desde o advento da tão proclamada democracia é que os nossos governantes não fazem jus ao seu papel primordial: tomar conta do povo. É interessante para a classe corrupta que regra todas as esferas políticas do nosso país que o povo continue ignorante, sem senso crítico, analfabetos funcionais e etc. Além disso, o Brasil pode até ter seguido a evolução mundial quando se refere ao combate à miséria da sua população carente, mas há ainda muito a ser feito para diminuir o estado de total pobreza que ainda aflige muitos dos seus filhos.

"'A gente não sabemos' nem escovar 'os dente'..."


Fato — Talvez o Roger tenha posto esse verso, já que havia um grande apelo nos anos 80 para que os governantes investissem mais na saúde bucal na nossa população. O Brasil era conhecido como o país dos desdentados. Pode até ter melhorado, novamente seguindo a evolução mundial, mas ainda há cerca de 30 milhões de desdentados atualmente. Logo, mais uma vez, há ainda muito a ser feito. Caso essa tenha sido uma metáfora insinuando que o povo brasileiro não recebe a boa educação e o incentivo ao desenvolvimento pessoal que merece — por isso, mostra-se ignorante e inapto até para escovar os dentes, hábito básico —, ainda sim é de certa forma atual, descontado novamente o desenvolvimento que o mundo conseguiu como um todo.

"Tem gringo pensando que 'nóis é' indigente...'Inúteu'! 'A gente somos 'inúteu''!..."


Parcialmente factual — A imagem do Brasil no exterior é ainda muito vinculada a samba, carnaval e futebol. Qual o gringo que não conhece Pelé e o carnaval do Rio de Janeiro? No entanto, os mesmos gringos estão igualmente cientes de que o Brasil apesar da sua ascensão econômica ainda é um país com habitantes vivendo em extrema pobreza. Há ONGs internacionais que se recusam a ajudar o Brasil, pois argumentam que um país tão rico pode muito bem dar o mínimo de dignidade aos seus cidadãos.

Desse modo, voltam sua caridade para países realmente pobres, como a Bolívia (Ah, a Bolívia!), o Haiti e outras nações africanas. Portanto, o gringo não mais acha que o Brasil é um país pobretão que necessita de ajuda humanitária e sim uma grande economia emergente, um gigante que poderia sim cuidar melhor do seu povo, não fosse os altos índices de corrupção que o derrubam com sua funda.

"A gente faz carro e não sabe guiar. A gente faz trilho e não tem trem prá botar..."


Fato — Quem não lembra da velha marca de carro legitimamente brasileira, o Gurgel? Pois é, o pobre carrinho não durou muito tempo. É impressionante que o Brasil consegue fabricar até aviões — EMBRAER — mas nunca conseguiu projetar o seu próprio carro. O lobby das grandes montadoras aniquilou a Gurgel, que com o nível tecnológico alcançado na época não teria mesmo como competir, e de lá para cá nunca mais houve qualquer projeto nacional.

Quanto aos trens, outro lobby entra em cena, o do petróleo (lembram da "grande descoberta" do governo Lula, o tão aclamado Pré-sal, a "serra-pelada" do petróleo?). Aos moldes dos anos 80, mais vale ter milhares de caminhões e ônibus a queimarem combustíveis nas decadentes estradas brasileiras, do que investir em um meio de transporte mais eficiente, limpo, que poderia muito bem escoar a nossa imensa produção, principalmente agrícola.

O fato é que o Brasil apesar de ter crescido, ainda peca bastante no que se refere aos seus investimentos em infra-estrutura. Basta ver os portos, aeroportos, transportes públicos — minha amada Belo Horizonte, por exemplo, o 6º município mais populoso do Brasil, com uma população estimada de 2,5 milhões de habitantes (segundo o IBGE), há décadas espera o seu metrô, e nada (o que temos aqui é um pedante e ineficiente trem metropolitano e olhe lá)... Uma vergonha!

"A gente faz filho e não consegue criar..."


Fato — O Brasil ainda tem altos índices de natalidade principalmente nas famílias de baixa renda, graças à falta de planejamento familiar. Esse problema apesar de ter sido melhorado, acima de tudo por pressões internacionais, ainda existe no país. Conheço inclusive algumas ONGs que distribuem preservativos, anticoncepcionais e até fazem vasectomia ou ligamento (laqueadura) de trompas, já que o governo se omite. A igreja também não ajuda com a sua doutrina medieval!

Há muitas igrejas evangélicas onde o uso de qualquer tipo de método contraceptivo é considerado pecado (e usam a Bíblia, isolando versículos de seus contextos, para justificarem sua estupidez: 
"E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra... Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão" (Gênesis 1:28a; Salmo 127:3).
Não preciso dizer que fazer criança é de fato muito gostoso, mas criá-la com um mínimo de conforto e dignidade custa caro, e para quem já tem pouco, ou quase nada, o grande número de filhos é um grande impulsionador da miséria. Eles só precisam de apoio, alguém que mostre de forma clara e eficiente como combater o problema. Mais um papel mal desempenhado pelo Estado. O governo de Lula até tentou, com sua política assistencialista, mas fracassou. Deu o peixe de mercado, ao invés de ensinar o povo a pescar.

"A gente pede grana e não consegue pagar...'Inúteu'!"


Ficou ultrapassado por um tempo, mas voltou a ser factual — Para a felicidade dos privilegiados do nosso país, a economia do Brasil passou por bons momentos e esteve bem, obrigado. O plano econômico idealizado por FHC e continuado por Lula deu certo e um dos maiores fantasmas a atormentar os brasileiros dos anos 80 foi definitivamente exorcizado. Finalmente conseguimos pagar a tão debatida dívida externa e por um tempo podemos nos gabar de emprestar dinheiro para o FMI. 

Pois é. Eis que o fantasma voltou. E hoje o Brasil não só tem uma nova dívida externa, como ainda amarga numa devastadora crise econômica — que chegou a ser chamada de "marolinha" pelo falastrão Lula em 2008:
"Crise é tsunami nos EUA e se chegar no Brasil, será 'marolinha'" — 
Só que não, né? Ainda são poucos — poucos mesmos — os que gozam das benesses desse Brasil tão rico. Muitos falam que a classe C se fortaleceu e muito blá blá blá, mas é fato que tudo poderia estar melhor. Um grande indicador de que as coisas estão indo de mal a pior são os galopantes índices de violência e o crescimento incontrolável do desemprego que assustam o país do Oiapoque ao Chuí.

Além disso, o capitalismo selvagem que inundou o Brasil alguns anos depois que "Inútil" foi escrita, gerou um tipo de censura econômica. Por exemplo, hoje temos milhares de livros traduzidos, ou pior, de fantoches como Justin Bieber — pasme, a biografia daquela ameba —, a poluir as prateleiras das nossas livrarias, e a prata da casa de qualidade é incontestavelmente renegada.

Quem não vende, não tem vez. Mas como saber se vende ou não, se não têm chance? Não só no mercado literário ocorrem essas barbaridades, mas no fonográfico — não vou citar nomes para evitar problemas — e teatral também. Artistas de talento em todos os âmbitos sucumbem à desmotivação, e a boa cultura brasileira agoniza, quase morre.

"A gente joga bola e não consegue ganhar..."


Parcialmente factual — Bem, agora toquemos em um assunto de extrema relevância e gosto ao povo brasileiro, que inocentemente é tratado como um rebanho de ovelhas, e enquanto tivermos pão e circo, todos estarão felizes, aos moldes da Roma antiga. A consternação sentida pelo nosso amigo Roger dos anos 80 era grande, assim como a minha, e a de inúmeros intelectuais brasileiros também.

Apesar de todos muito estudados, não conseguirem se conter se viam obrigados a ceder frente a paixão futebolística que invade o país na época de Copa do Mundo. Nos anos 80 o Brasil chegou perto, mas não ganhou nada. 1994 e 2002 vieram como grande alívio para as crianças que achavam que não viveriam para ver o Brasil ser campeão mundial de futebol. 

Foi no dia 30 de junho de 2002, em Yokohama (Japão), que o Brasil venceu a Alemanha por 2 a 0 e conquistou o Pentacampeonato Mundial, sagrando-se o maior vencedor da história das Copas do Mundo, posto que mantém até hoje. Uma conquista marcada, acima de tudo, pelo talento. Aquela Copa, por sinal, foi a última decidida pela qualidade individual. De lá pra cá, venceram as seleções que se modernizaram e priorizaram o jogo coletivo.

E foi aqui, no Mineirão, o gigante da Pampulha, o fatídico 7 x 1 da Alemanha contra o Brasil na Copa de 2014. Essa humilhação ainda engasga os que são muito ligados a futebol (devo confessar que não é esse o meu caso...). Mas 2018 pode mudar essa história. 

Conclusão


Muitos jovens de hoje em dia temos a mesma sensação em relação à conjuntura social do Brasil como um todo. Muitos de nós perdemos as esperanças de ver um Brasil campeão no combate ao analfabetismo, campeão em nível de boa educação, campeão no combate à miséria, campeão da paz, dentre muitos outros campeonatos. Não só jovens, mas os mais experientes — como eu, que vivi os anos 80, os anos 90 e vou rompendo em fé nos anos 2000 (Já são meio século!) — também, deixam para os seus netos a possível realização desse sonho, pois perderam a fé no Brasil em curto prazo. 

A revista Rolling Stone do Brasil coloca "Inútil" como a mais importante canção de protesto do rock brasileiro oitentista, período em que foram lançadas canções como "Maior Abandonado" (Barão Vermelho), "Homem Primata" e "Polícia" (Titãs), "Até quando esperar" (Plebe Rude), "Que país é este?" (Legião Urbana), entre outros hits de protesto.O erro proposital de concordância imposto em toda a letra mostra o protesto que Roger queria fazer. Dizer que o brasileiro não se importa com muitas coisas e, além de não escolher presidente, não sabe quais são as consequências nem os motivos das ações feitas por cada um.

Todos os dias nos deparamos com um ato corrupto atrás do outro, o que gera o desvio dos nossos cada vez mais impagáveis impostos, que reflete na enorme falta de investimento, que culmina em um incontrolável desespero social e inacreditável violência. Precisamos combater esse ultraje com rigor, denunciando, indo às ruas, reivindicando nossos direitos, cobrando o nosso voto, ou até mesmo fazendo artigos em blog ou humor ácido em letras de rock. 

Quem sabe assim, aos moldes da paixão nacional, marquemos muitos gols e pela primeira vez possamos nos intitular campeões contra a maldita corrupção, que ainda é tão atual e factual nesse país. Agindo assim, quiçá daqui a novos trinta cinco anos poderemos dizer que a letra do Ultraje a Rigor está definitivamente ultrapassada, assim como esse artigo. Viveremos para ver? Mas lembrem-se bem, planta-se hoje o que se quer colher amanhã. Mãos a obra, então. Deixemos de ser ultrajados e principalmente inúteis!

A Deus toda glória. 
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://circuitogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade. 
E nem 1% religioso.


ENTENDENDO O SALMO 137 E SUA RELAÇÃO COM NOSSA VIDA CRISTÃ


Um experimento laboratorial constatou algo impressionante sobre os sapos. Como eles não têm uma temperatura corporal definida, mas sim flutuante, conforme o ambiente, eles correm um grande risco. Descobriu-se que um sapo imerso em uma água sendo aquecida a 36 milésimos de grau por segundo, na escala Fahrenheit, não é capaz de notar esse aumento de temperatura. 

Nessa taxa de aquecimento, o sapo estará em uma água perigosamente quente sem perceber o risco que corre. Quando chega a perceber, já é tarde demais para tentar escapar e ele, inevitavelmente, morre na água fervente. Essa experiência científica há muito serve de ilustração sobre o modo como a tentação e as pressões do mundo atingem os cristãos. Longe de sucumbirem às grandes tentações logo de cara, os servos de Deus passam a se acostumar com pequenos desvios, um de cada vez, e vão se tornando insensíveis até o ponto de cometerem loucuras das quais fugiram a princípio. 

Salmo 137

Vencendo as tentações do mundo 


O Salmo 137, um cântico de Sião, também é um salmo imprecatório especialmente inflamado. Embora não se identifique o seu autor (devido as características linguísticas, é tido como sendo um dos salmos compostos por Davi) o salmo partilha o desespero do livro de Lamentações, desespero dos que sofreram a destruição de Jerusalém pelos babilônios em 586 a.C. Este salmo perturbador aborda uma emoção muito profunda. 

Seu padrão é o seguinte: 
  • 1) lamentação na Babilônia à lembrança da destruição de Sião (vs. 1-3); 
  • 2) desejo de rever Jerusalém e voltar a cantar em louvor a Deus (vs. 4-6); 
  • 3) desejo de represálias contra Edom e Babilônia por sua destruição de Jerusalém (vs. 7-9).

137:1-4 


Babilônia foi um dos grandes impérios da história do mundo. Quando este salmo foi escrito, os judeus viviam ali, em exílio involuntário. "Choramos" — As emoções do salmo estão claramente marcadas. A lembrança de Sião era dolorosa para quem estava cativo no estrangeiro (Sl 42.1-3). 

"Penduramos as nossas harpas" — Tocar música alegre para o Senhor em terra estrangeira era tão difícil que os cativos se recusaram a tocar qualquer tipo de música. Tomavam as palavras de seus captores como insultos. 

137:5,6 


"Se eu me esquecer de ti." — É difícil para o leitor moderno aquilatar o amor por Sião entre as pessoas de fé do Antigo Testamento. Como observamos muitas vezes nos Salmos, este amor não era apenas pelo lugar, mas por sua função em sua vida. Era em Jerusalém que o templo tinha sido construído. O lugar era sagrado devido à presença de Deus (Sl 2:6). 

137:7 


"Lembra-te, Senhor!" — Depois de falar apaixonadamente de sua lembrança e esquecimento (vs. 4-6), o salmista invoca o Senhor a lembrar-Se dos atos abomináveis do povo de Edom na época das tribulações de Jerusalém (veja no Sl 129 um sentimento similar). "Arrasai-a!" — Os homens de Edom zombavam e ironizavam, enquanto a cidade era lamentavelmente queimada e arrasada. 

137:8 


"Ah! Filha de Babilônia" — Já assinalamos que a expressão correspondente a filha de Babilônia seria melhor traduzida por filha de Sião. Ou seja, Sião não tinha filha; ela era, em si, a filha de Deus, termo carregado de afetividade. Será possível então que neste local as palavras filha de Babilônia estejam sendo usadas com sarcasmo? Sião é filha do Senhor, não a Babilônia. Ela pode ser descendente de um deus qualquer, mas não do Senhor. 

137:9 


"Feliz" é o mesmo termo de "bem-aventurado", que inicia o primeiro salmo (1:1; 146:5). A bênção viria na forma do exército persa, que destruiria a maligna cidade de Babilônia, usado como instrumento do juízo nas mãos de Deus Todo-poderoso (Hebreus 1:12-17). 

O Salmo 137 mostra que o povo de Israel foi submetido a uma situação assim quando estava exilado de suas terras. Cativos na Babilônia (v.1), eles foram tentados a esquecer e desprezar sua pátria e as esperanças de vê-la restaurada e reabilitada pela fidelidade de Deus no cumprimento das suas promessas. 

O tom saudosista do salmo (vv.4,5) indica que ele foi escrito um bom tempo depois do início do exílio (605 a.C.) — alguns comentaristas sugerem que sua composição se deu próximo do final do cativeiro babilônico (539 a.C.). A fim de preservar a fidelidade a Deus, sua identidade nacional e as esperanças de retornar à terra da promessa, vendo se cumprir tudo que o Senhor anteviu, o salmista assume uma postura de resistência às pressões. Para isso, ele leva adiante três ações que o tornaram constante diante da tristeza e da decepção do momento. 

A primeira ação foi lamentar a condição adversa (vv.1-3) 


Em situações ruins, um mecanismo de defesa que as pessoas possuem é a aceitação. Normalmente, é preciso se conformar com as contingências da vida e esperar um futuro melhor. Entretanto, quando as contingências são frutos de erro, aceitar e se conformar com as consequências é o mesmo que aceitar o próprio erro. Esse era o caso dos israelitas, pois estavam exilados por causa do próprio pecado. 

Eles não podiam culpar ninguém, além deles mesmos. Por isso, olhar para o exílio e não lamentar significava relevar o pecado que cometeram e deixar de buscar a restauração. Mas o salmista e seus pares não agiram desse modo. Eles lamentaram sua condição olhando para a pátria com saudades (v.1): 
"Ali, ao lado dos rios da Babilônia, nós nos sentamos e choramos ao lembrar de Sião ('al naharôt babel sham yashavnû gam-bakînû bezokrenû ’et-tsîyôn)"
Diante disso, vê-se que para tais judeus a ideia de se tornarem babilônicos não era aceitável, nem aprazível. Seu desejo era nunca ter deixado Israel e o fato de ter acontecido exatamente isso era, para eles, motivo de tristeza. 

Surpreendentemente, a iniciativa do povo da Babilônia era no sentido oposto. Em vez de fazerem os judeus sofrer como escravos indesejados em sua terra, os babilônicos os convidavam a se alegrar (v.3): 
"Pois ali os nossos captores nos pediram para entoar canções e os nossos opressões, para sermos alegres, dizendo: 'Cantai para nós um dos cânticos de Sião (kî sham she’elûnû shôvênû divrê-shir wetôlalênû simhâ lanû mishîr tsîyôn)"
Isso, obviamente, pode ser visto como uma afronta humilhante da parte dos opressores. Entretanto, a negativa dos israelitas e suas razões (vv. 2,4) demonstram que eles não estavam sendo obrigados a isso, mas, sim, incentivados. 

Parece que a ideia era que eles aceitassem sua condição e se alegrassem nela. "Adaptação" (e/ou "conformidade") seria a palavra chave nessa situação, principalmente depois de tanto tempo de cativeiro. É como se os babilônicos lhes dissessem: 
"Não está na hora de se conformar e de tocar a vida? Não está na hora de ser feliz longe da sua terra?". 
A sugestão era bastante tentadora, mas o salmista e seus irmãos a rejeitaram. Em vez de cantarem alegremente, eles deixaram de lado seus instrumentos musicais para manter seu lamento (v.2): 
"Nós penduramos nossas harpas nos salgueiros que há entre eles (‘al-‘aravîm betôkah talînû kinnorôtênû)"
Essa ação expressa não apenas o desejo de não se satisfazer com o fruto do erro e do pecado, como também de demonstrar publicamente o lamento e o anseio de retornar à situação original. 

A segunda ação foi resistir às pressões do mundo (vv.4-6)


Diante das sugestões que, aos olhos humanos, pareciam boas e agradáveis, o salmista mantém os princípios da separação do mundo e da santidade do nome do Senhor (v.4): 
"Como entoaríamos o cântico do Senhor sobre solo estrangeiro? (‘êk nashîr ’et-shîr-yhwh ‘al ’admat nokar)"
Assim, os cantos que serviam para cultuar a Deus no Templo, em Jerusalém, jamais seriam tratados com descaso, nem serviriam para promover a desonra do nome do Senhor. 

É claro que a vida seria bem mais fácil para eles se sucumbissem à pressão de aceitar sua condição e de tirar proveito dela. Mas tal ideia é tão inaceitável que o salmista roga uma maldição sobre si caso se deixe levar pelo mundo colocando de lado a esperança de retornar a Jerusalém (v.5): 
"Que minha mão direita fique esquecida se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém (’im-’eshkahek yerûshalaim tishkah yemînî)." 
A mão ficar esquecida é o mesmo que ficar aleijada, sem movimentos, inútil (mãos na Bíblia tem o simbolismo de "ações" [no entendimento do contexto = obras, exercício ministerial]). 

Não satisfeito, o escritor afirma que sua alegria só poderia vir de Jerusalém e de tudo que a cidade representava em termos de adoração a Deus e de esperança futura (v.6): 
"Que a minha língua fique presa no céu da boca se eu não me lembrar de ti e se eu não elevar Jerusalém ao patamar de 'minha alegria suprema' (tidbaq-leshônî lehikkî ’im-lo’ ’ezkerekî ’im-lo’ ’a‘aleh ’et- yerûshalaim ‘al ro’sh simhatî)"
Não importa quanto tempo tenha se passado, nem quanto o mundo o tenha convidado a se acomodar em seu meio: os valores e os princípios do Deus eterno prevalecem para seus servos. 


A última ação foi esperar a justiça de Deus (vv.7-9)


A última seção do salmo é bastante dura e de natureza imprecatória. O salmista clama por punição para seus captores e para quem os auxiliou e se alegrou com a queda de Jerusalém e da nação. Entretanto, o clamor por punição dos inimigos é, ao mesmo tempo, o rogo pelo restabelecimento de Israel. 

Assim, a ampla justiça de Deus — juízo do pecador e justificação do servo — é o objetivo do salmista nos versículos finais do salmo. É perceptível sua confiança em Deus para a reversão da situação e para o tratamento do mal. 

O primeiro alvo do julgamento divino, nas palavras do escritor, é Edom. Os edomitas, descendentes de Esaú e, por isso, aparentados dos israelitas, rebelaram-se e se alegraram com os sofrimentos dos seus parentes desde os dias do profeta Obadias e do rei Jeorão (2 Reis 8:20-22; Ob 10). Nos dias da queda de Jerusalém, não foi diferente (v.7): 
"Lembra-te, ó Senhor, dos filhos de Edom no dia [em que caiu] Jerusalém, quando disseram: 'Desnudai-a, desnudai-a até [chegar] aos seus fundamentos' (zekor yhwh livnê ’edôm ’et yôm yerûshalaim ha’omrîm ‘arû ‘arû ‘ad haysôd bah)"
O outro alvo é a própria Babilônia, cuja queda o salmista considera garantida e iminente (v.8): 
"Ó filha da Babilônia que está prestes a ser destruída: feliz aquele que retribuir a ti o que tu mereces pelo que fizeste a nós (bat-babel hashdûdâ ’ashrê sheyshallem-lak ’et-gemûlek sheggamalt lanû)"
A linguagem usada nesse texto é interessante e traz a ideia de que a Babilônia foi instrumento da punição do pecado de Israel e que, de modo semelhante, provaria do mesmo remédio. Entretanto, sobre ela o escritor prevê cair a mão punitiva do Senhor em um grau avassalador que não pouparia ninguém (v.9): 
"Feliz aquele que segurar e despedaçar as tuas crianças contra a rocha (’ashrê sheyyo’hez weniffets ’et-‘olalayik ’el-hassala‘)"
Apesar das palavras duras, o salmista certamente tem em mente a associação profética entre a punição das nações e a restauração de Israel (Ob 15-17; Joel 3:1-3; Zacarias 14:1-8), pondo sua esperança no dia da justiça de Deus.

O contexto atual 


Não é coincidência a grande semelhança entre o clamor da Babilônia aos israelitas cativos e o clamor do mundo àqueles que creem em Cristo. O mundo perdido também convida cada servo de Deus a se adaptar ao mundanismo, a trivializar a adoração divina e a buscar alegria nos caminhos distantes do Senhor. 

E o pior de tudo é que isso muitas vezes acontece, tornando os servos de Deus muito parecidos com os perdidos. Por isso, nós também temos de lamentar o fato de sermos pecadores e de nos afastarmos dos santos caminhos do Senhor (1 Coríntios 5:2; 1 Timóteo 1:15). Somos encorajados a resistir bravamente ao mundo e ao diabo para não tomarmos a forma do que é mau e perverso (Romanos 12:1,2; Hb 12:4; Tiago 4:7). E somos ensinados, pelas Escrituras, a aguardar a vinda do Senhor para julgar o mundo e nos dar a vida eterna (Daniel 12:2; Mateus 25:31-46). 

Algo do que não restam dúvidas é quanto à tristeza presente e ao lamento pelo pecado: eles se tornam alegria na presença do nosso Senhor, o salvador Jesus Cristo: 
"Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará" (Tg 4:8-10).


Conclusão


"E se eu cantar quiserEm Babilônia sujeito,Jerusalém, sem te ver,A voz, quando a mover,Se me congele no peito;..."  
(Luis de Camões) 
Ao longo de séculos de hermenêutica, de mimésis e criatividade poética (Camões ou San Juan de la Cruz) sobre o Salmo 137 — na Septuaginta indicado como da autoria de David —, não chegamos a descobrir a verdadeira razão que está diante dos nos nossos olhos no verso imortal 
"Nos salgueiros que lá havia [na Babilónia] pendurávamos as nossas harpas..." 
Porquê? 

Levou-se tanto tempo a pensar que as harpas nos salgueiros eram como frutos que estiveram sempre lá, ou porque os hebreus perderam a inspiração, a Fé, a religiosidade judaica, a destreza da criatividade musical, ou por uma razão meramente cultural e social, porque estavam fazendo greve de zelo contra os opressores. 

Mas as harpas estavam penduradas quando eram preciso que estivessem. 

Não vou me delongar na discussão sintática do tempo verbal — o pretérito imperfeito —, mas sim, na atitude resultante do pedido profano dos babilônios. A expressão de uma consequência inevitável. 

A razão está no próprio texto poético do salmo: 
"...pendurávamos nossas harpas (…) pois [ou porque] os que nos levaram cativos nos pediam canções..." 
Do ponto de vista da teologia do Velho Testamento, está aqui espelhado o exclusivismo judaico, a rejeição da mistura, da aculturação no plano religioso. 

No campo da sintaxe, quer nas versões em português, quer no grego (óti, no início do verso 3 da referida Septuaginta) ou no hebraico, a conjunção "porque" está ligando a frase e justificando a ação precedente. 

Mas os cânticos de Sião eram sagrados, e se entoados, seriam o canto do Senhor em terra estranha. Seria uma profanação de algo divino. E o respeito pelas coisas sagradas, jamais poderia conduzir os hebreus a conspurcar o Nome de Deus nas terras do exílio. 

Em última análise, poderemos aceitar que se tratou sim de uma "greve de zelo espiritual", por causa da beleza santificada dos Cânticos. E você, está disposto também a aderir a esta "greve"? 


A Deus toda glória. 
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domingo, 29 de abril de 2018

ESPECIAL - A MÚSICA NO ANTIGO TESTAMENTO

Alusões a adoração a Deus com cânticos acham-se por todo o Antigo Testamento, mais frequentemente no Livro de Salmos. Uma variedade de outros contextos também aborda o assunto.

Quando analisamos a música usada pelos que adoravam a Deus debaixo da Lei e até antes, e como Deus via a adoração deles, podemos aumentar nossa percepção do que Deus quer dos cristãos hoje.

O PENTATEUCO


São escassas as menções de cânticos ou música no Pentateuco. Jubal, da linhagem de Caim, foi o pai de todos que tocavam harpa e flauta (Gênesis 4:21). Labão repreendeu Jacó por ter ido embora ocultamente, em vez de receber uma despedida com alegria e cânticos, e com tamboril e harpa (31:27). Após atravessarem o mar Vermelho com sucesso, Moisés e Israel cantaram um cântico ao Senhor (Êxodo 15:1–18).

A passagem descreve a manifestação como "cântico ao Senhor" (15:1). Miriã então pegou um tamboril e conduziu as mulheres, que também tinham tamboris, a cantar e dançar (15:20,21). No deserto, Israel cantou o que é chamado de "o Cântico do Poço" (Números 21:17, 18). Outro cântico é mencionado em Deuteronômio 31:19–22 e depois descrito como um cântico entoado por Moisés (32).

Não se menciona aqui acompanhamento instrumental. Quando o Senhor estava dando instruções para a adoração no tabernáculo, Ele instruiu Moisés a fazer duas trombetas de prata (10:1,2), que deveriam ser usadas como sinal, aviso. Quando ambas fossem sopradas, toda a congregação deveria se reunir na entrada da tenda do encontro. Os filhos de Arão, os sacerdotes, deveriam tocar as trombetas (10:8) e numa hora específica (Levítico 23:24; Números 10:10).

O ano de jubileu começava com a vibração de um chifre de carneiro (rDpwøv, shofar; Levítico 25:9,10). Nenhum outro instrumento é mencionado em conexão com a adoração no tabernáculo. Deus deu as regras para a música usada. Tanto no vale da Mesopotâmia como no vale do Nilo, a música é mais antiga do que Israel. Embora Israel fosse advertido a não se tornar como seus antepassados (18:3; Deuteronômio 12:30), celebrações com cânticos e danças faziam parte da cultura israelita.

OS LIVROS HISTÓRICOS


São abundantes as alusões a cânticos nos livros históricos do Antigo Testamento. Após a vitória de Sísera, Débora e Baraque compuseram o cântico de vitória em Juízes 5. Quando Jefté retornou da batalha, sua filha saiu ao seu encontro com tamborins e danças (11:34). O rei Saul, após ser ungido por Samuel, encontrou um grupo de profetas descendo do monte com saltérios, tambores, flautas e harpas (1 Samuel 10:5,10).

Depois da vitória de Davi sobre Golias, as mulheres que foram ao encontro de Saul estavam cantando e dançando com tamborins. Elas cantavam umas para as outras: 
"Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares" (18:6,7).
O próprio Davi era conhecido como um músico ou musicista. Ele foi escolhido para tocar (NÅgÎn, nagan) a harpa perante Saul para acalmar a mente do rei, quando um espírito maligno vinha sobre ele (16:14–23; 18:10; 19:9). Davi compôs uma lamentação a Saul e Jônatas e determinou que fosse ensinado a Israel o Hino ao Arco (2 Samuel 1:17,18). Ele também fez um cântico em louvor ao Senhor por livrá-lo de seus inimigos (22:2–51). 

Mais tarde, Davi e toda a casa de Israel transportaram a arca da casa de Abinadabe. Eles se alegraram perante o Senhor com todo o seu empenho, com cânticos, harpas, alaúdes, tamborins, címbalos e trombetas (6:5; 1 Crônicas 13:7,8). Davi tirou a arca da casa de Obede-Edom ao som de trombetas, saltitando e dançando diante do Senhor (2 Samuel 6:14,15). Antes de Salomão construir o templo, Davi colocou homens que ministravam cânticos diante do tabernáculo (1 Crônicas 6:31,32).

Os cânticos de Salomão somam 1.005. Na volta do exílio babilônico, quando os israelitas consagraram o templo e os muros reconstruídos, houve cânticos de louvor e agradecimento entoados pelos levitas (Esdras 3:10; Neemias 12:45,46). O escritor de 1 e 2 Crônicas mostrou muito mais interesse pela programação musical de Davi do que o escritor de 1 e 2 Reis.

As instruções de Moisés para o serviço do tabernáculo — exceto pelo aviso das trombetas — não falavam de adoração através da música; ao passo que o cronista creditou a Davi e aos chefes do serviço a nomeação dos filhos de Asafe e de Hemã para profetizarem com harpas, alaúdes e címbalos (1 Crônicas 25:1–8). Os filhos de Jedutum também profetizavam com harpas, alaúdes e címbalos em ações de graças e louvores ao Senhor (25:3).

Tanto homens como mulheres participavam da música com címbalos, alaúdes e harpas no serviço da casa de Deus (25:6). Eram músicos talentosos e treinados. Esses músicos do templo eram divididos por sorteio em vinte e quatro grupos para realizarem suas tarefas. Cantando em grupo, esses cantores formavam uma espécie de coral. Tudo isso é narrado como tendo acontecido antes do templo ser construído. Nada se diz nessa conjuntura sobre Davi ter autoridade divina para tais deliberações. Somos informados disso mais adiante, em 2 Crônicas 29:25, onde lemos que
"este mandado veio do Senhor, por intermédio de seus profetas".
Adam Clarke, em seu tão usado comentário do século XVIII, afirmou em relação a 2 Crônicas 29:25 que as versões siríaca e árabe diferem do texto hebraico. Escreveu ele:
"Foi pela mão ou ordem do Senhor e seus profetas que os levitas deveriam louvar ao Senhor... foi por ordem de Davi que tantos instrumentos de música deveriam ser introduzidos no serviço divino."
Clarke acrescentou, então, uma pergunta. Ainda que o uso de instrumentos tenha sido prescrito pela Lei, 
"isso poderia servir de prova [ou exemplo]... de que eles devem ser usados na adoração cristã?"
O caso exposto por Clarke foi reafirmado por David Lipscomb e por Guy N. Woods, sem alusão às versões; mas nada no contexto de 1 ou 2 Crônicas sugere que os profetas mencionados ali eram falsos profetas. No Novo Testamento, Davi é reconhecido como um profeta que falou pelo Espírito ao escrever seus salmos (Atos 2:30).

Paulo citou Davi (Romanos 4:6). As versões hebraica, grega e latina do Antigo Testamento reivindicam, todas igualmente, autoridade divina para Davi. Quando Salomão concluiu o templo, os cantores do templo se colocaram a leste do altar, enquanto a arca era trazida para dentro do templo. Também havia 120 sacerdotes com trombetas. Os cantores tinham címbalos, harpas e liras (ou alaúdes). O grupo cantou em uníssono em louvor e ações de graças ao Senhor. O texto afirma que eles levantaram a voz cantando em louvor ao Senhor com trombetas e címbalos e outros instrumentos musicais porque 
"o Senhor... é bom... a sua misericórdia dura para sempre" (2 Crônicas 5:12,13).
Não se pode supor que o Senhor estava descontente,pois 
"a glória do Senhor encheu a Casa de Deus" (5:13,14).
O escritor não dedicou mais espaço à música até chegar ao relato das reformas do rei Ezequias. Ezequias posicionou os levitas na casa do Senhor com címbalos, alaúdes e harpas (29:25). Essa atividade teria sido no pátio do templo; somente os sacerdotes entravam no prédio propriamente dito. Os levitas seguravam os instrumentos de Davi e os sacerdotes, as trombetas.

O cântico ao Senhor começava quando o sacrifício era oferecido (29:27). Toda a congregação adorava, levitas selecionados cantavam louvores com alegria e o povo se prostrava e adorava. O escritor de 1 e 2 Crônicas não dedicou espaço para a música em sua narrativa das reformas de Josias. Todavia, quando Josias morreu, Jeremias compôs e proferiu uma lamentação sobre ele. Somos informados de que todos os cantores e cantoras se referiam a Josias em seus lamentos
"até ao dia de hoje" (2 Crônicas 35:25).

OS PROFETAS


Isaías tem um total de vinte e três alusões ao canto: quinze delas ao canto humano e sete ao canto figurado da terra, dos montes, do céu etc. Os exemplos de canto humano envolvem, em sua maioria, o canto como expressão de alegria, sem menção de acompanhamento. Apenas uma alusão menciona explicitamente acompanhamento instrumental. Em uma delas, Isaías mencionou "a canção da meretriz", que retrata uma prostituta pegando sua harpa e cantando. O profeta descrevia a infidelidade de Tiro a Deus (Isaías 23:15, 18).

A segunda menção de canto fala de uma pessoa que sai ao som da flauta para ir ao monte do Senhor (30:29). Somente uma alusão é explícita quanto a estar na casa do Senhor: o rei Ezequias disse: 
"O Senhor veio salvar-me; pelo que, tangendo os instrumentos de cordas, nós o louvaremos todos os dias de nossa vida, na Casa do Senhor" (Isaías 38:20). 
"A Casa do Senhor" pode ser o templo, ou pode ser uma referência à Palestina. Em contraste com esta abundância, Jeremias só fez três alusões ao canto (Jeremias 31:7,12; 51:48). Uma era um "grito de alegria" levantado pelos 
"céus, e [pela] terra, e [por] tudo quanto neles há"(Jeremias 51:48). 
A profecia de Ezequiel ameaçava fazer cessar as cantigas e o som das harpas em Tiro (26:13). Uma lamentação levantou-se sobre essa cidade (27:2). Ezequiel foi visto por seus contemporâneos como quem cantava canções de amor com bela voz e tocava bem um instrumento (33:32). O templo na visão de Ezequiel tinha cantores (40:44).

Amós falou de os israelitas cantarem para si mesmos ao som da harpa (lRb‰n, nebel; Amós 6:5). Os instrumentos do Antigo Testamento também são chamados de "instrumentos de música" (ryIv_yElVk, keli-shir). Oseias só fez uma menção de música: Israel, embora levada outra vez ao deserto, cantaria como nos dias de sua mocidade (2:15). 

Amós pronunciou ais sobre os que "andavam à vontade", incluindo os que improvisavam canções ao som da lira (6:1–7). Ele declarou que no dia do Senhor, os cânticos do templo se tornariam uivos (8:3). Profetizou que os cânticos se transformariam em lamentações (8:10) e mandou que afastassem o barulho dos cânticos do Senhor. Ele disse que o Senhor não ouviria a melodia das liras feitas por pessoas injustas e incorretas (5:23).

Habacuque retratou as profundezas do mar emitindo vozes (3:10). Sofonias descreveu criaturas selvagens cantando (ou retinindo) nas ruínas de Nínive (Sofonias 2:14). Ele invocou que a filha de Sião cantasse, como num dia de festa, rejubilasse, regozijasse e exultasse porque o Senhor se deleitaria em Israel (3:14,17).

A MÚSICA EM SALMOS


Também ocorrem alusões esparsas nos Livros de Poesia do Antigo Testamento. Jó alegou que ele fizera o coração da viúva rejubilar-se (Jó 29:13). Provérbios fala da tolice de se cantar para um coração pesado (Provérbios 25:20) e que o justo canta e se regozija (29:6). A vida farta do escritor de Eclesiastes incluía a provisão de cantores e cantoras (Eclesiastes 2:8). Os subtítulos de Salmos revelam como os salmos eram usados, mas não foram escritos pelos seus escritores.

Eles diferem nas versões da Bíblia em hebraico, grego e latim. Afirmar que o termo selá indica um interlúdio musical enquanto os instrumentos são tocados é apenas uma hipótese para explicar o termo cujo significado é desconhecido. Embora se presuma amplamente que todos os salmos falam de adoração coletiva, muitos dos salmos não indicam se estão falando de adoração particular ou pública. Nem mesmo o uso da segunda pessoa hortativa do plural não indica necessariamente adoração coletiva. Na adoração feita no templo, os sacerdotes e levitas eram os músicos e os cantores. O público reunido não cantava.

Dos 150 salmos, sessenta e nove, quando se referem ao canto e ao júbilo, não fazem menção de instrumento. Os verbos psallein e humnein são usados nesses casos. A boca como instrumento de louvor é mencionada em nove casos. Também se mencionam lábios e língua (Salmos 71:23,24; 119:13,171,172). As "nações" são convocadas a cantar (67:4), como também os "reinos da terra" (68:32). Toda a terra é descrita figuradamente a cantar (66:4). Dezesseis salmos mencionam explicitamente o uso de um instrumento.

Nenhum parece questionar se o canto com acompanhamento dos levitas fazia parte da adoração debaixo da Lei. Os judeus faziam procissões com a presença de músicos (68:24,25). Sacerdotes soavam as trombetas e os levitas cantavam. Trombetas (150:3), saltérios (33:2) e harpas (137:2) são os instrumentos mencionados. Salmo 150 alista uma orquestra completa. A comunidade de Qumrã, e talvez outras, preservavam e liam os salmos e também poesias compostas por eles mesmos. Um dos tratados de Qumrã é conhecido como Os Salmos de Ações de Graças.

A palavra hebraica ryIv (shir, "cantar") ocorre setenta e sete vezes em cinquenta e oito salmos, mas só quatro dessas ocorrências também especificam um instrumento (33:3; 71:22; 144:9; 147:7). Três ou quatro ocorrências são paralelas ao verbo rAmÎz (zamar, "cantar"; 27:6; 57:7; 108:1 e possivelmente 87:7). Alguns salmos são declarações pessoais, em que o salmista estava louvando a Deus em particular. Não é isso que se discute há tantos anos. A questão centenária diz respeito ao que se pratica na assembleia da igreja, e não ao que é feito em momentos devocionais privados.

Aqueles que tentam justificar o que querem fazer recorrendo aos Salmos (seja em busca de liberdade, seja para se justificarem) devem contemplar o outro lado da questão. Quantas coisas estão incluídas nas admoestações dos salmos que não são apresentadas como exemplos para a adoração da igreja do Senhor?

A dança: 
"Louvai-o com adufes e danças" (149:3a; 150:4; veja 30:11).
  • O uso de incenso (141:2);
  • Maldições a inimigos (109:7; 137:9). Jesus ensinou que devemos orar pelos que nos tratam com desdém;
  • Bater palmas (47:1);
  • Tocar trombetas (81:3);
  • Sacrifícios de animais (51:19);
  • Mãos erguidas (28:2);
  • A lavagem de mãos (26:6);
  • Adoração diante do templo (5:7).

Conclusão 


Embora algumas pessoas participem de algumas dessas atividades, nem os adoradores da corrente instrumental nem os da corrente a capela costumam praticá-las. Por quê? Esses elementos são excluídos da adoração porque não estão autorizados pelo Novo Testamento. Todos reconhecem, então, que a menção de algo nos Salmos não constitui autorização do Novo Testamento — mesmo se os salmos são citados no Novo Testamento, e mesmo se citamos os salmos com frequência para edificação. Será que a liberdade cristã significa que somos livres para escolher o que queremos obedecer e ignorar o resto? Não, isso só criaria divisão.

Nos Salmos, é impressionante a grande ênfase dada ao conceito de que o ato de cantar é direcionado ao Senhor. O louvor pode ser ao nome do Senhor (9:2; 18:49; 61:8; 66:4; 69:30), por Sua misericórdia (89:1), por Sua força (21:13) ou ao Rochedo da nossa salvação (95:1). Um "salmo" pode ser descrito como um hino de louvor ao nosso Deus (40:3). Essa ênfase em louvar ao Senhor é igualmente vista nos salmos em que se menciona o ato de cantar e um instrumento.

[Fonte: Bible Courses]

A Deus toda glória. 
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sexta-feira, 27 de abril de 2018

DISCOS QUE EU OUVI - 23: "ABBA GOLD"


Os/as da minha geração, certamente já balançaram o esqueleto ao som do hit imortal 'Dancing Queen' (Amo! Amo! Amo!) - 1976 - ou já namorou ao som da balada mega romântica 'The Winner Takes It All' (Idem! Idem! Idem!)- 1980. 

Um grupo, uma história


O ABBA em sua formação original (da direita para a esquerda):
Benny, Frida, Agnetha e Björn
Pois é, o ABBA, foi um quarteto sueco que teve seu ápice de sucesso na década de 1970. 

Formado em Estolcomo por então dois casais, Benny Andersson, Anni-Frid "Frida", Lyngstad e Björn Ulvaeus e Agnetha Fältskog, teve atividade em exatamente uma década, especificamente dos anos 1972 a 1982, quando, infelizmente, encerrou.
 
ABBA é um acrônimo formado pelas iniciais dos nomes de cada integrante: Anni-Frida, Björn, Benny e Agnetha. A maneira inteligente que é escrito - e que se tornou a marca registrada do grupo - fazia a alusão de que em qualquer ângulo que se lesse teria um integrante como o principal, ou seja, nenhum era melhor que o outro e todos eram importantes. 

O ABBA no auge do sucesso na década de 1970 


O ABBA começou a cantar no início dos anos 1970, se separou em 1982 e nunca mais voltou a se apresentar desde então, mas vendeu cerca de 400 milhões de discos e ganhou fama duradoura. 

Os integrantes do ABBA, hoje cada um com seu cada qual, foram vistos pela última vez em público juntos em 2008, disse o site de notícias thelocal.se. 

Os quatro ex-membros do ABBA fizeram uma rara aparição conjunta na abertura de um restaurante de Estocolmo inspirado no filme e no musical "Mamma Mia!". Benny Andersson, Agnetha  e Frida compareceram para a inauguração do estabelecimento em estilo de taverna grega do ex-colega de banda Björn. 

No entanto, eles não cantaram, além de rejeitarem as sugestões de tocarem juntos novamente no futuro, com Andersson dizendo: 
"Acredito que não". 
O restaurante, onde músicos e atores interagem com garçons e convidados, tem seu conceito inspirado no filme e no musical "Mamma Mia!", mas Ulvaeus disse que 
"é uma história completamente diferente." 

O ABBA em 2005 

Virou livro 


O "ABBAmaníaco" Carl Magnus Palm lançou em 2008 a "bíblia" que narra a história dessa que foi sem qualquer sombra de dúvida uma das maiores bandas de pop-disco do mundo, "ABBA – A Biografia". 

Lá mesmo, em Estocolmo, capital da Suécia, onde tudo começou, Agnetha, Benny, Björn e Frida eram esperados por uma multidão de fãs: os nomes do ABBA eram convidados ilustres na estreia do musical "Mamma Mia!" – nome de um dos grandes hits do grupo (em 1975) que deu título à peça e ao filme que foram sucesso de público e crítica no cinema em 2008. 

Durante aquele 12 de fevereiro de 2005, inúmeros acontecimentos intrigaram Carl: o principal deles foi o distanciamento entre os ex-casais. Durante o evento, os quatro sentaram em locais diferentes do teatro e sequer posaram juntos em fotografias. 

A partir daí o jornalista deixou seu lado fã de lado e iniciou a produção da biografia. 

A obra não linear funciona como uma máquina do tempo: viajamos da infância à fase pós-ABBA com facilidade; tudo muito bem conectado, sem pontas soltas. O mérito disso fica por conta da narrativa fluente. 

Com inserções de trechos do artista, o livro não exclui partes polêmicas da curta trajetória do grupo. Exemplo, o período de divórcio de Björn e Agnetha, que causou inúmeros momentos de estranheza nos bastidores. E que rendeu um dos maiores hits do ABBA, 'The Winner Takes It All' ('O Vencedor leva tudo', em livre tradução): 
"Nossa separação era inevitável – éramos egocêntricos e precisávamos ficar separados". 
O ABBA em 2005
A biografia contém poucas fotografias, apenas algumas no meio do livro que ilustram os 10 anos de sucesso da banda. O interessante dele fica por conta das curiosidades, inseridas no meio dos relatos: 
  • o ABBA na verdade era tido como um hobby para os integrantes, que já tinham trabalhos musicais paralelos;
  • a música 'Dancing Queen' é considerada a melhor música pop já lançada (que é a melhor, eu não sei, mas que é ótima e inesquecível, é fato); 
  • o álbum "ABBA Gold" é um dos álbuns mais vendidos do mundo (mais detalhes abaixo). 
O livro pode ser adquirido nas melhores livrarias do país (Nacional, 2014, 462 página, Editora: Best Seller). 

2018? 


Mas os fã do ABBA - dentre os quais eu me incluo - podem comemorar pois, conforme informações da revista Lux ontem (em 29 de outubro de 2016) o grupo vai voltar a reunir-se para uma "nova experiência digital" em 2018, mais de 30 anos após a sua última performance pública em conjunto. 

Os membros da banda, reuniram-se com Simon Fuller, criador do "American Idol" (reality musical) e a Universal Music Group para a colaboração. 
"Estamos explorando um novo mundo tecnológico, com Realidade Virtual e Inteligência Artificial na vanguarda, o que nos permitirá criar novas formas de entretenimento e conteúdo que nunca imaginamos antes", 
disse Fuller em comunicado. 

Sobre o álbum 


A capa original da coletânea
A coletânea "ABBA Gold" lançada em 1992 se tornou oficialmente o álbum mais vendido de todos os tempos na Grã-Bretanha.

A compilação que traz hits como a já mencionada e sempre lembrada 'Dancing Queen' (essa música é presença obrigatória em toda festinha temática referentes às décadas de 1970 e 1980) e 'Mamma Mia', voltou a ultrapassar o recente "21" de Adele que ficou no posto por alguns meses com suas impressionantes 3,5 milhões de cópias. "What's The Story Morning Glory" do Oasis agora está na terceira posição com suas 3,4 milhões de cópias. 

Segunda capa especial, após o sucesso do lançamento original
"ABBA Gold" foi o CD que ajudou a dar credibilidade para os suecos que, conforme anteriormente dito, apesar de terem vendido muito nos anos 70 sempre foi vítima de escárnio da crítica e dos fãs de "música séria".

Puro preconceito musical, tudo porque a música do ABBA sempre foi pop, mas bem pop mesmo. 

O álbum foi fundamental para que esse julgamento mudasse, ainda que isso só tenha acontecido dez anos depois do fim do quarteto. Tanto que depois do sucesso do lançamento original, ganhou uma nova edição com outra capa (dourada) e a inserção de um DVD com os clipes das músicas do disco.

O disco - lançado nos formatos de fita K7, vinil e CD (tive os três) - revelou o talento dos compositores Benny Andersson e Björn Ulvaeus em criar intricadas composições que de simples só tinham a aparência. 

A contracapa da versão original do disco
Desde então o sucesso do grupo só aumentou. O musical "Mamma Mia" se tornou um dos mais lucrativos de todos os tempos, mais e mais bandas e artistas se revelaram (e/ou confessaram) influenciados por eles e até no "Rock 'n' Roll Hall Of Fame" eles entraram - para desespero dos roqueiros mais radicais (aquele tipo que despreza qualquer coisa que não seja o tal "metal pesado"). 

Conclusão 


Agora é só esperar o retorno(?) do ABBA em 2018, apesar de na minha opinião, eu no lugar deles, ficaria quietinho no meu canto apenas desfrutando da dignidade conquistada e colhendo os louros do legado deixado aos fãs e à música. Quanto ao 'ABBA Gold', se você ainda não ouviu e deseja conhecer o som do ABBA, assim como para você que já conhece e curti, fica a minha dica. Vida eterna ao ABBA!

A Deus toda glória. 
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