- Perdulário — que desperdiça ou gasta em excesso; gastador; esbanjador. Diz-se daquele(a) que desperdiça ou que gasta em excesso.
A teorização canônica psicanalítica sobre a avareza e o perdularismo consagrou a equivalência inconsciente entre as fezes e o dinheiro. Esta fórmula tende a recalcar a presença do outro na aprendizagem do controle sobre os esfíncteres e suas possíveis relações com o dinheiro.
Freud explica(?)
A psicanálise sempre associou o "complexo monetário" do sujeito à fase anal. No artigo "Caráter e erotismo anal", Freud (1908) sugere três motivos para essa associação. O primeiro nos é dado pela cultura:
"nas formas arcaicas de pensamento, nos mitos, nos contos de fada, nas superstições, no pensamento inconsciente, nos sonhos e na neurose o dinheiro é intimamente relacionado com a sujeira" (ESB, IX, p. 179; GW, VII, p. 207).
O segundo motivo refere-se ao contraste entre o mais precioso e o mais desprezível: a identificação entre o ouro e as fezes se deve justamente por sua justa oposição, como é comum acontecer no inconsciente, a representação de algo pelo seu contrário.
Por fim, o terceiro motivo da equação entre as fezes e o dinheiro tem a ver com o período da fase anal e o interesse espontâneo pelo dinheiro:
Sabemos que o interesse erótico original na defecação está destinado a extinguir-se em anos posteriores. Nessa ocasião entra em cena, como novidade, o interesse pelo dinheiro, que não existia na infância. Isso torna mais fácil que a tendência primitiva, que está em processo de perder seu objetivo, seja conduzida para o novo objetivo emergente (ESB, IX, p. 180; GW, VII, p. 208).
Portanto, trata-se de um deslocamento de interesse das fezes para o dinheiro. Nesse artigo de [Sigmund] Freud (✩1856/✞1939 — considerado o pai da Psicanálise), pode-se ver, o adulto não aparece em nenhum momento.
Por que a criança deslocaria seu interesse das fezes para o dinheiro? O que a motiva a ir nessa direção? Qual o papel da mãe no controle dos esfíncteres e na apresentação dessa novidade que é o dinheiro?
Como estudante de Psicanálise, não tem como não fazer uma análise do perdularismo, sem um enfoque sob esse prisma. Porém, conceitos psicanalísticos a parte, essa prática que em síntese, nada mais é do que o perigoso hábito de se gastar compulsivamente, tem se tornado cada vez mais comum nesses tempos atuais, onde muitos ostentam uma vida ilusória, em busca da aprovação no universo online. É o que veremos no texto deste artigo, mais um capítulo da série especial, Papo Reto.
Ele ou ela, quem gasta mais?
Eis a questão
Há muitos homens que fazem piada com o fato de as mulheres fazerem compras para pagar com o cartão de crédito, como se elas não tivessem controle sobre seus gastos. Mas essa "brincadeira", além, de não ter nenhuma graça, tem cada vez menos fundamento e está com os dias contados.
Uma pesquisa recente, realizada pela empresa de negociação de dívidas Acordo Certo, mostra que, quando se trata das finanças pessoais, as mulheres tendem a ser mais cuidadosas com o dinheiro do que os homens.
O estudo indica que os homens têm mais dificuldades para resistir ao impulso de comprar. Quando se compara quem gasta mais do que deveria, a porcentagem de mulheres é menor, de 48%, enquanto entre nós é de 53%.
A grande questão, porém, é que muitos homens não têm consciência de que o descontrole financeiro pode ter consequências desastrosas e não se dão conta de que as suas dívidas podem nascer exatamente aí.
De quem é a culpa?
Alguns podem até culpar a crise econômica — realidade incontestável — como principal causa para sua desventura, mas talvez (e eles não querem admitir) o real motivo seja bem mais simples: falta de disciplina.
São bem comuns os casos de homens que sabem que suas contas estão no vermelho e ainda assim usam o cheque especial ou cartão de crédito sem fazer um acompanhamento periódico dos gastos.
Eles não colocam no papel tudo o que compram ou deixam de avaliar se têm capacidade financeira para arcar com as compras que fazem sem que gerem dívidas.
O pior é quando se desesperam ao perceber que não têm dinheiro nem para as contas básicas, arriscando a alimentação de suas famílias e a manutenção de contas de água e de luz, por exemplo.
Não é preciso dizer que agir dessa forma é uma total falta de inteligência, mas quem sabe alguns, ao fazerem isso, consigam perceber que é preciso mudar de postura.
Sim, a Bíblia ensina
O homen que age de modo inteligente sabe gerir suas contas e o seu dinheiro de forma plena. Ele avalia, se preprara e se planeja para poder bancar aquilo que quer comprar sem fazer dívidas. Nesse sentido, a Palavra contida na Bíblia é repleta de orientação.
"Qual de vocês, se quiser contruir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la?" (Lucas 14:28).
Avaliação e preparação prévias também são requisitos básicos para que o homem possa contribuir inclusive com a Obra de Deus. A Bíblia questiona:
"Por que gastais o dinheiro naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comeu o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura" (Isaías 55:2).
Quem passa a agir com vifgilância e disciplina, observando a Palavra de Deus para lidar com os problemas financeiros deixa naturalmente de fazer "piadas" sem graça com as mulheres e começa a cuidar de verdade de sua própria vida, especialmente a Eterna.
Para alcançar a Salvação é necessário tomar uma decisão inteligente e aceitar Deus como o Senhor, seguindo suas orientações sem demora e com disciplina. É nessa postura que reside a verdadeira Graça.
Conclusão
Para terminar, insistimos em nosso ponto principal: quando o perdulário compra compulsivamente objetos inúteis e sem valor, ele não está lidando com uma "falta" que constitui o seu ser.
O consumo é compulsivo porque o que ele deseja é uma outra coisa, inconsciente. A compulsão sempre foi a marca registrada do recalcamento. Na prodigalidade não é diferente. É para lidar com um desejo recalcado que o sujeito se põe a desejar compulsivamente.
Se o avarento quer ser um alguém auto-conservativo, o perdulário perde as rédeas do desejo e é tomado por ele. Comparar esse par de opostos mais que nunca mostra como a justa oposição significa a mesma coisa no inconsciente: ambos estão tomados pela compulsão à repetição.
Um tenta recusar o desejo, o outro tenta satisfazer todos. Do ponto de vista do inconsciente, trata-se da mesma coisa.
- Escrevi mais sobre esse assunto no artigo: "Direto ao Ponto — A Importância do Controle Financeiro na Vida Cristã".
[Fonte: Pepsic — por Fábio Roberto Rodrigues Belo e Lúcio Roberto Marzagão (UFMG)]
Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
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