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sexta-feira, 3 de novembro de 2017

EPÍSTOLAS PASTORAIS - 10: O LÍDER DIANTE DA CHEGADA DA MORTE

"Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.  
Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda. 
Procura vir ter comigo depressa, porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia. Só Lucas está comigo.  
Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério.Também enviei Tíquico a Éfeso. Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos. 
Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras.  
Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado. Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão" (2 Timóteo 4:6-17). 
A morte do crente não é o fim, mas a passagem para a glória eterna, na presença de Deus. 

Segundo as Escrituras, a morte se manifesta numa consciência de vitória na hora de uma aparente derrota: 
"Alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis" (1 Pedro 4:13). 

O desafio do cristão diante da inexorável realidade da morte 


Para o crente, a morte não é o fim, mas o início de uma vida nova, onde a certeza de que "o aguilhão" da morte já foi retirado e que agora é um passaporte oficial para a vida eterna com Jesus Cristo (1 Coríntios 15:55). 

Claro que a experiência da separação traz dor, angústia e tristeza a qualquer ser humano. O luto chega de forma inesperada na vida de qualquer pessoa que sofre a perda de um ente querido. 

Mas devemos viver as promessas do Mestre na área da perda humana, conforme Ele nos ensinou: 
"Quem crê em mim, ainda que morra, viverá" (João 11:25). 
Um dia nosso corpo será completamente arrebatado do poder da morte (Romanos 8:11; 1 Tessalonicenses 4:16,17). Paulo tem consciência de que seu ministério está chegando ao fim. 

A segunda Epístola a Timóteo, na verdade é uma forma, comovente, de dizer adeus ao seu "amado filho" e à Igreja do Senhor. Paulo exorta Timóteo a respeito da responsabilidade que é estar na liderança de uma igreja e faz uma revisão do caminho que havia percorrido em sua jornada com o Salvador: 

"Combati o bom combate" (2 Tm 4:7). 

Paulo não estava pesaroso com a partida, pois suas dores e sofrimentos, com certeza, foram esquecidos, diante da certeza de que fez um bom trabalho e que cumpriu a missão para qual fora designado pelo Senhor. 

A morte é inevitável. Um dia líderes e liderados terão que enfrentá-la, porém, o que faz a diferença é a maneira como a encaramos. 

Embora a morte traga abatimento para os crentes, os discípulos de Jesus não se desesperam diante dela, pois têm uma certeza em Cristo: de que para sempre estaremos com o Senhor. 

I. A consciência da morte não traz desespero ao cristão fiel 

1. Seriedade diante da morte 


Enquanto Timóteo ainda era um jovem obreiro, Paulo já estava idoso (Filemon 9), e tinha consciência de que estava no fim de sua longa, sacrificada e honrosa missão (v.6). Paulo assegura que seu sangue seria derramado como uma oferta de libação. Esta era uma oferta de caráter voluntário,
"...de cheiro suave ao Senhor" (Levíticos 2:2). 

Segundo a Bíblia de Aplicação Pessoal, libação era uma oferta líquida e consistia em derramar vinho sobre o altar como um sacrifício a Deus. Não era uma oferta pelos pecados, mas uma oferta de gratidão ao Senhor. 

2. A certeza da missão cumprida (vv.7,8) 


No texto, que indica a consciência da proximidade da partida para a eternidade, queremos destacar três aspectos: 
  • a) "Combati o bom combate" — Todos os apóstolos de Jesus eram homens que combatiam "pela fé que uma vez foi dada aos santos" (Jd 3). Mas nenhum teve tantas oposições e ameaças quanto Paulo. Foi um obreiro muito perseguido, mas nunca desistiu da luta espiritual em prol do evangelho (1 Tm 1:20; 2 Tm 3:11,12; 4:14). Que você também não desista diante das dificuldades e oposições. 
  • b) "Acabei a carreira" — O texto indica que Paulo se referia à "pista de corrida", das competições em Atenas e em Roma. Em sua carreira ou "corrida", ele diz que não olhava para trás, mas para as coisas que estavam diante dele, prosseguindo "para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Filipenses 3:13,14). Muitos começam a carreira da vida cristã bem, mas desistem ou recuam ante os obstáculos e os problemas que surgem. O pastor de uma igreja não pode se acovardar diante das dificuldades, mas firmado em Cristo precisa prosseguir até o final. 
  • c) "Guardei a fé" — Isso quer dizer que Paulo foi fiel a Deus, em todas as circunstâncias de sua vida cristã. Ele não se embaraçou "com os negócios dessa vida" e militou legitimamente (2 Tm 2:4,5). Guardar a fé significa guardar a fidelidade a Cristo e a seus ensinamentos. 
O crente precisa guardar a fé até o seu último momento de vida. Paulo ensinou a Timóteo e à Igreja do Senhor a respeito desse cuidado. O crente é consolado pela fé (Rm 1:12); a justiça de Deus é pela fé (3:22); o homem é justificado pela fé (3:28; 5:1; Gálatas 2:16); o justo vive pela fé (3:11); a salvação é pela fé em Jesus (Efésios 2:8). Paulo sabia o que era lutar e guardar a
"fé que uma vez foi dada aos santos" (Jd 3). 
A vida do apóstolo Paulo é um exemplo de seriedade cristã diante da morte e uma certeza da missão cumprida. Em muitas das suas cartas, o apóstolo Paulo afirmava que estava morto para o mundo e vivo no serviço de Cristo (Fp 1:21-23; 2 Co 5:2). Entretanto, o tom presente nesta segunda carta a Timóteo parece mais grave e mais sério. 

Neste trecho da epístola, há algumas formas literárias que ajuda-nos a descrever a gravidade desse tom na epístola, bem como em outras semelhantes: 
  1. o reconhecimento de que a morte está próxima; 
  2. advertências sobre a vinda dos falsos doutores; 
  3. a designação de sucessores para continuar a tradição apostólica; 
  4. a correta interpretação de pontos controversos. Assim, é possível perceber a típica forma de Paulo se comunicar neste momento de sofrimento: "oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé" (Fp 2:17); 
"Combati o bom combate e terminei a carreira" (2 Tm 4:7). 
Então, a sua última realização foi: "guardei a fé". O apóstolo sabia que restava pouco tempo de vida. 

II. O sentimento de abandono 

1. O clamor de Paulo na solidão


No início da Segunda Carta, Paulo já havia demonstrado que sentia muito a falta de Timóteo: 
"[...] desejando muito ver-te [...]" (1:4). 
No final da epístola, vemos a súplica de Paulo ao seu filho na fé: 
"Procura vir ter comigo depressa" (4:9). 
Ele também revela o porquê de sua pressa em rever seu filho na fé. Vejamos:
  • a) Demas o desamparou"Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica" (2 Tm 4:10). Demas era um dos cooperadores de Paulo (Cl 4:14; Fm 24). Porém, será que ele havia se desviado? Não sabemos ao certo. O texto bíblico mostra que ele abandonou Paulo quando este precisava muito de sua ajuda. O versículo também afirma que no momento, Demas amava mais o "presente século" do que o amigo e irmão em Cristo. Os momentos de adversidade revelam aqueles que são realmente amigos e que nos amam.
  • b) Só o médico amado ficou com Paulo — Tíquico foi mandado para Éfeso (4:12) e só Lucas ficou junto de Paulo (4:11). Lucas, "o médico amado" (Cl 4:14), escritor do livro de Atos dos Apóstolos e cooperador do apóstolo (Fm 24), fez-se presente, dando toda assistência a Paulo. Sem dúvida alguma, fora providência de Deus. Em idade avançada (Fm 9), Paulo precisava de cuidados médicos, físicos e emocionais. E ali estava o doutor Lucas, seu amigo, que não o desamparou.

2. A serenidade dos últimos dias


"Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos" (v.13). 
A prisão de Paulo se deu tão de repente que ele não teve tempo para reunir suas coisas. Agora, aproximava-se o inverno (v.21), e Paulo sentia a necessidade da capa que deixou na casa de Carpo e também dos livros. Sabemos quão rigoroso é o inverno europeu. O texto também nos mostra que até o fim de sua vida, Paulo se preocupou em ler e estudar. Tem você dedicado tempo ao estudo da Palavra de Deus?

O seu julgamento, perante a justiça de Roma, poderia demorar alguns dias ou meses. De qualquer forma, é um eloquente testemunho de que o homem de Deus, quando está seguro com o Senhor, não teme a morte ou qualquer outra adversidade. 

3. Preocupações finais com o discípulo


Paulo alerta Timóteo a respeito de "Alexandre, o latoeiro", que foi inimigo do apóstolo (vv.14,15). "Tu, guarda-te dele". Segundo a Bíblia de Aplicação Pessoal, Alexandre pode ter sido uma testemunha contra Paulo em seu julgamento. O crente fiel sempre vai encontrar pessoas difíceis em sua caminhada, por isso, precisa estar preparado para lidar com toda a sorte de gente, boas e más. 

No final do seu ministério, estando preso, o apóstolo Paulo sentiu-se sozinho, abandonado pelos seus pares. 
"Bem sabes isto: que os que estão na Ásia todos se apartaram de mim; entre os quais foram Fígelo e Hermógenes. O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes me recreou e não se envergonhou das minhas cadeias; antes, vindo ele a Roma, com muito cuidado me procurou e me achou. O Senhor lhe conceda que, naquele Dia, ache misericórdia diante do Senhor. E, quanto me ajudou em Éfeso, melhor o sabes tu" (2 Tm 1:15-18). 
Este texto, mostra com clareza, que o apóstolo Paulo já havia se queixado da solidão. Esta é uma informação importante que todos entendamos. O texto de Paulo expresso no capítulo 4 de 2 Timóteo é de caráter bem pessoal, demonstrando o sentimento, a pessoalidade e a dor do apóstolo em ser abandonado por quem deveria apoiá-lo em seu árduo ministério. 2 Timóteo 4 narra os últimos momentos da vida do apóstolo. Podemos afirmar que temos o privilégio de conhecer os últimos momentos da vida de um grande homem de Deus, apóstolo Paulo. 

III. A certeza da presença de Cristo 

1. Sozinho perante o tribunal dos homens (v.16)

Nem Lucas, o "médico amado" se encontrava na cidade, quando Paulo compareceu a audiência. Mas ele não era murmurador, nem guardou mágoa dos amigos ausentes. Pelo contrário, demonstrou que os perdoara, pedindo a Deus "que isto lhes não seja imputado". A atitude de Paulo nos faz recordar a postura de Jesus na cruz, quando Ele exclamou: 
"[...] Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23:34). 
Podem os amigos e companheiros nos abandonar nos momentos difíceis, mas Deus é fiel e jamais nos deixa sozinho. 

2. Sentindo a presença de Cristo (v.17)


Paulo não tinha a companhia dos amigos e irmãos em Cristo, mas pôde sentir, de perto, a gloriosa presença de Deus. O Senhor se fez presente e fortaleceu a alma e o espírito do seu servo. Mesmo estando preso, ele se sentia "livre da boca do leão", o que pode referir-se ao sentimento de libertação espiritual em relação a Satanás, ou de Nero, o sanguinário imperador. Ele não foi liberto da prisão e da morte, pois suas palavras eram de despedida: 
"Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé"(v.7). 

3. Palavras e saudações finais 

"E o Senhor me livrará de toda má obra e guardar-me-á para o seu Reino celestial [...]" (v.18). 
Paulo não estava se referindo ao livramento físico da morte. Ele já havia se despedido de forma muito comovente nos versículos 6 a 8. Esse texto nos mostra o quanto ele estava tranquilo, aguardando a vontade de Deus sobre sua vida e o fim do seu ministério. E conclui, saudando seu amigo e filho na fé, dizendo: 
"O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito. A graça seja convosco. Amém!" (v.22). 
Sozinho, Paulo se dirigiu ao tribunal para ser julgado, mas com a plena convicção de que a presença de Cristo estava com Ele. 

Conclusão 


"A graça seja convosco." 
Estas são as últimas palavras de Paulo nas Escrituras registradas enquanto ele aguardava o martírio num cárcere romano. Do ponto de vista do mundo, a vida do apóstolo estava para terminar num trágico fracasso.

Durante trinta anos, largara tudo por amor a Cristo; pouca coisa ganhara com isso, a não ser perseguição e inimizade dos seus próprios patrícios. Sua missão e sua pregação aos gentios resultaram no estabelecimento de um bom número de igrejas, mas muitas dessas igrejas estavam decaindo em lealdade a ele e à fé apostólica (2 Tm 1:15). E agora, no cárcere, depois de todos os seus leais amigos o deixarem, a não ser Lucas (vv.11,16), ele aguarda a morte. 

Os últimos trechos da Segunda Carta de Paulo a Timóteo nos ensinam que o servo de Deus que tem certeza da sua salvação, mediante a obra redentora de Cristo, não teme a morte. Paulo sabia que a morte física aniquilaria apenas o seu corpo, mas seu espírito e sua alma (o homem interior — 2 Co 4:16) estavam guardados em Cristo Jesus.

[Fonte: CPAD; Bíblia de Estudo Pentecostal]

A Deus toda glória.
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