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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

A IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA NO CONTEXTO CRISTÃO

"Não os esconderemos dos nossos filhos; contaremos à próxima geração os louváveis feitos do Senhor, o seu poder e as maravilhas que fez" (Salmo 78:4).
No Antigo Testamento, há um lugar especial para livros históricos como Josué, Juízes, Rute, Jó, Samuel, Reis, Crônicas, Esdras, Neemias e Ester. Isso para não dizer que toda a Bíblia é um registro historicamente preciso, mesmo quando falamos de livros proféticos ou poéticos.

No Novo Testamento temos o livro de Atos, quase totalmente dedicado à história da Igreja Primitiva. Temos também os Evangelhos que nos contam a história de Jesus e se olharmos cuidadosamente para as epístolas, veremos que estão cheias de história.

Mas a história da Igreja não termina ali. Como diz o Salmo 78, quando olhamos para a nossa história com Deus, vemos que ela é também a história dos feitos do Senhor, do seu poder e das maravilhas que fez.

Sobre o Salmo 78


O longo Salmo 78, da autoria de Asafe, relembra as maravilhas (vv. 4, 12) realizadas pelo Deus que opera maravilhas (Salmo 77:14) para Seu povo, o qual é chamado a inclinar os ouvidos, ou seja, a prestar atenção ao ensino deste salmo. 

Como cristãos, sabemos que a história de Israel foi escrita para "advertência nossa" (1 Coríntios 10:11); é como se fosse uma grande parábola, com a diferença de relatar fatos. 

Por fim, os versículos 4 e 6 nos mostram que a lembrança das maravilhas passadas se dirige particularmente à nova geração, a fim de que 
"pusessem em Deus a sua confiança, e não se esquecessem dos feitos de Deus, mas lhe observassem os mandamentos" (v. 7). 
É isso o que Ele espera de nós! Peçamos ao Senhor que jamais sejamos como Israel no deserto, 
"geração obstinada e rebelde, geração de coração inconstante, e cujo espírito não foi fiel a Deus" (v. 8; Ezequiel 20:18). 

 

Por que não devemos ignorar a história?


A pergunta que queremos responder aqui é: será que o cristão pode ser edificado e ajudado ao estudar e aprender sobre a história da Igreja?

A igreja invisível


Em 1969, Martin Lloyd-Jones (☆1899/✞1981) pregou uma mensagem no encerramento da conferência puritana com o título "Podemos aprender da história?". Suas primeiras palavras foram:
"Talvez não exista nada que tenha denegrido tanto a glória de Deus como a história do Seu povo na Igreja. Por isso vou tratar deste assunto sobre aprender da história. O famoso dito de Hegel faz-nos lembrar que 'O que aprendemos da história é que não aprendemos nada da história'. 
Ora, no que se refere ao mundo secular, essa é uma verdade plena e indubitável. A história da raça humana mostra isso claramente. A humanidade, em sua loucura e estupidez, sempre repete os mesmo erros. Não aprende, e se nega a aprender.

Mas não aceito isso como sendo próprio do cristão. O meu ponto de vista é de que o cristão deve aprender da história, e que, por ser cristão, é seu dever fazer isso e deve animar-se em fazê-lo.

Quando olhamos para a história da Igreja, percebemos que ela está repleta de defeitos. Levou-se séculos para que a Igreja pudesse compreender doutrinas fundamentais e tão importantes. Tantos erros cometidos em nome da verdade, tudo parece estar tão longe da perfeição.

Esse é o aspecto terreno da Igreja. Quando Jesus contou a parábola do joio e do trigo em Mateus 13:24-46, aprendemos que 'o campo é o mundo' e que existe uma Igreja que foi plantada no mundo. Para quem olhar de fora, a Igreja é composta de joio e de trigo e tudo parece misturado. Se olharmos na história, veremos que o joio sempre estará lá. É isso que Agostinho chamou de 'igreja visível', a igreja estruturada que pode ser vista do lado de fora.

Mas quando olhamos para Mateus 13, vemos que o coração do Senhor daquele campo estava no trigo. Existe uma igreja invisível. Você pode não conseguir contar os seus membros, nem colocar uma placa, mas ela está lá. Essa é uma igreja “escondida em Deus”, ou seja, só Deus conhece exatamente quem são essas pessoas.

Mas qual é o critério de Deus? Como podemos ver essa Igreja invisível? O critério de Deus é a vida de Cristo. Quando Deus abriu os céus para dizer que Cristo era o seu Filho amado, em quem ele tinha todo o seu prazer, é como se Deus pudesse olhar para toda a terra e ver apenas o Seu Filho aqui. Da mesma forma, ainda hoje, Deus ainda vê apenas o Seu Filho.

Se quisermos ver a igreja invisível, conhecer a verdadeira história do povo de Deus, precisamos procurar pelo que Ele procura: a vida de Cristo. Jesus disse que o Pai procura ”adoradores que o adorem em Espírito e em verdade”. O Pai não procura adoração, Ele procura adoradores. Deus procura pessoas onde a vida de Cristo seja visível.

Se esse for o nosso critério, a história da Igreja será riquíssima para nós. Veremos a Boa Parte em meio aos problemas do passado e poderemos ser enriquecidos e edificados."

A história e a adoração


No Salmo 136, temos uma declaração:
"Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom, porque sua misericórdia dura para sempre."
Quando dizemos que algo "dura para sempre", é porque podemos olhar na história e verificar essa informação. É justamente esse o argumento do salmista. Olhem para a história, vejam que a misericódia do Senhor não tem fim. Qual o resultado desse exercício? Adoração. Rendei graças ao Senhor.

Assim, desde a criação, Deus é apresentado como misericordioso.

Aquele que com entendimento fez os céus, estendeu a terra sobre as águas, fez o sol e lua, criou a noite e o dia. Esse é Deus na criação.

Também vemos Deus na redenção de Israel. Aquele que feriu o Egito e tirou Israel do meio deles com mão poderosa e braço estendido. Abriu o Mar Vermelho e fez Israel passar. Conduziu seu povo pelo deserto, feriu grandes reis, deu herança a Israel.

Á medida que o salmo caminha para o fim, o próprio salmista se inclui: Deus se lembrou de nós em nosso abatimento, nos libertou dos adversários e nos dá o alimento.

Qual a finalidade da meditação do salmista? Incentivar adoradores: 
"Tributai louvores ao Deus dos céus"
Este é o último versículo.

Esta deve ser a mesma finalidade do estudo da história hoje. Que ao encontrarmos a vida de Cristo na história, sendo expressada pela Igreja, possamos adorar a Deus pela sua fidelidade e misericódia através dos séculos. Possamos ver que o mesmo Deus que plantou a Igreja no início com poder e grandes maravilhas, continua fiel e poderoso ainda hoje.

Conclusão


Portanto, creio que sim, podemos aprender com a história. Devemos aprender com a história. Aprender sobre Deus, sobre sua obra, seu caráter e fidelidade. Até o dia em que os séculos sejam consumados e o tempo não seja mais necessário. 

Até que chegue esse Dia, nós não os esconderemos dos nossos filhos e contaremos à próxima geração os louváveis feitos do Senhor, o seu poder e as maravilhas que fez, porque sua misericórdia dura para sempre.

Aproveitemos para nos beneficiar com as experiências passadas — "o que ouvimos e aprendemos", sempre tendo em mente que somos elos entre o passado e o futuro: 
"não o encobriremos a seus filhos; contaremos à vindoura geração" (Sl 78:3,4).
[Fonte: Examinando as Escrituras, por Filipe Merker]

A Deus toda glória.

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E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. Não confuda avanço na vacinação e flexibilização com o fim da pandemia

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

DIRETO AO PONTO — CONCORDE, OU CALE-SE PARA SEMPRE!

"Se a liberdade significa alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir" (George Orwell, ☆1903/✞1950).
Tempos tristes que vivemos, quando falar a verdade incomoda tanto. As bolas da vez são alguns daqueles que, por dizerem o óbvio publicamente, são alvos dos que gostam de manipular a população para que aceite seu jeito deturpado de viver e proceder. 

A discussão sobre o conflito entre o chamado e/ou considerado "politicamente correto" e a liberdade de expressão, se faz necessário, principalmente com o advento da internet e suas mídias/redes sociais/digitais, universo online, onde todos evocam para si o direito de falar o querem, de impor o que defendem, mas nem sempre estão dispostos a ouvir o que não querem e/ou o que não concordam.

É o politicamente correto em ação, querendo destruir a sociedade em suas bases e calar quem é contra tal destruição. Hoje em dia, quantos precisam ficar calados por medo de serem censurados, proibidos, cancelados e quaisquer outros termos?

É óbvio que deve existir respeito em qualquer esfere e em relação a qualquer assunto, mas ser livre para dizer o que se quer compreende estar ciente de que haverá concordâncias, discordâncias e debate.

Uma tentativa recente de calar o óbvio aconteceu recentemente na América do Norte. No Canadá, no dia 8 de janeiro, entrou em vigor a lei C-4, que determina, entre outras coisas, que
"fornecer, promover ou fazer propaganda de terapia de conversão"
é crime. Entenda-se como "terapia de conversão" quando alguém ou alguma instituição oferece recursos para que alguém que segue determinada orientação sexual incomum tente deixar de segui-la, se for sua vontade. 

Cerca de 4 mil pastores em toda a América do Norte se reuniram para protestar contra a C-4 e a possibilidade de sua má interpretação, que pode resultar em proibir ensinamentos bíblicos sobre ética secuao ou que se fale nesse sentido abertamente.

A polêmica já começou quando um desses pastores, John MacArtur, da Grace Community Church, em Los Angeles, na Califórnia, nos Estados Unidos, manifestou sua preocupação de que a lei canadense ganhe simpatizantes no país vizinho, o seu. No púlpito, em um culto dominical veiculado no YouTube, MacArthur disse que
"não existe trangênero. Você é XX ou XY. É isso. Deus fez o ser humano como homem ou mulher. Isso é determinado geneticamente, é fisiologia, é ciência, é a realidade".
O YouTube tirou o vídeo do ar, um ato de censura, e justificou que ele viola seu regulamento sobre "discursos de ódio". 

MacArthur se manifestou em outras mídias e declarou que repressões como essa provavelmente aumentarão, principalmente quando cristãos se recusarem a ceder, e que o que há no Canadá chegue rápido aos Estados Unidos.
"Em última análise, os dissidentes, aqueles que não cedrão serão aqueles fiéis à Bíblia. E é isso que já está levando a leis contra a prática do que somos ordenados a fazer nas Escrituras que é enfrentar esse pecado. E isso só vai aumentar",
disse o pastor.

Pelo direito de discordar


A conhecida e icônica frase do pensador francês Voltarie (☆1694/✞1778)
"eu discordo do que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lo"
talvez seja a melhor definição para a liberdade de expressão. 

Afinal, é muito fácil reconhecer a liberdade de expressão às ideias que concordamos; muito mais difícil é aceitar a manifestação de ideias que desgostamos. 

O que se tem visto no Brasil nos últimos tempos, no entanto, é uma crescente vontade de reprimir formas de expressão que sejam consideradas desrespeitosas e preconceituosas. A iniciativa, embora tenha como pano de fundo uma intenção nobre, tem gerado situações desproporcionais, limitando o direito à livre expressão e violando a Constituição Federal.

O que nos diz a Constituição?


Lembrando que o direito à liberdade de expressão não é um direito absoluto, a própria Constituição Federal veda o anonimato. E ainda, ele pode estar sujeito a restrições, conforme previsto na Convenção Americana de Direitos Humanos.

A Convenção prevê ainda a possibilidade de estabelecer restrições à liberdade de expressão, que se manifestam através da aplicação de responsabilidade adicional pelo exercício abusivo deste direito, que não deve de modo algum limitar, para além do estritamente necessário, a plena liberdade de expressão e tornar-se um mecanismo direto ou indireto de censura prévia.

Para determinar outras responsabilidades, é necessário cumprir três requisitos, a saber:
  • 1) devem ser expressamente estabelecidas pela lei; 
  • 2) devem ser concebidas para proteger os direitos ou a reputação de terceiros, ou a proteção da segurança nacional, a ordem pública ou a saúde ou moral pública; e 
  • 3) devem ser necessárias em uma sociedade democrática. 
Liberdade de Pensamento e de Expressão: 
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e idéias de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha. 
2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito à censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente fixadas pela lei a ser necessária para assegurar: 
a) o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou 
b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral pública.
3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel de imprensa, de frequências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de idéias e opiniões

4. A lei pode submeter os espetáculos públicos à censura prévia, com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2º.

5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitação à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência.

A proteção à liberdade de expressão não é benéfica apenas a quem expressa determinada ideia, mas a toda coletividade, na medida em que ela promove o conhecimento e novas descobertas científicas, bem como a crítica política, e educa a população para tolerância com o diferente. 

A livre expressão do pensamento é uma liberdade positiva, visto que não se trata de algo permitido por mera ausência de proibição legal, mas sim proveniente de expressa permissão constitucional, sendo inclusive vedado ao Estado restringi-la. 

Por conta disso, é positivada na Constituição Federal como um direito fundamental. Embora não seja um direito em todo absoluto, visto que no direito positivo não existem direitos irrestritos, a livre manifestação do pensamento é um direito que só pode ser limitado pela própria Constituição, sendo este o seu âmbito de proteção. 

Deste modo, na realidade, não há conflitos entre a liberdade de expressão e outros direitos fundamentais, apenas conflitos aparentes, pois na medida em que um ato comunicativo viola outro direito fundamental, este ato não é protegido pelo direito à livre expressão. 


Eis o paradoxo: o conceito de "politicamente correto", veio justamente da tão por ele combatida doutrina religiosa


Este é um movimento que já se modificou bastante ao longo do tempo, visto que houve um tempo em que o que era considerado politicamente correto era o que estava de acordo com a doutrina religiosa. 

O próprio termo "politicamente correto" é equivocado, por partir de uma premissa falsa: a de que tudo é político. Essa ideia tem sido utilizada justamente para limitar o livre-arbítrio das pessoas, por meio de razões políticas, embora o que esteja sendo limitado não seja necessariamente de conteúdo político. 

De todo modo, o que se entende atualmente por politicamente correto atualmente é um movimento que visa extirpar preconceitos e promover justiça social, por meio da neutralização da linguagem e da restrição a expressões linguísticas desrespeitosas e discriminatórias. 

Este movimento, todavia, tem influenciado na atividade estatal de maneira desproporcional, como, por exemplo, com a recomendação do Conselho Nacional de Educação de que o livro "As Caçadas de Pedrinho" (Globinho, 159 páginas, 1933), de Monteiro Lobato (1882/1948), não fosse utilizado nas escolas por ter conteúdo supostamente racista. 

A interferência do politicamente correto tem se mostrado especialmente perigosa no poder judiciário, com o crescente ativismo judicial. O exemplo mais emblemático envolvendo a liberdade de expressão é o caso do escritor Siegfried Ellwanger, condenado pela prática de racismo por escrever um livro que questionava a veracidade do holocausto, mas que em nenhum momento incita o ódio a qualquer raça que seja. 

A interferência do politicamente correto na liberdade de expressão é na realidade uma violação do princípio constitucional da igualdade, vez que gera situações em que o Estado autoriza ou veda a manifestação de uma opinião em razão de seu conteúdo. 

Percebe-se que o politicamente correto não é uma questão de direito, mas uma questão de gosto pessoal. E a repressão de uma determinada opinião por mero desgosto configura censura por razões ideológicas, algo contrário ao próprio conceito de democracia e vedado pela Constituição Federal. 

A proteção à liberdade de expressão deve se estender até mesmo às opiniões que possam ser consideradas repulsivas pela maioria, ao passo que o discurso que incita o ódio e a violação de direitos deve ser punido pelo Estado. 

Por fim, ressalta-se que o politicamente correto é ineficaz no fim que se propõe, pois impedir a expressão de um determinado pensamento não extingue esse pensamento. O que extingue uma ideia não é o silêncio, mas justamenta a sua exposição, pois permite que seja desconstruída por meio da contraposição com outras ideias.

Conclusão


Como vimos, os debates sobre o politicamente correto remetem a discussões sobre as fronteiras da liberdade de expressão hoje. De um lado, estão os que apostam nessa tendência, entendida enquanto resultado da organização de minorias, como fenômeno que combate a discriminação a grupos marginalizados, atuando sobretudo no plano da linguagem. 

Do outro lado do debate, estão os que acreditam que o politicamente correto implica em formas de restrição da liberdade de expressão. Esse argumento passa pela ideia de que o politicamente correto tudo "vigia", consistindo em uma forma atualizada e internalizada de censura. 

Essas diferentes posições presentes no debate sobre o politicamente correto no Brasil convergem no ponto exato em que, em todos os casos, o que vemos é a defesa e colisão de direitos democráticos fundamentais. Nesse quadro, parece-nos claro que estamos diante de uma rearticulação dos saberes sobre a liberdade de expressão, com o reposicionamento de suas fronteiras no Brasil contemporâneo. 

É importante notar, pois, que as tensões entre o politicamente correto e os valores democráticos em nossa sociedade devem ser consideradas à luz dessas novas configurações dos discursos sobre a liberdade de expressão. A ordem que emerge nessas fronteiras entre discursos e valores diz respeito às regras que selecionam e organizam a produção discursiva. Nessa ordem do discurso politicamente correto, configuram-se rituais da palavra: a distribuição do 48 direito de dizer dentro de determinados campos discursivos. 

De fato, em plataformas consideradas como "exemplares" do uso da linguagem, como o dicionário (vide o caso Houaiss), o registro da existência de preconceitos que circulam na sociedade configura verdadeira palavra proibida. 

Ao final deste percurso, como pano de fundo das reflexões esboçadas, encontramos, como inquietação principal, a preocupação em refletir sobre a liberdade de expressão na atualidade, sobretudo no que diz respeito às suas áreas limítrofes e fronteiriças, onde se estabelecem choques entre diferentes discursos que circulam em nossa cultura, considerando a complexidade que a comunicação e as mídias adquirem na contemporaneidade. 

Trata-se de reafirmar a importância do princípio de liberdade, sem deixar de avaliar os limites que se colocam à expressão de ideias em nossa sociedade em face de outras demandas igualmente democráticas, como as relacionadas à proteção da honra e da imagem e ao combate à discriminação.

[Fonte: Repositório Intitucional UFSC, por Bruno de Oliveira Carreirão; ABPEducom, por Nara Lya Simões Caetano Cabral]

A Deus toda glória.
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O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
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terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

ENTENDENDO O CONCEITO/CONTEXTO BÍBLICO DE METANOIA

  • Este artigo foi escrito em atendimento ao pedido de um leitor/seguidor do blog que pediu para não ser identificado.
"E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2 Coríntios 5:17).
Muito ouvimos ser falado e pregado sobre o metatonia. Mas, será que todos os que falam e/ou citam o termo em suas ministrações, sermões e pregações, sabem realmente o significado dela sob a perspectiva bíblica?

No texto desse artigo, não há nenhum propósito de fazer interlecuções acerca de imbróglios teológicos, mas, sim, de forma bem simples, para que todos possam entender, analisar qual o conceito bíblico acerca desse tema tão importante e fundamental à nossa Fé.

Entendendo o conceito


Metanoia é uma transliteração da palavra grega μετάνοια. Foi traduzida muitas vezes na Bíblia como arrependimento, embora o significado de metanoia seja mais abrangente do que o significado secular da palavra arrependimento. 

Enquanto a expressão em português "arrepender-se" está muito mais ligado à reação emocional por se ter cometido um erro, a expressão "metanoia" representa uma mudança na forma de pensar e consequentemente na forma de agir. Ou seja, metanoia expressa uma transformação de atitude causada pela mudança em nossa forma de pensar.

O teólogo escolar J. Glentworth Butler (☆1821/✞1916) fez a seguinte declaração à respeito da tradução nas escrituras da palavra metanoia como arrependimento:
"Arrependimento indica tristeza por algo que que alguém fez ou deixou de fazer, especialmente, contrição por causa do pecado. Arrepender primariamente significa 'rever a ação de alguém e sentir-se contrito ou arrependido por algo que fizemos ou deixamos de fazer'. 
Traduzir metanoia como arrependimento constitui um erro que os tradutores justificam pelo fato de não existir uma palavra em Inglês que possa ter o mesmo significado de palavras em Grego." 
A mesma justificativa acontece para a tradução da Bíblia em Português. Não há uma única palavra para traduzir o significado amplo de metanoia.

Entendendo a dimensão bíblica do significado da metanoia


Um significado mais abrangente torna-se necessário para entendimento da verdadeira dimensão bíblica do processo de metanoia. Seu conceito envolve o arrependimento, mas vai além disso. Mais que tristeza, pesar, ou até mesmo uma mudança comportamental, metanoia sugere um novo estilo de vida baseado na mudança do pensamento.

Metanoia não significa simplesmente mudar o comportamento de uma pessoa, seja isso conseguido através de regras impostas, pressão da sociedade, igreja ou família. Embora todas essas fontes de influência possam fazer parte de um processo de transformação, metanoia sugere que essa transformação seja a consequência de uma mudança mais profunda que somente o comportamento.

Metanoia é mais do que tentar transformar alguém através de sistemas de punições e recompensas. O conceito de metanoia expressa uma transformação do homem de dentro para fora, ou seja, uma mudança que acontece na mente e consequentemente muda atitudes e ações. Essa é a transformação que o evangelho de Jesus veio trazer ao homem.

Ao longa dos registros bíblicos, muitos foram os que pregaram sobre a importância do processo da metanoia. Vamos aqui nos ater aos registros específicos no Novo Testamente, mas, a essência do conceito, permeia toda a Bíblia, sendo, portanto, atemporal.

João Batista Prega Metanoia


Em Marcos 1:4-5 nós lemos sobre o batismo que João Batista pregava e realizava:
"...apareceu João Batista no deserto, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados.5Saíam a ter com ele toda a província da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém; e confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão".
João veio preparar o caminho para Jesus, endireitando as veredas em que o povo andava. Como ele buscou fazer isso? Através da mudança de mentalidade. Seu discurso e suas práticas incomuns apontavam para uma nova realidade espiritual. Não haveria forma de preparar o caminho do Senhor sem que houvesse uma ruptura com a forma de pensar do sistema religioso corrompido pelo homem. 

O profeta indicava agora a necessidade de que cada pessoa se decidisse pela mudança. Vemos no texto que João Batista pregava o batismo de arrependimento para remissão de pecados, e a expressão "arrependimento" é exatamente a palavra grega "μετάνοια" (metanoia) significando a mudança da mente. Daí entendemos a importância de metanoia em nossa conversão.

Jesus Prega Metanoia


Jesus também pregou sobre metanoia. Em Mateus 4:17 lemos sobre a primeira pregação de Jesus quando Ele sai do deserto, onde foi tentado por Satanás. Após ter vencido a tentação, Jesus volta para a Galileia e começa sua pregação contundente ordenando que houvesse arrependimento porque o Reino de Deus estava próximo. Mais uma vez a palavra usada em lugar de arrependimento foi metanoia.
"Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos (metanoia), porque está próximo o reino dos céus".
Jesus está interessado em que nossas vidas sejam transformadas porque a vida eterna é mais do que escapar do inferno. Jesus veio para reconciliar-nos com Deus afim de que possamos ter com Ele um relacionamento entre Pai e filho (Mt 6:9; Romanos 5:1). 
  • Ele disse que veio nos dar vida, e vida em abundância (João 10:10); 
  • Uma vida que flui de nosso interior porque ele habita em nós (1 Co 3:16); 
  • Uma vida que flui como rios de água viva vindos do nosso interior, por causa da fé que temos no Filho de Deus (Jo 4:14); 
  • Uma vida que é baseada em princípios tão poderosos que profundamente transformam nosso pensar, e daí mudam nosso ser e nosso estilo de viver (Romanos 12:2).
Jesus estabelece o conceito dessa mudança de mentalidade muito além da proibição de certos atos de conduta. Obviamente metanoia também significa o abandono das práticas carnais (pecados) que nos afastam de Deus. 

No entanto, metanoia não busca sua força na "retidão" humana, na capacidade do homem em fazer o que é certo, ou no merecimento de alguns que conseguem evitar "a aparência do mal". 

Metanoia surge da ação de Deus na vida de uma pessoa. É um chamado à conversão, o chamado para sua total rendição e comprometimento com a vontade de Deus. É a transformação que acontece porque, entre outros:
  • A percepção pessoal do amor de Deus por você torna-se inquestionável;
  • Estar separado de Deus significa para você estar morto;
  • Estar ligado a Deus significa para você a única vida verdadeira;
  • O propósito para a sua vida é descoberto;
  • Você entende que os planos Dele são melhores do que os seus;
  • Você tem convicção que a vontade Dele é boa, agradável e perfeita;
  • Sua prioridade é agradá-lO;
  • Seu entendimento sobre os valores éticos e morais são corrigidos;
  • Seu foco e suas prioridades deixam de ser centrados em desejos egoístas, passando para aquilo que está no coração de Deus.

Pedro Prega Metanoia


A transformação da mentalidade é necessária no processo de conversão para que esta seja genuína. Ao ser questionado a respeito do que fazer após ouvir a mensagem do evangelho, o apóstolo Pedro é enfático ao responder: 
"Arrependam-se, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo" (Atos 2:38-40).
A consequência dessa mudança de mentalidade é a conversão genuína em nossa vida. O batismo vem na sequência como um marco da decisão de entregar a vida a Deus. É a expressão simbólica da decisão de morrer para o mundo e viver para nosso Eterno Pai.

O significado dessa experiência é tão profundo que, se não houver o processo de mudança da mentalidade, jamais entenderemos o que é nascer de novo. Foi isso que impactou Nicodemos ao ouvir Jesus dizer: 
"...É necessário nascer de novo..." (Jo 3:3-16). 
Nicodemos ficou perplexo com aquela declaração. 
"Como isso é possível?" 
Então, Jesus começa a dizer sobre a necessidade dessa mudança de pensamento. Essa não é uma questão de informação ou sabedoria humana. Mesmo sendo um mestre em Israel, Nicodemos não conseguiu compreender o novo nascimento de imediato. Misericordioso, Jesus não o dispensou por isso. 

O evangelho de João declara que Nicodemos participou do enterro de Jesus juntamente com José de Arimatéia. Embora não tenhamos um relato bíblico claro, creio que Nicodemos tenha se tornado um discípulo. Essa é uma obra do Espírito Santo.

Não é incomum vermos pessoas que são criadas em um lar Cristão, acostumadas a frequentar a igreja e até com certo conhecimento bíblico, mas que ainda não experimentaram a metanoia de Deus. 

Eles mantêm um estereótipo de Cristãos, mas o fazem pela pressão da igreja e da família. Muitos deles se distanciam dessas práticas na primeira oportunidade de liberação dos pais. Sem que haja uma experiência pessoal com a verdade de Deus, não haverá poder para viver os Seus princípios. Precisamos buscar essa experiência.

Paulo Prega Metanoia


Em Atos 17 o apóstolo Paulo prega sobre a necessidade de sermos transformados a partir da mudança de nossa mentalidade. Ele declara que Deus está notificando os homens em toda a parte para que se arrependam e se convertam. Todos nós somos notificados de que Deus requer o processo de transformação na mente e, a partir dela, nas atitudes.
"Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam (metanoia);31porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos" (17:30,31).
Aos irmãos em Roma, Paulo diz que não se deve conformar com este século, mas transformar-se pela renovação da mente. Assim vamos experimentar a vontade de Deus que é boa, agradável e perfeita (Rm 12:1,2). Logo, em linha com o ensinamento apóstolico paulino, entendemos que, metanoia é o processo pelo qual nossas atitudes passam a alinhar-se com a vontade de Deus. Através dessa renovação em nossa mente:
  • Passamos a submeter nossa vontade à vontade dEle;
  • Passamos a lutar para que a carne se submeta ao Espírito;
  • Passamos a desejar a santidade e a consagração;
  • Entendemos que Seus planos são maiores do que os nossos;
  • Entendemos que Seus caminhos são melhores;
  • Percebemos nossa necessidade de nos alimentar de Sua palavra;
  • Percebemos nossa necessidade de nos alimentar em Sua presença.
É importante também ressaltar que Deus é o agente dessa transformação em nós, apesar desse processo requerer nosso posicionamento em direção ao Seu chamado. 

O Dicionário Teológico do Novo Testamento declara sobre o processo de metanoia:
"Mas essa incondicional exigência não é alcançada pelo esforço exclusivo do homem. Em Mateus 18:3 Jesus mostra através do exemplo da criança o que 'converter', 'tornar-se um novo homem' significa para Ele: 
Ser uma criança significa ser pequeno, precisar de ajuda, e ser receptivo a isso. Aquele que se converte torna-se pequeno diante de Deus, pronto para deixar Deus trabalhar em seu interior. 
As crianças do Pai Celeste as quais Jesus proclama são aquelas que simplesmente recebem Dele. Ele dá a elas o que elas não podem dar a si mesmas (Marcos 10:27). 
Essa é a verdade sobre metanoia. Isso é um presente de Deus, embora não deixe de requerer um posicionamento do homem".
E ainda:
"Atrás do chamado para conversão, o qual Jesus estabelece através de seu anúncio do governo de Deus, está a promessa de transformação, a qual ele realiza como o Único capaz trazer esse governo em nós… 
Isso desperta uma obediência com alegria para uma vida de acordo com a vontade de Deus. Isso acontece porque 'metanoia' deixa de ser a lei, conforme o era no Judaísmo, para tornar-se o Evangelho".
Sobre o evangelho, Paulo ainda declara que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1:16). O mesmo evangelho que anuncia a vida eterna disponível a todos, mediante a fé, conforme Jo 3:16.


Pessoas que Experimentaram Metanoia

  • Isaías


No capítulo 6 do livro de Isaias lemos sobre a visão que ele teve do trono de Deus. Serafins voavam ao redor do trono declarando 
"Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos, toda a terra está cheia da sua glória"
Então, as bases do limiar se moveram, e a casa se encheu de fumaça. Ao ver tanto esplendor e santidade, Isaias temeu por sua própria vida. Nesse momento ele não se preocupou com o povo ou com sua missão como profeta. 

O temor invadiu seu coração porque Isaías estava consciente de sua situação como pecador, e diante disso ele declarou, 
"...Ai de mim que vou perecendo…"
Isaías teve uma visão correta de sua situação. Ele era realmente pecador e não poderia estar diante de Deus. Qual foi então a mudança de mentalidade que ele experimentou? 

Apesar de ver a sua situação corretamente, Isaías não cogitou que Deus poderia restaurá-lo, e isso precisava mudar. Então, um anjo veio até ele e tocou os seus lábios com uma brasa viva dizendo, 
"A tua iniquidade foi tirada e perdoado o teu pecado."
 
Nesse momento Isaías percebe que a vontade de Deus é restaurá-lo, e não o destruí-lo.

Outra mudança ocorre na mentalidade de Isaías quando Deus estabelece um diálogo com ele, questionando, 
"A quem enviarei e que há de ir por nós?" 
Isaías então percebe que Deus tem um propósito para a sua vida, e isso transforma totalmente sua perspectiva. Imediatamente Isaías responde, 
"Eis-me aqui, Senhor. Envia-me a mim."

Da mesma maneira precisamos ter nossa mente transformada pelo Espírito de Deus. Porque o pecado atingiu nossas vidas, não significa que Deus irá destruir-nos. 

Se chegarmos até ele humilhados e arrependidos, permitindo que Ele nos purifique e limpe de todo o pecado, teremos nossa iniquidade retirada e nosso pecado perdoado. Em 1 João 1:9 lemos: 
"Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça."
Ao permitirmos que Ele nos purifique, sua renovação em nossa mente continuará. O processo de metanoia não é estático, mas dinâmico e constante, como afirma o apóstolo Paulo aos irmãos em Roma (Rm 12:2). Estamos em constante renovação da nossa mente e em transformação de nossa vida para melhor agradar ao Senhor.

Deus, então, revela-nos o propósito de nossas vidas e renova Seu chamado para servi-lO. Sem essa revelação não descobrimos para que vivemos e sem a Sua renovação em nosso chamado, podemos esfriar e esquecer o nosso propósito. 

Por isso precisamos ouvi-lO: 
"A quem enviarei e quem há de ir por nós?"
Perguntando como se precisasse de nós, Deus simplesmente transmite profundamente ao nosso ser um senso de utilidade, de valor e de ser necessário em Seu Reino. Ele não precisa, mas faz a questão de valorizar-nos. Não depende, mas insiste em chamar-nos.

Assim como um pai que pede ajuda ao seu filho de cinco anos para carregar um objeto, o qual ele poderia carregar sozinho, permite ao filho sentir-se útil e valorizado, Deus convida-nos a fazer algo para Ele em Seu reino. 

Nossa responsabilidade é, na verdade, uma oportunidade de trabalharmos ao Seu lado, sentindo-nos úteis e valorizados pelo Seu chamado. Isso transmite confiança e reafirma nosso propósito de vida.

Provavelmente você seja uma das pessoas que pode testemunhar a respeito do poder transformador do evangelho. Também é provável que você conheça outras pessoas com fortes testemunhos de transformação. Não há como negar quando Deus age na vida de alguém. Aqueles que vivem ao redor dessas pessoas verão a diferença.

A Bíblia relata várias histórias de homens e mulheres que experimentaram grandes transformações através do poder de Deus. Creio que um dos motivos dessas estórias terem sido registradas foi trazer a mim e a você inspiração e fé, esperança e força para buscarmos também experimentar Sua presença e Seu poder.

  • Maria Madalena


Essa foi a primeira pessoa a ver Jesus ressurreto, como podemos ver em João 20:11-18. Maria Madalena esteve presente no ministério de Jesus e, mesmo quando Seus discípulos desertaram, ela o acompanhou. 

Quando Jesus esteve diante de Pilatos, quando ele foi maltratado pela multidão, quando foi crucificado, quando Nele foi enfiada a lança, quando foi declarada a Sua morte, e quando Ele foi levado ao tumulo, Maria Madalena estava lá. E porque não se separou de Jesus, foi a primeira a testemunhar sua ressurreição.

Olhando sua estória a partir das cenas finais pode parecer que Maria Madalena sempre foi uma mulher corajosa, segura de si, emocionalmente estável e espiritualmente saudável. Contudo, isso não é verdade. O evangelho de Lucas, no capítulo 8, declara que Jesus a libertou de sete demônios.

Se o número sete fosse considerado como quantidade, alguém poderia ficar surpreso de uma pessoa tendo sido possuída por tantos demônios poder tornar-se um discípulo de Jesus. No entanto a situação de Madalena era ainda pior. O número sete é usado muitas vezes na Bíblia para expressar completude, ou seja, ela era completamente possuída por demônios.

É de se imaginar que uma mulher possuída por espíritos malignos se sinta humilhada, insegura, impura e indigna. Provavelmente era assim que ela se sentia. Não tendo controle sobre sua sobriedade e crises de possessão, uma pessoa assim deve sentir-se bastante insegura, evitando situações que possam expor sua condição escrava ao mau. Diante de situações adversas também é provável que essa pessoa espere que o pior lhe aconteça porque sua confiança é abalada pela presença de forças malignas em sua vida.

Contudo, Maria Madalena encontrou-se com Jesus e esse encontro mudou para sempre sua vida. Jesus a libertou do mau que a dominava, tornando-a uma mulher livre. Por isso, ela se encheu de gratidão e devotou sua vida ao seu Libertador. 

Seguindo seu Mestre, Madalena foi curada de muitas outras enfermidades em sua alma e também recebeu o maravilhoso propósito de sua vida, que era servir ao ministério do Filho de Deus. Ela agora sentia-se livre e amada, cheia de vida e gratidão. Restava-lhe dedicar toda sua vida àquele que a tornou uma mulher abençoada.

Sua mente foi renovada e sua vida transformada. Seus valores foram trocados e suas prioridades postas de cabeça para cima, porque até então estavam de cabeça para baixo. Maria Madalena encontrou seu destino e seu propósito de vida em Jesus. Isso lhe trouxe verdadeira vida.

  • Paulo


No capítulo sete de Atos encontramos um jovem Fariseu, bem treinado em religião, com boa formação intelectual e cheio de justiça própria. Um perseguidor de pessoas as quais ele prendia e até mandava matar em nome de sua religião. 

Um homem conhecido entre os cristãos pelas atrocidades que fazia e que era temido por sua falta de compaixão. Paulo, até então Saulo, era um religioso radical, como em Atos 8:3 e 9:1,2 declaram.

No entanto, bastou Jesus revelar-se a Paulo e confrontá-lo, que ele se rendeu totalmente à vontade do Salvador. Paulo, que era cheio de justiça própria e espirito de religiosidade, foi quebrantado e passou a buscar relacionamento com Deus, ao invés de basear-se no sistema religioso. 

Aquele que respirava ameaças contra os discípulos, passou a ser um apóstolo de Jesus Cristo. O homem que perseguia os Cristãos, entrando em suas casas, arrastando homens e mulheres para serem presos, agora levantava ofertas para abençoar aqueles que estavam em necessidade.

O que aconteceu com Paulo? Sua mente foi mudada, seus valores trocados, sua identidade santificada, e seu propósito redefinido conforme a vontade de Deus. Paulo experimentou a metanoia de Deus.

  • A Mulher Flagrada em Adultério


Flagrada em um ato de adultério, essa mulher não tem seu nome revelado. Em João 8:1-11 temos sua estória contada. Sabemos que ela foi brutalmente exposta pelo seu pecado quando foi lançada diante de Jesus e da multidão no meio do templo. Nenhuma dignidade restava nessa mulher e seu fim estava próximo porque ela seria apedrejada.

Não sabemos se ela estava arrependida do adultério ou somente arrependida porque havia sido flagrada pecando. É assim que muitos de nós se sente quando pegos em meio ao pecado: Um misto de sentimentos ataca nosso coração. Mas, muitas vezes, estamos muito mais preocupados com as consequências do pecado diante dos homens, do que com o fato de termos cometido algo que nos separa de Deus.

Diante da morte eminente talvez aquela mulher pensasse em resolver sua situação com Deus, mas pouca ou nenhuma esperança restava para uma mulher pega em adultério. Então, Jesus a liberta de seus acusadores e ela, olhando ao seu redor, não vê mais nenhum daqueles que a acusava. Seria esse um livramento da morte física para que ela vivesse amargurada pelo seu pecado? Seria essa uma oportunidade para que ela tivesse a liberdade de viver pecando? Não.

Jesus declara seu perdão sobre ela, liberando-a de toda acusação. Se os outros não poderiam acusa-la porque eles mesmos haviam pecado, o Filho de Deus poderia, porque Nele não havia pecado. Mas Ele não o fez. Jesus declarou: 
"Eu também não te condeno."

Uma vez perdoado o seu passado, faltava agora somente algo que mudasse o seu futuro, afim de que aquela mulher vivesse uma nova vida. Isso Jesus fez quando declarou: 
"Vá e não peques mais."

Jesus não somente a liberou de uma situação constrangedora ou evitou que ela fosse apedrejada. Quando Jesus perdoou aquela mulher, Ele curou o seu passado, dando a ela uma nova oportunidade de viver em santidade. Quando Jesus declarou para ela "não peques mais", foi como se Ele dissesse, 
"você está perdoada e Eu acredito que você pode viver em santidade daqui para frente."

Jesus muda a nossa mentalidade. Quando pensamos que não há mais esperança por causa de nosso pecado, Ele declara Seu perdão sobre nós. Mas não para por aí! Jesus também transforma nossa visão sobre o futuro. 

Nele passamos a ter uma visão de santidade naquilo que vamos viver daqui para frente. Seu Espírito está constantemente falando ao nosso ouvido: 
"Sede santos, porque Eu sou Santo" (1 Pd 1:16).

Conclusão


A transformação de nossa mentalidade é exigida por Deus para que possamos compreender e entrar em Seu Reino. João Batista demonstrou isso através do batismo de metanoia; Jesus declarou isso quando disse para transformarmos a nossa mente porque o Reino de Deus estava próximo; Pedro anunciou que Deus exigia a mudança de mentalidade e a conversão das atitudes; e Paulo instruiu-nos para não nos conformarmos com este século, mas sermos transformados pela renovação da nossa mente.

O poder que transforma nossa mente não se baseia em pura informação, mas na revelação de Deus e seu agir em nós, de tal maneira que provoque nossa total rendição ao Seu amor e à Sua vontade.

O incondicional chamado de Deus para a mudança do homem vem acompanhado de Sua promessa de transformação, onde ele produz em nós um espirito alegre por obedecer e uma fé sólida pela confiança de estar vivendo Sua vontade.

O evangelho que salva é o evangelho que transforma pela graça de Deus. O mesmo poder que nos torna justificados sem que mereçamos, simplesmente porque Deus nos amou e se entregou por nós. Ele é o que realiza em nós essa transformação através da fé, dando-nos um novo começo, uma nova chance, e um novo viver. Veja a declaração em 2 Coríntios 5:17-19.


Ao permitir que Deus renove a nossa mente e traga transformação às nossas vidas, seremos também renovados em nosso espírito, recebendo Dele o perdão, a cura e a renovação de nosso chamado. Esse é o constante processo de metanoia, que Deus realiza naqueles que se rendem ao Seu agir.

[Fonte: Corrigindo o Foco — por Pr. Wilson Sandoval; J. Glentworth Butler, "Topical Analysis of the Bible" (Butler Bible Work Co, 1897), 443; Sociedade Bíblica do Brasil, Almeida Revista E Atualizada, Com Números de Strong (Sociedade Bíblica do Brasil, 2003), Mt 4:17, Mc 1:4,5,  At 17:30,31, Ro 12:1,2; Gerhard Kittel, Geoffrey W. Bromiley, and Gerhard Friedrich, eds., "Theological Dictionary of the New Testament" (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1964–), 1003.]

A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.
O uso correto da máscara não precisava ser obrigatório, por se tratar de uma proteção individual extensiva ao coletivo. É tudo uma questão não de obrigação, mas de consciência.
Respeite a etiqueta e o distanciamento sociais e evite aglomerações. Não confuda avanço na vacinação e flexibilização com o fim da pandemia

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A BÍBLIA COMO ELA É — DEUS SONHA?

Nos últimos anos tenho observado que existe uma idéia propagada no meio evangélico que se refere aos supostos "sonhos de Deus". Algumas vezes, ensinam que os sonhos de José, na passagem registrada em Gênesis 37:5-10, não eram sonhos de José, mas sim, sonhos de Deus.

Acontece que a exegese bíblica não nos diz absolutamente nada disso. A Bíblia é clara em dizer que quem sonhou foi José e sequer sugere que os sonhos tenham sido dados a ele por Deus! Afirmar isso, é, no mínimo, forçar o texto bíblico.

No texto deste artigo tentarei suprir a necessidade de se expor algumas verdades, não de acordo com meus achismos, mas, propondo uma impreterível análise contextual das Escrituras.

Qual o significado do sonho


Começamos a analisar sobre o que é um sonho e suas formas de ser. Primeiro faremos uma análise sobre o prisma da psicanálise. Definir o que é um sonho não é tarefa fácil. Simplificando, é aquilo que você vê e escuta enquanto dorme. 

No livro "A Interpretação dos Sonhos" (L&PM, 736 páginas, 1899), o criador da psicanálise, Sigmund Freud (☆1856/✞1939), argumentou que os sonhos são mensagens do inconsciente sobre os desejos reprimidos. 

Já Carl Jung (☆1875/✞1961), colega de Freud que contestou muitas de suas ideias, sugeriu que os sonhos tinham uma finalidade: seriam uma tentativa da própria consciência para regular e compensar situações vividas.

Os sonhos ficaram no imaginário de diversos pensadores por muito tempo, mas foi somente nos anos 1950 que o processo onírico ganhou mais análises científicas, impulsionadas pela descoberta do sono REM (sigla para rapid eye movement, ou movimento rápido dos olhos) por pesquisadores da Universidade de Chicago. É nessa fase que a atividade cerebral está mais agitada, ocasionando os sonhos mais vívidos.

A partir desse avanço, surgiram mais hipóteses para a função dos sonhos. A mais difundida é que eles servem para a consolidação de memórias. 
"No sono, revivemos o que aconteceu no dia, associando com experiências passadas"
diz Gabriel Pires, médico e pesquisador do Instituto do Sono. 
"Mas há uma discussão teórica sobre o que é exatamente o sonho: o evento fisiológico do processamento de memória ou a percepção dele?"
Para o neurocientista Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, autor do livro "O Oráculo da Noite" (Companhia das Letras, 488 páginas, 2019), os sonhos são um aprendizado 
"lento e gradual que provavelmente começa no útero materno, com a formação das primeiras representações sensoriais na fronteira do corpo com o mundo exterior".

A história do sonho


Acredita-se que a história do sonho seja paralela à da presença de vida na Terra.
"Os sonhos evoluíram depois de um longo processo de desenvolvimento do sono, ainda no início da vida multicelular",
aponta Sidarta Ribeiro.

Registros históricos mostram que as civilizações mais antigas já os interpretavam como ensinamentos de antepassados ou profecias. É o caso da história que envolve a morte do imperador romano Júlio César (☆100 a.C./✞44 a.C.): sua esposa, Calpúrnia (☆75 a.C./✞?), teria relatado um sonho com o assassinato do marido um dia antes do acontecido, no ano de 44 a.C. 
"Essa era a ferramenta que os humanos tinham para tentar prever o futuro"
comenta Ribeiro. 
"Sonhos são reflexo do passado, mas, ao mesmo tempo, aquilo que de fato poderia acontecer no futuro."
Mas a ciência não consegue dizer o porquê de cada elemento, como preza o conhecimento popular. 
"Não existe nenhum diagnóstico clínico que pode atribuir significado ao sonho"
destaca Gabriel Pires.

Do ponto de vista Neurológico — É a prova real de atividade cerebral enquanto um ser humano dorme. No início de seus estudos, Freud utilizava-se de uma técnica chamada hipnose para perscrutar as causas raiz dos problemas de seus pacientes. 

Com o passar do tempo, aprimorando as técnicas de averiguação, esta técnica foi descartada, pois Freud observou que os sonhos dos seus pacientes eram uma forma mais eficaz de se chegar há algumas conclusões sobre cada caso. Ele conclui que os sonhos são uma porta de acesso do inconsciente para o consciente.

Isto posto, passemos à análise da impossibilidade de Deus sonhar.

Sonhos de Deus?


Em um primeiro momento já descartamos uma das possibilidades de o Todo Poderoso sonhar. Isto porque Ele não dorme! 
"...é certo que não dormita e nem dorme o guarda de Israel" (Salmo 121:4).
Partindo-se do óbvio, se o Senhor não dorme, então não sonha.

Do ponto de vista humano — Existe aquele sonho que chamamos de desejo, algo que almejamos muito e por vezes é impossível de ser realizado. Mas há também aquele sonho que com muita luta e esforço poderá ser realizado. Muitos de nós homens sonhadores (e é assim que devemos ser) nos pegamos sonhando acordados.

Mas será possível aplicar esta realidade ao Deus Criador? Aquele que tudo sabe? Tudo vê? Tudo pode? A resposta é: Não! Em todos os textos bíblicos em que fala da vontade do Senhor para o homem, em nenhum momento esta se refere a um sonho.
"...Bem sei que tudo podes e nenhum de seus planos (e não sonhos) pode ser frustrado" (Jó 42:2).
"...Porque eu bem sei os pensamentos (e não sonhos) que tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperai" (Jeremias 29:11).
"...Vós não me escolhestes a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos designei (não sonhei), para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda" (João 15:16).

  • Grifos e adições entre parênteses acrescentados por mim. 

Queridos leitores, escrevo este texto para dizer que é um erro grave dizer que Deus tem um sonho para alguém. 

Nas igrejas tem se cantado, tem sido pregado sobre "os sonhos de Deus" lamento informar que esta idéia não passa em um crivo teológico partindo-se de uma exegese bem feita.

Alguém pode perguntar agora, e eu? Como fico?

Acalme-se! Deus não tem sonhos para você! Mas têm planos, pensamentos, propósitos, designos, e projetos como vimos nos textos acima o que é bem diferente de um "sonho".

Conclusão

Sonho é algo da natureza humana e não consta nos atributos exclusivos de Deus


Resumindo: A figura "sonho" é de porte humano e não podem ser aplicados a Deus. Desafio a qualquer teólogo, aspirante, profeta, pregador, falador de Deus, bispo, padre, frade, papa, pastor, semideus etc..., a provar que estou errado.

Ajudo-os ainda dizendo que existe um termo teológico que poderia dar a entender que dizer que "Deus sonha" é uma forma poética de se expressar. O termo é "Antropomorfismo":
  1. Filosofia • Religião — forma de pensamento comum a diversas crenças religiosas que atribui a deuses, a Deus ou a seres sobrenaturais comportamentos e pensamentos característicos do ser humano [A crítica ao antropomorfismo religioso foi um tema frequente na filosofia desde os seus primórdios na Grécia.].
  2. Filosofia — visão de mundo ou doutrina filosófica que, buscando a compreensão da realidade circundante, atribui características e comportamentos típicos da condição humana às formas inanimadas da natureza ou aos seres vivos irracionais.
Mas já lhes digo que não se aplica ao Todo Poderoso Criador quando traz o sentido de degradação.

Em resumo, antropomorfismo é uma forma de pensamento que atribui características ou aspectos humanos a Deus e só se aplica quando o Senhor é exaltado. Quando dizemos que ele sonha certamente não estamos dando o devido tratamento.

Portanto sugiro que os ministros de hoje revejam os seus conceitos e parem com essa discrepância. Cante e pregue de acordo com o que diz as sagradas letras.

[Fonte: Galileu]

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

ACONTECIMENTOS ESPECIAL — OS CEM ANOS DA SEMANA DE ARTE MODERNA: HÁ O QUE SER COMEMORADO?

Este ano, quando está sendo comemorado o centenário da Semana de Arte Moderna, ocorrida em fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, se torna definitivamente uma efeméride nacional. 

A história dessa consagração, porém, é tortuosa e escrita por diferentes frentes de ação. Quase cem anos depois do evento — narrado pela sua fortuna crítica como, paradoxalmente, origem e destino da arte brasileira no século XX — sua força centrípeta paulistana e seu corte de classe colocam o arquivo modernista frente a novas perguntas e respostas sobre os impasses do Brasil contemporâneo. 

Indo direto ao ponto que dá o tom das comemorações que surgem no horizonte, é preciso rever as histórias ligadas à Semana de Arte Moderna de 1922. Nesse exercício crítico fundamental, três eixos se tornam basilares nessa revisão centenária: as transformações teóricas, estéticas e, por que não, políticas que o país atravessou e, principalmente, atravessa neste momento; a limitação da amostragem do que se poderia ver, já àquela altura, como arte moderna; e a alegada excessiva centralidade paulista em prol de uma série de acontecimentos modernos simultâneos ao redor do país.

O que foi o movimento cultural que se tornou um marco na história artística brasileira


No dia 17 de fevereiro de 1922, a plateia que aguardava a apresentação do pianista Heitor Villa-Lobos (☆1887/✞1959)
no Theatro Municipal de São Paulo estava, ao mesmo tempo, ansiosa e arisca. 

Aquela récita seria o encerramento de uma ousadia que durou três dias — 13, 15 e 17 de fevereiro —, mas que entrou na história como se fosse uma semana inteira: a Semana de Arte Moderna. 

E Villa-Lobos talvez representasse um raro momento de tranquilidade que não necessariamente existiu nos dias anteriores, com uma série de apresentações e exposições que o jornal Correio Paulistano, no dia 29 de janeiro, afirmava ser 
"a perfeita demonstração do que há em nosso meio em escultura, arquitetura, música e literatura sob o ponto de vista rigorosamente atual"
— só faltou combinar com a plateia. 

E aquela do dia 17 se assustou ao ver o maestro e pianista subir ao palco de fraque — como o espaço vetusto da elite paulistana exigia —, só que com um pé calçando sapato e o outro… de pantufa. 

O público interpretou aquilo como uma atitude futurista e desrespeitosa e vaiou o artista impiedosamente. Depois, Villa-Lobos explicaria: não havia nada de futurista, moderno ou o que fosse. Nem falta de respeito. O que havia era um prosaico calo inflamado.

Foi há cem anos que o calo de Villa-Lobos chocou e irritou uma plateia que não estava ainda preparada para aquilo chamado de "modernismo" ou de "arte moderna". E por que um pé com pantufa poderia criar tanto rebuliço? 

Porque, na esteira dessa cena, tinham ocorrido outros episódios que mais confundiram do que explicaram. O festival organizado por gente do naipe de Oswald de Andrade
(☆1890/✞1954), Mário de Andrade (☆1893/✞1945), Ronald de Carvalho (☆1893/✞1935), Anita Malfatti (☆1889/✞1964), Menotti del Picchia (☆1892/✞1988), Victor Brecheret (☆1894/✞1955), Di Cavalcanti (☆1897/✞1976) e Villa-Lobos — Tarsila do Amaral (☆1886/✞1973)estava na Europa na época — entre as cortinas e paredes bem ornamentadas do Theatro Municipal — um templo das artes clássicas em São Paulo, um pedaço de Paris às margens do Tamanduateí —, inaugurou um outro momento das artes brasileiras. E toda novidade traz, também, um quê de ruptura com o passado. 

No caso, dos modernistas, com o classicismo, o chamado "passadismo" e o parnasianismo, ainda em voga no eixo Rio-São Paulo — as cidades que realmente importavam cultural, social, política e economicamente naquele Brasil agrário, semianalfabeto e às voltas com as agruras de uma República com pouco mais de 30 anos e os votos de cabresto.

"A semana efetivamente foi o marco simbólico de muitos desdobramentos que se deram a posteriori, até a década de 1950, acerca da possibilidade de se implantar no Brasil uma arte moderna que representasse o desejo de demonstrar que a velha nação rural, oligárquica e escravocrata ficara definitivamente para trás, que era possível ao Brasil comparecer ao concerto das nações cultas com uma arte, uma cultura, além de uma ciência atualizada em relação ao que estava ocorrendo no resto do mundo, porém com uma identidade própria. Essa pelo menos foi a intenção primordial", 
afirma Luiz Armando Bagolin, professor e pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros da USP (IEB-USP) e curador da mostra "Era Uma Vez o Moderno", uma parceria da USP com a Fiesp.

Há mesmo o que se comemorar?


Isso tudo foi há cem anos. O resto é história? É. Mas trata-se aqui de uma semana que dura para sempre. E as discussões a seu respeito sempre estão à mesa — sejam elas em pesquisas aprofundadas sobre o movimento e seus desdobramentos, sejam na forma estéril e até um tanto provinciana de se tentar localizar geograficamente o Modernismo brasileiro, quase que querendo apontar a autoria e a primazia moderna para Rio, São Paulo ou outras plagas.

O fato é que a Semana de Arte Moderna aconteceu em São Paulo, foi criada por alguns paulistas —  o polímata Mário, o antropofágico Oswald, o ideológico Menotti del Picchia — , mas não só: afinal, o imortal da ABL Graça Aranha (☆1868/✞1931), um dos organizadores do evento, era maranhense (radicado no Rio de Janeiro), Ronald de Carvalho e Villa-Lobos eram cariocas, Manuel Bandeira 
(☆1886/✞1968), pernambucano. 

Mas isso realmente importa? Essa não deve ser a questão — o evento de 1922 teve um caráter essencialmente catalisador, congregando artistas da mais variada estirpe (incluindo muitos cariocas) e com projetos singulares nas mais variadas linguagens.

Pode-se dizer que foi a partir da Semana de 22 que o Modernismo e a modernidade amplificaram suas vozes Brasil afora — claro que a matriz paulistana reverberando mais forte, em um tom "paulistocêntrico", como diz Martin Grossmann —, como uma pedra jogada em um lago e que vai formando círculos expansivos, pequenas ondulações se abrindo e que vão levando as folhas que estiverem no caminho.

Entre tantas reverberações, talvez a revista Verde, de Cataguases (MG), tenha sido aquela que mais de perto acompanhou o espírito radical dos modernistas paulistas.

A Semana e o Modernismo de matriz paulista nos criam uma armadilha, ou melhor, um paradoxo que já anuncio: ao mesmo tempo que o evento do Theatro Municipal proclama uma origem em um local específico e com nomes determinados por documentações da época, o desdobramento do que ali ocorreu inventa aos poucos uma ideia de Brasil que será a base para que possamos deslocar São Paulo como o único espaço moderno que rompeu com a tradição local e se afiliou às correntes de vanguarda e demais rupturas que ocorriam no mundo. 

Ou seja, ao mesmo tempo em que a centralidade do Modernismo paulista apagou os demais modernismos brasileiros, talvez só possamos pensar nesses outros modernismos porque o modelo paulista se espraiou como vetor histórico e estético sobre os demais espaços modernos ao redor do País.

Modernismo além de 22


Cem anos depois, especialistas defendem a importância da Semana de Arte Moderna, mas também enfatizam que o movimento e a construção do modernismo no Brasil contaram com outros elementos.

O grande aprendizado é esse: a gente tentar entender a potência e os limites do que foi a Semana de 22 porque acho que o que não dá mais hoje é, nas escolas, continuar falando da arte moderna e só da Semana de 22. Porque muita coisa aconteceu, muita coisa além. As experiências do modernismo no Brasil vão muito além da Semana de 22.

Ainda na avaliação dos especialistas, o moderno hoje implica aprender com as diversidades brasileiras. Ou seja, o ser moderno hoje é encarar as diferenças, a diversidade, a pluralidade. Nós somos diferentes. O Brasil é muito vasto, tem coisas que os brasileiros não conhecem. 

Não somos iguais e nós temos que nos entender nas diferenças. A gente não pode resolver essa história, formulando, a título de um projeto político ou ideológico, um Brasil no singular, um brasileiro no singular, todo mundo com a mesma nação.

Em suma, ser moderno hoje implica fazer a revisão de toda a nossa história e de toda a nossa cultura numa perspectiva decolonial, de decolonialidade. Isso é um dado recente. Aliás, é um conceito sociológico que data do final dos anos 90. Então é importante não perder esse instrumento sociológico porque ele nos formula muitos desafios

Conclusão


Se a Semana de 1922 chega ao seu centenário nas bordas de um país em vias de uma eleição tensa, atravessando um tempo e um espaço esgarçados pelo cenário desolador de violências, racismos, feminicídios e pandemias, sua convocação para nos repensarmos criticamente à luz — ora pálida, ora excessiva — do seu arquivo nos obriga a acreditar que, com todos seus limites, o que ocorreu de forma breve naqueles três dias de fevereiro ainda mobiliza as máquinas de futuros possíveis que temos a obrigação de inventar para seguirmos na luta criadora pelos muitos passados em aberto e, principalmente, pelo tempo presente que precisamos reinventar a cada dia. E para responder à epígrafe inicial de Mário de Andrade, talvez tudo que nos resta seja, sim, defender nossa perplexidade — frente ao centenário da Semana e frente a tudo mais que nos mobiliza aqui e agora.

[Fonte: Jornal da USP, por Marcello Rollemberg; Agência Brasil, por Elaine Patricia Cruz]

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