"E não jures por tua cabeça, pois não tens o poder de tornar um fio de cabelo branco ou preto. Seja, porém, o teu sim, sim! E o teu não, não! O que passar disso vem do Maligno." - Mateus 5:36,37 [Versão King James Atualizada], ênfase minha.
Pode parecer estranho, mas muitas vezes dizer "não" pode ser a melhor maneira de nos afirmar. Nem sempre percebemos, mas em diversos momentos dizemos "sim" quando na realidade gostaríamos de ter dito "não" à pessoas ou situações.
O "sim" confirma, aceita uma condição ou situação que alguém ou algo externo a nós nos propõe, enquanto que o "não" expressa nossa liberdade de não querer ou de não concordar.
Aprendemos socialmente a dizer "sim" para agradar as pessoas com as quais convivemos, pois fomos ensinados culturalmente a agradar os outros, porém acabamos nos esquecendo de agradar a nós mesmos. Agindo assim, aceitamos situações que não gostaríamos de aceitar, concordamos com ideias que discordamos e fazemos coisas que não queremos.
Não conseguir dizer "não" pode nos gerar uma enorme sensação de mal estar, seja por não nos posicionar perante outras pessoas no que sentimos e queremos, ou por não nos sentirmos autênticos, vivendo em função do que os outros querem, sem fazer valer o que nós queremos.
Deixamos de lado os nossos desejos para dizer "sim" para pessoas que amamos e até para pessoas que pouco conhecemos, pois queremos nos sentir aceitos e queridos.
Faz parte de nosso desenvolvimento pessoal e amadurecimento emocional dizer "não". Discordamos do que não queremos para escolher o que realmente queremos.
O "não" e a solidificação dos princípios
Em nossa adolescência, por exemplo, dizemos "não" aos nossos cuidadores quando discordamos de seus modos de nos tratar, assim demonstramos nossa oposição a maneira como eles querem que sejamos para desenvolver a nossa identidade própria.
Usamos o "não" como uma antítese ao modo de ser que fomos ensinados, e é por meio desse "não" que fazemos escolhas em nossa vida, desenvolvendo nossa identidade como resultado da relação entre os modos de ser que fomos ensinados e as nossas negações.
Quando percebemos o que não gostamos ou o que não nos faz sentido, podemos fazer melhores escolhas, afirmando o que somos e o que queremos. Perceber o que não queremos e discordar quando necessário pode ser um meio de nos conhecer.
Enquanto o "sim" concorda e deixa as coisas como estão, mantendo tudo como está posto, o "não" apresenta uma contraposição, possibilitando uma mudança no habitual.
Aprender a usar o "não" de maneira que nos valorize e que não desrespeite o outro é um grande desafio para nosso desenvolvimento.
Assertividade
É preciso ter consciência de que é importante aprender a dizer "não", porque caso não aprendamos, perderemos o controle de nossa vida, e sentiremos raiva por fazer coisas que, na realidade, não queremos.
Talvez alguém possa pensar que dizer "não" é coisa de pessoas más, e que quem faz isso está sendo desagradável. Mas em alguns momentos, é necessário saber estabelecer limites e não ceder diante de manipulações e chantagens emocionais dos outros.
O tema em questão, conhecido como ASSERTIVIDADE, se refere à capacidade de ter confiança em si mesmo para poder dizer "não", sempre que for necessário.
Equilíbrio e posicionamento
Não se trata de ser um egoísta que ignora as necessidades dos demais, e sim de encontrar um equilíbrio entre os dois extremos: ou seja, o de dizer sempre "sim" e o de dizer sempre "não".
Os direitos dos demais são tão importantes quanto os nossos próprios direitos, e por isso é preciso tentar ser assertivo e determinar em quais momentos devemos negar e em quais momentos devemos aceitar o pedido dos outros. Se trata de defender nossos direitos, sem a intenção de ferir ou machucar ninguém.
Como conseguir uma maior assertividade em nossas ações?
A base de tudo é sentir que damos valor à sociedade, e que devemos, também, ser respeitados. Além disso, precisamos ter consciência dos nossos fundamentos, da nossa escala de valores, para saber quais coisas desejamos fazer e quais não.
Devemos esquecer o medo e a sensação de culpa ao negar, em determinadas situações. É preciso superar o medo da única maneira possível, afrontando a situação que nos assusta. E com relação à culpa, é mais um tema social que aprendemos, mas se temos consciência dos nossos fundamentos, poderemos dizer "não" baseados claramente em algum motivo, e isso nos dá a segurança de que precisamos.
No momento em que valorizamos de verdade nossas razões, não atuando de maneira precipitada, já não sobra lugar para sentir culpa, pois a decisão que tomamos foi de acordo com nossas convicções.
Como são as pessoas pouco assertivas?
São indivíduos que se afastam de qualquer tipo de controvérsia, e precisam agradar sempre, até o ponto em que não realizam seus próprios desejos e necessidades. Acreditam que, para serem aceitos pelos demais, não podem negar nada, e no fim das contas acabam sendo manipulados. Acabam fazendo coisas que não querem e que vão contra seus princípios. Sua motivação é o medo da rejeição e a falta de confiança em suas próprias ideias.
É de extrema importância deixar claro que esse é um perfil muito diferente daquela pessoa que decide, de forma consciente e voluntária, dedicar sua vida a ajudar o próximo, resignando suas necessidades em algumas ocasiões. Nesse caso, se trata de uma escolha livre e pessoal e, como resultado, a pessoa se sente profundamente satisfeita e feliz.
Muito pelo contrário, nos casos dos quais falamos acima, as pessoas pouco assertivas sacrificam seu próprio bem estar, baseando-se em medos e inseguranças, algo que, definitivamente, não gera nada além de uma grande insatisfação pessoal.
Conclusão
O desafio é sempre construir nossas convicções, valores e princípios sob bases sólidas e em nenhuma hipótese negociá-los, corrompê-los ou submetê-los à manipulações no afã de agradar a quem quer seja.
"Contudo, meus queridos irmãos; não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, tampouco façais qualquer outro juramento. Seja suficiente a vossa palavra; sendo sim, que seja sim; quando não, não. Procedei assim para não cairdes em condenação." - Tiago 5:12 [VKJA], ênfase minha.
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