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sábado, 17 de setembro de 2022

GRAMOFONE — "ELVIS: ULTIMATE GOSPEL"

"Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa? Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce" (Tiago 3:11,12).
Estes, certamente, são dois versículos bíblicos, dentre os muitos conhecidos. Eles são mais usados quando o assunto é o já velho (e enfadonho) imbróglio reliogioso sobre a questão do crente "poder ou não" ouvir/cantar/consumir a chamada "música secular". 

É, porém, não é especificamente sobre isso que falarei neste artigo, mais um capítulo da série especial "Gramofone", onde faço uma análise sobre os discos que já ouvi, recomendando-os ou não, e sim, sobre o belíssimo disco "Elvis: Ultimate Gospel".

Elvis, o lado santo de um profano


Elvis se envolveu com drogas e álcool o que foi um péssimo exemplo, ainda mais pra quem cantava músicas gospel, contudo é difícil para qualquer cristão não sentir uma pontada de satisfação ao se deparar com as maravilhosas canções de louvor e adoração a Deus entoadas na inconfundível voz de Elvis Presley.

Qualquer pessoa está propícia a pecar, temos que reter apenas as coisas boas pra nossas vidas deixar as coisas ruins para trás. Elvis Presley é conhecido como o Rei do Rock. Mas há um lado deste cantor que foi pouco explorado. Seu lado espiritual, generoso e místico era um aspecto dominante em sua personalidade. 

Aqueles que o cercavam e as pessoas mais íntimas, falavam do seu amor pela música gospel. Você pode ficar até admirado, sabendo que um dos passatempos favoritos de Elvis era reunir os amigos ao redor do piano para cantar. E suas músicas preferidas não eram os seus sucessos e nem as outras músicas pop

Eram as músicas gospel que falavam apaixonadamente do relacionamento do homem com Deus. Foram elas que ele compartilhava com o mundo e que o ajudaram nos momentos difíceis. É muito provável que este estilo de música tenha sido a primeira que ele ouviu.

Gospel raiz


Além de ser inundado pelo som do gospel sulino, Elvis foi batizado com a alma do gospel negro. O que era mais espantoso nele era o conhecimento desse gospel. 

Elvis era um ouvinte ávido de música. Ele adorava. Tinha todos os discos antigos. Ele os ouvia horas e horas. E é claro que isso influenciou seu jeito de cantar gospel e rock também. 

Como gostava de cantar e com tanta paixão, ele não via outro destino senão fazer parte de um quarteto. Mas era um sonho que nunca se realizou por completo.

No ano em que a morte de Elvis Presley completava 30 anos, fãs e crítica relembraram as principais marcas que Elvis teria deixado na música e na cultura do século XX. 

Mas essa faceta do "rei do rock" é bem menos conhecida que seus filmes em Acapulco, suas canções românticas ou a proibição de filmar os seus rebolantes quadris no programa de TV de Ed Sullivan (✩1901/✞1974) no início da carreira. 

Aliás, os requebros da "pélvis de Elvis" foram um fator nada descartável para sua ascenção meteórica. A voz absolutamente marcante, os cabelos cuidadosamente desalinhados, o repertório quase recatado se comparado à fúria libidinal das canções de Jerry Lee Lewis e Little Richards (✩1932/✞2020), quase tudo seguia uma construção publicitária perfeita comandada pelo "Coronel" Tom Parker (✩1909/✞1997), como apelidavam o empresário de Elvis.

Os americanos sempre demonstraram afinidade com o gospel gravado por artistas não-religiosos. Por exemplo, nos anos 1950, Tennessee Ernie Ford (✩1919/✞1991) gravou álbuns que estão entre os dez mais vendidos da década. Mas Elvis revelava também seu gosto pela música gospel. 

E talvez houvesse nisso mais do que ambição de vender para outro nicho de mercado. Para Don Cusic, autor do livro "The Sound Of Light: A History Of Gospel Music" ("O Som da Luz: Uma História da Música Gospel", em tradução livre — a obra, infelizmente, não foi publicada no Brasil), Elvis tinha ouvido muita música gospel — na igreja ou em casa com a mãe — e, ao cantar aquelas músicas, ele não cumpria só um dever espiritual, mas também revivia a infância. Talvez, diz Cusic, Elvis estivesse "mostrando que era um bom garoto, temia a Deus (à sua maneira) e queria salvação".

Elvis e o gospel


Em 1952, quando ainda era um jovem motorista de caminhão, Elvis fez um teste vocal para entrar no quarteto Songfellows e foi reprovado. Mais tarde, Jim Hammil, um dos componentes "acusados" de dispensar Elvis Presley, deu sua versão dos fatos: 
"Eu não disse que ele não sabia cantar, mas sim que ele não conseguia ouvir a harmonia. Sozinho, ele se saía bem. Mas quando as outras vozes do quarteto entravam, ele se perdia e cantava as outras vozes que ouvia".
(Em geral, a formação vocal de um quarteto masculino é de 1º e 2º tenores, barítono e baixo).

Elvis ainda não era famoso quando encontrou o quarteto The Jordanaires no Grand Ole Opry, em 1955. O quarteto havia surgido em 1948 e só conservava um integrante da formação original, o 1º tenor Gordon Stoker. 

As primeiras gravações de Elvis nos estúdios da RCA têm um vocal de apoio formado, entre outros, por Stoker e Ben e Brock Speer, da Speer Family, famosa família de cantores. 

Mais tarde, a formação completa dos Jordanaires marcaria o som dos discos de Elvis, que passava a vender 10 milhões de discos e se tornava um ídolo teen e um ícone cultural.

Os primeiros álbuns gospel de Elvis chegariam a partir de 1957, no auge da carreira no rock, quando era inimigo dos pregadores. Primeiro, a gravação de 'Peace In The Valley', e depois o disco "His Hand In Mine"

Esse disco tinha os Jordanaires no vocal de apoio e entre as faixas estavam músicas como 'Swing Low Sweet Chariot' e 'Mansion Over The Hilltop' (em português, é a conhecida 'Mansão Sobre o Monte', que consta no hinário oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia, com o número 501). 

A capa desse álbum trazia um Elvis Presley sentado ao piano num sóbrio smoking, de cabelo grande e roupas brilhantes. O figurino e o penteado, porém, não eram uma afronta ao estilo religioso. 

Pelo menos, não ao estilo de certos cantores e pastores evangélicos da época. James Brown (✩1933/✞2006), por exemplo, explicava que seu estilo inconfundível de se movimentar no palco, falar e cantar, era influência de pregadores, digamos, hiperativos (aliás, há muitos desses "repaginados" hoje em dia, fazendo suas perfomances apoteóticas nos palcos, ops!, ou melhor, "púlpitos" de muitas igrejas).

A voz de Elvis também recebeu grande influência do gospel. Certa vez, o cantor escutava um disco de Jake Hess (✩1927/✞2004), um dos grandes nomes da música gospel, quando revelou a Johnny Rivers algo como 
"agora você sabe de onde vem o meu estilo de cantar".
Em 1967, Elvis convidou os quartetos The Imperials e The Jordanaires e também algumas cantoras para o vocal do seu disco gospel de maior resposta positiva de público e crítica, "How Great Thou Art"

Além da clássica faixa-título (no Brasil é conhecida como 'Quão Grande És Tu' — aqui, interpretada por André Valadão), já famosa na voz de George Beverly Shea (✩1909/✞2013), o disco trazia 'Where Could I Go But To The Lord', 'In The Garden' ('No Jardim', hino 296 da Harpa Cristã) e 'Where No One Stands Alone' ('Minha Mão Em Tua Mão', hino 493 do Hinário Adventista). 

Nesse disco, Elvis faz um dueto com Jake Hess na música 'If The Lord Wasn't Walking By My Side', conhecida música do quarteto The Statesmen, do qual Jake Hess já tinha sido integrante.

é o álbum gospel de 1972 que traz a clássica e maravilhosa 'Amazing Grace' ('Graça Excelsa' ou 'Graça Maravilhosa', aqui, interpretada por Douglas Balmant) e a canção-título ('Tocou-me', aqui interpretada por Fernandinho), de autoria do casal Bill e Gloria Gaither.

A partir de 1969, o quarteto The Stamps passou a abrir os shows de Elvis. J. D. Sumner, membro do quarteto, conta que após os shows Elvis reunia os cantores para cantar gospel. 

Frequentador da casa de Elvis, Sumner também diz que o cantor 
"só ouvia gospel. Ele não ouvia nem suas próprias gravações".
No funeral de Elvis, em agosto de 77, Jake Hess e dois integrantes do quarteto The Statesmen cantaram 'Known Only To Him', Kate Westmoreland cantou 'My Heavenly Father Watches Over Me', e James Blackwood e The Stamps cantaram 'How Great Thou Art'

O final trágico do cantor e suas gravações ora religiosas ora seculares podem traduzir que, de algum modo, Elvis Presley não conseguiu conciliar sua vida de sucesso fabuloso com as crenças de sua juventude. Mesmo assim, para Don Cusic, a maior contribuição de Elvis ao gospel foi apresentar esse estilo ao mundo do rock.

As faixas

Mas, eu falei sobre tudo isso, para fazer uma síntese do que é este álbum espetacular, uma coletânea com a compilação de 24 gravações originais da (ainda desconhecida por muitos) irrepreensível incursão de Elvis Presley, pela genuína música gospel. 

Aliás, como vimos, algumas das músicas que ainda hoje são cantadas em muitas igrejas e já foram regravadas por grandes nomes da música gospel atual, tanto nacionais quanto internacionais, fazem parte da obra de Elvis Presley. 

Veja a sequência espetacular da coletânea "Elvis: Ultimate Gospel":
  1. How Great Thou Art
  2. So High
  3. Amazing Grace
  4. Crying In The Chapel
  5. You'll Never Walk Alone
  6. Swing Down Sweet Chariot
  7. Milk Withe Way
  8. His Hand In Mine
  9. I Believe In The Man In The Sky
  10. Where Could I Go But To The Lord 
  11. If The Lord Wasn't Walking By My Side12) Run On
  12.  He Touched Me
  13. Bosom Of Abraham
  14. Lead Me, Guide Me
  15. Joshua Fit The Battle
  16. If We Never Meet Again
  17. I, Jhon
  18. Reach Out To Jesus
  19. Who Am I?
  20. Help Me
  21. Miracle Of Rosary
  22. Take My Hand, Precious Lord
  23. (There'll Be) Peace In The Valley (For Me)

Conclusão


Além disso, desde que morreu, em 1977, Elvis Presley inspirou mais de uma centena de seitas religiosas no mundo inteiro, de diversas doutrinas, do cristianismo ao hinduísmo, sendo que algumas delas chegaram até a reverenciá-lo como um messias. 

Nem o Brasil escapou desse "fenômeno". Por aqui, há alguns anos, foi noticiado que havia em Florianópolis (SC), um fã-clube evangélico que celebraria Elvis e reuniria mais de 20 mil fiéis dentro e fora do país. E, por aqui, tem até um — pode acreditar! — "Padre Elvis".

O rebelde "desviado" e sua "redenção"


Até nome bíblico Elvis Presley adotou para si. O seu do meio era "Aron" e foi modificado pelo cantor para “Aaron”, que em português significa "Aarão", o profeta e irmão do personagem bíblico Moisés. 

O contato de Elvis com o meio religioso começou ainda na infância. Nascido em 1935, no Mississipi (EUA), pertencia a uma família pobre e cristã que frequentava a igreja. Os Presley eram membros da Assembleia de Deus.

Nessa época, Elvis então teve contato com os louvores e aprendeu noções básicas de violão com um pastor. 

E, como já visto acima, gostava ainda do cantor gospel Jake Hess, que influenciou mais tarde e de forma significativa seu estilo de cantar em baladas. Outra fonte de inspiração sua foi Rosetta Tharpe (✩1915/✞1973), cantora e guitarrista negra de música gospel muito popular na década de 1940 e considerada por alguns historiadores a mulher que, antes de Elvis, teria inventado o rock.

Em resumo...

  • Assim, descobriu que a música era o caminho que gostaria de trilhar e com o tempo se aperfeiçoou e foi coroado astro do rock. Sua carreira estreou em 1954, quando lançou o single 'That’s All Right', que nada tinha a ver com religião. 
  • A partir daí começou a conquistar fãs, assinar contratos para gravar discos, participar de programas de TV e de rádio, fazer turnês, atuar no cinema e não parou mais. Manteve-se no topo do sucesso até o final dos anos 1960.
  • Ao longo de sua trajetória artística, Elvis, mesmo sendo o rei de um estilo de performance sexualmente provocante, também não abandonou seu apego à crença e até usava músicas gospel para ensaiar e se soltar antes dos shows e do início das sessões de gravação. 
  • Em 1960, ele lançou "His Hand In Mine", seu primeiro LP gospel, que dedicou em memória à mãe, falecida em 1958, e o colocou no topo do ranking das músicas mais populares desse período.
  • Lançou pouco depois "Crying in the Chapel". Dizem que Elvis depois de uma longa noite gravando canções gospel só o que queria era "chorar na capela". Esse hino tornou-se um dos mais bem sucedidos comercialmente de todos os discos gospel do cantor. 
  • Mas a música favorita de Elvis seria 'How Great Thou Art', conhecida no Brasil como 'Quão Grande És Tu'. Foi com ela que conquistou seu primeiro Grammy, em 1967, e o último, em 1974, após cantá-la ao vivo.
  • Em 1972, recebeu ainda outro Grammy, por seu último LP gospel "He Touched Me"
De acordo com Dave Marsh, crítico da revista americana Rolling Stone e autor de vários livros de música e membro do Hall da Fama do Rock, Elvis foi, em suas palavras: 
"indiscutivelmente o maior cantor gospel branco de seu tempo e realmente o último artista de rock a tornar o gospel um componente tão vital de sua personalidade musical quanto de suas canções seculares".

Enfim, a coletânea em questão, prova a fala de Marsh e aqui recebe não só minha indicação, quanto meu seleto carimbo de


Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.

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