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segunda-feira, 23 de abril de 2018

ESCRITO NAS ESTRELAS - ESPECIAL: NELSON PEREIRA DOS SANTOS



O mundo da 7ª arte está de luto com o desaparecimento do inigualável cineasta Nelson Pereira dos Santos. Nascido em São Paulo em 1928 é considerado um dos mais importantes e inovadores cineastas do país. Formou-se em Direito e cursou o Institut de Hautes Études Cinématographiques em Paris. No final da década de 1940, passa a frequentar cineclubes e realiza curtas-metragens. Em 1953 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista a partir de 1957. Fez também assistência de direção, montagem, produção e trabalhou como ator.

"Rio, 40 Graus", mais que um filme, um fenômeno


Seu filme de estreia, "Rio, 40 Graus", de 1955, é considerado um marco no movimento de renovação da cinematografia brasileira que receberia a denominação de "Cinema Novo". Desde este momento, a preocupação social se tornaria um tema constante na obra de Nelson Pereira dos Santos. 

"Rio Zona Norte" (1957), seu segundo filme, foi um fracasso de bilheteria, além de ter sido mal recebido pela crítica. Logo depois, produziu em São Paulo "O Grande Momento", com direção de Roberto Santos.

Seu estilo, sua trajetória, seu legado


A trajetória de Nelson Pereira dos Santos se estendeu por vários estilos ao longo de sua carreira, alternando temáticas urbanas e rurais. A experimentação não naturalista foi adotada pelo diretor, que em alguns momentos afastou-se da marca do neo-realismo presente nos seus dois primeiros filmes. 

Dirigiu, no início da década de 1960, o filme "Mandacaru Vermelho", e em 1962 realiza o filme "Boca de Ouro", baseado em peça homônima escrita em 1958 por Nelson Rodrigues. Em 1970 dirigiu "Como Era Gostoso o Meu Francês", baseado nas aventuras de Hans Staden, prisioneiro dos Tupinambás no litoral vicentino do Brasil colonial, em cartas e relatórios dos cronistas da colonização, e em trabalhos de cientistas sociais e historiadores contemporâneos.

Nas décadas de 1970 e 1980, realizou quatro filmes que figuram como reflexões sobre a cultura popular brasileira. "O Amuleto de Ogum", de 1974, enfatiza os ritos da umbanda. "Tenda Dos Milagres" (1975) e "Jubiabá" (1986), adaptações dos livros homônimas de Jorge Amado, são dramas sociais filmados na Bahia que têm como tema a miscigenação, a religiosidade, a moral e a construção da nacionalidade brasileira. E finalmente, "A Estrada da Vida", de 1979, analisa a cultura brasileira pelo universo da música sertaneja.

Merecem destaque nesta trajetória suas duas adaptações da obra de Graciliano Ramos, "Vidas Secas", de 1963, e "Memórias do Cárcere", de 1984. O primeiro aborda a condição social e moral do homem brasileiro pela luta de uma família sem-terra que enfrenta a seca e a opressão sócio-econômica para sobreviver. "Memórias do Cárcere" retrata o famoso escritor injustamente preso pela polícia durante o governo de Getúlio Vargas, sem qualquer processo ou culpa formada.

Continuou a dirigir filmes durante a década de 1990, tendo realizado "A Terceira Margem de Rio" (1993) e "Cinema de Lágrimas" (1995).

Nelson Pereira dos Santos tornou-se professor de Técnica Cinematográfica na Universidade de Brasília a partir de 1965; e anos mais tarde lecionou na Universidade Federal Fluminense, em Niterói. Foi o nono ocupante da Cadeira 7, na Academia Brasileira de Letras, eleito em 9 de março de 2006 na sucessão do Acadêmico Sérgio Corrêa da Costa e recebido pelo Acadêmico Cícero Sandroni em 17 de julho de 2006.

Conclusão


A história de Nelson Pereira dos Santos diz respeito a todos os que amam a vida e a liberdade. Resumir essa trajetória é tarefa difícil, faço aqui apenas alguns destaques:
  • 1 - O cinema de Nelson Pereira dos Santos não teme desafios e tem a sua própria e fascinante história de resistência cultural. Por existirem pensadores como ele é que hoje temos um cinema distinto por seus compromissos com a liberdade de expressão. 
  • 2 - Ao virar o cinema brasileiro de ponta cabeça, ao realizar seu primeiro filme "Rio, 40 Graus" (1955), mostrou a imagem real do brasileiro, pela primeira vez, na tela de forma singela, sensível e digna. 
  • 3 - Revisitou os nossos mais expressivos escritores e formuladores que pensaram o Brasil: Machado de Assis, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda; 
  • 4 – Destaco também o rejuvenescimento e a atualidade da obra de Nelson Pereira dos Santos, obra viva, pois sua relação com o cinema vinha da sua relação com a vida;
  • 5 - Referencio a força e vitalidade desse mestre, sua atividade e atitude artística, confrontando o imobilismo de forma inspirada, delicadas, livre, utópica, inconformista e feliz na criação de situações artísticas comprometidas com o humano.
Nelson morreu no último sábado (21), aos 89 anos. O cineasta e fundador do Cinema Novo estava internado desde a quarta-feira, dia 12, com uma pneumonia, no hospital Samaritano. Na internação foi constatado um tumor no fígado, já em estágio avançado, que causou a morte do diretor por falência múltipla de órgãos. Com certeza uma inestimável perda para a arte e cultura nacional, que nos deixa um valioso legado e que terá para eternidade seu nome Escrito nas Estrelas.

[Fonte: FDV - CPDOCN, Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001; GGN por Marise Berta]

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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