Este artigo é a introdução de uma série especial sobre o Sermão do monte, a primeira e uma das mais importantes ministrações de Jesus. O Sermão do monte traz a dinâmica do Reino de Deus, compreendê-lo e vivê-lo é ainda hoje o maior desafio do cristão.
"E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa" (Mateus 5:1-11).
O sermão do monte apresenta princípios éticos e morais pertinentes ao reino vindouro do Messias? Que relação há entre a degradação moral do gênero humano e os princípios anunciados por Jesus? O sermão do monte é um conjunto de normas e princípios de cunho ético e moral? É um estatuto do reino de Cristo? Basta comportar-se segundo alguns princípios éticos e morais que o homem terá direito ao reino dos céus?
Como compreender o Sermão da Montanha? Nele, Jesus apresenta princípios éticos e morais do seu reino? O núcleo da mensagem do Sermão da Monte é de cunho sociocultural? Além dos mandamentos cunhados na lei mosaica, Jesus apresentou novos mandamentos?
Nesta série especial de artigos, antes de explicarmos algumas nuances pertinentes ao ensino de Cristo à multidão, primeiro faremos análise de alguns textos, que são essenciais à leitura do Sermão da Montanha.
Essa análise é imprescindível à leitura do Sermão da Monte, vez que trará o conhecimento essencial de algumas peculiaridades pertinentes às Escrituras, que possibilitam a compreensão do discurso de Jesus à multidão.
Há várias teorias teológicas que tentam explicar o sermão do monte
Para alguns estudiosos o sermão do monte é um "evangelho" exclusivo do reino de Jesus. Outros compreendem que o sermão apresenta princípios éticos e morais pertinentes ao reino do Messias. Geralmente fazem um comparativo entre a degradação moral do gênero humano e os princípios anunciados no sermão.
Diante das análises e de algumas contradições, ficam as questões:
- O sermão do monte é um conjunto de normas e princípios de cunho ético e moral?
- É um estatuto do reino de Cristo?
- Basta praticar o que Jesus anunciou e o homem terá direito ao reino dos céus?
Para compreendermos a mensagem de Jesus, é necessário observarmos alguns versículos do Antigo Testamento e a dinâmica do aprendizado da Escritura naquela época. Dentre vários versículos destacamos:
- "Bem-aventurado tu, ó Israel! Quem é como tu? Um povo salvo pelo SENHOR, o escudo do teu socorro, e a espada da tua majestade; por isso os teus inimigos te serão sujeitos, e tu pisarás sobre as suas alturas" (Deuteronômio 33:29);
- "Provai, e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele confia" (Salmo 65:4);
- "Bem-aventurado aquele a quem tu escolhes, e fazes chegar a ti, para que habite em teus átrios" (Sl 34:8);
- "Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados" (Sl 84:5).
Sobre a dinâmica do aprendizado do povo judeu, destacamos:
Vários livros do Antigo Testamento fazem referência à bem-aventurança. Dentre eles o livro de Provérbios e o livro dos Salmos são os que mais fazem referências as bem-aventuranças. Estes livros do Antigo Testamento eram lidos constantemente nas sinagogas, e mesmo aqueles que não sabiam ler conheciam de cor algumas das citações, entre elas as que envolviam a ideia da bem-aventurança.
É importante lembrar que naquela época um livro era caríssimo, e o povo não tinha acesso ou não sabiam ler, o que fortalecia a necessidade de memorizar o que era lido. Eles dependiam da leitura no templo para ouvirem trechos da lei, dos profetas e dos cânticos. O livro de Provérbios e os Cânticos dos Salmos auxiliavam em muito no processo de memorização.
Outra característica dos textos que fazem referência a bem-aventurança é a conexão com o nome do Deus de Israel. No Antigo Testamento a ideia da bem-aventurança decorre do favor de Deus para com os homens.
Um mestre sempre se assentava para ensinar e Jesus assentou sobre o monte cercado pelos seus discípulos e pela multidão. A multidão ao ver que Jesus se assentou, cercou-lhe ansiosa para ouvir o discurso.
Jesus havia percorrido toda a Galileia curando os enfermos, ensinando nas sinagogas e pregando o evangelho. A notícia de suas ações percorria todas as cidades. Uma grande multidão vinda de várias cidades o seguia (Mt 4:25).
Vendo Jesus a grande multidão subiu a um monte e assentou-se (Mt 5:1); os seus discípulos aproximaram-se e ele passou a ensiná-los!
Há muito tempo que o povo ouvia falar das bem-aventuranças prometidas nas escrituras, mas a situação era de opressão e miséria.
Alimentando aos famintos
A fama de Jesus havia criado uma expectativa na multidão, e quando Jesus falou sobre a bem-aventurança, materializou-se a esperança dos ouvintes. Anos após anos os pais anunciavam aos filhos uma época de alegria plena, mais ainda não tinham experimentado da alegria prometida por Deus.
O sermão do monte iniciou-se com uma mensagem de alegria a um povo oprimido e sem esperança. Jesus apresenta uma esperança viva, porém, o discurso endurece logo em seguida. O povo esperava refrigério e segurança nesta vida. Esperavam um Messias que os libertasse da escravidão política.
Qual a mensagem Jesus transmitiu ao povo no sermão do monte? Sobre que alegria Jesus falou? Que esperança foi transmitida? A alegria prometida dependia do cumprimento de mais normas e regras?
"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus"
As pessoas ao ouvirem: "Bem-aventurados...", logo fizeram conexão com algumas das citações bíblicas. Será que Ele comentará um dos Provérbios? Será que ele citou Salmos? Ou a abordagem dele será extraída da lei?
A bem-aventurança é um tema que prendeu a atenção dos ouvintes de Jesus e em nossos dias ainda cria expectativa nos leitores. Afinal, quem não quer ser bem-aventurado (feliz)?
Quando Jesus complementa: "Bem-aventurados OS POBRES..." a mensagem toca ainda mais os ouvintes. Esta seria uma mensagem inesquecível, pois tocou a emoção do povo: "Será uma revolução social? É agora que alcançaremos a hegemonia política e a paz prometida?".
A promessa de alegria aos pobres é plenamente compreensível, mas o que entender do qualificativo adicionado ao substantivo pobre? "Bem-aventurados os pobres de espírito...". Quem eram (ou são) os pobres de espírito?
Pobre de espírito, eu... Como assim?
Jesus estava rodeado de pobres de várias cidades circunvizinhas. Se a mensagem fosse somente: 'bem-aventurados os pobres', ela seria aceita e ovacionada pela multidão! Jesus teria conquistado os seus ouvintes e mais seguidores. Mas, como um povo que professava 'a melhor' religião, com princípios éticos e morais intocáveis e que se consideravam filhos de Abraão poderia aceitar ou reconhecer ser um 'pobre de espírito'?
Como alguém observador da lei reconheceria a condição de pobreza espiritual?
No Antigo Testamento não consta o conceito 'pobre de espírito'. Mas, Aquele que representava uma esperança de mudança na condição do povo, apresenta um novo conceito e uma necessidade de reconhecer uma condição que caracteriza os pecadores ou os incircuncisos. Como um filho de Abraão poderia reconhecer que era pobre de espírito?
Jesus completou a frase: "...porque deles é o reino dos céus". Muitos se perguntaram: De quem é o reino dos céus? Dos pobres de espírito?
Além do mais, o povo estava a procura de curas, de pães, de peixes, de um reino terreno, mas Jesus estava falando de um outro reino: do Reino dos céus!
Onde fica este reino? O que é o Reino dos céus?
Para responder essas perguntas devemos observar a mensagem que foi anunciada desde o nascimento de Cristo:
"E, naqueles dias, apareceu João batista pregando no deserto da Judeia, e dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus" (Mt 3:1,2);
"Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus" - (Mt 4:17).
Verifica-se que o reino dos céus diz da pessoa de Cristo, como profetizou Isaías e reafirmou João Batista:
"Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas" (Mt 3:3).
Quando Jesus disse: "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus", Ele não estava denunciando a moral do povo. Ele não estava apregoando um reino humano (João 18:36). Também não estava em busca de uma melhoria na condição socioeconômica do povo (Jo 12:8). Antes Jesus estava se apresentando ao povo por parábolas.
Conclusão
Com a sua mensagem, Jesus expôs ao povo que Ele é o único acesso ao Reino dos céus, e que todos aqueles que reconhecessem que eram pobres de espírito, estes seriam bem-aventurados. Àqueles que reconhecessem a precária condição espiritual que se encontravam, pertenciam o Reino dos céus, que é Cristo. Eles precisavam reconhecer que eram necessitados espiritualmente.
Enquanto queriam pão, Jesus estava apresentado o pão vivo que desceu dos céus. Enquanto buscavam um reino, Jesus estava lhes abrindo a porta do Reino dos céus. A relutância em aceitar a condição de necessitados espiritualmente persistiu até mesmo entre os discípulos que criam nele:
"Responderam eles (os judeus que criam nele): somos descendentes de Abraão, e jamais fomos escravos de ninguém" (Jo 8:31-33).
Eles acreditavam estar abastados espiritualmente por serem descendentes de Abraão. Ao se auto proclamarem como filhos de Abraão, os judeus estavam cônscios de que eram filhos de Deus (Jo 8:41). Ser filho de Abraão para eles era o mesmo que ter a filiação divina. Por isso João Batista disse que das pedras Deus poderia fazer filhos para si. Em razão desta crença os judeus não admitiam que eram escravos de ninguém, uma vez que se admitissem ser escravos, era o mesmo que admitir que alguém havia conquistado o próprio Deus (Jo 8:33).
Graça e paz amado,
ResponderExcluirQue o nosso Senhor Jesus continue te abençoando.
Lindo trabalho!!!!!!