Imagem do momento de uma das tentativas de resgate do garoto Felipe |
Já faz algum tempo que Belo Horizonte não é palco de grandes tragédias no período das chuvas, mas infelizmente a história da capital dos mineiros registra um caso que a marcou para sempre e de maneira muito triste. Nesse capítulo da série especial Acontecimentos, vamos relembrar a tragédia ocorrida no ano de 2003, no aglomerado Morro das Pedras, região oeste de BH, que em janeiro de 2018 completará 15 anos. Você se lembra? Eu não me esqueci.
Triste madrugada foi aquela
A chuva torrencial na madrugada de 16 de janeiro de 2003 foi personagem de uma das histórias mais tristes dos recém completados 112 anos de Belo Horizonte.
Junto à falta de investimentos contínuos na prevenção de acidentes geológicos, contribuiu para que nove pessoas de uma família morressem em um deslizamento de terra no Morro das Pedras, na zona Oeste da capital. As vítimas foram seis irmãos e três primos deles, de 3 a 19 anos.
Tragédia anunciada
As investigações sobre a tragédia concluíram que o desabamento poderia ter sido evitado. Onze pessoas de uma mesma família estavam no barracão, que recebeu a visita de um técnico da Prefeitura no dia anterior à tragédia. À época, o profissional teria afirmado que o imóvel não corria risco de ser soterrado e que a família estava segura. O dono da casa teria afirmado que o técnico ainda debochou de uma vizinha que perguntou se realmente não havia perigo.
Segundo ele, o funcionário disse que sua casa estava tão segura quanto a do próprio engenheiro. O pai da família ainda declarou que o engenheiro disse que os moradores estavam querendo conseguir casa da Prefeitura, ao suspeitarem do risco de soterramento.
Felipe, 10 anos, o símbolo de uma tragédia que o tempo não pode apagar
O garoto Felipe Laurêncio dos Santos, de 10 anos, que tornou-se símbolo da tragédia provocada pelas chuvas em Minas Gerais em janeiro de 2003.
A bandeira do time de futebol que o menino adorava, o Atlético Mineiro, foi colocado sob o pequeno caixão como uma última homenagem. Felipe foi enterrado ao lado dos cinco irmãos e de três primos que também morreram vítimas do desabamento do cômodo onde dormiam, no aglomerado Morro das Pedras, na madrugada daquela quinta-feira.
Emoção e dor marcaram o enterro de Felipe, os irmãos e os primos no Cemitério da Saudade, na zona leste da capital mineira. Felipe foi a única das crianças do Morro das Pedras a ser socorrida com vida, depois de um resgate comovente.
O menino já havia sido localizado pelos bombeiros no meio dos escombros, no início da tarde de quinta-feira, quando um segundo deslizamento de terra mais uma vez o soterrou.
Os policiais que trabalhavam no resgate perderam as esperanças, muitos deles não conseguiram conter a emoção e choraram.
Algumas horas depois, no entanto, voltaram a ouvir o choro da criança. Ao todo, Felipe ficou soterrado por 15 horas e foi resgatado ainda com vida no início da noite de quinta-feira, mas acabou morrendo no hospital onde estava internado, na madrugada da sexta-feira.
O pai de Felipe e seus cinco irmãos, o lavador de carros Antônio José Laurêncio, era um dos mais consternados durante o enterro no Cemitério da Saudade. O lavador de carros - que foi assassinado alguns anos depois - disse que não conseguiria se conformar com a morte dos filhos e com o fato de não ter tido tempo para salvar as crianças.
"Foi muito rápido", lamentou ele à época. Só ele e a mulher conseguiram escapar do barracão. Segundo ele, o cômodo onde as crianças dormiam foi "engolido" pela terra.
A toda hora chegavam ao Cemitério da Saudade ônibus com moradores da favela castigada pela chuva. Além das crianças do Morro das Pedras, foram enterrados no mesmo horário quatro vítimas mortas de um deslizamento de terra na Vila Cafezal, outro aglomerado também na capital.
A maior parte das pessoas que chegavam nos ônibus também eram vítimas das chuvas, estavam desalojadas depois que as águas das tempestades invadiram suas casas.
Muitas delas, além de consolar os parentes dos mortos, queriam protestar contra a prefeitura que permitiu a ocupação da área de risco. "Queremos justiça", diziam faixas carregadas pelos moradores.
"Como eu podia esperar que minha casa caísse? Uma pessoa foi lá e falou que era seguro", disse o pai de Felipe. O nome do engenheiro que visitou o Morro das Pedras não foi revelado.
O fiscal da prefeitura de Belo Horizonte, que não teve o nome revelado, foi afastado do trabalho, sob a suspeita de ter cometido falha técnica na avaliação do risco no Morro das Pedras.
Conclusão
O tempo não pode apagar as lembranças daquela noite de 2003. Hoje, o cenário na Vila São Jorge, local do desastre, é bem diferente. Onde havia a ocupação irregular soterrada pela lama, cresce o capim. Pouco acima, foi construída uma praça e uma área de lazer para impedir novas invasões. A ausência de casas, no entanto, não significa que o local é seguro. O fato é que 15 anos se passaram, pouca coisa de fato mudou na vida dos moradores do Morro da Pedra e, certamente nada os fará esquecer aquela fatídica madrugada do dia 16 de janeiro de 2003.
- Clique aqui e assista a um documentário especial sobre a tragédia do Morro das Pedras.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://circuitogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.