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quarta-feira, 27 de julho de 2016

UMA CABANA CHEIA DE M☭☠...DA!

Em uma de minhas recentes ministrações eu fiz crítica expressa ao livro "A Cabana" ("The Shack", William P. Young, editora Sextante-Arqueiro), uma das modinhas que recentemente virou febre nos círculos evangélicos. O tal livro, uma infame mistura de conceitos humanistas, hedonistas e ocultista foi bastante aclamado por muitos evangélicos. 

Sua leitura chegou a ser recomendada por muitos pastores e foi até indicado por famosos músicos cristão, como o astro do pop gospel, Michael W. Smith, tendo, portanto, virado o livro de cabeceira de um monte de crente.

Antes de comentar sobre o livro "A Cabana" fiz uma busca e descobri que muita gente já comentou. Eu confesso que não fui até o fim (parei um pouco depois da metade) porque não aguentei. É de assustar algumas coisas que se lê, tais como: "Deus falou comigo tremendamente...", "É uma revelação magnífica do Senhor...", "Nunca tinha imaginado uma visão de Deus dessa maneira...", "Minha vida mudou depois que eu li esse livro..." 

Algo mais que alegoria


Uma alegoria é uma representação figurativa que transmite um significado a outro que o da simples adição ao literal. É geralmente tratada como uma figura da retórica. Uma alegoria não precisa ser expressa na linguagem: pode dirigir-se aos olhos e, com frequência, encontra-se na pintura, escultura ou noutra forma de arte mimética. 

O significado etimológico da palavra é mais amplo do que o que ela carrega no uso comum. Embora semelhante a outras comparações retóricas, uma alegoria sustenta-se por mais tempo e de maneira mais completa sobre seus detalhes do que uma metáfora, e apela a imaginação da mesma forma que uma analogia apela à razão. A fábula ou parábola é uma alegoria curta com uma moral definida.

Ao contrário de outras alegorias, como os excelentes e mais que recomendados "O Peregrino" ou "As Crônicas de Nárnia", o livro "A Cabana" não tem a sutileza de apenas sugerir coisas, como deve ocorrer numa alegoria. Além disso, é péssima literatura em termos de... isso mesmo, literatura. O autor passa longe de um C. S. Lewis (autor de "As Crônicas de Nárnia").

Leia a descrição do livro no site da própria editora: 


"Durante uma viagem de fim de semana, a filha mais nova de Mack Allen Phillips é raptada e evidências de que ela foi brutalmente assassinada são encontradas numa cabana abandonada. Após quatro anos vivendo numa tristeza profunda causada pela culpa e pela saudade da menina, Mack recebe um estranho bilhete, aparentemente escrito por Deus, convidando-o para voltar à cabana onde aconteceu a tragédia. Apesar de desconfiado, ele vai ao local do crime numa tarde de inverno e adentra passo a passo no cenário de seu mais terrível pesadelo. Mas o que ele encontra lá muda o seu destino para sempre. Em um mundo tão cruel e injusto, A cabana levanta um questionamento atemporal: Se Deus é tão poderoso, por que não faz nada para amenizar o nosso sofrimento?"


Algumas passagens do livro (e meus questionamentos) para você tirar suas próprias conclusões



Lembre-se de que, no livro, quem estaria dizendo essas coisas seria Deus, apresentado ali como três pessoas diferentes, o Pai (uma mulher negra e gorda), o Filho (um carpinteiro do Oriente Médio) e o Espírito Santo (uma mulher oriental):
  • "Os que me amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas ou muçulmanos, democratas, republicanos e muitos que não votam nem fazem parte de qualquer instituição religiosa. Tenho seguidores que foram assassinos e muitos que eram hipócritas. Há banqueiros, jogadores, americanos e iraquianos, judeus e palestinos. Não tenho desejo de torná-los cristãos, mas quero me juntar a eles em seu processo para se transformarem em filhos e filhas do Papai, em irmãos e irmãs, em meus amados" (ênfases minhas).  
  1. Aqueles que negam a Deus, que desprezam a divindade de Jesus, que rejeitam o evangelho? 
  2. As pessoas são transformadas em filhos de Deus através de um processo? 
  3. Deus não quer que um budista se torne cristão?
  • "Em Jesus eu perdoei todos os humanos por seus pecados contra mim, mas só alguns escolheram relacionar-se comigo (...) Quando você perdoa alguém, certamente liberta essa pessoa do julgamento, mas, se não houver uma verdadeira mudança, não pode ser estabelecido nenhum relacionamento verdadeiro” (ênfase minha). 
  1. Todos já estão perdoados?
  2.  Todos já estão livres do juízo?
  • "Quando nós três penetramos na existência humana sob a forma do Filho de Deus, nos tornamos totalmente humanos" (ênfase minha). 
  1. O Pai, o Filho e o Espírito Santo se tornaram humanos
  1. Tornar-se "totalmente" humanos significa abrir mão da divindade?
  • "Papai não respondeu, apenas olhou para as mãos dos dois. O olhar de Mack seguiu o dela, e pela primeira vez ele notou as cicatrizes nos punhos da negra, como as que agora presumia que Jesus também tinha nos dele- Jamais pense que o que meu filho optou por fazer não nos custou caro. O amor sempre deixa uma marca significativa - ela declarou, baixinho e gentilmente. - Nós estávamos lá, juntos. Mack ficou surpreso. - Na cruz?" (Ênfases minhas)
  1. Jesus se enganou ao clamar "Deus meu, por que me abandonaste"? 
  2. O Pai tem as marcas dos cravos nas mãos, nos pés e no lado? 
  3. Foi o sangue do Pai que também foi derramado na cruz?
  • "Não preciso castigar as pessoas pelos pecados. O pecado é o próprio castigo, pois devora as pessoas por dentro. Meu objetivo não é castigar. Minha alegria é curar" 
  1. Não haverá um juízo?

Pior que Paulo Coelho


O pior desse livro, na minha opinião, é que também é fácil achá-lo interessante, desde que você esteja suficientemente desatento ou não tenha nenhuma opinião sólida a respeito dos assuntos abordados. Devo confessar que a única coisa de que me lembro da primeira leitura que fiz deste livro (séculos antes de ter este blog e, portanto, sem muito senso crítico) é de ter pensado: "puxa, como esse cara conseguiu enfiar um livro 'tão religioso' na estante de romances seculares?" 

Lembro-me de que era uma metáfora, uma alegoria (ou entendi como se fosse), uma fábula, e que falava sobre ter um relacionamento com Deus. Fora isso, me recordo de não ter gostado do tom excessivamente emocional. Não me lembrava de mais nada (algo que aconteceu quando eu li "50 Tons de Cinza", outro típico "romance de amnésia"). Mas na segunda leitura me perguntei por que da primeira vez não joguei "A Cabana" na lata de lixo. 

À Bíblia, pelo amor de Deus!


Basta conhecer um pouco a Bíblia para ver que não são apenas declarações inocentes ou de mera ficção, mas afirmações que comprometem a verdade. Como disse, a princípio achei o livro extremamente irreverente, mas a trombada mesmo ocorreu quando o autor transforma a Trindade em pessoas visíveis, quando sabemos que na realidade apenas o Filho de Deus se tornou visível na encarnação: "Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou" - João 1:18 (ênfase minha). 

É algo extremamente sério dar uma imagem visível a Deus, pois Ele mesmo deixa isso claro em Sua Palavra: "Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno" - 1 Timóteo 6:16 (ênfase minha). O próprio Senhor Jesus deixou clara a impossibilidade de enxergarmos o Pai: "Não que alguém visse ao Pai, a não ser aquele que é de Deus" - Jo 6:46 (ênfase minha). O que podemos conhecer do Pai é o que foi revelado em Jesus, nada mais. Jo 12:45: "E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou" - Jo 12:45. "O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação" - Colossenses 1:15.

Alguém pode alegar que por se tratar de ficção, não há problema. Será? Quem pode dizer que não há problema? Acredito que só a pessoa que está sendo representada no livro, e neste caso a Pessoa é Deus, pode dizer se há ou não problema nisso. E Ele deixa claro o que pensa da ideia de ser representado de forma visível: "Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível" - Romanos 1:22,23"Guardai, pois, com diligência as vossas almas, pois nenhuma figura vistes no dia em que o SENHOR, em Horebe, falou convosco do meio do fogo; Para que não vos corrompais, e vos façais alguma imagem esculpidana forma de qualquer figura, semelhança de homem ou mulher" - Deuteronômio 4:15,16.

Como dizia, fiz buscas e descobri que muita gente já comentou, portanto não vou reinventar a roda. Concordo basicamente com o que vi em três sites. Um é um artigo escrito por Paulo Romeiro (http://www.cacp.org.br/as-confusoes-do-livro-a-cabana/). Há também uma análise muito boa que encontrei no blog Tchê Noll. Outro são os comentários que achei no blog "Pés descalços" de Maurilo e Vivian. No link há vários comentários, mas vou transcrever aqui uma lista de 13 heresias do livro "A Cabana" que o autor do blog traduziu de um texto em inglês de Michael Youssef:

"É aí que está o grande problema do livro. Na tentativa de responder a essa pergunta, Young abandona a abordagem bíblica sobre sofrimento e busca uma abordagem mais humanística, focada no homem. Young acredita no universalismo, ou seja, todos no final das contas serão salvos.

Michael Youssef do ministério Leading the Way listou 13 heresias contidas nesse livro, que é um grande best-seller nos Estados Unidos. Esse livro tem trazido muito engano a igreja, substituindo conceitos bíblicos por conceitos universalistas.

13 Heresias encontradas no livro "A Cabana"


1 – Deus Pai foi crucificado com Jesus.

Porque os olhos de Deus são puros e não podem olhar para o pecado, a Bíblia diz que Deus não olharia para seu próprio Filho amado enquanto este estava pendurado na cruz, carregando nossos pecados (Habacuque 1:13; Mateus 27:45) Isaías 53:4-10.

2 – Deus está limitado por seu amor e não pode praticar justiça.

A Bíblia declara que o amor de Deus e sua justiça são dois lados da mesma moeda – igualmente partes da personalidade e caráter de Deus (Isaías 61:8; Oséas 2:19) Romanos 9:13.

3 – Na cruz, Deus perdoou toda a humanidade, tanto os que se arrependeram quanto os que não. Alguns escolhem um relacionamento com Ele, mas Ele perdoa a todas igualmente.

Jesus explica que somente aqueles que vierem até Ele serão salvos (João 14:6).

4 – Estruturas hierárquicas, estejam na igreja ou no governo, são ruins.

Nosso Deus é um Deus de ordem (Jó 25:2). Deus nos deu regras estruturais para a igreja, incluindo como dons são utilizados e qualificações para os lideres (1 Co 12, 14; 1 Timóteo 3).

5 – Deus nunca vai julgar as pessoas pelos seus pecados.

A palavra de Deus repetidamente chama o homem a fugir do julgamento de Deus através da fé em Jesus Cristo, Seu Filho (Rm 2:16; 2 Tm 4:1-3).

6 – Não existe hierarquia na Trindade, só um circulo de unidade.

A Bíblia diz que Jesus se submete à vontade do Pai. Isso não significa que uma Pessoa é maior ou melhor que outra, mas sim única. Jesus disse "Eu vim para cumprir a vontade daquele que me enviou. Estou aqui para obedecer ao Pai". Jesus também disse "Eu vou te enviar o Espírito Santo" (Jo 4:34; 6:44; 14:26; 15:26).

7 – Deus se submete a desejos e escolhas humanas.

De maneira alguma Deus se submete a nós, Jesus disse "Estreito é o caminho que leva a vida eterna". Nós devemos nos submeter a Ele em todas as coisas, para sua glória e por aquilo que ele fez por nós (Mateus 7:13-15).

8 – Justiça nunca vai acontecer por causa do amor.

A Bíblia ensina que quando o amor de Deus é rejeitado, e quando a oferta de salvação e perdão é rejeitada, justiça precisa acontecer ou então Deus enviou Jesus Cristo para morrer por nada (Mt 12:20; Rm 3:25-26).

9 – Não existe julgamento eterno ou tormento no inferno.

A própria descrição de Jesus do inferno é muito vívida... não pode ser negada (Lucas 12:5; 16:23). Enquanto a "reconciliação universal" ensina que a salvação pode ocorrer após a morte, a Bíblia diz, "aquele que não acredita já está condenado, porque não creu no nome único Filho de Deus" (Jo 3:18).

10 – Jesus está andando com todas as pessoas em suas diferentes jornadas a Deus e não importa qual caminho você pega para Ele.

Jesus disse "Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14:6).

11 – Jesus está constantemente sendo transformado conosco.

Jesus, que habita no esplendor do Céus, está assentado à direita de Deus, reinando e governando o universo. A Bíblia diz, "Nele não existe mudança alguma, porque Ele é ontem, hoje e para sempre" (Hb 11:12; 13:8; Tiago 1:17).

12 – Não é necessário fé ou reconciliação com Deus pois todos conseguiram ir para o céu.

Jesus disse que "somente aqueles que crerem em mim terão a vida eterna" (Jo 3:15; 3:36; 5:24; 6:40).

13 – A Bíblia não é verdadeira porque reduz Deus ao papel.

A Bíblia foi inspirada por Deus. Com certeza houve muitos homens durante 1800 anos que utilizaram a caneta (por assim dizer), cada um com uma profissão e em um ambiente diferentes, mas o Espírito Santo infundiu seu trabalho com a Palavra de Deus. Esses homens estavam escrevendo a mesma mensagem de Gênesis a Apocalipse.

Conclusão


Eu não me constranjo em dizer que tenho um bom raciocínio lógico. Graças a Deus eu não sou burro! Isso tem um efeito colateral. Sabe aquele amontoado de frases bonitas, emocionais, mas sem muito sentido, que as pessoas leem e dizem: "nossa, que lindo?" Eu não consigo achar lindo. Só o que vejo é que elas não fazem sentido. Sou o tipo de gente que se ouvir uma melodia linda, mas com uma letra horrível ou sem nexo, não vai gostar da música. E posso gostar de uma música com melodia ruim, desde que tenha uma letra inteligente.

"A Cabana" tem uma melodia feita para emocionar, mas a letra é confusa e sem nexo. Mack tenta pensar, mas "deus" (assim mesmo, com "d" minúsculo) faz com que ele sinta. Tudo é sobre o amor, mas não o amor que a Bíblia descreve e explica, e sim, o amor-sentimento. Você pode achar lindo, pode parecer que é um deus condescendente, que dá para encaixar mais facilmente na caixinha que tem em cima do criado-mudo, mas não é o verdadeiro Deus.

Não vou me estender (mais) sobre os recursos literários que me irritam em Young, porque o conteúdo do livro já o desqualifica como leitura, então não adianta eu te dizer que ele não é bem construído. O perigo é ele fisgar o coração dos leitores e convencê-los de que aquilo que ele descreve é Deus.

Como eu disse anteriormente, para escrever sobre "A Cabana", dei uma olhada em alguns comentários de pessoas que o leram e fiquei assustado. Muitos mudaram sua forma de enxergar Deus por causa do livro! Isso é muito sério! As pessoas tomam a ficção como se fosse verdade, acima até da Bíblia. Isso é resultado apenas de uma coisa: do tipo de fé que estão acostumadas a ter. Se a sua fé é emocional, você vai se deleitar com as frases melosas desse livro, vai desejar estar naquela famigerada Cabana, com aqueles seres "fantásticos".

Mas o resultado disso é que se verá orando para, adorando a, e desejando se relacionar com um personagem que não é Deus. Na melhor das hipóteses, é somente criação da mente confusa do autor. E na pior das hipóteses é a entidade que inspirou tudo isso. Em qualquer uma das opções, perderá a oportunidade de conhecer o verdadeiro Deus e dará sua adoração a outro. E quando falamos de salvação eterna, isso, meus amigos, é mais do que perigoso. Enfim, vá ler a Bíblia, meu querido!

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