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quinta-feira, 23 de novembro de 2017

EPÍSTOLAS PASTORAIS - 11: A ORGANIZAÇÃO DE UMA IGREJA LOCAL

"A Tito, meu verdadeiro filho, segundo a fé comum: graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador. 
Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te mandei: aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. 
Porque convém que o bispo seja irrepreensível como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância; mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante, retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina como para convencer os contradizentes. 
Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras, ensinando o que não convém, por torpe ganância. 
Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé, não dando ouvidos às fábulas judaicas, nem aos mandamentos de homens que se desviam da verdade" (Tito 1:4-14).
A igreja local deve subordinar-se à orientação de Deus, através de sua Palavra, que é o "Manual de Administração Eclesiástica" por excelência. É importante que compreendamos e ressaltemos que o objetivo da epístola de Tito é: Aconselhar o jovem pastor sobre a tarefa de "pôr em ordem" o que Paulo havia deixado inacabado nas igrejas de Creta. Outro ponto importante é saber que essa epístola tem algumas características especiais: 
  • (1) Ela possui dois resumos sobre a natureza da salvação em Jesus Cristo (2:11-14; 3:4-7); 
  • (2) A igreja e o ministério de Tito deveriam estar edificados sobre firmes alicerces espirituais e éticos (2:11-15); 
  • (3) Contém uma das duas listas do Novo Testamento sobre as qualificações necessárias ao ministério de uma igreja (1:5-9; cf. 1 Timóteo 3:1-13).
Além dessas informações, para aprofundá-las, pesquise em bons comentários bíblicos sobre o panorama dessa epístola.

Com este artigo, o décimo primeiro capítulo da nossa série especial Epístolas Pastorais, estaremos iniciando o estudo da Epístola de Tito. Timóteo recebeu a incumbência de exortar uma igreja que estava sofrendo com os ataques dos falsos mestres. 

A missão de Tito era semelhante a de Timóteo, mas com um encargo a mais, que foi o de estabelecer presbíteros, "em cada cidade", pondo "em ordem" a Igreja. Paulo mostra, na Carta a Tito, que não era apenas pregador, ensinador e "doutor dos gentios", mas também um administrador eclesiástico.

I. A epístola enviada a Tito

1. O intento da Epístola


Qual era o principal propósito da Epístola de Tito? O objetivo de Paulo era dar conselhos ao jovem pastor Tito a respeito da responsabilidade que ele havia recebido. Tito recebeu a incumbência de supervisionar e organizar as igrejas na ilha de Creta. Paulo havia visitado a ilha com Tito e o deixou ali com esta importante incumbência (v.5). A epístola objetivava dar instruções ao jovem pastor Tito a respeito da responsabilidade que ele havia recebido de Paulo. A carta foi escrita aproximadamente em 64 d.C..

2. Data em que foi escrita


Acredita-se que foi escrita no ano de 64.d.C., aproximadamente. A carta a Tito foi escrita na mesma época da Primeira Carta a Timóteo. Provavelmente foi redigida na Macedônia, durante as viagens que Paulo fez quando esteve sob a custódia dos romanos.

3. Um viver correto


Como ministro do evangelho, Paulo exige ordem na igreja e que os irmãos vivam de maneira correta, santa. Segundo a Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, a ilha de Creta era conhecida pela preguiça, glutonaria e maldade de seus habitantes. Ao aceitar a Cristo como Salvador, o novo convertido torna-se santo pela lavagem da regeneração do Espírito (Tt 3:5), por meio da Palavra de Deus (Efésios 5:26). A santificação é também um processo gradual e contínuo que conduz ao aperfeiçoamento do caráter e da vida espiritual do crente, tornando-o participante da natureza divina (2 Pedro 1:4). Sem a santificação, jamais alguém verá a Deus (Hebreus 12:14).

II. O pastor precisa proteger o rebanho de Deus

1. Qualificação dos pastores


Em sua carta a Tito, Paulo enfatiza as qualificações do bispo, em relação a família, como homem casado, fiel à sua esposa e na criação de seus filhos de forma exemplar (v.6). Paulo diz que os filhos dos ministros, presbíteros ou pastores, não devem ser "acusados de dissolução", nem de serem "desobedientes". No original, tais adjetivos vêm de anupotaktos, "não sujeito", "indisciplinado", "desobediente". 

O exemplo mau dos filhos do sacerdote Eli é referência negativa para a família dos pastores (1 Samuel 2:12,31). Paulo mostra que o bispo deve ser uma pessoa íntegra, irrepreensível, "como despenseiro da casa de Deus" (v.7). Por outro lado, ensina também que o bispo não pode ser "soberbo", "iracundo", "dado ao vinho", "não espancador", "cobiçoso de torpe ganância" (vide os mercantilistas na atualidade que só trabalham por dinheiro). Paulo instrui que o obreiro precisa ser 
"[...] dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante" (Tt 1:8).

2. Crentes, porém problemáticos


Paulo ressalta o respeito que o presbítero deve ter à doutrina e a autoridade ministerial para argumentar com os contradizentes (vv. 9,10). Entre os crentes da igreja de Creta, haviam os "complicados" e "contradizentes", "faladores", tipos não raros em igrejas nos tempos presentes. Mas o apóstolo indicou a maneira de tratá-los. Aos contradizentes e desobedientes ao ensino da Palavra de Deus, Paulo demonstra não ter nenhuma afinidade com eles, pois são perigosos, não só para a igreja local, mas para as famílias cristãs, e devem receber a admoestação e repreensão à altura: 
"[...] aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras, ensinando o que não convém, por torpe ganância" (v.11). 
O fato de tais falsos crentes terem espaço para transtornar "casas inteiras" se devia à realidade das igrejas cristãs em seus primórdios. Elas funcionavam, em grande parte, nas residências dos convertidos (Romanos 16:5; 1 Coríntios 16:19; Colossenses 4:15). Além de desordenados, eles são "faladores" e murmuradores.

3. Não dar ouvidos a ensinos falsos


Tito, na condição de "supervisor", estabelecendo igrejas, "de cidade em cidade", tinha que ministrar a palavra de edificação e advertência contra os falsos cristãos. Deveria repreendê-los de modo veemente. Na verdade, eles eram desviados da verdade. Mais adiante, Paulo resume como tratar os desviados e hereges: 
"Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o" (Tt 3:10).

4. As qualificações dos presbíteros (1:6-9)


As qualificações no verso 6, de acordo com o idioma original, são condições ou questões indiretas relativas aos candidatos que estão sendo considerados para o ministério. O grego traduz literalmente: 
"Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução [desperdício de dinheiro] nem são desobedientes"
— este pode ser considerado como um candidato ao presbitério.

Paulo parece estar usando as palavras "ancião/presbítero" (presbyteros, v.5) e "líder/bispo" (episkopos, v.7) de modo intercambiável. Neste primeiro período da história da Igreja, os ofícios ministeriais eram variáveis e indistintos.

Paulo chama os bispos de "despenseiros da casa de Deus". Os despenseiros (pessoas encarregadas de administrar os negócios de uma casa) eram bem conhecidos daqueles que viveram no primeiro século. Uma vez que tais pessoas tinham perante o dono da casa a responsabilidade de cuidar desta, era necessário que fossem irrepreensíveis. Note também que os bispos não são simplesmente responsáveis perante Deus como seus servos, cuidando das coisas de Deus.

III. A percepção da pureza para os puros e para os impuros

1. Tudo é puro para os puros (v.15)


Paulo diz que "todas as coisas são puras para os puros" (Tt 1.15), pois esses procuram viver segundo a Palavra de Deus. Aqueles que vivem de modo santo não veem mal em tudo, pois seus olhos são bons, santos. Isso é reflexo de suas mentes e corações bondosos. Deus nos chamou para sermos santos em todas as esferas e aspectos da nossa vida (1 Pe 1:15). Quem despreza esse ensino não despreza ao homem, mas sim a Deus.

2. Nada é puro para os impuros (v.15)


De fato, para os "contaminados e infiéis", tudo o que eles pensam e praticam é de má natureza. O motivo pelo qual "nada é puro para os contaminados" é porque "confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda boa obra" (v.16). Esses são hipócritas e maliciosos, pois dizem uma coisa e fazem outra.

3. Conhecem a Deus, mas o negam com as atitudes (v.16)


Atualmente muitos dizem conhecer a Deus, porém, se olharmos para suas atitudes veremos que estes nunca conheceram ao Senhor. A nossa conduta revela a nossa fé e o nosso relacionamento com Deus. O que as pessoas aprendem com você ao observar a sua conduta na igreja e fora dela? 

Conclusão


O apóstolo admoesta que para os puros, tudo é puro; para os impuros, nada é puro. Há quem diga que conhece a Deus, mas o nega com suas atitudes: isso é perfeitamente possível. A administração de uma igreja requer a observância de preceitos e diretrizes, emanadas da Palavra de Deus, o maior e melhor "manual de administração eclesiástica". Por isso, Paulo escreveu três cartas pastorais, visando o estabelecimento, a organização e o crescimento sadio da Igreja do Senhor Jesus.

A organização de uma igreja local


Segundo os estudiosos, a epístola do apóstolo Paulo a Tito foi escrita aproximadamente no 64 d.C., e provavelmente, foi redigida na Macedônia, uma província que fazia fronteira com a Grécia. Por certo, a carta foi escrita no tempo em que Paulo estava sob a custódia dos soldados romanos.

Nesta epístola, podemos dizer que há pelo menos quatro assuntos principais ensinado pelo apóstolo Paulo: 
  • (1) O ensino sobre o caráter e as qualificações espirituais necessárias a todos os que são separados para o ministério na igreja — isto é, "homens piedosos", "de caráter cristão comprovado" e "bem sucedidos na direção da sua família" (1:5-9); 
  • (2) estímulo a Tito para ensinar a "sã doutrina", repreender e silenciar os falsos mestres (1:10—2:1); 
  • (3) descrição de Paulo para Tito do devido papel dos anciões (2:1,2), das mulheres idosas (2:3,4), das mulheres jovens (2:4,5), dos homens jovens (2:6-8) e dos servos (2:9,10) na comunidade cristã em Creta; 
  • (4) por último, o apóstolo enfatiza que as boas obras e uma vida de santidade a Deus são o devido fruto da fé genuína (1:16; 2:7,14).
Mediante essa lista de requisitos, notamos o quanto é importante que, em primeiro lugar, quem se sente vocacionado para um chamado ministerial, acima de tudo, seja reconhecido pela Igreja de Cristo. 

O ministério na vida de uma pessoa não é algo oculto, ou de conhecimento apenas para quem o deseja, mas é manifesto, reconhecido pela comunidade local a quem ele serve. 

O ministério de Deus na vida de um vocacionado também não é confirmado por uma só pessoa, mas confirmado e aprovado pela Igreja de Cristo reunida naquela comunidade local. O ministério vocacional de um escolhido por Deus, que ama o Senhor acima de todas as coisas, tem de ser reconhecido pelo Corpo de Cristo, a igreja local.

Mas é preciso a igreja local saber discernir quem é de quem não é vocacionado para o ministério. Para isso, o nosso Deus manifestou a sua vontade nas Escrituras por intermédio do apóstolo Paulo sobre as características de como deve ser uma pessoa vocacionada para o santo ministério. 

A Igreja de Cristo não pode se furtar dessa responsabilidade, pois segundo a herança da tradição da Reforma Protestante: não há um sacerdote como representante de Deus para o povo; muito pelo contrário, em Cristo, todos somos sacerdotes, a nação santa e o povo adquirido para propagar o Evangelho.

[Fonte: Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2004, p.1509]

A Deus toda glória. 
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E nem 1% religioso.

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